Dom Sergio da Rocha:
“Falta de saneamento básico
destrói a casa comum e a vida da família que habita essa casa”
A Campanha da
Fraternidade Ecumênica 2016 foi aberta pela Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) e pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic),
nesta Quarta-feira de Cinzas, 10, na sede da Conferência, em Brasília (DF).
O evento foi
presidido pelo bispo da Igreja Anglicana do Brasil e presidente do Conic, dom
Flávio Irala. Compuseram à mesa o arcebispo de Brasília e presidente da CNBB,
dom Sergio da Rocha; o ministro das Cidades, Gilberto Kassab; o diretor da
Misereor, monsenhor Firmino Spiegel; o presidente da Igreja Evangélica de
Confissão Luterana no Brasil, pastor Nestor Friedrich; o arcebispo da Igreja
Sirian Ortodoxa de Antioquia, dom Paulo Titus Hanna; o presidente da Aliança
Batista, pastorl Joel Zeferino; o moderador da Igreja Presbiteriana Unida,
presbítero Wertson Brasil; e o representante da Igreja Anglicana, reverendo
Arthur Cavalcante.
Saneamento
básico
Na ocasião, o
arcebispo de Brasília e presidente da entidade, dom Sergio da Rocha, ressaltou
a atualidade e a urgência do tema “Casa comum, nossa responsabilidade”, que tem
como foco no saneamento básico. Ao denunciar a exposição da população ao
mosquito aedes aegypit, vetor dos vírus da dengue, chikungunyae e zika, dom
Sergio afirmou que a “falta de saneamento básico destrói a casa comum e a vida
da família que habita essa casa”.
Cerimônia de Abertura Oficial |
“O tema desse
ano é de grande atualidade e urgência. O cuidado da casa comum, pondo em relevo
o saneamento básico, não pode ser descuidado, nem pode ser deixado para depois,
necessita da atenção e dos esforços de todos. Há muita coisa a ser feita por
cada pessoa, espontaneamente, mas, embora seja sempre muito importante o que
cada um pode fazer pessoalmente, nós necessitamos muito da vivência comunitária
da Campanha, de iniciativas e de ações comunitárias, então, cada comunidade é
convidada a refletir sobre o que fazer em sua realidade local, quais ações
comunitárias realizar motivadas por esta Campanha”, disse dom Sergio.
“Estou certo de
que queremos ver o direito brotar, não o lixo se espalhar; queremos ver a
justiça e não o esgoto correr como riacho; queremos ver a água ser assegurada
como direito e usada com responsabilidade; queremos ver a casa comum cuidada de
modo corresponsável”, exortou ao lembrar do lema da Campanha “Quero ver o
direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am
5.24),
Para o ministro
das Cidades, Gilberto Kassab, o tema “é muito apropriado ao que se vive no
Brasil e em alguns países do mundo” e está vinculado diretamente à dignidade,
ao combate à pobreza e à saúde pública. Kassab também assumiu que o Brasil está
aquém do ideal nos índices de saneamento básico, apesar de que nos últimos anos
tenha melhorado alguns indicadores. O ministro prometeu investimentos para
continuar avançando. “O Governo Federal fará sua parte num esforço muito grande
para dar apoio à essa Campanha da Fraternidade”, afirmou.
O bispo da
Igreja Anglicana do Brasil e presidente do Conic, dom Flávio Irala, recordou
que o tema aponta o saneamento básico como um bem essencial para a concretização
de todos os direitos humanos. “Portanto, nenhuma pessoa pode ser privada do
acesso aos benefícios de saneamento básico em função de sua condição
socioeconômica”, disse. Para o bispo anglicano, o Conic compreende que o acesso
ao saneamento deve ser considerado um “bem de caráter público destinado à
inclusão social e a garantia dos principais instrumentos de proteção da
qualidade dos recursos hídricos, dos inibidores de doenças, como cólera, febre
amarela, dengue, diarreia, bem como para evitar a proliferação do vírus zika”.
Irala propôs
três pontos para mobilização. Um relacionado à participação popular nos planos
municipais de saneamento básico, outro que pede o fim dos “rios mortos” e, por
fim, um pedido para que a construção de usinas no Rio Tapajós, em Santarém
(PA), não seja realizada sem consulta à população.
Apoio
internacional
O diretor geral
da Misereor, entidade episcopal da Igreja Católica na Alemanha que trabalha na
cooperação para o desenvolvimento de países da Ásia, da África e da América
Latina, monsenhor Pirmim Spiegel, falou sobre as bases que as raízes do tema da
CFE 2016. Spiegel citou o acordo Rio 92, o subtítulo da encíclica do papa
Francisco sobre o cuidado da casa comum e o apelo das Nações Unidas para que as
religiões e as Igrejas contribuam para solucionar os grandes problemas do
planeta. Ao recordar o Ano Santo e as palavras de dom Helder Câmara, afirmou
que “como cristãos e cristãs não podemos ser indiferentes que o nosso próximo
sofra”.
“Nós estamos
convencidos que as verdadeiras fronteiras não são entre os países, mas, sim,
quem é livre e não livre, entre ser rico e pobre, entre ter acesso e não ter
acesso aos serviços essenciais. Por meio dessa CF, conjunta e internacional,
queremos ser um sinal de esperança e abrir caminho para o sonho de Deus, que
haja direito e justiça para todos”, afirmou monsenhor Pirmim.
Mensagens
Como de costume,
o papa Francisco enviou uma mensagem aos brasileiros por ocasião da Campanha da
Fraternidade. O pontífice recordou a responsabilidade pela Casa Comum e que
envolve os governantes e toda a sociedade.
“Pessoas são
chamadas a tomar iniciativas em que se unam as Igrejas e as diversas expressões
religiosas e todas as pessoas de boa vontade na promoção da justiça e do
direito ao saneamento básico. O acesso à água potável e ao esgotamento
sanitário é condição necessária para a superação da injustiça social e para a
erradicação da pobreza e da fome, para a superação dos altos índices de
mortalidade infantil e de doenças evitáveis, e para a sustentabilidade
ambiental”.
Em seu texto, o
papa apontou para a abordagem da encíclica Laudato Si’, que colabora com as
reflexões da Campanha. São indicados alguns parágrafos que abordam o acesso à
água potável como “direito humano essencial, fundamental e universal, porque
determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício
dos outros direitos humanos”. Francisco também falou sobre a ecologia integral
e a cultura ecológica, às quais “não pode se limitar a respostas parciais, como
se os problemas estivessem isolados”.
No período da
Quaresma, o papa convidou ao redescobrimento de como a espiritualidade cristã
“se aprofunda quando superamos ‘a tentação de ser cristãos, mantendo uma
prudente distância das chagas do Senhor’ e descobrimos que Jesus quer ‘que
toquemos a carne sofredora dos outros’, dedicando-nos ao ‘cuidado generoso e
cheio de ternura’ de nossos irmãos e irmãs e de toda a criação”.
O secretário do
Conselho Mundial de Igrejas (CMI), Olav Fykse Tveit, também enviou mensagem.
Ele sugeriu que o tema da CFE lembra que “a comunidade humana está inserida
numa comunidade mais ampla na terra, que por sua vez, é parte da morada da vida
de Deus”.
Tveit também
analisou a necessidade de mudanças e transformações, apontando que ações
unilaterais, isoladas de países não são suficientes para confrontar a situação
os problemas mais profundos desta “crise múltipla da vida”. Ele considera
necessário encontrar uma maneira de fechar o abismo que existe entre ricos e
pobres.
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Mensagem do Papa aos brasileiros
Cidade do
Vaticano (RV) – “O acesso à água potável e ao saneamento básico é condição
necessária para a superação da injustiça social e para a erradicação da pobreza
e da fome”: palavras do Papa Francisco que estão contidas na mensagem aos
brasileiros por ocasião da Campanha da Fraternidade 2016. O tema este ano
é “Casa comum: nossa responsabilidade”.
No texto, o
Pontífice recorda que se trata da quarta edição ecumênica da Campanha e que,
desta vez, cruza as fronteiras para uma parceria com os católicos alemães,
através da Misereor (instituição da Conferência Episcopal Alemã para a
cooperação para o desenvolvimento).
Comentando o
tema escolhido sobre saneamento básico, Francisco convida todos a se
empenharem com políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a
integridade e o futuro de Casa Comum.
Superação da
injustiça social
“O acesso à água
potável e ao saneamento básico é condição necessária para a superação da
injustiça social e para a erradicação da pobreza e da fome, para a superação
dos altos índices de mortalidade infantil e de doenças evitáveis, e para a
sustentabilidade ambiental”, escreve o Papa.
Citando sua
Encíclica Laudato si, Franscisco recorda que a grave dívida social para
com os pobres é parcialmente saldada quando se desenvolvem programas para
prover de água limpa e saneamento as populações mais pobres, evidenciando o
nexo que há entre a degradação ambiental e a degradação humana e social.
“Aprofundemos a
cultura ecológica”, pede o Pontífice. “Ela não pode se limitar a respostas
parciais, como se os problemas estivessem isolados. Insisto que o rico
patrimônio da espiritualidade cristã pode dar uma magnífica contribuição para o
esforço de renovar a humanidade. Eu os convido a redescobrir como nossa
espiritualidade se aprofunda quando descobrimos que Jesus quer «que toquemos a
carne sofredora dos outros» (Evangelii gaudium, 270), dedicando-nos ao «cuidado
generoso e cheio de ternura» (Laudato si’, 220) de nossos irmãos e irmãs e de
toda a criação.
Eis a íntegra da
mensagem de Francisco:
Queridos irmãos
e irmãs do Brasil!
Em sua grande
misericórdia, Deus não se cansa de nos oferecer sua bênção e sua graça e de nos
chamar à conversão e ao crescimento na fé. No Brasil, desde 1963, se realiza
durante a Quaresma a Campanha da Fraternidade. Ela propõe cada ano uma
motivação comunitária para a conversão e a mudança de vida. Em 2016, a Campanha
da Fraternidade trata do saneamento básico. Ela tem como tema: «Casa comum,
nossa responsabilidade». Seu lema bíblico é tomado do Profeta Amós: «Quero ver
o direito brotar como fonte e a justiça qual riacho que não seca» (Am 5,24).
É a quarta vez
que a Campanha da Fraternidade se realiza com as Igrejas que fazem parte do
Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC). Mas, desta vez, ela
cruza fronteiras: é feita em conjunto com a Misereor, iniciativa dos católicos
alemães que realiza a Campanha da Quaresma desde 1958. O objetivo principal
deste ano é o de contribuir para que seja assegurado o direito essencial de
todos ao saneamento básico. Para tanto, apela a todas as pessoas convidando-as
a se empenharem com políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a
integridade e o futuro de nossa Casa Comum.
Todos nós temos
responsabilidade por nossa Casa Comum, ela envolve os governantes e toda a
sociedade. Por meio desta Campanha da Fraternidade, as pessoas e comunidades
são convidadas a se mobilizar, a partir dos locais em que vivem. São chamadas a
tomar iniciativas em que se unam as Igrejas e as diversas expressões religiosas
e todas as pessoas de boa vontade na promoção da justiça e do direito ao
saneamento básico. O acesso à água potável e ao esgotamento sanitário é
condição necessária para a superação da injustiça social e para a erradicação
da pobreza e da fome, para a superação dos altos índices de mortalidade
infantil e de doenças evitáveis, e para a sustentabilidade ambiental.
Na encíclica
Laudato si’, recordei que «o acesso à água potável e segura é um direito humano
essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das
pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos»
(n. 30) e que a grave dívida social para com os pobres é parcialmente saldada
quando se desenvolvem programas para prover de água limpa e saneamento as
populações mais pobres (cf. ibid.). E, numa perspectiva de ecologia integral,
procurei evidenciar o nexo que há entre a degradação ambiental e a degradação
humana e social, alertando que «a deterioração do meio ambiente e a da
sociedade afetam de modo especial os mais frágeis do planeta» (n. 48).
Aprofundemos a
cultura ecológica. Ela não pode se limitar a respostas parciais, como se os
problemas estivessem isolados. Ela «deveria ser um olhar diferente, um
pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma
espiritualidade que oponham resistência ao avanço do paradigma tecnocrático»
(Laudato si’, 111). Queridos irmãos e irmãs, insisto que o rico patrimônio da
espiritualidade cristã pode dar uma magnífica contribuição para o esforço de
renovar a humanidade. Eu os convido, principalmente durante esta Quaresma,
motivados pela Campanha da Fraternidade Ecumênica, a redescobrir como nossa
espiritualidade se aprofunda quando superamos «a tentação de ser cristãos,
mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor» e descobrimos que Jesus
quer «que toquemos a carne sofredora dos outros» (Evangelii gaudium, 270),
dedicando-nos ao «cuidado generoso e cheio de ternura» (Laudato si’, 220) de
nossos irmãos e irmãs e de toda a criação.
Eu me uno a
todos os cristãos do Brasil e aos que, na Alemanha, se envolvem nessa Campanha
da Fraternidade Ecumênica, pedindo a Deus: «ensinai-nos a descobrir o valor de
cada coisa, a contemplar com encanto, a reconhecer que estamos profundamente
unidos com todas as criaturas no nosso caminho para a vossa luz infinita.
Obrigado porque estais conosco todos os dias. Sustentai-nos, por favor, na
nossa luta pela justiça, o amor e a paz» (Laudato si’, 246). Aproveito a
ocasião para enviar a todos minhas cordiais saudações com votos de todo bem em
Jesus Cristo, único Salvador da humanidade e pedindo que, por favor, não deixem
de rezar por mim!
Vaticano, 22 de
janeiro de 2016.
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Fonte: radiovaticana.va
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