O dia tão esperado: Francisco chega ao México
Cidade do México
(RV) – Chegou o dia tão esperado. No início da noite de hoje às 19h15, o avião
papal, depois de uma parada em Havana para o encontro de Francisco com o
Patriarca Kirill tocará a terra mexicana. Um povo que tem como Mãe Nossa
Senhora de Guadalupe, cuja casa é chamada carinhosamente pelos seus devotos
“pequeno Vaticano”, receberá o sucessor de Pedro com alegria e esperança. Os
mexicanos trabalharam muito para receber Bergoglio: todos, nos disse o
Arcebispo de Cidade do México, Cardeal Norberto Rivera.
Francisco, sempre esperado |
Quanto tocará
terra, Francisco dará inicio à sua primeira viagem Apostólica ao México e 12ª
desde o início do seu pontificado. Não são muitos os outdoors espalhados pela
cidade a dar as boas-vindas ao Papa. Lemos uns e outros de empresas que ajudam
financeiramente a visita, mas o sentimento entre os fiéis mexicanos é de uma
alegria que cativa você. Falam do amor que eles tem por Nossa Senhora de
Guadalupe e pela alegria do Papa vir visitar a Mãe: “visitando a Mãe, estará
visitando todos nós”, afirmam.
O serviço de
segurança do Papa em Cidade do México vê envolvido cerca de 20 mil policiais
que cuidarão de todo o trajeto que o Papa fará pelas ruas da capital mexicana.
Serão 208 quilômetros em carro aberto somente na capital mexicana durante as
suas transferências. A área da Nunciatura Apostólica, que será a residência do
Papa nestes dias, está completamente blindada. Medidas de segurança também
elevadas ao redor da Basílica de Guadalupe e da Catedral da cidade. Os
voluntários na cidade serão mais de 30 mil.
A imprensa local
– jornais, rádios e televisões – está dando grande atenção à visita de
Bergoglio que vem confirmar na fé os habitantes de um dos países mais católicos
do mundo. Transmissões televisivas explicam a mobilidade na cidade e as
alternativas às ruas que serão fechadas. Outras transmissões falam do grande
valor que tem a visita de Francisco, seja para os católicos como para as
pessoas de outras religiões, pois o Papa vem para encontrar a todos.
Já a presidência
do país disse que a visita do Papa permitirá um diálogo aberto entre o
Presidente Enrique Peña e o Santo Padre para fortalecer ainda mais a relação entre
os dois Estados.
O presidente
através do seu site na internet afirmou que o Vaticano é sem dúvida, um ator
estratégico da comunidade internacional “cuja influência no âmbito
multilateral, particularmente em temas de interesse para o país, se manifestou
claramente neste pontificado.
Apesar da visita
do Papa Francisco ser pastoral o governo mexicano reconheceu que a mesma será
oficial e Bergoglio será recebido como chefe de Estado.
Amanhã, sábado,
primeiro dia de atividades do Papa em Cidade do México, centenas de
funcionários, governadores, legisladores, diplomatas, empresários e líderes
eclesiais o receberão no Palácio Nacional.
Outro aspecto
que os jornais destacam sobre a visita é que a presença de Bergoglio no país
durante seis dias irá gerar um derrame de dinheiro na capital em torno de 870
milhões de pesos e cerca de 2 bilhões e 500 milhões em todo o território
nacional. O presidente dos empresários turísticos de Cidade do México destacou
que é a demonstração que o turismo religioso possa se tornar uma coluna do
desenvolvimento do país. O México tem tudo o que é preciso para se tornar uma
potência mundial neste âmbito com mais de 200 santuários localizados em todo o
território. O Papa nos seis dias de permanência no país deverá ser visto por
mais de 2 milhões de pessoas, tanto nos atos e celebrações públicas como pelas
ruas por onde irá passar.
Nós conversamos
com alguns mexicanos, entre eles Rubem um taxista de Cidade do México que
acompanhou de perto as visitas de João Paulo II. Ele nos disse da sua expectativa
com a visita do Papa Francisco.
“Temos uma
expectativa muito especial do Papa Francisco. O México necessita de um bálsamo
o qual eu creio que o Papa Francisco poderá trazer ao pais. Infelizmente, o meu
pais passou muitos situações difíceis do ponto de vista governamental. Estamos
preocupados por Morelia onde vai o Santo Padre, por Acapulco e também Cidade do
México. Necessitamos de um freio do ponto de vista moral. Aconteceram tantas
coisa aqui que francamente estamos ansiosos que o Papa Francisco chegue e
nos dê um alivio um balsamo.
Entretanto, a
chegada do Papa foi precedida por um episódio de morte que envolveu dois
cartéis de drogas rivais em uma prisão em Monterrey: o saldo é de 49 mortos e
12 feridos.
O incidente foi
um dos piores de uma série de rebeliões mortíferas nos últimos anos nas prisões
superlotadas do México, que muitas vezes abrigam membros de gangues de
narcotraficantes adversárias.
Os combates
irromperam em duas áreas do presídio de Topo Chico e envolveram duas facções
rivais.
Francisco irá
visitar uma prisão no norte do país no último dia de sua visita ao México, dia
17.
Para cobrir a
visita do Papa foram acreditados 4.077 jornalistas, entre os quais 3.298
mexicanos. Dos Estados Unidos são 562 e do Brasil somente 5.
Dos estúdios da
Rádio Vaticano, Cidade do México, Silvonei José
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Papa em viagem rumo a Cuba e México.
Em 2017, irá à Colômbia.
O Papa Francisco iniciou, nesta sexta-feira (12/02), sua
12ª viagem apostólica internacional que o leva ao México.
O Santo Padre
está indo em direção a Cuba, onde se encontrará, em Havana, com o Patriarca de
Moscou e de Todas as Rússias, Kirill. Depois o pontífice segue para o México
onde permanecerá até o próximo dia 17.
No avião,
Francisco saudou os jornalistas do voo papal, que são cerca de 76, dentre os
quais dez mexicanos, destacando o desejo de encontrar o Patriarca Kirill e o
povo mexicano. Conversando com um jornalista colombiano, o Papa disse que, em
2017, irá à Colômbia para a assinatura dos acordos de paz entre o Governo e as
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Valorização da cultura local |
O Diretor da
Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, abriu o encontro dando as
boas-vindas ao Papa entre os jornalistas.
“Sabemos que o
senhor desejou muito esta viagem tanto pelo encontro com o Patriarca quanto
pelo encontro com o povo mexicano. Preparamo-nos para grandes emoções e
momentos históricos. Estamos com senhor para fazer o nosso serviço de difundir
a Palavra de Deus e suas palavras”, disse o porta-voz vaticano.
A seguir, o Papa
tomou a palavra e agradeceu aos jornalistas pelo trabalho que irão fazer.
O pontífice
disse que no início da Audiência Geral desta quarta-feira, a jornalista
mexicana Valentina Alazraki, decana dos vaticanistas, o esperava para fazer-lhe
entrar no túnel do tempo com os filmes de Cantinflas, ator e humorista mexicano.
“Assim, entrei no México pela porta de Cantinflas que nos faz rir”, frisou
Francisco.
A seguir disse:
“O meu maior desejo é deter-me diante de Nossa Senhora de Guadalupe, aquele
mistério que se estuda, estuda e estuda e não existe explicações humanas. Até
mesmo o estudo mais científico afirma: ‘Isso é coisa de Deus’. É isso que faz
os mexicanos dizerem: ‘Eu sou ateu, mas sou guadalupano’. Alguns mexicanos, nem
todos são ateus”, sublinhou.
O Papa comunicou aos jornalistas que esta é a última viagem do Dr. Alberto
Gasbarri como organizador das viagens pontifícias.
“Ele trabalha no
Vaticano há 47 anos. Começou a trabalhar aos 3 ou 4 anos! São 37 anos que
realiza as viagens. Digo isso para que nesses dias possamos expressar a ele a
nossa gratidão pensando numa festa aqui, na volta, ok?”, disse Francisco. O
Papa apresentou o novo encarregado das viagens que é o Mons. Mauricio
Rueda.
Depois do Papa
tomou a palavra a jornalista mexicana Valentina Alazraki, correspondente em
Roma de ‘Televisa’ que doou ao pontífice um sombrero, típico chapéu mexicano,
para que Francisco se proteja do sol e se sinta mexicano.
“O primeiro eu
doei a João Paulo II, 37 anos atrás. Depois ele fez uma coleção, pois foi ao
México cinco vezes. O Papa Bento XVI usou o sombrero em Guanajuato e disse que
se sentia mexicano. Agora, é a sua vez”, disse ao pontífice.
Segundo a
jornalista, o sombrero dado a Francisco veio de Cuba, presente de uma família
mexicana que não conseguiu entregar o chapéu ao Papa durante sua viagem ao país
em setembro passado.
“Eu prometi
entregar ao senhor, caso teria mantido a promessa de ir ao México. O que não
imaginava é que o sombrero voltasse a Cuba. Esta foi uma surpresa”, disse ainda
Valentina.
O encontro entre
o Papa e os jornalistas durou 40 minutos. (MJ)
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Papa Francisco inicia
a 12ª Viagem Apostólica de seu pontificado
Às 8h25min desta sexta-feira, com 40 minutos de atraso, o Papa
Francisco deu início à 12ª Viagem Apostólica internacional de seu pontificado.
Com destino à Cidade do México, o Papa fará uma breve escala no Aeroporto
Internacional de Havana, para um histórico encontro com o Patriarca Ortodoxo
Russo Kirill, que realiza uma viagem pela América Latina até 22 de fevereiro.
Papa a caminho do México |
Sob um rígido
esquema de segurança, que incluiu o sobrevoo de um helicóptero da Polícia, o
Pontífice chegou ao Aeroporto Fiumicino às 7h39, a bordo do Ford Focus do
Vaticano, que deixou-o a poucos metros do Airbus A330-200 da Alitália, batizado
de “Giotto”.
Segurando sua
pasta preta com a mão esquerda, o Pontífice foi recebido por autoridades civis
e militares, num clima de muita cordialidade. Após, muito sorridente, Francisco
subiu a escada do avião, apoiando-se com a mão direita no corrimão. Antes de
entrar, saudou as duas Comissárias de bordo e os presentes na pista com um
aceno de mão.
A Rádio Vaticano
transmitirá, com comentários em português, a chegada do Papa ao Aeroporto José
Marti, em Havana, às 16h45 (horário de Brasília). A primeira parte do
encontro com o Patriarca Kirill é a portas fechadas, na presença do
responsável pelo Departamento para as Relações Eclesiásticas Exteriores do
Patriarcado, Metropolita Hilarion, do Presidente do Pontifício Conselho para a
Promoção da Unidade dos Cristãos, Card. Kurt Koch, e de dois intérpretes.
A segunda parte
do encontro, com transmissão ao vivo a partir das 19h55 (horário de Brasília),
é composta pela assinatura da Declaração Conjunta. Haverá a troca dos textos da
Declaração, em italiano e em russo, o discurso do Patriarca, o discurso de
Francisco e a apresentação das duas delegações.
Depois da
despedida, que ocorrerá privadamente, o Papa embarca em direção ao México, para
mais três horas de voo, onde chegará às 19h30 locais. Após o acolimento oficial
no aeroporto Benito Juárez, o Pontífice segue diretamente para a Nunciatura
Apostólica em Cidade do México para o pernoitamento. (JE/BF)
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Papa chega a Havana e encontra o Patriarca Kirill
O avião papal aterrissou em Havana às 13h56 locais. Em terras
cubanas o Papa mantém um encontro histórico com o líder da Igreja Ortodoxa
Russa, o Patriarca Kirill.
Somos irmãos! |
O líder russo chegou
a Cuba nesta quinta-feira (11/02), onde deu início à visita às comunidades
ortodoxas latino-americanas - que prevê também uma etapa no Brasil.
Em seguida,
Francisco se dirige à Cidade do México, onde deverá aterrissar por volta das
19h30 (hora local).
O presidente
Raúl Castro recebeu Francisco no aeroporto “José Martí” e acompanhou o
Pontífice até o local do encontro com o Patriarca Kirill.
Após 962 anos, o
primeiro encontro
Os dois líderes
mantêm encontro por cerca de duas horas, acompanhados por seus tradutores e
seus melhores entendedores para assuntos ecumênicos: o Cardeal Kurt Koch,
Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e o
Metropolita Hilarion, Presidente do Departamento de Relações Eclesiais
Exteriores do Patriarcado de Moscou.
O Papa e o
Patriarca trocarão presentes e assinarão uma Declaração Comum, cujo foco deverá
ser a odisseia dos cristãos no Oriente Médio e também em outros aspectos nos
quais católicos e ortodoxos podem testemunhar juntos seus valores cristãos.
Ambos líderes
concederão uma coletiva de imprensa ao final do encontro para compartilhar suas
impressões e esperanças sobre o futuro das relações católico-ortodoxas. (RB)
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Papa e Patriarca Russo
assinam histórica declaração conjunta
Após a reunião a
portas fechadas, o Papa e o Patriarca Kirill assinaram uma histórica declaração
conjunta que marca uma nova era nas relações entre a Igreja católica e o
Patriarcado Russo.
Dois irmãos na fé partilham documento histórico |
Em 30 itens,
Francisco e o Patriarca Kirill passaram em resenha e assinaram a concordância
sobre temas-chave para a reaproximação entre católicos e ortodoxos.
Entre os tópicos
principais, a preocupação comum sobre a situação dos cristãos no Oriente Médio,
o protagonismo de Cuba e o futuro das relações entre ortodoxos e
greco-católicos.
“Os resultados
da conversa me permitem assegurar que ambas as Igrejas podem cooperar
conjuntamente defendendo os cristãos no mundo inteiro e, com plena
responsabilidade, trabalhar conjuntamente, para que não se faça guerra, para
que se respeite a vida humana no mundo inteiro”, declarou Kirill.
“Falamos
claramente, sem meias palavras”, disse Francisco. "Senti a consolação do
Espírito neste diálogo. São iniciativas viáveis que se podem realizar",
concluiu o Pontífice após a assinatura da declaração.
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Abaixo,
publicamos a íntegra do documento histórico:
Declaração
comum
do Papa Francisco e do Patriarca Kirill de Moscovo e de toda a
Rússia
"A graça do
Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam
com todos vós" (2 Cor 13, 13).
1. Por vontade de Deus Pai de quem provém todo o dom, no nome do Senhor nosso
Jesus Cristo e com a ajuda do Espírito Santo Consolador, nós, Papa Francisco e
Kirill, Patriarca de Moscou e de toda a Rússia, encontramo-nos, hoje, em
Havana. Damos graças a Deus, glorificado na Trindade, por este encontro, o
primeiro na história.
Com alegria,
encontramo-nos como irmãos na fé cristã que se reúnem para “falar de viva voz”
(2 Jo 12), coração a coração, e analisar as relações mútuas entre as Igrejas,
os problemas essenciais de nossos fiéis e as perspectivas de progresso da
civilização humana
Cuba
2. O nosso encontro fraterno teve lugar em Cuba, encruzilhada entre Norte e Sul,
entre Leste e Oeste. A partir desta ilha, símbolo das esperanças do “Novo
Mundo” e dos acontecimentos dramáticos da história do século XX, dirigimos a
nossa palavra a todos os povos da América Latina e dos outros continentes.
Alegramo-nos
porque aqui cresce, de forma dinâmica, a fé cristã. O forte potencial religioso
da América Latina, a sua tradição cristã secular, presente na experiência
pessoal de milhões de pessoas, são a garantia de um grande futuro para esta
região.
3. Encontrando-nos longe das antigas disputas do “Velho Mundo”, sentimos mais
fortemente a necessidade de um trabalho comum entre católicos e ortodoxos,
chamados a dar ao mundo, com mansidão e respeito, razão da esperança que está
em nós (cf. 1 Ped 3, 15).
Tradição comum
4. Damos graças a Deus pelos dons que recebemos da vinda ao mundo do seu único
Filho. Partilhamos a Tradição espiritual comum do primeiro milênio do
cristianismo. As testemunhas desta Tradição são a Virgem Maria, Santíssima Mãe
de Deus, e os Santos que veneramos. Entre eles, contam-se inúmeros mártires que
testemunharam a sua fidelidade a Cristo e se tornaram “semente de cristãos”.
5. Apesar desta Tradição comum dos primeiros dez séculos, há quase mil anos que
católicos e ortodoxos estão privados da comunhão na Eucaristia. Estamos
divididos por feridas causadas por conflitos de um passado distante ou recente,
por divergências – herdadas dos nossos antepassados – na compreensão e
explicitação da nossa fé em Deus, uno em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito
Santo. Deploramos a perda da unidade, consequência da fraqueza humana e do
pecado, ocorrida apesar da Oração Sacerdotal de Cristo Salvador: “Para que
todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti; para que assim eles
estejam em Nós” (Jo 17, 21).
Superar
divergências
6. Conscientes da permanência de numerosos obstáculos, esperamos que o nosso
encontro possa contribuir para o restabelecimento desta unidade querida por
Deus, pela qual Cristo rezou. Que o nosso encontro inspire os cristãos do mundo
inteiro a rezar ao Senhor, com renovado fervor, pela unidade plena de todos os
seus discípulos. Em um mundo que espera de nós não apenas palavras mas gestos
concretos, possa este encontro ser um sinal de esperança para todos os homens
de boa vontade!
7. Determinados a realizar tudo o que seja necessário para superar as divergências
históricas que herdamos, queremos unir os nossos esforços para testemunhar o
Evangelho de Cristo e o patrimônio comum da Igreja do primeiro milênio, respondendo
em conjunto aos desafios do mundo contemporâneo. Ortodoxos e católicos devem
aprender a dar um testemunho concorde da verdade, em áreas onde isso seja
possível e necessário. A civilização humana entrou em um período de mudança de
época. A nossa consciência cristã e a nossa responsabilidade pastoral não nos
permitem ficar inertes perante os desafios que requerem uma resposta comum.
Oriente Médio
8. O nosso olhar dirige-se, em primeiro lugar, para as regiões do mundo onde os
cristãos são vítimas de perseguição. Em muitos países do Oriente Médio e do
Norte da África, os nossos irmãos e irmãs em Cristo veem exterminadas as suas
famílias, aldeias e cidades inteiras. As suas igrejas são barbaramente
devastadas e saqueadas; os seus objetos sagrados profanados, os seus monumentos
destruídos. Na Síria, no Iraque e em outros países do Oriente Médio,
constatamos, com amargura, o êxodo maciço dos cristãos da terra onde começou a
espalhar-se a nossa fé e onde eles viveram, desde o tempo dos apóstolos, em conjunto
com outras comunidades religiosas.
9. Pedimos a ação urgente da Comunidade internacional para prevenir uma nova
expulsão dos cristãos do Oriente Médio. Ao levantar a voz em defesa dos
cristãos perseguidos, queremos expressar a nossa compaixão pelas tribulações
sofridas pelos fiéis de outras tradições religiosas, também eles vítimas da
guerra civil, do caos e da violência terrorista.
10. Na Síria e no Iraque, a violência já causou milhares de vítimas, deixando
milhões de pessoas sem casa nem meios de subsistência. Exortamos a Comunidade
internacional a unir-se para pôr fim à violência e ao terrorismo e, ao mesmo
tempo, a contribuir por meio do diálogo para um rápido restabelecimento da paz
civil. É essencial garantir uma ajuda humanitária em larga escala às populações
martirizadas e a tantos refugiados nos países vizinhos.
Pedimos a
quantos possam influir sobre o destino das pessoas raptadas, entre as quais se
encontram os Metropolitas de Aleppo, Paulo e João Ibrahim, sequestrados no mês de
Abril de 2013, que façam tudo o que é necessário para a sua rápida libertação.
Acordo de Paz
11. Elevamos as nossas súplicas a Cristo, Salvador do mundo, pelo restabelecimento
da paz no Oriente Médio, que é “fruto da justiça” (Is 32, 17), a fim de que se
reforce a convivência fraterna entre as várias populações, as Igrejas e as
religiões lá presentes, pelo regresso dos refugiados às suas casas, a cura dos
feridos e o repouso da alma dos inocentes que morreram.
Com um ardente
apelo, dirigimo-nos a todas as partes que possam estar envolvidas nos conflitos
pedindo-lhes que deem prova de boa vontade e se sentem à mesa das negociações.
Ao mesmo tempo, é preciso que a Comunidade internacional faça todos os esforços
possíveis para pôr fim ao terrorismo valendo-se de ações comuns, conjuntas e
coordenadas. Apelamos a todos os países envolvidos na luta contra o terrorismo,
para que atuem de maneira responsável e prudente. Exortamos todos os cristãos e
todos os crentes em Deus a suplicarem, fervorosamente, ao Criador providente do
mundo que proteja a sua criação da destruição e não permita uma nova guerra
mundial. Para que a paz seja duradoura e esperançosa, são necessários esforços
específicos tendentes a redescobrir os valores comuns que nos unem, fundados no
Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
12. Curvamo-nos perante o martírio daqueles que, à custa da própria vida,
testemunham a verdade do Evangelho, preferindo a morte à apostasia de Cristo.
Acreditamos que estes mártires do nosso tempo, pertencentes a várias Igrejas
mas unidos por uma tribulação comum, são um penhor da unidade dos cristãos. É a
vós, que sofreis por Cristo, que se dirige a palavra do Apóstolo: “Caríssimos,
(...) alegrai-vos, pois assim como participais dos padecimentos de Cristo,
assim também rejubilareis de alegria na altura da revelação da sua glória” (1
Ped 4, 12-13).
Diálogo e Europa
13. Nesta época preocupante, é indispensável o diálogo inter-religioso. As
diferenças na compreensão das verdades religiosas não devem impedir que pessoas
de crenças diversas vivam em paz e harmonia. Nas circunstâncias atuais, os
líderes religiosos têm a responsabilidade particular de educar os seus fiéis
num espírito respeitador das convicções daqueles que pertencem a outras
tradições religiosas. São absolutamente inaceitáveis as tentativas de
justificar ações criminosas com slogans religiosos. Nenhum crime pode ser
cometido em nome de Deus, “porque Deus não é um Deus de desordem, mas de paz”
(1 Cor 14, 33).
14. Ao afirmar o alto valor da liberdade religiosa, damos graças a Deus pela
renovação sem precedentes da fé cristã que acontece na Rússia e em muitos
países da Europa Oriental, onde, durante algumas décadas, dominaram os regimes
ateus. Hoje as cadeias do ateísmo militante estão quebradas e, em muitos
lugares, os cristãos podem livremente confessar a sua fé. Em um quarto de século
foram construídas dezenas de milhares de novas igrejas, e abertos centenas de
mosteiros e escolas teológicas. As comunidades cristãs desenvolvem uma
importante atividade sócio-caritativa, prestando variada assistência aos
necessitados. Muitas vezes trabalham lado a lado ortodoxos e católicos; atestam
a existência dos fundamentos espirituais comuns da convivência humana, ao
testemunhar os valores do Evangelho.
15. Ao mesmo tempo, estamos preocupados com a situação em muitos países onde os
cristãos se debatem cada vez mais frequentemente com uma restrição da liberdade
religiosa, do direito de testemunhar as suas convicções e da possibilidade de
viver de acordo com elas. Em particular, constatamos que a transformação de
alguns países em sociedades secularizadas, alheias a qualquer referência a Deus
e à sua verdade, constitui uma grave ameaça à liberdade religiosa. É fonte de
inquietação para nós a limitação atual dos direitos dos cristãos, se não mesmo
a sua discriminação, quando algumas forças políticas, guiadas pela ideologia de
um secularismo frequentemente muito agressivo, procuram relegá-los para a
margem da vida pública.
16. O processo de integração europeia, iniciado depois de séculos de sangrentos
conflitos, foi acolhido por muitos com esperança, como uma garantia de paz e
segurança. Todavia, convidamos a manter-se vigilantes contra uma integração que
não fosse respeitadora das identidades religiosas. Embora permanecendo abertos
à contribuição de outras religiões para a nossa civilização, estamos
convencidos de que a Europa deve permanecer fiel às suas raízes cristãs.
Pedimos aos cristãos da Europa Oriental e Ocidental que se unam para
testemunhar em conjunto Cristo e o Evangelho, de modo que a Europa conserve a
própria alma formada por dois mil anos de tradição cristã.
Família
17. O nosso olhar volta-se para as pessoas que se encontram em situações de grande
dificuldade, em condições de extrema necessidade e pobreza, enquanto crescem as
riquezas materiais da humanidade. Não podemos ficar indiferentes à sorte de
milhões de migrantes e refugiados que batem à porta dos países ricos. O consumo
desenfreado, como se vê em alguns países mais desenvolvidos, está gradualmente
esgotando os recursos do nosso planeta. A crescente desigualdade na distribuição
dos bens da Terra aumenta o sentimento de injustiça perante o sistema de
relações internacionais que se estabeleceu.
18. As Igrejas cristãs são chamadas a defender as exigências da justiça, o respeito
pelas tradições dos povos e uma autêntica solidariedade com todos os que
sofrem. Nós, cristãos, não devemos esquecer que “o que há de louco no mundo é
que Deus escolheu para confundir os sábios; e o que há de fraco no mundo é que
Deus escolheu para confundir o que é forte. O que o mundo considera vil e
desprezível é que Deus escolheu; escolheu os que nada são, para reduzir a nada
aqueles que são alguma coisa. Assim, ninguém se pode vangloriar diante de Deus”
(1 Cor 1, 27-29).
19. A família é o centro natural da vida humana e da sociedade. Estamos preocupados
com a crise da família em muitos países. Ortodoxos e católicos partilham a
mesma concepção da família e são chamados a testemunhar que ela é um caminho de
santidade, que testemunha a fidelidade dos esposos nas suas relações mútuas, a
sua abertura à procriação e à educação dos filhos, a solidariedade entre as
gerações e o respeito pelos mais vulneráveis.
20. A família funda-se no matrimônio, ato de amor livre e fiel entre um homem e uma
mulher. É o amor que sela a sua união e os ensina a acolher-se reciprocamente
como um dom. O matrimônio é uma escola de amor e fidelidade. Lamentamos que
outras formas de convivência já estejam postas ao mesmo nível desta união, ao
passo que o conceito, santificado pela tradição bíblica, de paternidade e de
maternidade como vocação particular do homem e da mulher no matrimônio, seja
banido da consciência pública.
21. Pedimos a todos que respeitem o direito inalienável à vida. Milhões de crianças
são privadas da própria possibilidade de nascer no mundo. A voz do sangue das
crianças não nascidas clama a Deus (cf. Gn 4, 10).
O
desenvolvimento da chamada eutanásia faz com que as pessoas idosas e os doentes
comecem a sentir-se um peso excessivo para as suas famílias e a sociedade em
geral.
Estamos preocupados
também com o desenvolvimento das tecnologias reprodutivas biomédicas, porque a
manipulação da vida humana é um ataque aos fundamentos da existência do homem,
criado à imagem de Deus. Consideramos nosso dever lembrar a imutabilidade dos
princípios morais cristãos, baseados no respeito pela dignidade do homem
chamado à vida, segundo o desígnio do Criador.
Juventude
22. Hoje, desejamos dirigir-nos de modo particular aos jovens cristãos. Vós,
jovens, tendes o dever de não esconder o talento na terra (cf. Mt 25, 25), mas
de usar todas as capacidades que Deus vos deu para confirmar no mundo as
verdades de Cristo, encarnar na vossa vida os mandamentos evangélicos do amor
de Deus e do próximo. Não tenhais medo de ir contra a corrente, defendendo a
verdade de Deus, à qual estão longe de se conformar sempre as normas
secularizadas de hoje.
23. Deus ama-vos e espera de cada um de vós que sejais seus discípulos e apóstolos.
Sede a luz do mundo, de modo que quantos vivem ao vosso redor, vendo as vossas
boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está no Céu (cf. Mt 5, 14.16). Haveis
de educar os vossos filhos na fé cristã, transmitindo-lhes a pérola preciosa da
fé (cf. Mt 13, 46), que recebestes dos vossos pais e antepassados. Lembrai-vos
que “fostes comprados por um alto preço” (1 Cor 6, 20), a custo da morte na
cruz do Homem-Deus Jesus Cristo.
24. Ortodoxos e católicos estão unidos não só pela Tradição comum da Igreja do
primeiro milênio mas também pela missão de pregar o Evangelho de Cristo no
mundo de hoje. Esta missão exige o respeito mútuo entre os membros das
comunidades cristãs e exclui qualquer forma de proselitismo.
Não somos
concorrentes, mas irmãos: por esta certeza, devem ser guiadas todas as nossas
ações recíprocas e em benefício do mundo exterior. Exortamos os católicos e os
ortodoxos de todos os países a aprender a viver juntos na paz e no amor e a ter
“os mesmos sentimentos, uns com os outros” (Rm 15, 5). Por isso, é inaceitável
o uso de meios desleais para incitar os crentes a passar de uma Igreja para
outra, negando a sua liberdade religiosa ou as suas tradições. Somos chamados a
pôr em prática o preceito do apóstolo Paulo: “Tive a maior preocupação em não
anunciar o Evangelho onde já era invocado o nome de Cristo, para não edificar
sobre fundamento alheio” (Rm 15, 20).
Greco-católicos
25. Esperamos que o nosso encontro possa contribuir também para a reconciliação,
onde existirem tensões entre greco-católicos e ortodoxos. Hoje, é claro que o
método do “uniatismo” do passado, entendido como a união de uma comunidade à
outra separando-a da sua Igreja, não é uma forma que permita restabelecer a unidade.
Contudo, as comunidades eclesiais surgidas nestas circunstâncias históricas têm
o direito de existir e de empreender tudo o que é necessário para satisfazer as
exigências espirituais dos seus fiéis, procurando ao mesmo tempo viver em paz
com os seus vizinhos. Ortodoxos e greco-católicos precisam de reconciliar-se e
encontrar formas mutuamente aceitáveis de convivência.
26. Deploramos o conflito na Ucrânia que já causou muitas vítimas, provocou
inúmeras tribulações a gente pacífica e lançou a sociedade em uma grave crise
econômica e humanitária. Convidamos todas as partes do conflito à prudência, à
solidariedade social e à atividade de construir a paz. Convidamos as nossas
Igrejas na Ucrânia a trabalhar por se chegar à harmonia social, abster-se de participar
no conflito e não apoiar ulteriores desenvolvimentos do mesmo.
27. Esperamos que o cisma entre os fiéis ortodoxos na Ucrânia possa ser superado
com base nas normas canônicas existentes, que todos os cristãos ortodoxos da
Ucrânia vivam em paz e harmonia, e que as comunidades católicas do país
contribuam para isso de modo que seja visível cada vez mais a nossa
fraternidade cristã.
28. No mundo contemporâneo, multiforme e todavia unido por um destino comum,
católicos e ortodoxos são chamados a colaborar fraternalmente no anúncio da Boa
Nova da salvação, a testemunhar juntos a dignidade moral e a liberdade
autêntica da pessoa, “para que o mundo creia” (Jo 17, 21). Este mundo, onde vão
desaparecendo progressivamente os pilares espirituais da existência humana,
espera de nós um vigoroso testemunho cristão em todas as áreas da vida pessoal
e social. Nestes tempos difíceis, o futuro da humanidade depende em grande
parte da nossa capacidade conjunta de darmos testemunho do Espírito de verdade.
Testemunhas da
verdade
29. Neste corajoso testemunho da verdade de Deus e da Boa Nova salvífica, possa
sustentar-nos o Homem-Deus Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, que nos
fortifica espiritualmente com a sua promessa infalível: “Não temais, pequenino
rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12, 32).
Cristo é fonte
de alegria e de esperança. A fé n’Ele transfigura a vida humana, enche-a de
significado. Disto mesmo puderam convencer-se, por experiência própria, todos
aqueles a quem é possível aplicar as palavras do apóstolo Pedro: “Vós que
outrora não éreis um povo, mas sois agora povo de Deus, vós que não tínheis
alcançado misericórdia e agora alcançastes misericórdia” (1 Ped 2, 10).
30. Cheios de gratidão pelo dom da compreensão recíproca manifestada durante o
nosso encontro, levantamos os olhos agradecidos para a Santíssima Mãe de Deus,
invocando-A com as palavras desta antiga oração: “Sob o abrigo da vossa
misericórdia, nos refugiamos, Santa Mãe de Deus”. Que a bem-aventurada Virgem
Maria, com a sua intercessão, encoraje à fraternidade aqueles que A veneram,
para que, no tempo estabelecido por Deus, sejam reunidos em paz e harmonia num
só povo de Deus para glória da Santíssima e indivisível Trindade!
Havana (Cuba),
12 de fevereiro de 2016.
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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