dos temas tratados pelo Papa com jornalistas
RV: O Papa
sublinhou que quem pensa somente em levantar muros e não pontes, não é cristão.
Muitos falaram de uma excomunhão, se podemos assim dizer, em relação ao
candidato republicado na corrida pela Casa Branca, Donald Trump....
Papa Francisco e Padre Federico Lombardi |
RV: Foi pedido
ao Papa também um comentário sobre as reações dos greco-católicos na Ucrânia
após a declaração conjunta firmada pelo Papa Francisco e pelo Patriarca Kirill.
O que poderia ser sublinhado na resposta do Pontífice?
Padre Federico Lombardi: “Havia coisas
muito interessantes nesta resposta. Antes de tudo, o Papa ressaltou a sua
profunda, antiga e ótima relação pessoal com o Arcebispo-Mor Shevchuk. E isto é
muito interessante, evidentemente. Depois salientou também o que foi referido
de positivo na entrevista do Arcebispo-Mor. O que foi mais importante no evento
foi o encontro em si mesmo e isto o Arcebispo o entende muito bem, como todos
entendemos muito bem. A grande novidade é o fato de ter aberto uma porta para
uma relação direta entre o Papa e o Patriarca, que é naturalmente o início, a
possibilidade de um caminho que depois pode desenvolver-se, ter tantas
consequências positivas. A questão do documento e dos pontos que dizem respeito
à Ucrânia no documento, é depois uma dimensão também um pouco mais opinável, se
assim o quisermos. Como o Papa destacou, pode-se entender que pessoas muito
envolvidas, com grandes sofrimentos, tenham as suas reações ou as suas perspectivas
pessoais ou comuns, motivo pelo qual sentem uma dificuldade em aceitar o que
foi escrito sobre a Ucrânia no documento. Ao mesmo tempo, devemos ser objetivos
e ver que no documento se fala de expectativas de paz, de responsabilidade no
agir em relação à paz. E o Papa acrescentou na sua resposta, que ele sempre
insistiu que os Acordos de Minsk devem ser levados à sério e é necessário
procurar implementá-los efetivamente. Depois eu observaria que, também na
declaração comum, existem pontos muito importantes no que se refere às Igrejas
Greco-católicas, como a claríssima afirmação do seu direito de existência, o
que não era tão implícito assim. Portanto, o fato de que as Igrejas
Greco-católicas devem ser consideradas, respeitadas plenamente na sua existência
e na sua vida, também pela parte ortodoxa e pelo Patriarcado Russo, e isto é um
ponto certamente significativo. Me parece, assim, que o Papa tenha demonstrado
a sua compreensão pelas dificuldades de aceitação por parte de quem vive uma
situação dramática, mas tenha também ajudado - como ele disse – a ver as coisas
mais no conjunto, e no conjunto a avaliação positiva a ser dada ao encontro é
absolutamente dominante, e também muito presente na própria entrevista do
Arcebispo-Mor”.
RV: À propósito
das estratégias para combater a difusão do vírus Zika, o Papa Francisco
reiterou que o aborto é um crime, um mal absoluto. A mídia falou de uma
abertura do Papa à contracepção. O que o senhor poderia dizer a este respeito?
Padre Federico Lombardi: O aspecto
fundamental, me parece que tenha sido acolhido, e é que o Papa fala da
inaceitabilidade do aborto como solução. Nestes casos, pelo contrário,
infelizmente, houve tomadas de posição ou declarações que pareciam seguir nesta
direção da facilitação do aborto, algo que para nós é absolutamente
inaceitável. O Papa distingue depois, claramente, a radicalidade do mal do
aborto como supressão de uma vida humana e a possibilidade do recurso à
contracepção ou preservativos em casos de emergência ou situações particulares,
em que, desta forma, não se suprime uma vida humana, mas se evita uma gravidez.
Ora, não é que ele diga que é aceito e usado o recurso sem nenhum
discernimento, antes pelo contrário, disse claramente que pode ser levado em
consideração em casos particulares de emergência. O exemplo que fez de Paulo VI
e da autorização ao uso da pílula para as religiosas que corriam risco grave e
contínuo de violência por parte dos rebeldes no Congo, no tempo das tragédias
da guerra do Congo, faz entender que não é que fosse uma situação normal em que
isto era levado em consideração. E também – recordamos por exemplo – a
discussão seguida a um passo do livro-entrevista de Bento XVI “Luz do mundo”,
em que ele falava à propósito do uso do preservativo em situações com risco de
contágio, por exemplo, da AIDS. Assim, o contraceptivo ou o preservativo, em
casos de particular emergência e gravidade, podem também ser objeto de um
discernimento de consciência sério. Isto diz o Papa. Enquanto sobre o aborto
não deu espaço à considerações. Depois o Papa insistiu que é necessário buscar,
naturalmente, desenvolver toda a pesquisa científica, as vacinas, de modo a
enfrentar esta epidemia e este risco do vírus Zika, que está suscitando tantas
preocupações, e porém, é necessário que não se caia no pânico e assim, se
busque orientações ou tomadas de decisões que sejam desproporcionais à
realidade do problema. Portanto, entender bem a natureza do problema, continuar
a estudá-lo, a reagir também com a pesquisa, para encontrar as soluções mais
substanciais e mais estáveis; evitar, portanto, um recurso ao aborto e,
em caso de situações de emergência grave, então uma consciência bem formada
poder ver se existem possibilidade ou necessidades de recurso à não-abortivos
para prevenir a gravidez.
RV: Na França,
alguns associaram a resposta do Papa sobre os bispos, responsáveis por
acobertar casos de pedofilia, ao caso do Cardeal Barbarin. É correta esta
ligação?
Padre Federico Lombardi: “Não! A meu ver
não há nenhum fundamento. A pergunta era feita por um jornalista mexicano que
tinha em mente – digamos – os acontecimentos envolvendo o Padre Maciel ou mesmo
aqueles dos Estados Unidos, que estão mais próximos ao México, e no que se
refere a casos efetivos de acobertamento, em que irresponsavelmente sacerdotes
que tenham sido culpados ou que tenham se comportado em modo absolutamente
grave, casaram-se, colocando assim em risco outras situações. Neste sentido o
Papa diz: o bispo faltaria com a responsabilidade e, portanto, deveria se
demitir. Mas o caso do Cardeal Barbarin é completamente diferente: ele absolutamente
não tomou iniciativas para acobertar, mas encontrou-se diante de uma situação
de muitos anos antes, em que não houve acusações particulares, e sempre
enfrentou a questão com extrema responsabilidade. Portanto, não penso que esta
resposta do Papa possa ser ligada a este caso, que é delicado e complexo e em
que o Cardeal, me parece, esteja dando passos com muita responsabilidade”.
RV: Respondendo
a uma pergunta sobre o debate no Parlamento italiano sobre uniões civis,
Francisco disse que “o Papa não se envolve”. No entanto, acrescentou que um
parlamentar católico deve votar segundo “uma consciência bem formada”. É
significativo que muitas mídias tenham omitido a expressão “bem formada”...
Padre Federico Lombardi: “Sim. O Papa
respondeu muito brevemente, dizendo que não queria envolver-se nas questões da
política italiana. Porém acrescentou este tema da “consciência bem formada”,
dizendo que “não é a consciência do “aquilo que eu acho””. Portanto, liberdade
de consciência não quer dizer que agora eu digo o que eu acho, assumo uma
posição que me pareça mais vantajosa ou mais fácil, ou motivada por interesses
políticos ou por jogo de poder. Não! Diz: a consciência bem formada é aquela
que orientada por considerações profundas e objetivas dos valores de
responsabilidade em relação às pessoas, à família e à sociedade. Assim, neste
caso, acredito que a “consciência bem formada” deva estar bem consciente de
qual seja o valor da família na sociedade e que a família deve ser defendida
também do ponto de vista legislativo e que existe o valor do interesse das
crianças, do interesse dos filhos e de sua educação, que frequentemente é
esquecido em favor de interesses de caráter mais individualista. Assim, neste
sentido, o Papa – sem dar indicações operativas particulares e deixando também
às Conferências Episcopais as suas responsabilidades – ajuda a entender que
existe todo um trabalho de aprofundamento, em que também a Doutrina Social da
Igreja ajuda a uma visão da realidade humana mais aprofundada e objetiva, na
qual é necessário inspirar-se nas decisões que dizem respeito ao bem da
sociedade, o bem da família, o bem das pessoas”.
RV: A coletiva
de imprensa do Papa no avião fez com que a viagem ao México passasse para um
segundo plano. O que ficou da viagem de Francisco?
Padre Federico Lombardi: “Ficou muitíssimo,
evidentemente. Para mim ficou a ideia de um grande encontro que aconteceu. O
Papa fala sempre da “cultura do encontro” e uma viagem é o encontro entre o
Papa e um grande povo. Neste caso um povo que ama o Papa e que expressa também
muito eficazmente os seus sentimentos e o seu amor, e a quem o Papa
aproximou-se com toda a riqueza de sua humanidade e da sua capacidade de
comunicar o amor de Deus através de seus gestos, através a sua proximidade,
através o seu calor e a sua ternura. O lema desta viagem era “Mensageiro da
misericórdia e da paz” e me parece que tenha sido realmente concretizado.
Permanece também o momento cúlmine do ponto de vista espiritual, que foi o
encontro entre o Papa e a Virgem de Guadalupe, depois da celebração da Missa.
Naquele momento, aquele tempo de diálogo silencioso, que exprimia a relação
mais intensa entre a Virgem e o Papa. Esta relação desenvolveu-se depois,
também mostrando as suas consequências, a sua inspiração em todos os outros
momentos da viagem. Uma viagem – podemos dizer – “guadalupana”. Certamente o
Papa teve presente e mostrou a sua consciência diante dos grandes problemas do
México, que – sabemos – o Papa tocou e que repetiu muitas vezes: as migrações,
a violência, o narcotráfico, as injustiças em relação aos indígenas.... Porém
esta gravidade dos problemas não impediu que a mensagem fundamental do Papa
fosse uma mensagem de encorajamento, de esperança e de chamada de atenção de
todos á responsabilidade. Este falar, antes de tudo aos jovens, ao povo do
México como um povo jovem: os jovens são a riqueza, a esperança e aqueles que,
comprometendo-se – segundo as suas possibilidades, e com a ajuda responsável
também de todos os outros componentes da sociedade – podem esperar também em um
futuro melhor. Portanto, me pareceu uma viagem de misericórdia, de paz, também
de grande esperança e de encontro jubiloso, profundo, suscitador de boas
energias para o povo do México. Mais do que isto não sei o que poderíamos
desejar...”. (JE)
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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