Papa se despede da África e pede sociedade justa e fraterna
O pontífice
disse aos centro-africanos que cada um deles é chamado a ser, com a
perseverança da sua fé e com o seu compromisso missionário, artesão da
renovação humana e espiritual de seu país. Francisco os convidou a se
comprometerem na construção de uma sociedade mais justa e fraterna, onde
ninguém é abandonado.
A seguir, a
íntegra da homilia do Papa Francisco.
Ao ouvir a
primeira Leitura, podemos ter ficado maravilhados com o entusiasmo e o
dinamismo missionário presente no apóstolo Paulo. «Que bem-vindos são os pés
dos que anunciam as boas novas!» (Rm 10, 15). Estas palavras são um convite a
darmos graças pelo dom da fé que recebemos destes mensageiros que no-la
transmitiram. E são também um convite a maravilhar-nos à vista da obra
missionária que trouxe, pela primeira vez – não há muito tempo –, a alegria do
Evangelho a esta amada terra da África Central. É bom, sobretudo quando os
tempos são difíceis, quando não faltam as provações e os sofrimentos, quando o
futuro é incerto e nos sentimos cansados e com medo de falir, é bom reunir-se
ao redor do Senhor, como fazemos hoje, rejubilando pela sua presença, pela vida
nova e a salvação que nos propõe, como outra margem para a qual nos devemos
encaminhar.
Tenhamos esperança e e entusiasmo pelo futuro |
Esta outra
margem é, sem dúvida, a vida eterna, o Céu onde nos esperam. Este olhar voltado
para o mundo futuro sempre sustentou a coragem dos cristãos, dos mais pobres,
dos mais humildes, na sua peregrinação terrena. Esta vida eterna não é uma
ilusão, não é uma fuga do mundo; é uma realidade poderosa que nos chama e
compromete a perseverar na fé e no amor.
Mas, a outra
margem mais imediata que procuramos alcançar, esta salvação adquirida pela fé
de que nos fala São Paulo, é uma realidade que transforma já a nossa vida
presente e o mundo em que vivemos: «É que acreditar de coração leva a obter a
justiça» (cf. Rm 10, 10). O crente acolhe a própria vida de Cristo, que o torna
capaz de amar a Deus e amar os outros duma maneira nova, a ponto de fazer
nascer um mundo renovado pelo amor.
Demos graças ao
Senhor pela sua presença e pela força que nos dá no dia-a-dia da nossa vida,
quando experimentamos o sofrimento físico ou moral, uma pena, um luto; pelos
atos de solidariedade e generosidade de que nos torna capazes; pela alegria e o
amor que faz brilhar nas nossas famílias, nas nossas comunidades, não obstante
a miséria, a violência que às vezes nos circunda ou o medo do amanhã; pela
coragem que infunde nas nossas almas de querer criar laços de amizade, de
dialogar com aqueles que não são como nós, de perdoar a quem nos fez mal, de
nos comprometermos na construção duma sociedade mais justa e fraterna, onde
ninguém é abandonado. Em tudo isso, Cristo ressuscitado toma-nos pela mão e
leva-nos a segui-Lo. Quero dar graças convosco ao Senhor de misericórdia por
tudo aquilo que vos concedeu realizar de bom, de generoso, de corajoso nas
vossas famílias e nas vossas comunidades, durante os acontecimentos que há
muitos anos se têm verificado no vosso país.
Todavia é
verdade também que ainda não chegamos à meta, de certo modo estamos no meio do
rio, e devemos decidir-nos com coragem, num renovado compromisso missionário, a
passar à outra margem. Cada baptizado deve romper, sem cessar, com aquilo que
ainda há nele do homem velho, do homem pecador, sempre pronto a reanimar-se ao
apelo do diabo (e como age no nosso mundo e nestes tempos de conflito, de ódio
e de guerra!) para o levar ao egoísmo, a fechar-se desconfiado em si mesmo, à
violência e ao instinto de destruição, à vingança, ao abandono e à exploração
dos mais fracos…
Sabemos também
quanta estrada têm ainda de percorrer as nossas comunidades cristãs, chamadas à
santidade. Todos temos, sem dúvida, de pedir perdão ao Senhor pelas numerosas
resistências e relaxamentos em dar testemunho do Evangelho. Que o Ano Jubilar
da Misericórdia, agora iniciado no vosso país, seja ocasião para isso! E vós,
queridos centro-africanos, deveis sobretudo olhar para o futuro e, fortes com o
caminho já percorrido, decidir resolutamente realizar uma nova etapa na
história cristã do vosso país, lançar-vos para novos horizontes, fazer-vos mais
ao largo para águas profundas. O apóstolo André, com seu irmão Pedro, não
hesitaram um momento em deixar tudo à chamada de Jesus para O seguir: «E eles
deixaram as redes imediatamente e seguiram-No» (Mt 4, 20). Ficamos
maravilhados, também aqui, com tanto entusiasmo por parte dos Apóstolos: de tal
maneira os atrai Cristo a Si que se sentem capazes de poder empreender tudo, e
tudo ousar com Ele.
Assim cada um
pode, no seu coração, fazer a pergunta tão importante acerca da sua ligação
pessoal com Jesus, examinar o que já aceitou – ou recusou – a fim de responder
à sua chamada para O seguir mais de perto. O grito dos mensageiros ressoa mais
forte do que nunca aos nossos ouvidos, precisamente quando os tempos são duros;
aquele grito que «ressoou por toda a terra e até aos confins do mundo» (cf. Rm
10, 18; Sal 19/18, 5). E ressoa aqui, hoje, nesta terra da África Central;
ressoa nos nossos corações, nas nossas famílias, nas nossas paróquias, em
qualquer parte onde vivemos, e convida-nos à perseverança no entusiasmo da
missão; uma missão que precisa de novos mensageiros, ainda mais numerosos,
ainda mais generosos, ainda mais jubilosos, ainda mais santos. E somos
chamados, todos e cada um de nós, a ser este mensageiro que o nosso irmão de
qualquer etnia, religião, cultura espera, muitas vezes sem o saber. De facto,
como poderá este irmão acreditar em Cristo – pergunta-se São Paulo –, se a
Palavra não for ouvida nem proclamada?
Também nós, a
exemplo do Apóstolo, devemos estar cheios de esperança e entusiasmo pelo
futuro. A outra margem está ao alcance da mão, e Jesus atravessa o rio connosco.
Ele ressuscitou dos mortos; desde então, se aceitarmos ligar-nos à sua Pessoa,
as provações e os sofrimentos que vivemos sempre constituem oportunidades que
abrem para um futuro novo. Cristãos da África Central, cada um de vós é chamado
a ser, com a perseverança da sua fé e com o seu compromisso missionário,
artesão da renovação humana e espiritual do vosso país.
A Virgem Maria,
que, depois de ter compartilhado os sofrimentos da paixão, partilha agora a
alegria perfeita com o seu Filho, vos proteja e encoraje neste caminho de
esperança. Amém.
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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