"Vou à África como mensageiro de paz e reconciliação"
Cidade do
Vaticano (RV) - O Papa Francisco saudou, nesta segunda-feira (23/11), em duas
mensagens em vídeo, os povos do Quênia, Uganda e República Centro-Africana,
nações que o pontífice visitará a partir de quarta-feira até o próximo dia 30.
“Envio a todos
vocês e suas famílias uma palavra de saudação e amizade”, disse o Papa na
mensagem enviada ao Quênia e Uganda.
“Venho como um
ministro do Evangelho para proclamar o amor de Jesus Cristo e sua mensagem de
reconciliação, perdão e paz. A minha visita tem como objetivo confirmar a
comunidade católica na fé em Deus e no testemunho do Evangelho, que ensina a
dignidade de cada homem e mulher, e nos recomenda a abrir os nossos corações
aos outros, especialmente aos pobres e necessitados”, frisou ainda o Pontífice
Compreensão e o
respeito
Todos os povos são irmãos, filhos do mesmo Pai |
Francisco deseja
encontrar todas as pessoas do Quênia e Uganda e oferecer-lhes uma palavra de
encorajamento. “Estamos vivendo um tempo em que os fiéis de todas as religiões
e pessoas de boa vontade são chamados a promover a compreensão e o respeito
recíproco, e a ajudar uns aos outros como membros da mesma família humana. Um
momento especial de minha visita será marcado pelos encontros com os jovens,
que são a sua riqueza principal, e a nossa esperança promissora por um futuro
de solidariedade, paz e progresso”, disse ainda o Santo Padre.
Francisco
agradece a todas as pessoas que estão trabalhando na preparação de sua visita.
“Peço a cada um para rezar a fim de que a minha estada no Quênia e Uganda seja
fonte de esperança e estímulo para todos”, sublinhou.
Mensageiro de
paz
O Papa saudou
com afeto, na segunda mensagem, os irmãos e irmãs da República Centro-Africana.
“É a primeira vez que visito o continente africano, lindo e rico por sua
natureza, povos e culturas. Espero fazer grandes descobertas e encontros
enriquecedores”, falou o Pontífice.
Futuro mais
justo e sereno
“Este querido
país está vivendo há muito tempo uma situação de violência e insegurança. O
objetivo da minha visita é sobretudo levar, em nome de Jesus, consolo e
esperança. Espero de coração que a minha visita possa contribuir, de uma forma
ou de outra, a atenuar as feridas e favorecer as condições por um futuro mais
sereno para a República Centro-Africana e todos os seus habitantes”, sublinhou
Francisco.
Citando o tema
desta viagem, “Passemos para o outro lado”, o Papa disse que este é um tema que
“convida as nossas comunidades cristãs a olharem adiante com determinação e
encoraja cada um a renovar a própria relação com Deus e com os irmãos a fim de
construir um mundo mais justo e mais fraterno”.
Ano Jubilar da
Misericórdia
“Terei a alegria
de abrir para vocês o Ano Jubilar da Misericórdia que espero seja para cada um
ocasião de perdão autêntico, ocasião para receber e doar, e de renovação no
amor.”
“Venho entre
vocês como mensageiro de paz. Desejo promover o diálogo inter-religioso a fim
de incentivar a convivência pacífica em seu país: sei que isto é possível
porque somos todos irmãos”, concluiu Francisco. (MJ)
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Bispo de Lira:
Que a visita do Papa a Uganda traga um raio de luz
Campala (RV) –
Uganda será a segunda etapa da viagem do Papa Francisco à África. Proveniente
do Quênia, o Pontífice chegará à Entebe na tarde de sexta-feira, 27 de
novembro. Sobre as expectativas da visita do Papa ao país, a Rádio Vaticano
ouviu o Bispo da Diocese ugandense de Lira, Dom Giuseppe Franzelli:
Que Deus proteja o Mensageiro da Paz! |
“As expectativas
são muitas, porque claramente os católicos, mas também toda a população
ugandense, está cheia de entusiasmo pela ideia de que o Papa Francisco venha
nos encontrar. Entre outras coisas, também estamos um pouco orgulhosos – e
penso que o Senhor nos perdoará – porque Uganda será o único país africano a
ter a visita de três Papas: Paulo VI em 1969, João Paulo II em 1993 e agora o
Papa Francisco. Esta expectativa é grande, tanto que existem muitíssimas
pessoas que gostariam de vir a Campala para encontrá-lo, algo que,
evidentemente, não será possível a todos. Mas esta expectativa se baseia no
fato de que as pessoas entenderam quem é Pedro, que segundo a missão que lhe
confiou Jesus, vem visitar, confirmar na fé os seus irmãos. O tema da visita do
Papa é a citação dos Atos dos Apóstolos “Vocês serão minhas testemunhas”, e é
um tema que se relaciona diretamente ao evento que será celebrado, isto é, o
50º aniversário da canonização dos 22 mártires de Uganda. Então são justamente
os mártires – “mártires” significa “testemunhos” – que nos convidam a nós
católicos a refletirmos, e também aos não-cristãos, sobre a qualidade e a força
da nossa fé hoje, em Uganda, para ver se também nós, como eles – na maioria
eram jovens - somos capazes de sermos firmes na nossa fé, sem
comprometimentos com outras coisas, sem medo. É um desafio grande e por isto
nós esperamos – e rezamos – para que a visita do Papa traga um fortalecimento,
uma renovação de que a Igreja Católica em Uganda, e também todo o país, tem,
sem sombra de dúvida, necessidade”.
RV: Que país o
Papa Francisco encontrará?
Dom Giuseppe Franzelli: “Um país que em
9 de outubro passado celebrou o 53° aniversário de sua independência. 53 anos
em que tantas coisas bonitas aconteceram e pelas quais agradecemos ao Senhor: o
desenvolvimento que houve e assim por diante. Mas também 53 anos que viram um
país ser ensanguentado por revoltas internas, golpes de Estado e assim por
diante, que no geral viram sempre quem chegava ao poder se vingar contra quem
estava antes, dividindo assim o país. É, portanto, um país ferido. No que diz
respeito ao norte, a parte onde atuo como Bispo de Lira, nós acabamos de sair,
há poucos anos, de mais de 20 anos de rebelião do Lord’s Resistance Army
(Exército de Resistência do Senhor), de Joseph Kony, que destruiu tudo aquilo
que era possível e dividiram as famílias. E agora existe uma grande necessidade
de reconstrução que não é somente material, de edifícios destruídos, de
estradas que não existem mais, mas de uma reconstrução, eu diria, da fibra moral
da população e também dos valores cristãos que foram esquecidos ou contrapostos
com estas violências, mutilações, sequestros e assim por diante, e pelo desejo
de que existe de vingar-se; ou mesmo de recuperar-se deste trauma, pois ao
menos a nossa população no Norte é uma população traumatizada por estes eventos
e serão necessárias duas gerações, penso, para superar isto. Mas isto não quer
dizer que no restante do país não existam problemas. Existem duas visões do
ponto de vista étnico e político. É uma democracia bastante frágil, onde por
anos houve um partido único e onde mais tarde entrou o multipartidarismo, com
uma tendência a olhar quem é de um partido, de um grupo diferente, não como um
irmão e irmã da mesma família, que tem ideias diferentes, mas como inimigo.
Isto está aparecendo mais ainda agora, porque estamos em um período
pré-eleitoral, e em fevereiro do próximo ano haverá eleições. Nós já advertimos
como os ânimos estão se exaltando. Esperamos e rezamos, portanto, de que a
vinda do Papa Francisco, seja num certo sentido um convite à reconciliação, ao
respeito recíproco, pelo fato de que somos todos filhos do mesmo Pai. E isto
também a nível – diria – ecumênico, porque não é somente para nós católicos. Os
mártires ugandenses são 22 mártires que nós veneramos – nós católicos – e que
foram canonizados. Existem também dois mártires catequistas, jovens catequistas
do norte - Jildo e Daudi – que foram martirizados e foram
declarados Beatos. Mas junto aos 22 mártires católicos, houve também outros 22,
23 anglicanos, que também foram queimados, mortos junto com os nossos. Por que?
Justamente porque eram cristãos. Então, eis que a visita do Papa, também com
uma parada no local anglicano do martírio, é um convite, é um chamado para
olhar mais para aquilo que nos une, do que para aquilo que nos divide”.
RV: O senhor
poderia nos descrever como é a Igreja ugandense?
Dom Giuseppe Franzelli: “É uma Igreja
que, entre outras coisas, é justamente o fruto do sangue dos mártires. O sangue
dos mártires é precisamente semente de cristãos. Atualmente, em 34 milhões de
habitantes, somos cerca de 14, 15 milhões de católicos; depois existem os
anglicanos e outras denominações religiosas, sempre cristãs, além de um grupo
de muçulmanos que é minoritário, especialmente em certas regiões do país; e depois
as associações, movimentos leigos e assim por diante, que testemunham a
vitalidade desta Igreja. Este é o aspecto positivo. Os desafios estão na
coexistência da fé cristã com tradições culturais subjacentes, que seguidamente
aparecem nos momentos de crise. Por exemplo, mesmo indo à missa no domingo, se
na terça-feira a criança se adoenta, frequentemente, em muitos povoados, se
recorre a um feiticeiro ou mesmo se exercem práticas que não estão em harmonia
com o credo cristão. Existe também agora o grande desafio da corrupção, que
infelizmente penetrou na vida social, econômica e política do país a níveis
realmente espantosos. Mas o mal maior parece ser o fato de que muitos já o
considerem como um mal inevitável; no fundo, como uma coisa normal. Existe a
necessidade, portanto, de um despertar, de uma recuperação de uma vida de fé
mais autêntica, que seja percebida nas obras, nas práticas externas e não
somente na oração. Por isto existem luzes e sombras, como por tudo, penso, na
vida da Igreja ugandense. E nós esperamos e rezamos para que a vinda do Papa
Francisco traga um raio de luz e um encorajamento para fazer crescer aquilo que
é positivo e dar-nos a coragem de tirar aquilo que, pelo contrário, impede uma
vida cristã autêntica”. (JE)
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Fonte: radiovaticana.va
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