Francisco:
"Combater câncer da corrupção e veneno da ilegalidade"
Prato (RV) – A cidade ‘mais chinesa’ da Itália, e uma das mais multiculturais da Europa, Prato, recebeu o Papa nesta terça-feira (10/11) com sol e muita gente nas ruas. Cerca de 30 mil vieram de localidades vizinhas e desde às 6h, a cidade estava tomada. O helicóptero proveniente do Vaticano aterrissou às 7h45 no estádio da cidade e com o papamóvel, Francisco chegou ao adro, de onde se dirigiu à multidão.
A cidade de
Prato – como explica o bispo, Dom Agostinelli – tem 191 mil habitantes, dos
quais 34.600 (18,12%) são estrangeiros. A maior parte, 16 mil, são chineses; e
outras grandes comunidades são formadas por albaneses, romenos, paquistaneses e
marroquinos. A indústria têxtil é o motor desta sociedade.
Antes de
proferir seu discurso, o Papa entrou na Basílica para venerar o ‘Santo Cinto’,
relíquia que, de acordo com uma lenda medieval, teria sido lançada do céu pela
Virgem Maria a São Tomé durante a Assunção. O Cinto da Virgem é um pedaço de
tecido de lã verde, com cerca de 90 centímetros, tendo em suas extremidades
pequenas cordas para amarrá-lo. A relíquia é exposta à venera¬ção pública cinco
vezes ao ano: na Páscoa, nos dias 1º de maio, 15 de agosto, 8 de dezembro e no
Natal. Nessas ocasiões, ela é colocada no púlpito externo, à direita da
Catedral, local de onde falou o Papa.
A 'cidade de
Maria'
Este ‘sinal de
bênção’ para a cidade sugeriu a Francisco a inspiração para o seu
primeiro discurso. O primeiro pensamento leva ao caminho de salvação
empreendido pelo povo de Israel, da escravidão do Egito à terra prometida.
Antes de libertá-lo, o Senhor pediu para celebrar a ceia pascal e comê-la ‘com
os rins cingidos’: cerrar as vestes significa estar prontos, preparar-se para
partir, para colocar-se em caminho.
Não nos fechemos na indiferença, sejamos solidários |
Prosseguindo, o
Papa encorajou os presentes a arriscarem, a aproximarem-se dos homens e
mulheres de nosso tempo, a tomar a iniciativa e envolverem-se, sem medo, pois
não existe fé sem riscos. E neste sentido, agradeceu a cidadania pelos esforços
desta comunidade na integração, contrastando a cultura da indiferença e do
descarte. Elogiou ainda as iniciativas de inclusão dos mais frágeis.
O segundo
pensamento do Papa se inspirou no convite feito por São Paulo a vestirmos uma
couraça ‘particular’, a de Deus, que combate os espíritos do mal cinge com a
verdade:
“Não se pode
fundar nada de bom sobre as tramas da mentira e da falta de transparência.
Procurar e optar sempre pela verdade não é fácil; é uma decisão vital que marca
profundamente a existência de cada um e da sociedade, para que seja mais justa
e honesta. A sacralidade de todo ser humano requer, para cada um, respeito,
acolhida e um trabalho digno”.
Tragédia do
trabalho
Fora do texto, o
Papa recordou os 7 operários chineses mortos há dois anos em um incêndio na
zona industrial de Prato. Moravam dentro do galpão no qual trabalhavam, em um
dormitório feito de reboco: uma tragédia da exploração – disse - que representa
condições de vida desumanas.
“A vida de toda
comunidade exige que se combatam, até o fim, o ‘câncer’ da corrupção e o veneno
da ilegalidade. Dentro de nós e junto aos outros, não nos cansemos de lutar
pela verdade!”, prosseguiu.
Encorajamento
aos jovens
Terminando,
Francisco convidou os jovens a não cederem ao pessimismo e à acomodação,
agradecendo-os pelas orações. “Maria é quem transformou o sábado da desilusão
no alvorecer da ressurreição. Quem se sente cansado e oprimido pelas
circunstâncias da vida, confie em nossa Mãe que está perto de nós e nos
consola”.
Após a missa, um
casal de desempregados, três sindicalistas e representantes das comunidades
chinesa, ucraniana, polonesa, romena, filipina, nigeriana e paquistanesa, além
de representantes das instituições locais, prefeitos da província, associações
de diferentes categorias – um total de 60 pessoas, saudaram o Papa
pessoalmente.
Um ‘ciao Papa’
escrito em chinês saudou o Papa enquanto o pároco da comunidade, Pe. Roberto,
doou ao Pontífice dois quadros em estilo chinês retratando Santa Maria e o
Espírito Santo. E a Praça continuou aplaudindo e gritando “Francesco”.
Assista:
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Papa à Igreja italiana:
Inovar com liberdade, sem obsessão pelo poder
Cidade do
Vaticano (RV) – Ao chegar a Florença, oriundo de Prato, o primeiro compromisso
de Francisco foi na Catedral da cidade, onde encontrou os participantes do V
Congresso Eclesial da Igreja italiana.
O discurso do
Santo Padre foi inspirado no tema do Congresso: “O novo humanismo em Cristo
Jesus”.
Para Francisco,
podemos falar de humanismo somente a partir da centralidade de Jesus,
descobrindo Nele os traços do rosto autêntico do homem. “É a contemplação da
face de Jesus morto e ressuscitado que recompõe a nossa humanidade, inclusive
daquela fragmentada pelas fadigas da vida ou marcada pelo pecado. Não devemos
domesticar a potência do rosto de Jesus. O rosto é a imagem da sua
transcendência. Jesus é o nosso humanismo”, disse o Papa.
Em Jesus seremos plenamente humanos e felizes |
O Pontífice
ressaltou que a face de Jesus é semelhante àquela de tantos nossos irmãos
humilhados e escravizados. E indicou três sentimentos que caracterizam o
humanismo cristão: a humildade, o desinteresse próprio e a bem-aventurança.
Dirigindo-se à
Igreja italiana, o Papa recorda que seus membros não devem ser obcecados pelo
poder, evitando pelo menos duas tentações: a do pelagianismo e a do
gnosticismo. E recomenda o que escreveu na Exortação Apostólica Evangelii
gaudium, isto é, a inclusão social dos pobres e a capacidade de encontro e de
diálogo.
“Este nosso
tempo requer viver os problemas como desafios e não como obstáculos”, disse
Francisco, que descreveu o que espera da Igreja italiana:
“Apraz-me uma
Igreja italiana inquieta, sempre mais próxima dos abandonados, dos esquecidos,
dos imperfeitos. Desejo uma Igreja alegre com o rosto de mãe, que compreende,
acompanha e acaricia. Sonhem também vocês esta Igreja, acreditem nela, inovem
com liberdade. Sejam criativos ao expressar o gênio que os grandes desta terra,
de Dante a Michelangelo, expressaram de modo inigualável.”
“Não cabe a mim
dizer como realizar este sonho”, finalizou Francisco, mas indicou o
aprofundamento nos próximos anos de sua Exortação Evangelii gaudium, de onde
colher os critérios práticos e para aplicar as suas diretrizes. (BF)
Assista:
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Papa na Missa em Florença:
Reconhecer no pobre o rosto de Jesus
Florença (RV) -
“Deus e o homem não são dois extremos de uma oposição: desde sempre, estes
procuram um ao outro, porque Deus reconhece no homem a própria imagem e o homem
se reconhece somente olhando para Deus.”
Foi o que disse
o Papa Francisco na missa celebrada esta tarde em Florença, com a qual concluiu
sua visita à capital da região italiana da Toscana. Partindo do Evangelho do
dia, a homilia do Santo Padre desenvolveu-se em torno de duas perguntas que
Jesus faz a seus discípulos.
A primeira:
“Quem dizem os homens ser o Filho do Homem? (Mt 16,13). A segunda: “E vós, quem
dizeis que eu sou?” (Mt 16,15). Atendo-se à primeira, o Pontífice disse
tratar-se de uma pergunta que demonstra o quanto o coração e o olhar de Jesus
estão abertos a todos.
Jesus nos ensina a viver um amor sem limites |
Jesus se
interessa por aquilo que o povo pensa, não para contentá-lo, mas para poder
comunicar com ele, observou Francisco. “Sem saber o que o povo pensa, o
discípulo se isola e inicia a julgar o povo segundo seus pensamentos e suas
convicções.”
“Os discípulos
de Jesus jamais devem esquecer de onde foram escolhidos, ou seja, do meio do
povo, e jamais devem cair na tentação de assumir atitudes de distanciamento,
como se aquilo que o povo pensa e vive não lhes dissesse respeito e não lhes
fosse importante.”
O Santo Padre
ressaltou que isso vale também para nós. A Igreja, como Jesus, vive no meio do
povo e pelo povo. “Por isso, em toda a sua história, sempre levou em si a mesma
pergunta: quem é Jesus para os homens e as mulheres de hoje?”, acrescentou.
Para isso, é
necessário amadurecer uma fé pessoal com Ele. Eis então que se coloca a segunda
pergunta que Jesus faz aos discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?”
Pergunta que ressoa ainda hoje à consciência de nós, seus discípulos, e é
decisiva para a nossa identidade e a nossa missão.
“Somente se
reconhecermos Jesus em Sua verdade, seremos capazes de olhar a verdade da nossa
condição humana, e poderemos dar a nossa contribuição para a plena humanização
da sociedade.” A pergunta de Cristo é respondida por Simão: “Tu és o Cristo, o
Filho do Deus vivo”, frisou o Papa, acrescentando:
“Essa resposta
abarca toda a missão de Pedro e assume em si aquilo que se tornará para a
Igreja o ministério petrino, isto é, custodiar e proclamar a verdade de fé; defender
e promover a comunhão entre todas as Igrejas; conservar a disciplina da
Igreja.”
Esta profissão
de fé que Simão Pedro proclamou permanece também para nós. “Ela não representa
somente o fundamento da nossa salvação, mas também a estrada mediante a qual
ela se realiza e a meta à qual caminha”, observou o Pontífice.
De fato, na raiz
do mistério da salvação está a vontade de um Deus misericordioso, que não se
rende diante da incompreensão, da culpa e da miséria do homem, mas se doa a ele
até fazer-se Ele mesmo homem para encontrar toda pessoa na sua condição
concreta.
É este amor
misericordioso de Deus que Simão Pedro reconhece no rosto de Jesus. O mesmo
rosto que somos chamados a reconhecer nas formas em que o Senhor nos assegurou
a sua presença no meio de nós:
“No amor sem
limites, que se faz serviço generoso e solícito para com todos; no pobre, que
nos recorda que Jesus quis que sua suprema revelação de si e do Pai tivesse a
imagem do humilhado crucificado.”
Concluída a
santa missa celebrada no Estádio Municipal “Artemio Franchi” de Florença, da
qual participaram 55 mil fiéis, o Papa Francisco encerrou seus compromissos na
capital da região italiana da Toscana, partindo pouco depois das 17h de volta
para o Vaticano. (RL)
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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