Herança dos mártires não seja peça de museu
Campala (RV) – O
ponto alto das atividades do Papa Francisco em Campala, na manhã deste
sábado (28/11), foi a celebração Eucarística em memória dos Mártires de Uganda
no Santuário católico de Namugongo.
Antes da Santa
Missa, o Papa visitou o Santuário Anglicano dos Mártires construído no
lugar da morte dos 25 mártires de Uganda, católicos e anglicanos (1884-1887),
cujas relíquias são veneradas em uma Capela vizinha.
Fé e piedade |
Acolhido pelo
Arcebispo Anglicano local, na presença de outros 40 Bispos anglicanos, o Bispo
de Roma inaugurou uma placa comemorativa e visitou o lugar onde os 25 mártires
foram condenados, torturados e assassinados.
Após alguns
momentos de oração silenciosa, Francisco se transferiu de papamóvel ao
Santuário Católico dos Mártires ugandenses, a cerca de 3 km.
O Santuário
Nacional católico de Namugongo surge no grande parque natural. Sob o altar-mor
encontra-se o lugar onde São Carlos Lwanga foi queimado vivo, em 3 de junho de
1886, junto com seus Companheiros mártires, durante as perseguições anticristãs
em Uganda.
Neste Santuário
Nacional, o Santo Padre celebrou a Missa votiva de São Carlos Lwanga e
Companheiros Mártires por ocasião do seu 50° aniversário de
Canonização. Participaram da celebração, além dos milhares de fiéis,
também o Chefe de Estado e o descendente da dinastia dos Soberanos de Buganda,
rei Ronald Muwenda Mutebi XI.
Homilia
Na homilia que
pronunciou em italiano e traduzida em inglês, o Papa partiu do trecho dos Atos
dos Apóstolos (1,8): «Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá
sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e
Samaria e até aos confins do mundo».
Desde a Idade
Apostólica até aos nossos dias, disse o Pontífice, surgiu um grande número de
testemunhas que proclamaram Jesus e manifestaram a força do Espírito Santo:
“Hoje
recordamos, com gratidão, o sacrifício dos mártires ugandeses, cujo testemunho
de amor a Cristo e à sua Igreja chegou, justamente, até «aos confins do mundo».
Recordamos também os mártires anglicanos, cuja morte por Cristo testemunha o
ecumenismo de sangue. Todas estas testemunhas cultivaram o dom do Espírito Santo
na sua vida e, livremente, deram testemunho da sua fé em Jesus Cristo, a ponto
de pagar com a própria vida, muitos em idade ainda jovem”.
Como estes
santos, o Papa frisou que “também nós recebemos o dom do Espírito para sermos
filhos e filhas de Deus e dar testemunho de Jesus, tornando-o conhecido e amado
em todos os lugares. Não recebemos o dom do Espírito só para nós, mas para
edificarmos uns aos outros na fé, na esperança e no amor".
“Penso nos
Santos José Mkasa e Carlos Lwanga que, sendo instruídos na fé, quiseram
transmitir aos outros o dom que receberam e o fizeram em tempos perigosos: não
estava ameaçada só a vida deles, mas também a dos mais novos, confiados aos
seus cuidados. Dado que tinham cultivado a fé e crescido no amor a Deus, não
tiveram medo de levar Cristo aos outros até dar a própria vida. A fé deles
tornou-se testemunho e o seu exemplo continua a inspirar muitas pessoas no
mundo”.
Abertura
Se reavivarmos o
dom do Espírito, ponderou o Papa, seremos discípulos-missionários de Cristo em
nossas famílias, entre os amigos e os que não conhecemos e até os que nos são
hostis. A abertura aos outros começa na família e nos lares, onde aprendemos a
caridade, o perdão, a misericórdia e o amor de Deus.
Os mártires de
Uganda, concluiu o Santo Padre, nos apontam o caminho para sermos
discípulos-missionários mediante a fidelidade a Jesus, que significa
misericórdia e pureza de coração, humildade e pobreza de espírito, sede de
justiça e de esperança.
O testemunho dos
mártires ugandenses nos ajuda a ir ao encontro dos necessitados, a cooperar com
os outros em prol do bem comum e a construir uma sociedade mais justa, que
promova a dignidade humana, sem excluir ninguém; que defenda a vida, dom de
Deus, e proteja as maravilhas da natureza, a criação, a nossa casa comum. Por
fim o Papa advertiu:
“Queridos irmãos
e irmãs, esta é a herança que receberam dos mártires ugandeses. Não devemos
conservar a sua herança como uma peça preciosa de museu. Mas levemos seu
testemunho aos nossos lares, vizinhanças, trabalho e sociedade civil e até aos
cantos mais remotos do mundo. ‘Omukama Abawe Omukisa’: Deus os abençoe”! (MT)
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Em casa de caridade,
Papa cita vítimas da cultura "usa e joga fora"
O
Papa visitou, na tarde de sábado (28/11), a Casa de caridade de Nalukolongo,
fundada em 1978 e confiada às Irmãs do Bom Samaritano. A casa Mapeera
Bakateyamba abriga, atualmente, 100 pessoas, entre idosos, portadores de
deficiências e sem-teto – independentemente de religião.
Na origem da
fundação da Bakateyamba está o ideal do falecido cardeal ugandense Dom Emmanuel
Kikwanuda Nsubuga, por muitos anos arcebispo de Campala, que o Papa Francisco
recordou em seu rápido discurso cuja íntegra publicamos abaixo:
***
Queridos amigos!
Obrigado pela
recepção calorosa. Grande era o meu desejo de visitar esta Casa da Caridade,
que o Cardeal Nsubuga fundou aqui em Nalukolongo. Este lugar sempre apareceu
associado com o empenho da Igreja a favor dos pobres, dos deficientes e dos
doentes. Aqui, nos primeiros tempos, crianças foram resgatadas da escravidão e
mulheres receberam uma educação religiosa. Saúdo as Irmãs do Bom Samaritano,
que continuam esta obra estupenda, e agradeço os seus anos de serviço
silencioso e feliz no apostolado.
Saúdo também os
representantes de muitos outros grupos de apostolado, que cuidam das
necessidades dos nossos irmãos e irmãs em Uganda. Penso, em particular, no
grande e frutuoso trabalho feito com as pessoas doentes de aids. Sobretudo
saúdo a quem habita nesta Casa e noutras como esta, e a quantos beneficiam das
obras da caridade cristã. É que esta é mesmo uma casa! Aqui pode-se encontrar
carinho e solicitude; aqui pode-se sentir a presença de Jesus, nosso irmão, que
ama a cada um de nós com um amor que é próprio de Deus.
Apelo do
Pontífice
A partir desta
Casa, quero hoje dirigir um apelo a todas as paróquias e comunidades presentes
em Uganda – e no resto da África – para que não esqueçam os pobres. O Evangelho
impõe-nos sair para as periferias da sociedade a fim de encontrarmos Cristo na
pessoa que sofre e em quem passa necessidade.
Cuidar dos idosos é um imperativo do amor cristão |
O Senhor nos
diz, em termos inequívocos, que nos julgará sobre isto. É triste quando as
nossas sociedades permitem que os idosos sejam descartados ou esquecidos. É
reprovável quando os jovens são explorados pela escravidão atual do tráfico de
seres humanos.
Se olharmos
atentamente para o mundo ao nosso redor, parece que, em muitos lugares,
prevalecem o egoísmo e a indiferença. Quantos irmãos e irmãs são vítimas da
cultura atual do ‘usa e joga fora’, que gera desprezo sobretudo para com
crianças nascituras, jovens e idosos.
Como cristãos,
não podemos ficar simplesmente a olhar. Qualquer coisa tem de mudar! As nossas
famílias devem se tornar sinais ainda mais evidentes do amor paciente e
misericordioso de Deus não só pelos nossos filhos e os nossos idosos, mas por
todos aqueles que passam necessidade.
As nossas
paróquias não devem fechar as portas e os ouvidos ao grito dos pobres. Trata-se
da via-mestra do discipulado cristão. É assim que damos testemunho do Senhor
que veio, não para ser servido, mas para servir. Assim mostramos que as pessoas
contam mais do que as coisas, e que aquilo que somos é mais importante do que o
que possuímos. De fato, é justamente naqueles que servimos que Cristo Se nos
revela cada dia a Si mesmo e prepara a recepção que esperamos ter um dia no seu
Reino eterno.
Queridos amigos,
com gestos simples, com atos simples e devotos que honram a Cristo nos seus irmãos
e irmãs mais pequeninos, fazemos entrar a força do seu amor no mundo para
mudá-lo realmente. Mais uma vez agradeço a generosidade e pela a caridade.
Lembrarei de vocês nas minhas orações e peço, por favor, que rezem por mim.
Confio todos à terna proteção de Maria, nossa Mãe, e concedo a todos a minha
bênção.
Omukama
Abakuume! [Deus os proteja!]
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Papa à juventude em Uganda:
Nas suas veias corre o sangue dos mártires
A
região do antigo aeroporto da capital de Uganda foi o palco para o encontro de
milhares de jovens ugandeses com o Papa Francisco, no início da tarde de sábado
(28/11).
“Uma experiência
negativa pode servir para algo na vida?”, questionou-se o Papa ao iniciar seu
discurso improvisado após ouvir o testemunho de dois jovens.
“Sim”, afirmou o
Pontífice.
O caminho é Jesus |
“Diante de uma
experiência negativa, sempre há a possibilidade de abrir um novo horizonte, de
abrir com a força de Jesus. Transformar a amargura em esperança. Isso não é
mágica, é obra de Jesus, que tudo pode. Ele é o Senhor. Jesus sofreu a
experiência mais negativa da história: foi insultado, rechaçado e assassinado.
E Jesus, com o poder de Deus, ressuscitou. Ele pode fazer em cada um de nós o mesmo
com cada uma das experiências negativas”.
“Nossa vida é
como uma semente” – prosseguiu o Papa –, “é preciso morrer para viver. E se eu
transformo o negativo em positivo, sou um vencedor. Mas isso só pode ser feito
por meio de Jesus”.
“Vocês estão
prontos a transformar o ódio em amor?
Estão dispostos
a transformar a guerra em paz?
Vocês tem
consciência que são um povo de mártires?”, perguntou o Papa à multidão.
“Nas veias de
vocês corre o sangue dos mártires, e por isso têm a fé e a vida que têm agora”.
Abram as portas
dos seus corações e deixem Jesus entrar, exortou o Papa.
“Quando Jesus
entra na sua vida ele ajuda a lutar contra todos os problemas, contra uma
depressão, contra a aids. Pedir ajuda para superar esta situação. Mas sempre
lutar. Lutar com meu desejo, e lutar com minha oração”.
“Estão dispostos
a lutar? Estão dispostos a desejar o melhor para vocês? Estão dispostos a pedir
e rezar a Jesus para ajuda-los nessa luta?”, lançou novamente à multidão, antes
de concluir.
“Somos todos
parte da Igreja, e essa Igreja tem uma mãe. Rezemos a nossa Mãe”.
Trinômio
Por fim, o
discurso improvisado adquiriu a característica própria de Francisco articulada
em um trinômio: “Superar as dificuldades, transformar o negativo em positivo e
terceiro: oração”. (RB)
Veja um resumo
em VaticanBR
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Papa aos religiosos:
Igreja não pode viver de “renda”
A Igreja em Uganda não pode viver de “renda”, deve seguir dando
testemunho e ser fiel à memória dos mártires do passado. Esse foi um dos
principais apelos que o Papa fez no seu último discurso em Campala, durante o
encontro com os religiosos, na catedral da capital ugandense, na noite de
sábado, 28 de novembro.
Francisco
dividiu sua reflexão em três pontos. Em primeiro lugar, exortou aos religiosos
que peçam a graça da memória:
“O principal
inimigo da memória é o esquecimento, mas não é o mais perigoso. O inimigo mais
perigoso da memória é se acostumar a herdar os bens dos maiores. A Igreja em
Uganda não pode se acostumar à longínqua recordação dos mártires. Mártir
significa testemunho”, destacou o Pontífice.
Não viver de
“renda”
Ao afirmar que a
memória dos mártires do passado deve ser honrada, Francisco ponderou que as
glórias deles foram o princípio, mas que os consagrados em Uganda hoje devem
ser promotores das glórias vindouras:
Partilhem seus bens! |
“Esta é a tarefa
que a Igreja dá a vocês: sejam testemunhas como o foram os mártires
ugandenses”.
Contudo, para
serem testemunhas, o Papa advertiu que é preciso ter fidelidade.
“Fidelidade
significa fazer o que fizeram os que vieram antes: ser missionários”.
Enfatizando que não falava somente aos sacerdotes, mas também aos religiosos, o
Papa quis destacar a questão da missionariedade.
“Que as dioceses
com muito clero se ofereçam às que têm menos, assim Uganda seguirá sendo
missionário”.
Por fim, Francisco
evocou a oração: “memória significa fidelidade, e fidelidade que somente é
possível com a oração. “Oração também significa humilhação, disse o Pontífice.
“Se um sacerdote
deixa de rezar ou reza pouco, porque diz que tem muito trabalho, já começou a
perder a memória e já começou a perder a fidelidade”, alertou Francisco.
Não podemos
viver uma vida dupla, finalizou o Papa. “Se és um pecador ou uma pecadora,
peçais perdão”. (RB)
Veja no YouTube
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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