Devemos pedir perdão pelo escândalo da divisão
Cidade do
Vaticano (RV) - “Houve tempos difíceis entre nós. Pensemos nas perseguições
entre nós, com o mesmo Batismo. Pensemos em quantos foram queimados vivos.
Devemos pedir-nos perdão por isso.” Foi o que disse o Papa Francisco durante a
visita na tarde deste domingo à Igreja Evangélica Luterana de Roma.
Um longo aplauso
havia acolhido o Santo Padre em sua entrada ao referido templo evangélico, por
ele visitado para recordar o V centenário do reformador Martinho Lutero. “É com
alegria que rezo hoje, em Roma, com os irmãos Luteranos. Deus abençoe quantos trabalham
em prol do diálogo e da unidade dos cristãos”, escrevera o Papa num tuíte
lançado na manhã deste domingo, antes do Angelus.
Pastor e Papa |
Deixando de lado
o discurso escrito que tinha preparado, em sua meditação espontânea, partindo
do Evangelho pouco antes proclamado (Mt 25,31-46), que nos traz a parábola do
Juízo final, Francisco ressaltou que as perguntas que o Senhor nos fará naquele
dia não serão se fomos à missa ou se fizemos uma boa catequese. As perguntas
serão acerca dos pobres, “porque a pobreza está no centro do Evangelho”,
afirmou.
“Jesus é Deus? É
verdade. É o Senhor? É verdade. Mas é o servo e a escolha Ele fará sobre isso.
Você, a sua vida, a viveu para si ou para servir? Para defender-se dos outros
com os muros ou para acolhê-los com amor? Essa será a escolha de Jesus.
Essa página do
Evangelho nos fala muito sobre o Senhor. E posso fazer-me a pergunta: nós,
luteranos e católicos, de que lado estaremos, à direita ou à esquerda?
Francisco fez o
questionamento aludindo à passagem proposta do Evangelho na qual afirma que
“quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os anjos com ele, então se
assentará no trono da sua glória. E serão reunidas em sua presença todas as
nações e ele separará os homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas
dos cabritos, e porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda (Mt
25,31-33).
O trecho
proposto do Evangelho nos recorda que somos julgados segundo a nossa
proximidade concreta ao irmão em sua situação real, em sua condição: o que
pressupõe capacidade de atenção, de compaixão, de partilha e de serviço.
O Papa havia
iniciado sua meditação ressaltando que Jesus durante sua vida fez muitas
escolhas, e que esta seria a última escolha.
“Jesus escolheu
os primeiros discípulos, os doentes que curava, a multidão que o seguia e o
seguia para escutar porque falava como alguém que tem autoridade, não como os
doutores da lei que se pavoneavam”, disse.
Mesmo depois da
Ressurreição é comovente ver como Jesus escolhe os momentos, escolhe as
pessoas, não as assusta. Pensemos nos discípulos de Emaús, como os acompanha.
“Deveriam ir a Jerusalém, mas fugiram por medo e Ele se junta a eles e os
acompanha. E depois se mostra, os recupera. É uma escolha de Jesus”, continuou
o Santo Padre.
Para concluir,
disse Francisco, gosto quando vejo o Senhor Servo que serve, gosto de pedir que
Ele seja o Servo da unidade, que nos ajude a caminhar juntos.
“Hoje rezamos
juntos, rezar juntos pelos pobres, pelos necessitados, amar-nos juntos, com
verdadeiro amor de irmãos. ‘Mas padre, somos diferentes, porque nossos livros
dogmáticos dizem uma coisa e os de vocês dizem outra...’ Mas um grande dentre
vocês (um teólogo, ndr) disse uma vez que existe a hora da diversidade
reconciliada. Peçamos hoje esta graça, a graça desta diversidade reconciliada
no Senhor, isto é, no servo de Javé, daquele Deus que veio até nós para servir
e não para ser servido.”
Francisco
concluiu agradecendo pela hospitalidade fraterna.
No início do
encontro, antes da proclamação do Evangelho, houve um momento de conversação
espontânea com os fiéis da igreja luterana, na qual, respondendo a algumas
perguntas, Francisco referiu-se também aos atentados na capital francesa.
Assembleia Luterana |
“O egoísmo
humano quer defender-se, defender o próprio poder, o próprio egoísmo, mas
naquele defender-se se distancia da fonte de riqueza”, disse o Bispo de Roma
respondendo à pergunta de uma fiel protestante.
O meu irmão
pastor citou Paris, prosseguiu o Papa referindo-se ao anfitrião Jens-Martin
Kruse, que na saudação ao Pontífice havia falado dos atentados na França.
“Também em Paris
vimos corações fechados, e também o nome de Deus é usado para fechar os
corações. O que fazer?”, perguntou. Para Francisco, o antídoto é claro: “Falar
claro, rezar e servir”.
“Aquilo de que
mais gosto” como Papa “é ser pároco”, mas também “estar com as crianças, falar
com elas, porque se aprende muito com elas”. Com essas palavras, Francisco
respondeu à pergunta de uma criança de nove anos. “Gosto de ser pároco, o
pastor, não gosto do trabalho burocrático, nem das entrevistas protocolares,
mas esta não é protocolar, é familiar. Deve fazê-las”, reiterou o Papa num
momento de alegre conversação com a comunidade evangélica.
Por fim,
recordamos que a Igreja Evangélica Luterana de Roma foi visitada por João Paulo
II em 11 de dezembro de 1983 e por Bento XVI em 14 de março do ano 2000. (RL)
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