Francisco:
Jesus é o grande “construtor de pontes”
Cidade do
Vaticano (RV) - O Papa Francisco assomou à janela do apartamento pontifício
neste XXIII do Tempo Comum para rezar, com os milhares de fieis reunidos na
Praça São Pedro, a tradicional oração mariana do Angelus. Eis a íntegra de sua
reflexão:
“Queridos
irmãos e irmãs, bom dia!
"Deus não é fechado em si mesmo, mas se abre e se coloca em comunicação com a humanidade" |
O Evangelho de
hoje narra a cura de um surdo-mudo por parte de Jesus, um evento prodigioso que
mostra como Jesus restabelece a plena comunicação do homem com Deus e com os
outros homens. O milagre é ambientado na região de Decapoli, isto é, em pleno
território pagão; portanto aquele surdo-mudo que é levado até Jesus torna-se o
símbolo do não-crente que realiza um caminho em direção à fé. De fato, a sua
surdez expressa a incapacidade de escutar e de compreender não somente as
palavras dos homens, mas também a Palavra de Deus. E São Paulo nos recorda que
“a fé nasce da escuta da pregação”.
A primeira coisa
que Jesus faz é levar aquele homem para longe da multidão: não quer fazer
publicidade do gesto que está por realizar, mas não quer tampouco que a sua
palavra seja coberta pelo rumor das vozes e dos mexericos do ambiente. A
Palavra de Deus que o Cristo nos transmite tem necessidade de silêncio para ser
ouvida como Palavra que cura, que reconcilia e restabelece a comunicação.
São depois
evidenciados dois gestos de Jesus. Ele toca os ouvidos e a língua do
surdo-mudo. Para iniciar a relação com aquele homem “travado” na
comunicação, procura primeiro restabelecer o contato. Mas o milagre é um dom do
alto, que Jesus implora ao Pai; por isto eleva os olhos aos céus e ordena: “Abre-te!”.
Os ouvidos do surdo se abrem, se dissolve o nó da sua língua e começa a falar
corretamente.
O ensinamento
que tiramos deste episódio é que Deus não é fechado em si mesmo, mas se abre e
se coloca em comunicação com a humanidade. Na sua imensa misericórdia, supera o
abismo da infinita diferença entre ele e nós e vem ao nosso encontro. Para
realizar esta comunicação com o homem, Deus se faz homem: não lhe basta
falar-nos mediante a lei e os profetas, mas se torna presente na pessoa de seu
Filho, a Palavra feita carne. Jesus é o grande “construtor de pontes”, que
constrói em si mesmo a grande ponte da comunhão plena com o Pai.
Mas este
Evangelho nos fala também de nós: frequentemente nós somos voltados e fechados
em nós mesmos e criamos tantas ilhas inacessíveis e inóspitas. Até mesmo as
relações humanas mais elementares às vezes criam realidades incapazes de
abertura recíproca: o casal fechado, a família fechada, o grupo fechado, a
paróquia fechada, a pátria fechada...e isto não é de Deus, é nosso, o nosso
pecado".
E ainda na
origem da nossa vida cristã, no batismo, existem aquele gesto e aquela palavra
de Jesus: “Effatà! – Abre-te!”. E o milagre se realizou: fomos curados da
surdez do egoísmo e da mudez do fechamento e do pecado, e fomos inseridos na grande
família da Igreja; podemos ouvir Deus que nos fala e comunicar a sua Palavra
àqueles que nunca a ouviram, ou a quem a esqueceu e sepultou sob os espinhos
das preocupações e dos enganos do mundo.
Peçamos a Virgem
Santa, mulher de escuta e do testemunho jubiloso, de sustentar-nos no
compromisso de professar a nossa fé e de comunicar as maravilhas do Senhor
àqueles que encontramos em nosso caminho".
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Francisco apela para que casas religiosas acolham os migrantes
Após recitar a oração do Angelus, o Papa Francisco voltou seu
pensamento ao drama dos refugiados que fogem das guerras e da fome “e estão a
caminho de uma esperança de vida”, lançando um veemente apelo às paróquias,
comunidades religiosas, mosteiros e santuários para que os acolham.
Milhares de refugiados da guerra e da fome chegam diariamente à Europa |
Francisco inicialmente
lembrou que “a misericórdia de Deus é reconhecida pelas obras”, como bem
testemunhou “a vida da Beata Madre Teresa de Calcutá”, cujo aniversário
de morte foi celebrado no sábado (06). O Evangelho – disse o Santo Padre – nos
chama a sermos próximos dos “mais pequenos” e dos abandonados, a quem se deve
dar “uma esperança concreta”. “Não basta somente dizer “Coragem, paciência!” –
advertiu -, mas “a esperança é combativa, com a tenacidade de quem vai em
direção à uma meta segura. Então, lançou um forte apelo:
“Portanto, na
proximidade do Jubileu da Misericórdia, dirijo um apelo às paróquias, às
comunidades religiosas, aos mosteiros e aos Santuários de toda a Europa para
expressarem a concretude do Evangelho e acolher uma família de refugiados. Um gesto
concreto em preparação ao Ano Santo. Cada paróquia, cada comunidade religiosa,
cada mosteiro, cada santuário na Europa hospede uma família, começando pela
minha diocese de Roma”.
O Papa
dirigiu-se então aos “irmãos Bispos da Europa, verdadeiros pastores”, para que
acolham e apoiem em suas dioceses seu apelo, recordando que “a Misericórdia é o
segundo nome do amor”.
As duas
paróquias do Vaticano acolherão duas famílias de refugiados, anuncio o
Pontífice. (JE)
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Papa pede superação da crise entre Venezuela e Colômbia
A situação tensa entre a Colômbia e a Venezuela também
mereceu a atenção do primeiro Pontífice latino-americano, no tradicional
encontro dominical na Praça São Pedro. O Papa, em espanhol, lançou um apelo ao
entendimento:
“Nestes dias, os
Bispos da Venezuela e da Colômbia reuniram-se para examinar juntos a dolorosa
situação que se criou na fronteira entre os dois países. Vejo neste encontro um
claro sinal de esperança. Convido a todos, em particular os povos venezuelano e
colombiano, a rezar para que, com um espírito de solidariedade e fraternidade,
possam superara as atuais dificuldades”.
A solidariedade e a fraternidade superam as divergências e discórdias |
De fato, a
Venezuela vem expulsando colombianos que habitam em seu território, sob o
pretexto de combater grupos armados e o contrabando. Os episcopados dos
dois países estiveram reunidos na quinta-feira para trabalhar em favor da paz e
em sinal de solidariedade com os dois países.
Neste contexto,
repropomos a entrevista da Rádio Vaticano ao Presidente da Conferência
Episcopal Colombiana, Dom Luis Augusto Castro Quiroga:
Dom Luis Augusto: “Eu penso que
mesmo sendo grave e dolorosos o que aconteceu aos colombianos expulsos da
Venezuela, o problema do povo venezuelano é mil vezes maior porque é um
problema político, social e econômico de intensidade muito forte. Por isto é
importantíssimo que possamos ter manifestações de mútua solidariedade, porém
também estudar a possibilidade de colaborar pastoralmente naquela região de
fronteira onde existem dioceses colombianas e também venezuelanas”.
RV: Na sua
opinião, existe o risco de que a atual crise entre Venezuela e Colômbia possa
incidir também no processo de paz com as Farc em andamento em Cuba?
Dom Luis Augusto: “A minha posição
é de um enérgico “não” em relacionar o processo de paz de Cuba com isto que
aconteceu. São duas coisas diferentes. Se nós começarmos a relacionar uma coisa
com a outra, faremos com que isto adquira, num determinado momento, dimensões
incontroláveis. Pelo contrário, são duas coisas muito diferentes e devemos
respeitar a contribuição da Venezuela ao processo de paz. Não se pode
relacionar uma coisa com a outra. Por este motivo eu sou muito enérgico contra
aqueles que começam a dizer: “É melhor que a Venezuela não esteja mais na
frente do processo de paz”. Isto é uma insensatez”.
RV: Como são
acolhidas as palavras da Igreja na Colômbia?
Dom Luis Augusto: “Certamente, na
Colômbia a voz da Igreja é muito ouvida e temos boas relações. Por isto penso
que podemos influenciar de alguma maneira em todo este processo”. (JE)
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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