Papa:
Queremos ser uma Igreja que lança pontes e abate muros
Santiago de Cuba
(RV) - “Somos convidados a viver a revolução da ternura, como Maria, Mãe da
Caridade. A nossa revolução passa pela ternura, pela alegria que se faz
proximidade.” Foi o que disse o Papa Francisco na missa celebrada na manhã
desta terça-feira na Basílica do Santuário da Virgem da Caridade do Cobre, em
Santiago, no seu quarto e último dia em terras cubanas.
Na última
celebração eucarística na Ilha caribenha, o Santo Padre encontrou os fiéis
cubanos na casa da Mãe, a Virgem da Caridade do Cobre, padroeira da nação.
Atendo-se à
liturgia da celebração, que nos propõe a figura de Maria, Mãe de Deus e nossa,
Francisco disse que a pátria cubana nasceu e cresceu ao calor da devoção à
Virgem da Caridade.
Referindo-se ao
episódio da Anunciação, o Pontífice frisou que “a presença de Deus na nossa
vida nunca nos deixa tranquilos, sempre nos impele a mover-nos. Quando Deus
visita, sempre nos tira para fora de casa: visitados para visitar, encontrados
para encontrar, amados para amar”.
Após o anúncio
de que seria a Mãe do Salvador, "Ela sai de casa e vai servir. Sai para
ajudar sua prima Isabel".
“Maria, a
primeira discípula, visitada saiu para visitar. E, desde aquele primeiro dia,
foi sempre a sua característica singular. Foi a mulher que visitou tantos
homens e mulheres, crianças e idosos, jovens”, continuou o Pontífice.
“Soube visitar e
acompanhar nas dramáticas gestações de muitos dos nossos povos; protegeu a luta
de todos os que sofreram para defender os direitos dos seus filhos. E ainda
agora, Ela não cessa de nos trazer a Palavra de Vida, seu Filho, Nosso Senhor.”
A exemplo de Maria, devemos ser uma Igreja que saia para servir |
Francisco
referiu-se à afirmação dos cubanos quando, há cem anos, pediram ao Papa Bento
XV que declarasse a Virgem da Caridade como Padroeira da Ilha caribenha:
“Nem as
desgraças nem as privações conseguiram “apagar” a fé e o amor que o nosso povo
católico professa a esta Virgem; antes, nas maiores vicissitudes da vida,
quando estava mais perto a morte ou mais próximo o desespero, sempre surgiu
como luz dissipadora de todo o perigo, como orvalho consolador.”
“A alma do povo
cubano, como acabamos de escutar, foi forjada por entre dores e privações que
não conseguiram extinguir a fé; aquela fé que se manteve viva, graças a tantas
avós que continuaram a tornar possível, na vida diária do lar, a presença viva
de Deus; a presença do Pai que liberta, fortalece, cura, dá coragem e é refúgio
seguro e sinal de nova ressurreição.”
Avós, mães e
tantas outras pessoas que, com ternura e carinho, foram sinais de visitação, de
valentia, de fé para os seus netos, nas suas famílias. Mantiveram aberta uma
fenda, pequena como um grão de mostarda, por onde o Espírito Santo continuou a
acompanhar o palpitar deste povo, frisou o Papa.
“Somos
convidados a ‘sair de casa’, a ter os olhos e o coração abertos aos outros. A
nossa revolução passa pela ternura, pela alegria que sempre se faz proximidade,
que sempre se faz compaixão e leva a envolver-nos, para servir, na vida dos
outros. A nossa fé faz-nos sair de casa e ir ao encontro dos outros para
partilhar alegrias e sofrimentos, esperanças e frustrações.”
A nossa fé
tira-nos de casa para visitar o doente, o recluso, quem chora e também quem
sabe rir com quem ri, rejubilar com as alegrias dos vizinhos, acrescentou.
Concluindo, o
Papa Francisco traçou o perfil da Igreja que queremos ser:
“Como Maria, Mãe
da Caridade, queremos ser uma Igreja que saia de casa para lançar pontes,
abater muros, semear reconciliação. Como Maria, queremos ser uma Igreja que
saiba acompanhar todas as situações ‘grávidas’ da nossa gente, comprometidos
com avida, a cultura, a sociedade, não nos escondendo mas caminhando com os
nossos irmãos.”
Francisco
afirmou ser esse “o nosso ‘cobre’ mais precioso, está é a nossa maior riqueza e
o melhor legado que podemos deixar: aprender a sair de casa, como Maria, pelas
sendas da visitação. (RL)
Assista a um resumo da Santa Missa:
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Francisco:
Família não é problema, mas "a melhor herança ao mundo"
O último compromisso desta terça-feira (22/9) em Cuba antes de partir
para os Estados Unidos começou quase uma hora antes do previsto. Papa Francisco
foi recebido com muito carinho pelas famílias presentes na Catedral Nossa
Senhora de Assunção em Santiago de Cuba, sempre solícito e muito simpático, até
parou para fotos e abraços.
Santiago de Cuba
é a segunda cidade mais importante do país, com cerca de 500 mil habitantes, e
a terceira a ser visitada pelo Papa nesta viagem pastoral que começou no último
sábado (19/9) por Havana e terminará no final de semana pela Filadélfia.
Família: precioso presente de Deus |
A Catedral que
recebeu o Papa tem quase 500 anos de fundação. A presença evangelizadora da
Igreja naquela cidade foi lembrada pelo arcebispo local, Dom Dionísio García
Ibánez. Este é o encontro das famílias cubanas com o seu pastor, disse ele,
acrescentando que são famílias oriundas de todas as províncias do país e também
do exterior. “A família cubana é alegre e lutadora e quer permanecer unida. É a
instituição mais valorizada pelos cubanos, mas temos uma forte queda na taxa da
natalidade”, comentou Dom García, que também pediu uma bênção especial às
“nossas famílias que querem ser fortalecidas”.
Uma família com
pai, mãe e três filhas deu o seu testemunho na ocasião, falando sobre o trabalho
honesto para sustentar o lar. A mãe, que segurava a filha menor nos braços,
também pediu uma bênção para viver o lar como “igrejas domésticas”, como
instrumentos de paz e misericórdia. Em seguida, Papa Francisco fez questão de
saudar todos os membros da família e de dar os parabéns ao patriarca que, hoje,
completava 36 anos de idade.
Festa
Durante o seu
discurso no Encontro com as Famílias, Papa Francisco aproveitou para agradecer
aos cubanos por terem feito o Pontífice se sentir em casa. O encontro na
Catedral de Santiago foi descrito pelo Santo Padre como “a cereja sobre o
bolo”. E citou o Evangelho de João que apresenta as bodas de Caná, “uma festa
em família”.
"As bodas
são momentos especiais na vida de muitos. Para os ‘mais veteranos’, pais, avós,
é uma ocasião para recolher o fruto da semeadura. Dá alegria à alma ver os
filhos crescerem, conseguindo formar o seu lar. É a oportunidade de verificar,
por um instante, que valeu a pena tudo aquilo por que se lutou. Acompanhar os
filhos, apoiá-los, incentivá-los para que possam se decidir a construir a vida,
a formar a sua família, é um grande desafio para todos os pais. Os
recém-casados, por sua vez, encontram-se na alegria. Todo um futuro que começa;
tudo tem ‘sabor’, as coisas novas, a esperança. Nas bodas, sempre se une o
passado que herdamos e o futuro que nos espera: a memória e a esperança."
Herança
Papa diz que
Jesus começa a sua vida pública numa boda. “Jesus começa a sua vida no interior
de uma família, no seio de um lar. E é no seio dos nossos lares que Ele
incessantemente continua a se inserir, e deles continua a fazer parte”.
"Jesus
escolhe esses momentos para nos mostrar o amor de Deus, Jesus escolhe estes
espaços para entrar nas nossas casas e ajudar-nos a descobrir o Espírito vivo e
atuante nas nossas realidades quotidianas. É em casa onde aprendemos a
fraternidade, a solidariedade, o não ser prepotentes. É em casa onde aprendemos
a receber e agradecer a vida como uma bênção, e aprendemos que cada um precisa
dos outros para seguir em frente. É em casa onde experimentamos o perdão, e
somos continuamente convidados a perdoar, a deixarmo-nos transformar. Em casa,
não há lugar para ‘máscaras’: somos aquilo que somos e, de uma forma ou de
outra, somos convidados a procurar o melhor para os outros."
Valor local
Por isso, disse
Francisco, “a comunidade cristã designa as famílias pelo nome de igrejas
domésticas, porque é no calor do lar onde a fé permeia cada canto, ilumina cada
espaço, constrói comunidade; porque foi em momentos assim que as pessoas
começaram a descobrir o amor concreto e operante de Deus”.
"Em muitas
culturas, hoje em dia, vão desaparecendo esses espaços, vão desaparecendo esses
momentos familiares; pouco a pouco, tudo leva a se separar, a se isolar;
escasseiam os momentos em comum, para estar juntos, para estar em família.
Assim não se sabe esperar, não se sabe pedir licença ou desculpa, nem dizer
obrigado, porque a casa vai ficando vazia, não de pessoas, mas vazia de
relações, vazia de contatos, vazia de encontros, de pais, avós, irmãos."
“Sem família,
sem o calor do lar, a vida torna-se vazia; começam a faltar as redes que nos
sustentam na adversidade, alimentam na vida quotidiana e motivam na luta pela
prosperidade”, disse o Papa Francisco.
Desafios
"A família
nos salva de dois fenômenos atuais que acontecem hoje em dia: a fragmentação (a
divisão) e a massificação. Em ambos os casos as pessoas se transformam em
indivíduos isolados, fáceis de manipular e controlar. Então encontramos no
mundo sociedades divididas, quebradas, separadas ou altamente massificadas. São
consequência da ruptura dos laços familiares, quando se perdem as relações que
nos constituem como pessoa, que nos ensinam a ser pessoa. Um se esquece como se
diz papai, mamãe, avô ou avó; vão se esquecendo de relações que são o fundamento."
“A família é
escola da humanidade”, definiu o Papa Francisco, que “ensina a pôr o coração
aberto às necessidades dos outros, a estar atento à vida dos demais”. O Santo
Padre comentou que viver bem em família é deixar de lado a vida centrada no
‘Eu, me, mim, comigo’, os pequenos egoísmos que não são nem solidariedade, nem
trabalho comum.
Esperança
"Apesar de
tantas dificuldades que afligem hoje as nossas famílias, não nos esqueçamos,
por favor: as famílias não são um problema, são sobretudo uma oportunidade; uma
oportunidade que temos de cuidar, proteger, acompanhar. É uma maneira de dizer
que é uma benção. Quando a família será um problema, é porque estará muito
centrada no eu. Discute-se muito sobre o futuro, sobre o tipo de mundo que
queremos deixar aos nossos filhos, que sociedade queremos para eles. Creio que
uma das respostas possíveis se encontra olhando em vocês: deixemos um mundo com
famílias. É a melhor herança."
Foi quando o
Papa Francisco abençoou todas as mulheres grávidas presentes e também as que
acompanhavam o Encontro através dos meios de comunicação. Pediu que “as
grávidas de esperança” tocassem a barriga para receber a benção no desejo de os
filhos venham com saúde e cresçam bem. E o Papa, então, fez menção à
Eucaristia:
Fé
“É a ceia da família
de Jesus, que, de um extremo ao outro da terra, se reúne para escutar a sua
Palavra e se alimentar com o seu Corpo. Jesus é o Pão de Vida das nossas
famílias, quer estar sempre presente, alimentando-nos com o seu amor,
sustentando-nos com a sua fé, ajudando-nos a caminhar com a sua esperança, para
que possamos, em todas as circunstâncias, experimentar que Ele é o verdadeiro
Pão do Céu”.
Ao final do seu
discurso, pedindo uma oração especial, o Santo Padre lembrou que estará
participando do Encontro Mundial das Famílias em Filadélfia e, dentro de um
mês, do Sínodo dos Bispos, cujo tema é a família.
Em frente à
Catedral de Santiago e se direcionando a todo o povo cubano, em sua despedida
do país, Papa Francisco fez uma saudação especial aos avós e aos jovens. O
Pontífice enalteceu que “um povo que cuida dos avós e dos jovens tem o futuro
garantido”. No seu último trajeto pelas ruas de Cuba, uma multidão acompanhou o
Papa em agradecimento ao carinho do Santo Padre transmitido durante quatro dias
de visita pastoral ao país caribenho. (AC)
Assista:
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Papa Francisco se despede de Cuba
Nesta terça-feira o Papa Francisco se despediu de Cuba, primeira etapa
desta sua 10ª viagem apostólica internacional. Ele que foi o terceiro pontífice
a visitar a ilha caribenha.
Na parte da
manhã ele celebrou a Santa Missa na Basílica do Santuário de Nossa Senhora da
Caridade do Cobre. Após, com antecipação de uma hora, o encontro com as
famílias na Catedral de Santiago.
"Obrigado, cubanos! De coração, obrigado!" |
Na breve
cerimônia foram entoados os hinos dos respectivos Estados, apresentada a Guarda
de Honra e a homenagem às bandeiras. Por fim, a saudação das respectivas
delegações. Não foram proferidos discursos.
O avião A330 da
Alitália decolou às 18h26, hora local, com destino à Washington, onde, após
3h30 previstas de viagem e 2.103km percorridos, será recebido pelo Presidente
Barack Obama, esposa e filhas na Base Andrews da Força Aérea.
Da Base Aérea o
Pontífice segue diretamente para a Nunciatura Apostólica onde permanecerá até
seu primeiro evento oficial nos Estados Unidos. A cerimônia de boas-vindas está
marcada para quarta-feira, na Casa Branca, e terá transmissão ao vivo pela
Rádio Vaticano, com comentários em português, a partir das 10h15, horário de
Brasília.
Assista:
Logo após a partida, o Papa lançou um tweet de agradecimento:
“Obrigado a todos os cubanos! De coração, obrigado!”
Fonte: radiovaticana.va news.va
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