Nacionalismos não prevaleçam sobre a justiça e o direito
O fio condutor
do discurso do Papa Francisco foi um apelo a reavivar a amizade e a colaboração
entre as nações, promovendo o sistema multilateral hoje em dificuldade, e
buscando soluções comuns para o bem de todos os povos.
Cidade do Vaticano
- Realizou-se na manhã desta segunda-feira (07/01) uma das audiências mais
importantes no Vaticano: o Papa Francisco recebeu os membros do corpo
diplomático acreditado junto à Santa Sé para as felicitações de ano novo.
Como é tradição,
em seu discurso o Pontífice faz uma análise da conjuntura internacional, com
considerações sobre acontecimentos passados e desafios no futuro próximo.
Diplomacia
Esta também a
ocasião em que o Papa cita os acordos estipulados com a Santa Sé no decorrer do
último ano e os países visitados recentemente e a serem visitados nos próximos
meses: Panamá, Marrocos e Emirados Árabes Unidos.
“A Santa Sé não
pretende imiscuir-se na vida dos Estados, mas aspira a ser uma ouvinte solícita
e sensível das problemáticas que dizem respeito à humanidade, com o propósito
sincero e humilde de se colocar ao serviço do bem de todo o ser humano”,
afirmou Francisco, reforçando a tradição diplomática da Santa Sé.
Papa fala aos diplomatas |
De fato, a Santa
Sé mantém relações com 183 Estados, além da União Europeia e da Soberana
Militar Ordem de Malta.
“Premissa indispensável para o sucesso da
diplomacia multilateral são a boa vontade e a boa-fé dos interlocutores”,
declarou o Pontífice, manifestando sua preocupação com o ressurgimento de
tendências nacionalistas, com a busca de soluções unilaterais e a opressão do
mais fraco pelo mais forte. A globalização deve ser uma oportunidade de
desenvolvimento e não desencadear novas formas de colonização.
“A paz não é
jamais um bem de parte, mas abraça todo o gênero humano”, recordou o Papa,
sendo o respeito pela dignidade de cada ser humano o fundamento para toda a
convivência realmente pacífica.
Para Francisco,
o bom político não deve ocupar espaços, mas iniciar processos.
A defesa dos
mais fracos
O Papa
manifestou sua preocupação com alguns temas e países, como por exemplo a “amada
Nicarágua, cuja situação acompanho de perto com esperança”.
Ainda na América
Latina, o Pontífice mencionou a Venezuela e agradeceu o acolhimento de
migrantes por parte da Colômbia.
Diplomatas acompanham as palavras do Papa |
Entre as pessoas
sem voz do nosso tempo, Francisco lembrou as vítimas de guerras em curso,
especialmente na Síria e em alguns países africanos, como Mali, Níger e
Nigéria. Iêmen e Iraque também foram citados.
No Oriente
Médio, o Santo Padre falou da importância da presença dos cristãos e da tensão
persistente entre israelenses e palestinos.
A dificuldade
que a comunidade internacional tem tido em lidar com o fenómeno migratório
também fez parte do discurso do Papa.
“Mais uma vez
desejo chamar a atenção dos governos para todos aqueles que tiveram de emigrar
por causa do flagelo da pobreza, de todo o gênero de violência e perseguição,
bem como das catástrofes naturais e das perturbações climáticas, pedindo que se
facilitem as medidas que permitam a sua integração social nos países de
acolhimento.”
Diante da
tendência da Europa e da América do Norte de fechar as fronteiras, Francisco
recordou: “Todo ser humano anseia por uma vida melhor e mais feliz e não se
pode resolver o desafio da migração com a lógica da violência e do descarte nem
com soluções parciais”.
O Papa citou a
importância da aprovação dos dois Pactos Globais sobre Refugiados e sobre a
Migração segura, ordenada e regular, não obstante existam ressalvas quanto a
certas terminologias adotadas.
Infância e
juventude
Os jovens e as
crianças não ficaram de fora do discurso do Papa. De modo especial, ele
recordou este ano o trigésimo aniversário da Convenção sobre os Direitos da
Criança.
Nesta
circunstância, Francisco falou dos abusos contra os menores, que “constituem um
dos mais vis e nefastos crimes possíveis”, cometidos também por vários membros
do clero.
“A Santa Sé e
toda a Igreja estão se esforçando por combater e prevenir tais delitos e o seu
encobrimento, acertar a verdade dos factos em que estão envolvidos clérigos e
fazer justiça aos menores que sofreram violências sexuais, agravadas por abusos
de poder e de consciência”, reiterou o Pontífice, recordando o encontro em
fevereiro próximo com os Episcopados de todo o mundo.
Mulheres
A violência
contra a mulher também foi condenada pelo Santo Padre.
“É urgente
descobrir formas de relações justas e equilibradas, defendeu Francisco, sem
desnaturar, porém, “o próprio ser homem ou mulher”.
A discriminação
das mulheres no trabalho também deve ser combatida. E por falar em trabalho, o
Pontífice falou das condições laborais que muitas vezes levam a uma forma
moderna de escravidão, onde inclusive crianças são manipuladas.
Construtores da
paz
Em meio a
preocupações, há iniciativas e acordos a serem louvados, como no caso da
Ucrânia, da península coreana, do Sudão do Sul, da Etiópia e da Eritreia.
À África, em
especial, o Pontífice dedicou um inteiro parágrafo para ressaltar o “potencial
dinamismo positivo” do continente, que nos últimos tempos tem implementado
iniciativas de inclusão e desenvolvimento.
Repensar o nosso
destino comum
Por fim, o Papa
recordou um traço da diplomacia multilateral: o futuro.
Neste contexto,
Francisco falou de dois temas em particular: a corrida armamentista e o meio
ambiente.
“Infelizmente,
pesa constatar que o mercado das armas não só não parece sofrer interrupção,
mas ao contrário existe uma tendência cada vez mais difusa para se armar por
parte tanto dos indivíduos como dos Estados.”
Amazônia
Quanto à
preservação do meio ambiente, o Santo Padre recordou que “a Terra é de todos e
as consequências da sua exploração recaem sobre toda a população mundial, com
efeitos mais dramáticos em algumas regiões”.
Francisco é cumprimentado por uma das autoridades |
Entre essas
regiões, Francisco mencionou a Amazônia, que estará no centro da próxima
Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos, prevista para o mês de outubro no
Vaticano.
“Apesar de
tratar principalmente dos caminhos da evangelização para o povo de Deus, não
deixará também de enfrentar as problemáticas ambientais em estreita relação com
as consequências sociais.”
O longo e
articulado discurso do Papa se concluiu com a tônica adotada em todo o
pronunciamento: de que a comunidade das nações é um elemento em construção,
baseada não somente na amizade e na confiança, mas também na justiça e no
direito, tendo em vista da paz e do bem integral da pessoa humana.
“Para todos vós,
prezados Embaixadores e ilustres Hóspedes aqui reunidos, e para os vossos
países, formulo cordiais votos de que o novo ano permita reforçar os vínculos
de amizade que nos ligam e trabalhar para construir a paz a que o mundo
aspira.”
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Fonte: vaticannews.va
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