A cultura da indiferença é o oposto do amor de Deus
“Este é o
mistério do amor”, esclareceu Francisco, “Deus nos amou por primeiro. Ele deu o
primeiro passo”. Um passo “em direção à humanidade que não sabe amar”, que
“precisa do carinho de Deus para amar”, do testemunho de Deus.
Cidade do
Vaticano - Deus “dá o primeiro passo” e ama “a humanidade que não sabe amar”,
porque ele tem compaixão e misericórdia, enquanto nós mesmo sendo bons, muitas
vezes não entendemos as necessidades dos outros e permanecemos indiferentes,
“talvez porque o amor de Deus” não entrou em nossos corações.
Foi o que disse
o Papa Francisco na homilia da missa celebrada na manhã desta terça-feira
(08/01), capela da Casa Santa Marta, oferecida ao eterno descanso do arcebispo
Giorgio Zur, núncio apostólico emérito na Áustria, que viveu ali naquela casa e
faleceu “ontem à meia-noite”, disse o Papa. O pontífice se inspirou na liturgia
de hoje, desde a exortação ao amor, da Primeira Carta de São João Apóstolo, ao
Evangelho de Marcos, sobre a multiplicação dos pães.
Deus deu o
primeiro passo e nos amou primeiro
“Amemo-nos uns
aos outros, porque o amor” vem de Deus, recordou o Papa, citando as palavras de
São João na Primeira Leitura. O apóstolo explica “como o amor de Deus se
manifestou em nós”: “Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que
tenhamos a vida através dele”.
“Este é o
mistério do amor”, esclareceu Francisco, “Deus nos amou por primeiro. Ele deu o
primeiro passo”. Um passo “em direção à humanidade que não sabe amar”, que
“precisa do carinho de Deus para amar”, do testemunho de Deus. “Este primeiro
passo que Deus fez é o seu Filho: ele o enviou para nos salvar e dar sentido à
vida, para nos renovar, para nos recriar”.
Jesus teve
compaixão da multidão
A seguir,
Pontífice falou da passagem do Evangelho de Marcos sobre a multiplicação dos
pães e dos peixes. “Por que Deus fez isso?”, perguntou. Por “compaixão”. A
compaixão da grande multidão de pessoas que vê descendo do barco, às margens do
Lago de Tiberíades, porque estavam sozinhas, sublinhou o Papa Francisco: “Eram
como ovelhas que não têm pastor”.
O coração de
Deus, o coração de Jesus se comove, e vê, vê aquelas pessoas, e não pode ficar
indiferente. O amor é inquieto. O amor não tolera a indiferença. O amor tem
compaixão. Mas compaixão significa colocar o coração em risco; significa
misericórdia. Jogar o próprio coração para os outros: isso é amor. O amor é
colocar o coração em risco para os outros.
Os discípulos:
que se arranjem para encontrar comida
Depois, o Papa
descreveu a cena de Jesus que ensina “muitas coisas” ao povo e os discípulos
acabam ficando entediados, “porque Jesus sempre dizia as mesmas coisas”. E
enquanto Jesus ensina “com amor e compaixão”, talvez comecem a “falar entre
eles”. No final, eles olham para o relógio: “Mas é tarde ...”.
Francisco ainda
citou o evangelista Marcos: “Mas Mestre, o lugar é deserto e agora é tarde.
Mandem eles embora, de modo que, indo para os povoados vizinhos, possam comprar
comida”. Praticamente dizem “para eles se virar” e que comprem o pão deles.
“Mas temos certeza”, comentou o Pontífice, “de que sabiam que tinham pão para
eles, e queriam proteger isso. É a indiferença”:
Aos discípulos
não interessava as pessoas: interessava Jesus, porque o queriam bem. Não eram
maus: eram indiferentes. Eles não sabiam o que era amar. Eles não sabiam o que
era compaixão. Eles não sabiam o que era indiferença. Eles tiveram que pecar,
trair o Mestre, abandonar o Mestre, para entender o cerne da compaixão e da
misericórdia. E Jesus, a resposta é pungente: "Dai-lhes vós mesmos de comer".
Tomem conta deles. Esta é a luta entre a compaixão de Jesus e a indiferença, a
indiferença que se repete na história sempre, sempre ... Tantas pessoas que são
boas, mas não compreendem as necessidades dos outros, não são capazes de
compaixão. São boas pessoas, talvez porque não entrou o amor de Deus em seus
corações ou não o deixaram entrar.
A fotografia das
pessoas que desviam o olhar do sem-teto
E aqui o Papa
Francisco descreve uma fotografia que está nas paredes da Esmolaria Apostólica:
"um clique espontâneo que fez um bravo jovem romano que a ofereceu à
Esmolaria". O fez Daniele Garofani, hoje fotógrafo do "L'Osservatore
Romano", retornando de um serviço de distribuição de refeições para os
sem-teto junto com o cardeal Krajewski. É uma noite de inverno, “se percebia
pela maneira de vestir das pessoas" - explica o Papa - que saíam "de
um restaurante". "Pessoas bem cobertas" e satisfeitas:
"haviam comido, estavam entre amigos".
E lá – prossegue
Francisco na descrição da foto - "havia um homem sem-teto no chão, que faz
assim ..." (e imita o gesto da mão estendida para pedir esmola). O
fotógrafo, acrescenta ainda o Papa, "foi capaz de tirar a fotografia no
momento em que as pessoas desviam o olhar, para que os olhos não se
cruzem". Isto, comentou Francisco, "é a cultura da indiferença. Isto
é o que os apóstolos fizeram". "Deixe-os, que vão para o campo, no
escuro, com fome. Que eles se arranjem: é problema deles". "Temos o
que comer: cinco pães e dois peixes para nós".
O oposto do amor
não é o ódio, mas a indiferença
"O amor de
Deus sempre vai primeiro - explica o Papa - é amor de compaixão, de
misericórdia". É verdade que o oposto do amor é o ódio, mas em tantas
pessoas não existe um "ódio consciente":
O oposto mais
cotidiano ao amor de Deus, à compaixão de Deus, é a indiferença: a indiferença.
"Eu estou satisfeito, não me falta nada. Tenho tudo, assegurei esta vida,
e também a eterna, porque vou à Missa todos os domingos, sou um bom
cristão". "Mas, saindo do restaurante, eu olho para outra
parte". Pensemos: este Deus que dá o primeiro passo, que tem compaixão,
que tem misericórdia, e tantas vezes nós, o nosso comportamento é a
indiferença. Rezemos ao Senhor para que cure a humanidade, começando por nós: que
o meu coração seja curado dessa doença que é a cultura da indiferença.
Felicitação a
Kiko Argüello pelo zelo apostólico
No final da
celebração, Francisco envia uma cordial saudação a Kiko Argüello, iniciador do
Caminho Neocatecumenal, pelo seu octogésimo aniversário, e agradece a ele"
pelo zelo apostólico com que trabalha na Igreja".
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Papa:
Seguir o
exemplo do Bom Samaritano para socorrer os doentes
Na mensagem do
Papa Francisco para o XXVII Dia Mundial do Enfermo, o Santo Padre lembra que o
caminho para ajudar os que sofrem é se doar com amor.
Cidade do
Vaticano - “A Igreja lembra que o caminho mais credível de evangelização são
gestos de dom gratuito como os do Bom Samaritano. O cuidado dos
doentes precisa de profissionalismo e ternura, de gestos gratuitos, imediatos e
simples, como uma carícia, com os quais fazemos o outro sentir que nos é
querido”. Essas são as palavras iniciais do Papa Francisco na mensagem para o
XXVII Dia Mundial do Enfermo, que será celebrado de modo solene em Calcutá, na
Índia, no dia 11 de fevereiro.
Como a Índia foi
o país escolhido para a celebração, o Papa fez questão de lembrar na mensagem a
figura da Santa Madre Teresa de Calcutá, “um modelo de caridade que tornou
visível o amor de Deus pelos pobres e os doentes. A Santa Madre Teresa
ajuda-nos a compreender que o único critério de ação deve ser o amor gratuito
para com todos, sem distinção de língua, cultura, etnia ou religião. O seu
exemplo continua a guiar-nos na abertura de horizontes de alegria e esperança
para a humanidade necessitada de compreensão e ternura, especialmente para as
pessoas que sofrem”.
Guiado pelo
exemplo de Madre Teresa, Francisco falou sobre a importância do voluntariado
para socorrer os enfermos e necessitados. “A gratuidade humana é o fermento da
ação dos voluntários, que têm tanta importância no setor socio-sanitário e que
vivem de modo eloquente a espiritualidade do Bom Samaritano. Agradeço e
encorajo todas as associações de voluntariado que se ocupam do transporte e
assistência dos doentes, aquelas que providenciam as doações de sangue, tecidos
e órgãos”.
O Papa também
pede atenção às instituições de saúde católicas sobre a missão desse tipo de
entidade, que corre o risco de se desvirtuar por causa de ganhos financeiros.
“As instituições sanitárias católicas não deveriam cair no estilo empresarial,
mas salvaguardar mais o cuidado da pessoa que o lucro. Sabemos que a saúde é
relacional, depende da interação com os outros e precisa de confiança, amizade
e solidariedade; é um bem que só se pode gozar «plenamente», se for partilhado.
A alegria do dom gratuito é o indicador de saúde do cristão”.
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Mensagem do Papa
para o Dia Mundial do Enfermo
"Contra a
cultura do descarte e da indiferença, cumpre-me afirmar que se há de colocar o
dom como paradigma capaz de desafiar o individualismo e a fragmentação social
dos nossos dias, para promover novos vínculos e várias formas de cooperação
humana entre povos e culturas."
Cidade do
Vaticano - Com o tema «Recebestes de graça, dai de graça» (Mt 10, 8),
foi publicada nesta terça-feira, 8 de janeiro, a mensagem do Santo Padre para o
Dia Mundial do Enfermo, a ser celebrado em 11 de fevereiro. Eis o texto na
íntegra:
"Queridos
irmãos e irmãs!
«Recebestes de
graça, dai de graça» (Mt 10, 8): estas são palavras pronunciadas por
Jesus, quando enviou os apóstolos a espalhar o Evangelho, para que, através de
gestos de amor gratuito, se propagasse o seu Reino.
Por ocasião do
XXVII Dia Mundial do Doente, que será celebrado de modo solene em Calcutá, na
Índia, a 11 de fevereiro de 2019, a Igreja – Mãe de todos os seus filhos, mas
com uma solicitude especial pelos doentes – lembra que o caminho mais credível
de evangelização são gestos de dom gratuito como os do Bom Samaritano. O
cuidado dos doentes precisa de profissionalismo e ternura, de gestos gratuitos,
imediatos e simples, como uma carícia, pelos quais fazemos sentir ao outro que
nos é «querido».
A vida é dom de
Deus, pois – como adverte São Paulo – «que tens tu que não tenhas recebido?» (1
Cor 4, 7). E, precisamente porque é dom, a existência não pode ser
considerada como mera possessão ou propriedade privada, sobretudo à vista das
conquistas da medicina e da biotecnologia, que poderiam induzir o homem a ceder
à tentação de manipular a «árvore da vida» (cf. Gn 3, 24).
Contra a cultura
do descarte e da indiferença, cumpre-me afirmar que se há de colocar o dom como
paradigma capaz de desafiar o individualismo e a fragmentação social dos nossos
dias, para promover novos vínculos e várias formas de cooperação humana entre
povos e culturas. Como pressuposto do dom, temos o diálogo, que abre espaços
relacionais de crescimento e progresso humano capazes de romper os esquemas
consolidados de exercício do poder na sociedade.
O dar não se
identifica com o ato de oferecer um presente, porque só se pode dizer tal se
for um dar-se a si mesmo: não se pode reduzir a mera transferência duma
propriedade ou dalgum objeto. Distingue-se de presentear, precisamente porque inclui
o dom de si mesmo e supõe o desejo de estabelecer um vínculo. Assim, antes de
mais nada, o dom é um reconhecimento recíproco, que constitui o caráter
indispensável do vínculo social. No dom, há o reflexo do amor de Deus, que
culmina na encarnação do Filho Jesus e na efusão do Espírito Santo.
Todo o homem é
pobre, necessitado e indigente. Quando nascemos, para viver tivemos necessidade
dos cuidados dos nossos pais; de forma semelhante, em cada fase e etapa da
vida, cada um de nós nunca conseguirá, de todo, ver-se livre da necessidade e
da ajuda alheia, nunca conseguirá arrancar de si mesmo o limite da impotência
face a alguém ou a alguma coisa. Também esta é uma condição que carateriza o
nosso ser de «criaturas». O reconhecimento leal desta verdade convida-nos a
permanecer humildes e a praticar com coragem a solidariedade, como virtude
indispensável à existência.
Esta consciência
impele-nos a uma práxis responsável e responsabilizadora, tendo em vista um bem
que é indivisivelmente pessoal e comum. Apenas quando o homem se concebe, não
como um mundo fechado em si mesmo, mas como alguém que, por sua natureza, está
ligado a todos os outros, originariamente sentidos como «irmãos», é possível
uma práxis social solidária, orientada para o bem comum. Não devemos ter medo
de nos reconhecermos necessitados e incapazes de nos darmos tudo aquilo de que
teríamos necessidade, porque não conseguimos, sozinhos e apenas com as nossas
forças, vencer todos os limites. Não temamos este reconhecimento, porque o
próprio Deus, em Jesus, Se rebaixou (cf. Flp 2, 8), e rebaixa, até
nós e até às nossas pobrezas para nos ajudar e dar aqueles bens que, sozinhos,
nunca poderíamos ter.
Aproveitando a
circunstância desta celebração solene na Índia, quero lembrar, com alegria e
admiração, a figura da Santa Madre Teresa de Calcutá, um modelo de caridade que
tornou visível o amor de Deus pelos pobres e os doentes. Como dizia na sua
canonização, «Madre Teresa, ao longo de toda a sua existência, foi uma
dispensadora generosa da misericórdia divina, fazendo-se disponível a todos,
através do acolhimento e da defesa da vida humana, dos nascituros e daqueles
abandonados e descartados. (...) Inclinou-se sobre as pessoas indefesas,
deixadas moribundas à beira da estrada, reconhecendo a dignidade que Deus lhes
dera; fez ouvir a sua voz aos poderosos da terra, para que reconhecessem a sua
culpa diante dos crimes (…) da pobreza criada por eles mesmos. A misericórdia
foi para ela o “sal”, que dava sabor a todas as suas obras, e a “luz” que
iluminava a escuridão de todos aqueles que nem sequer tinham mais lágrimas para
chorar pela sua pobreza e sofrimento. A sua missão nas periferias das cidades e
nas periferias existenciais permanece nos nossos dias como um testemunho
eloquente da proximidade de Deus junto dos mais pobres entre os pobres» (Homilia,
4/IX/2016).
A Santa Madre
Teresa ajuda-nos a compreender que o único critério de ação deve ser o amor
gratuito para com todos, sem distinção de língua, cultura, etnia ou religião. O
seu exemplo continua a guiar-nos na abertura de horizontes de alegria e
esperança para a humanidade necessitada de compreensão e ternura, especialmente
para as pessoas que sofrem.
A gratuidade
humana é o fermento da ação dos voluntários, que têm tanta importância no setor
socio-sanitário e que vivem de modo eloquente a espiritualidade do Bom
Samaritano. Agradeço e encorajo todas as associações de voluntariado que se
ocupam do transporte e assistência dos doentes, aquelas que providenciam nas
doações de sangue, tecidos e órgãos. Um campo especial onde a vossa presença
expressa a solicitude da Igreja é o da tutela dos direitos dos doentes,
sobretudo de quantos se veem afetados por patologias que exigem cuidados
especiais, sem esquecer o campo da sensibilização e da prevenção.
Revestem-se de
importância fundamental os vossos serviços de voluntariado nas estruturas
sanitárias e no domicílio, que vão da assistência sanitária ao apoio
espiritual. Deles beneficiam tantas pessoas doentes, sós, idosas, com
fragilidades psíquicas e motoras. Exorto-vos a continuar a ser sinal da
presença da Igreja no mundo secularizado.
O voluntário é
um amigo desinteressado, a quem se pode confidenciar pensamentos e emoções;
através da escuta, ele cria as condições para que o doente deixe de ser objeto
passivo de cuidados para se tornar sujeito ativo e protagonista duma relação de
reciprocidade, capaz de recuperar a esperança, mais disposto a aceitar as
terapias. O voluntariado comunica valores, comportamentos e estilos de vida
que, no centro, têm o fermento da doação. Deste modo realiza-se também a
humanização dos tratamentos.
A dimensão da
gratuidade deveria animar sobretudo as estruturas sanitárias católicas, porque
é a lógica evangélica que qualifica a sua ação, quer nas zonas mais
desenvolvidas quer nas mais carentes do mundo. As estruturas católicas são
chamadas a expressar o sentido do dom, da gratuidade e da solidariedade, como
resposta à lógica do lucro a todo o custo, do dar para receber, da exploração
que não respeita as pessoas.
Exorto-vos a
todos, nos vários níveis, a promover a cultura da gratuidade e do dom,
indispensável para superar a cultura do lucro e do descarte. As instituições
sanitárias católicas não deveriam cair no estilo empresarial, mas salvaguardar
mais o cuidado da pessoa que o lucro. Sabemos que a saúde é relacional, depende
da interação com os outros e precisa de confiança, amizade e solidariedade; é
um bem que só se pode gozar «plenamente», se for partilhado. A alegria do dom
gratuito é o indicador de saúde do cristão.
A todos vos
confio a Maria, Salus infirmorum. Que Ela nos ajude a partilhar os dons
recebidos com o espírito do diálogo e mútuo acolhimento, a viver como irmãos e
irmãs cada um atento às necessidades dos outros, a saber dar com coração
generoso, a aprender a alegria do serviço desinteressado. Com afeto, asseguro a
todos a minha proximidade na oração e envio-vos de coração a Bênção Apostólica.
Vaticano,
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, 25 de novembro de
2018".
Franciscus
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Fonte: vaticannews.va
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