Cidadão e bispo
No próximo
domingo, eu, cidadão e bispo, irei exercitar minha cidadania nas urnas, através
do voto. Além de um dever, será um ato de participação democrática.
Sou o quarto
filho de uma família de cinco irmãos. Meu pai foi operário e comerciário.
Aposentou-se com quase setenta anos de idade. Recebia pouco mais de um salário
mínimo e conseguiu adquirir uma pequena casa para nossa família aos sessenta e
três anos de idade, após trinta e cinco de casamento. Fiz o ensino fundamental
em escola pública, como todos os meus irmãos, e graduei-me em uma universidade
pública.
Dom João Justino de Medeiros Silva |
Aos dezessete
anos entrei no Seminário. Fui ordenado padre aos vinte e cinco e minha primeira
missão foi trabalhar com uma equipe de padres em uma grande paróquia de
periferia, responsável por 42 comunidades. Ali tive contato direto e impactante
com a pobreza e a miséria. As ações sociais da paróquia eram fundamentais para
que muitas famílias tivessem um pouco de dignidade. As Pastorais do Menor e da
Criança foram escolas para mim. Com substancial apoio da Igreja, continuei os
estudos de pós-graduação. Exerci o ministério de padre e atuei por muitos anos
como professor.
Fui nomeado
bispo-auxiliar de Belo Horizonte em 2011. Em fevereiro de 2017 fui transferido
para Montes Claros, após minha nomeação como arcebispo coadjutor. Nestes
dezoito meses de missão no Norte de Minas pude identificar quais grupos estão
em situação de vulnerabilidade: dezenas de mo drogadição radores de rua;
população carcerária em condições indignas do ser humano; grande número de
desempregados; alto índice de drogadição; comunidades tradicionais perdendo
direitos e sendo perseguidas; sistema de saúde precário e deficiente.
No próximo
domingo, eu, cidadão e bispo, irei exercitar minha cidadania nas urnas, através
do voto. Além de um dever, será um ato de participação democrática.
Como ministro
ordenado pela Igreja Católica e exercendo meu dever de cidadão, minhas escolhas
devem ser guiadas pelos princípios da ética do Evangelho. Isso não significa
escolher candidatos necessariamente religiosos ou que buscam o apoio de igrejas
e de autoridades eclesiásticas.
Antes de tudo, a
fé indica que é preciso escolher prezando pela defesa da dignidade da vida e da
família, dos direitos humanos, especialmente dos mais pobres e marginalizados.
Significa garantir a defesa do estado democrático de direito, dos direitos dos
trabalhadores, da salvaguarda do meio-ambiente, da cooperação internacional
para o desenvolvimento dos povos, da promoção da paz, preceitos constitucionais
que devem ser observados e respeitados em todos os seus termos para garantia da
dignidade humana.
É cediço que não
existem garantias de que os eleitos cumprirão promessas de campanha. Portanto,
a partir da próxima segunda-feira, eu, cidadão e bispo, acompanharei
criticamente os eleitos. Isto é tão ou mais importante que a escolha de quem
ocupará uma cadeira no executivo ou legislativo. Almejo que todos os eleitores
façam o mesmo.
Convido a todos
para juntos lançarmos mecanismos de controle dos mandatos daqueles que foram e
que serão eleitos. É um direito nosso, de quem garante os altíssimos subsídios
e a remuneração dos que exercem os poderes legislativo, judiciário e executivo
no Brasil.
Dom João Justino de Medeiros Silva - Arcebispo Coadjutor de Montes Claros - MG
.................................................................................................................................................
Fonte: cnbbleste2.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário