hora da decisão e da esperança
“Continuemos a
afirmar nossa esperança, sem esmorecer” (Hb 10,23).
Com esta frase
tirada da Carta aos Hebreus, os Bispos do Brasil, na última Assembleia Geral da
CNBB (Aparecida – SP, 10 a 20 de abril deste ano), iniciam a Mensagem dirigida
ao povo brasileiro sobre as eleições que se aproximam. Em breve, seremos
chamados a escolher o Presidente da República, Governadores, Senadores,
Deputados Federais e Deputados Estaduais, os futuros servidores da Pátria.
Dom Vicente Costa |
Queridos irmãos
diocesanos: para nós, cristãos e cristãs, o Evangelho, fonte inspiradora da
Doutrina Social da Igreja, deve ser o critério a partir do qual queremos pensar
a política. Nossa fé nos faz olhar para Jesus Cristo, o Verbo Encarnado de
Deus, que assumiu, na sua carne, tudo o que é verdadeiramente humano; pois Ele
veio instaurar o Reino para que todos tenham “vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Por isso, com o coração de pastor, desejo propor-lhes três princípios que
possam ajudar-nos a fazer das próximas eleições momento de decisão e de
esperança.
É preciso
acreditar no valor insubstituível da política e na capacidade dos bons
políticos. Tenhamos plena certeza de que a política é um bem para todos, pois é
ela que regulamenta e disciplina as relações justas e fraternas entre pessoas e
grupos para a realização do bem comum. Nos regimes democráticos, a política é o
único instrumento para a construção de uma sociedade justa e solidária que
todos nós almejamos. O Papa Paulo VI dizia que a política é a forma mais
perfeita do exercício da caridade.
É preciso
valorizar o voto. O voto não é uma simples obrigação, mas um dever a ser
exercido de forma livre e consciente. É grave omissão dizer: “Estou
desacreditado dos políticos. Por isso, vou votar nulo ou em branco”. Não é
verdade que o voto em branco, o voto nulo e as abstenções invalidam as
eleições. Tenhamos muito cuidado com as falsas notícias, os fake news,
postados nas redes sociais e que causam graves prejuízos à democracia, pois
fazem proliferar notícias falsas e inverídicas. Não vendamos o voto por nada,
trocando-o por algum favor ou promessa pessoal.
É preciso
escolher cada candidato com discernimento e retidão. Sejamos criteriosos na
escolha dos candidatos para os vários cargos eletivos, não apenas aqueles do
Poder Executivo, como Presidente e Governadores, mas também os candidatos ao
Legislativo em âmbito federal e estadual. A atuação destes organismos tem um
papel fundamental na elaboração das leis, na aprovação das políticas públicas e
na superação dos problemas sociais.
Quais os
candidatos a escolher? Como tenho afirmado outras vezes, a Igreja, como
instituição, não pode apontar um determinado partido ou candidato. Mas ela
precisa incentivar, apoiar e acompanhar os cristãos leigos e leigas a assumirem
esta missão tão nobre, predominantemente neste Ano Nacional do Laicato.
Portanto, antes
de votar, seria importante pedir a luz do Espírito Santo para fazer uma boa
escolha. Examinemos o candidato, seus projetos, o partido político ao qual
pertence. Não bastam promessas ou discursos genéricos ou alguém que defenda
apenas o interesse de um grupo ou partido, sem promover políticas que
beneficiem a todos.
Eis algumas
“dicas” que poderiam ajudar no perfil do candidato a ser votado:
− qual a sua
vida e sua trajetória pessoal e política;
− qualidades
humanas: honestidade; transparência; sabe trabalhar em conjunto; capacidade de
liderança; idoneidade moral; acredita no diálogo em busca de consenso;
− defensor da
vida e da dignidade humana em toda e qualquer circunstância;
− defensor de
projetos concretos para uma vida melhor para todos, priorizando a educação, a
saúde, o emprego, a moradia e a segurança;
− sensível à
situação do povo, especialmente dos indefesos e mais necessitados;
− respeita as
várias culturas e religiões;
− comprometido
com o meio ambiente.
O Papa Francisco
resumiu tão bem as qualidades que se espera de um bom político: “É claro que há
necessidade de dirigentes políticos que vivam com paixão o seu serviço aos
povos, (…) solidários com os seus sofrimentos e esperanças; políticos que
anteponham o bem comum aos seus interesses privados, que não se deixem
intimidar pelos grandes poderes financeiros e midiáticos, que sejam competentes
e pacientes face a problemas complexos, que sejam abertos a ouvir e a aprender
no diálogo democrático, que conjuguem a busca da justiça com a misericórdia e a
reconciliação” (Mensagem vídeo do Papa Francisco aos participantes no encontro
de políticos católicos organizado pelo Conselho Episcopal Latino-Americano
[CELAM] e pela Pontifícia Comissão para a América Latina [CAL] − 03/12/2017).
E mais uma dica
importante: após as eleições faz-se necessário nosso interesse pela política,
participando dos Conselhos municipais, das reuniões da Câmara Municipal e
acompanhando as discussões e votações no Senado, na Câmara dos Deputados e na
Assembleia Legislativa. A participação de organismos como o Conselho Diocesanos
dos Leigos (CDL) e da Pastoral Fé e Política poderão contribuir muito na
formação contínua da consciência política.
Queridos irmãos
diocesanos: “A esperança não decepciona” (Rm 5,5). Diante da atual
situação política brasileira, não devemos desanimar, mas com fé e esperança,
fazer florescer o desejo de construir um novo Brasil, participando no
fortalecimento da democracia pela votação que faremos nas próximas eleições.
Que Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, nos ajude nesta nobre e tão
desafiadora missão.
E a todos
abençoo.
Dom Vicente Costa - Bispo da diocese de Jundiaí (SP)
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Fonte: cnbbsul1.org.br
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