primeiro dia do Papa no Chile
Autoridades,
missa campal, visita à prisão feminina e encontro com religiosos e bispos na
Catedral compõem a terça-feira de Francisco em Santiago.
Cidade do
Vaticano - O Papa Francisco já está no Chile. Depois de 15 horas de voo, o
avião com a bordo o Pontífice aterrissou por volta das 1915 (hora local) no
aeroporto de Santiago.
Ao descer da
aeronave, Francisco recebeu um pequeno maço de flores de duas crianças e foi
acolhido pela presidente chilena, Michelle Bachelet. Da pista do aeroporto, em
carro fechado, o Papa seguiu em direção ao túmulo de Dom Enrique Alvear
Urrutia, conhecido como o “bispo dos pobres”.
Foi o primeiro
“ato” do Pontífice e a primeira modificação do programa pré-estabelecido.
Bispo dos pobres
Na paróquia San
Luis Beltran, di Pudahuel, o Papa se deteve em oração diante do túmulo do bispo
salesiano que morreu em 1982. Dom Alvear foi Arcebispo de Santiago. O Papa João
XXIII o criou cardeal em 1962. Entre 1962 e 1965 participou do Concílio
Vaticano II. Durante o seu episcopado, foi incansável defensor dos direitos
humanos violados sistematicamente no seu país depois de 1973.
Sob a sua
inspiração e direção, nasceu em 1976 a “Vicaria de la Solidaridad”, um refúgio
para as vítimas das violações dos direitos humanos, aos quais era oferecido
proteção jurídica e assistência médica.
Ao deixar a
paróquia, o Santo Padre seguiu de carro fechado até o cruzamento da rua Brasil
com a Avenida Libertador Bernardo O’Higgins, onde subiu a bordo do papamóvel
até chegar à Nunciatura. No trajeto, foi saudado por milhares de chilenos, no
primeiro contato com a multidão.
Transmissões ao
vivo
A programação
nesta terça-feira será intensa para o Papa. O dia começa com o encontro com as
autoridades, a sociedade civil e o Corpo Diplomático no Palácio “La Moneda”.
Depois, será a vez de celebrar a primeira missa no Parque O’Higgins. Na parte
da tarde, Francisco visita o Centro Penitenciário Feminino de Santiago e, na
Catedral, se encontra com sacerdotes, religiosos e religiosas, consagrados e
seminaristas. O último evento previsto é o encontro com os bispos na sacristia
da Catedral. Todos estes eventos serão transmitidos ao vivo pelo Vatican News
com comentários em português.
Brasil
No trajeto de
Roma que o levou ao Chile, o avião papal sobrevoou o território brasileiro. E como prevê o
protocolo, o Papa envia um telegrama ao presidente do país.
A Michel Temer,
Francisco faz seus melhores votos, assim como a todos os cidadãos brasileiros,
garantindo suas orações pela paz e a prosperidade do Brasil.
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Papa aponta
desafio "apaixonante" aos chilenos:
Inclusão
Francisco
pronunciou seu primeiro discurso no Chile, falando às autoridades. O Papa tocou
temas como democracia, povos nativos e meio ambiente. E pediu perdão pelas
falhas da Igreja.
Cidade do
Vaticano – O primeiro discurso do Papa Francisco em terras chilenas foi às
autoridades, à sociedade civil e ao corpo diplomático, reunidos no Palácio
Presidencial “La Moneda”.
Depois de ouvir
as boas-vindas da presidente Michelle Bachelet, o Pontífice tomou a palavra
para manifestar sua satisfação de voltar à América Latina, começando sua visita
nesta “amada terra chilena”, onde fez parte de sua formação juvenil.
Francisco
iniciou seu discurso destacando o desenvolvimento da democracia chilena, que
permitiu ao país alcançar nas últimas décadas um “notável progresso”. O Papa
cita a celebração este ano do bicentenário da declaração de independência,
ressaltando que cada geração deve fazer suas as lutas e as conquistas das
gerações anteriores e levá-las a metas ainda mais altas.
Democracia e
inclusão
Diante das
situações de injustiça que ainda persistem, Francisco apontou para os chilenos
um “desafio grande e apaixonante”: “continuar a trabalhar para que a
democracia, o sonho de seus pais, não se limite aos aspetos formais mas seja
verdadeiramente um lugar de encontro para todos. Seja um lugar onde todos, sem
exceção, se sintam chamados a construir casa, família e nação. Um lugar, uma
casa, uma família chamada Chile”.
A Igreja pede
perdão
O Papa enalteceu
a pluralidade étnica, cultural e histórica da nação, que exige ser protegida de
qualquer tentativa feita de parcialidade ou supremacia. Para Francisco, é
indispensável escutar: os desempregados, os povos nativos, os migrantes, os
jovens, os idosos, as crianças.
“E aqui não
posso deixar de expressar o pesar e a vergonha que sinto perante o dano
irreparável causado às crianças por ministros da Igreja. Desejo unir-me aos
meus irmãos no episcopado, porque é justo pedir perdão e apoiar, com todas as
forças, as vítimas, ao mesmo tempo que nos devemos empenhar para que isso não
volte a repetir-se.”
Casa Comum e
povos nativos
Com esta
capacidade de escuta, o Papa convidou as autoridades a a prestar uma atenção
preferencial à nossa Casa Comum: “promover uma cultura que saiba cuidar da
terra, não nos contentando com oferecer respostas pontuais aos graves problemas
ecológicos e ambientais que se apresentem”. Francisco pediu a ousadia de um
novo estilo de vida, aprendendo com a sabedoria dos povos nativos.
“Deles, podemos
aprender que não existe verdadeiro desenvolvimento num povo que volta as costas
à terra com tudo e todos os que nela se movem. O Chile possui, nas suas raízes,
uma sabedoria capaz de ajudar a transcender a concepção meramente consumista da
existência para adquirir uma atitude sapiencial em relação ao futuro.”
O Pontífice
concluiu seu discurso convidando os chilenos a uma “opção radical pela vida”:
“Agradeço mais uma vez o convite que me possibilitou vir encontrar-me com
vocês, com a alma deste povo; e rezo para que a Nossa Senhora do Carmo, Mãe e
Rainha do Chile, continue a acompanhar e fazer crescer os sonhos desta
abençoada nação”.
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O encontro do
Papa
com as vítimas de abuso por parte do clero
Na Nunciatura em
Santiago, Francisco recebeu um grupo de vítimas de abusos e se emocionou ao
ouvir os relatos.
Cidade do
Vaticano – Depois de pedir
perdão pelas falhas de membros da Igreja que abusaram de crianças no primeiro
discurso no Chile, depois do almoço, o Papa Francisco recebeu na Nunciatura
Apostólica de Santiago um pequeno grupo de vítimas de abusos sexuais.
De acordo com o
Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Greg Burke, o encontro se realizou de
forma estritamente privada. “Ninguém mais estava presente: somente o Papa e as
vítimas. E isso para que pudessem contar seus sofrimentos ao Papa Francisco,
que os ouviu, rezou e chorou com eles.”
Na manhã de
terça-feira, no Palácio presidencial “La Moneda”, diante de autoridades,
representantes da sociedade civil e o corpo diplomático, o Pontífice afirmou:
“Não posso
deixar de expressar o pesar e a vergonha que sinto perante o dano irreparável
causado às crianças por ministros da Igreja. Desejo unir-me aos meus irmãos no
episcopado, porque é justo pedir perdão e apoiar, com todas as forças, as
vítimas, ao mesmo tempo que devemos nos empenhar para que isso não volte a se
repetir.”
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Assista:
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Papa Francisco:
Somos
chamados e desafiados
a caminhar nas Bem-aventuranças
a caminhar nas Bem-aventuranças
Primeira Missa
celebrada em terras chilenas
Cidade do
Vaticano - “As Bem-aventuranças são aquele novo dia para quantos
continuam a apostar no futuro, continuam a sonhar, continuam a deixar-se tocar
e impelir pelo Espírito de Deus.
Na Missa
celebrada na manhã desta terça-feira no Parque O’Higgins, em Santiago, o Papa
Francisco falou das Bem-aventuranças, sublinhando as atitudes de “construir a
paz” e acreditar nas possibilidades de mudança.
Foi o primeiro
grande encontro de Francisco com os fiéis chilenos, no parque intitulado a um
dos Pais fundadores do Chile, e ocupando no centro de Santiago uma área de
770mil m². Segundo as autoridades, 400 mil pessoas participaram da celebração.
A multidão que
seguia Jesus, encontra em seu olhar “o eco das suas buscas e aspirações, disse
o Papa no início de sua homilia. De tal encontro, nasce este elenco de
Bem-aventuranças, o horizonte para o qual somos convidados e desafiados a
caminhar”.
“A primeira
atitude de Jesus é ver, fixar o rosto dos seus, observou o Papa, referindo-se
ao Evangelho de Mateus. Aqueles rostos põem em movimento o entranhado amor de
Deus. Não foram ideias nem conceitos que moveram Jesus; foram os rostos, as
pessoas. É a vida que clama pela Vida, que o Pai nos quer transmitir”.
Francisco
explica que as “Bem-aventuranças não nascem de uma atitude passiva
perante a realidade, nem podem nascer de um espectador que se limite a ser um
triste autor de estatísticas do que acontece”.
“Não nascem dos
profetas de desgraças, que se contentam em semear decepções; nem de miragens
que nos prometem a felicidade com um «clique», num abrir e fechar de olhos.
Pelo contrário”:
“As
Bem-aventuranças nascem do coração compassivo de Jesus, que se encontra com o
coração de homens e mulheres que desejam e anseiam por uma vida feliz; de
homens e mulheres que conhecem o sofrimento, que conhecem a frustração e a
angústia geradas quando «o chão lhes treme debaixo dos pés» ou «os sonhos
acabam submersos» e se arruína o trabalho duma vida inteira; mas conhecem ainda
mais a tenacidade e a luta para continuar para diante; conhecem ainda mais o
reconstruir e o recomeçar.
E “como é perito
o coração chileno em reconstruções e novos inícios!”, exclamou o Papa, “vocês
são peritos em se levantar depois de tantas derrocadas! A este coração, faz
apelo Jesus; para este coração são as Bem-aventuranças!”
Francisco
prossegue explicando que “as Bem-aventuranças não nascem de atitudes de crítica
fácil nem do «palavreado barato» daqueles que julgam saber tudo, mas não querem
se comprometer com nada nem com ninguém, acabando assim por bloquear toda a
possibilidade de gerar processos de transformação e reconstrução nas nossas
comunidades, na nossa vida”.
"As
Bem-aventuranças nascem do coração misericordioso, que não se cansa de esperar;
antes, experimenta que a esperança «é o novo dia, a extirpação da imobilidade,
a sacudidela duma prostração negativa», enfatizou, usando uma frade de Pablo
Neruda.
Francisco
explica que quando Jesus diz bem-aventurado “o pobre, o que chorou, o aflito, o
que sofre, o que perdoou, vem extirpar a imobilidade paralisadora de
quem pensa que as coisas não podem mudar, de quem deixou de crer no poder
transformador de Deus Pai e nos seus irmãos, especialmente nos seus irmãos mais
frágeis, nos seus irmãos descartados”:
“Jesus, quando
proclama as Bem-aventuranças vem sacudir aquela prostração negativa chamada
resignação que nos faz crer que se pode viver melhor, se evitarmos os
problemas, se fugirmos dos outros, se nos escondermos ou fecharmos nas nossas
comodidades, se nos adormentarmos num consumismo tranquilizador. Aquela
resignação que nos leva a isolar-nos de todos, a dividir-nos, a separar-nos, a
fazer-nos cegos perante a vida e o sofrimento dos outros”.
“As
Bem-aventuranças são aquele novo dia para quantos continuam a apostar
no futuro, continuam a sonhar, continuam a deixar-se tocar e impelir pelo
Espírito de Deus.
“Bem-aventurados
vocês que se deixam contagiar pelo Espírito de Deus, lutando e trabalhando por
este novo dia, por este novo Chile, porque vosso será o reino do Céu”,
disse o Papa aos fiéis chilenos.
Francisco
ressalta que perante a resignação que, “como uma rude zoada, mina os nossos
laços vitais e nos divide, Jesus nos diz: bem-aventurados aqueles que se
comprometem em prol da reconciliação”:
“Felizes aqueles
que são capazes de sujar as mãos e trabalhar para que outros vivam em paz.
Felizes aqueles que se esforçam por não semear divisão. Desta forma, a
bem-aventurança faz-nos artífices de paz; convida a empenhar-nos para que o
espírito da reconciliação ganhe espaço entre nós. Queres ser ditoso? Queres
felicidade? Felizes aqueles que trabalham para que outros possam ter uma vida
ditosa. Queres paz? Trabalha pela paz.”
Francisco disse não
poder deixar de evocar “o grande Pastor que teve Santiago” – referindo-se ao
Cardeal Raúl Silva Henríquez Silva – que em um Te Deum disse «“Se queres a paz,
trabalha pela justiça” (...). E se alguém nos perguntar: “Que é a justiça?” ou
se porventura consiste apenas em “não roubar”, dir-lhe-emos que existe outra
justiça: a que exige que todo o homem seja tratado como homem».
“Semear a paz à
força de proximidade, de vizinhança; à força de sair de casa e observar os
rostos, de ir ao encontro de quem se encontra em dificuldade, de quem não foi
tratado como pessoa, como um digno filho desta terra. Esta é a única maneira
que temos para tecer um futuro de paz, para tecer de novo uma realidade sempre
passível de se desfiar”.
O obreiro de paz
– observou o Papa - sabe que muitas vezes “é necessário superar mesquinhezes e
ambições, grandes ou sutis, que nascem da pretensão de crescer e «tornar-se
famoso», de ganhar prestígio à custa dos outros”.
“O obreiro de
paz sabe que não basta dizer «não faço mal a ninguém», pois, como dizia Santo
Alberto Hurtado: «Está muito bem não fazer o mal, mas está muito mal não fazer
o bem».
“Construir a paz
é um processo que nos congrega, estimulando a nossa criatividade para criar
relações capazes de ver no meu vizinho, não um estranho ou um desconhecido, mas
um filho desta terra”.
Que a Virgem
Imaculada “nos ajude a viver e a desejar o espírito das Bem-aventuranças, para
que, em todos os cantos desta cidade, se ouça como um sussurro:
«Bem-aventurados os obreiros de paz, porque serão chamados filhos de Deus».
Após a homilia,
o Papa Francisco coroou a Imagem da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte
Carmelo.
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Papa a
sacerdotes e consagrados:
Coragem de pedir perdão e aprender a ouvir
A vida
sacerdotal e consagrada, no Chile, atravessou e atravessa horas difíceis de
turbulência e desafios sérios.
Cidade do
Vaticano - O Papa Francisco
encontrou-se, nesta terça-feira (16/01), com os sacerdotes e consagrados
chilenos, na Catedral de Santiago, no âmbito de sua 22ª viagem apostólica
internacional ao Chile e Peru.
“Neste encontro,
queremos dizer ao Senhor: «Aqui estamos» para renovar o nosso «sim». Queremos
renovar, juntos, a resposta à vocação que um dia alvoroçou o nosso coração”,
disse o Santo Padre aos consagrados e consagradas, presbíteros, diáconos
permanentes e seminaristas ali presentes.
Francisco
deteve-se no último capítulo do Evangelho de São João, lido no encontro,
sublinhando três momentos de Pedro e da primeira
comunidade: Pedro/comunidade abatidos, Pedro/comunidade tratados com
misericórdia e Pedro/comunidade transfigurados.
“Jogo com o
binômio Pedro-comunidade, porque a experiência dos apóstolos tem sempre
estes dois aspectos: pessoal e comunitário. Andam de mãos dadas, e não os
podemos separar. É verdade que somos chamados individualmente, mas sempre
para ser parte dum grupo maior. Não existe «selfie vocacional». A vocação exige
que a sua foto seja tirada por outra pessoa”, disse o Papa.
Pedro abatido
“Sempre gostei
do estilo dos Evangelhos que não adornam, não mitigam os acontecimentos, nem os
pintam fazendo-os mais belos. Apresentam-nos a vida como é e não como deveria
ser. O Evangelho não tem medo de nos mostrar os momentos difíceis, e até
conflituosos, por que passaram os discípulos.”
Jesus estava
morto e algumas mulheres diziam que estava vivo. “Os discípulos voltam para a
sua terra. Vão fazer o que sabiam: pescar. Porém, têm as redes vazias.”
“Os discípulos,
mesmo tendo visto Jesus ressuscitado, tão grande é o acontecimento que
precisarão de tempo para compreender o sucedido.” A morte de Jesus evidenciou
uma espiral de conflitos no coração de seus amigos. Pedro o renegou, Judas o
traiu, o restante fugiu e se escondeu.
"Ficou
apenas um punhado de mulheres e o discípulo amado. O resto, foi-se. Questão de
dias, e tudo ruiu. São as horas da perplexidade e do turvamento na vida do
discípulo. Nos momentos «em que se levanta a poeira das perseguições,
tribulações, dúvidas, etc. por causa de fatos culturais e históricos, não é
fácil enxergar o caminho a seguir.
Há várias
tentações que caracterizam estes momentos: discutir ideias, não prestar a
devida atenção ao caso, fixar-se demasiado nos perseguidores... e – creio que a
pior de todas as tentações é ficar a ruminar a desolação». Sim,
ficar a ruminar a desolação”, enfatizou o Papa.
“A vida
sacerdotal e consagrada, no Chile, atravessou e atravessa horas difíceis de
turbulência e desafios sérios. Juntamente com a fidelidade da imensa maioria,
cresceu também a cizânia do mal com as suas consequências de escândalo e
deserção”, disse Francisco, recordando as palavras do Arcebispo de Santiago,
Cardeal Ricardo Ezzati Andrello, proferidas no início do encontro.
“Momento de
turbulência. Sei da dor causada pelos casos de abuso contra menores e sigo com
atenção o que vocês estão fazendo para superar este grave e doloroso malefício.
Dor pelo dano e sofrimento das vítimas e suas famílias, que viram traída a
confiança que depunham nos ministros da Igreja.”
"Dor pelo
sofrimento das comunidades eclesiais, e dor também por vocês, irmãos, que, além
do desgaste pela entrega, experimentam o dano que provoca suspeita e
contestação, que pode ter insinuado – em alguns ou muitos – a dúvida, o medo e
a desconfiança.
Sei que, às
vezes, vocês sofreram insultos no metrô ou caminhando pela rua; que, em muitos
lugares, «paga-se caro» andar vestido de padre. Por isso, convido-os a pedir a
Deus que nos dê a lucidez de chamar a realidade pelo seu nome, a coragem de
pedir perdão e a capacidade de aprender a ouvir o que Ele está nos
dizendo."
O Papa
acrescentou outro aspecto importante: “as nossas sociedades estão mudando. O
Chile de hoje é muito diferente do que conheci no tempo da minha juventude,
quando estava me formando. Estão nascendo novas e variadas formas culturais,
que não se enquadram nos contornos habituais. Temos de reconhecer que, muitas
vezes, não sabemos como nos inserir nestas novas situações.
Frequentemente
sonhamos com as «cebolas do Egito» e esquecemo-nos de que a terra prometida
está à frente. Que a promessa é de ontem, mas diz respeito ao amanhã. Podemos
cair na tentação de nos fecharmos e isolarmos para defender as nossas posições
que acabam por ser apenas bons monólogos.
Podemos ser
tentados a pensar que tudo está mal e, em vez de professar uma «boa nova», tudo
o que professamos é apatia e decepção. Assim, fechamos os olhos perante os
desafios pastorais, pensando que o Espírito não tenha nada a dizer. Deste modo
esquecemo-nos de que o Evangelho é um caminho de conversão, mas não só «dos
outros», também nossa”.
“Gostemos ou
não, somos convidados a enfrentar a realidade como nos é apresentada: a
realidade pessoal, comunitária e social. As redes – dizem os discípulos – estão
vazias, e podemos compreender os sentimentos que isso gera. Regressam a casa
sem grandes aventuras para contar; regressam a casa de mãos vazias; regressam a
casa, abatidos.”
“O que resta
daqueles discípulos fortes, corajosos, vivazes, que se sentiam escolhidos tendo
deixado tudo para seguir Jesus? O que resta daqueles discípulos seguros de si,
prontos a ir para a prisão e até dariam a vida pelo seu Mestre, que, para O
defender, queriam mandar vir fogo sobre a terra; que, por Ele, desembainhariam
a espada e combateriam? O que resta do Pedro que repreendia o seu Mestre
dizendo-Lhe como é que deveria orientar a sua vida?”
Pedro tratado
com misericórdia
“É a hora da
verdade, na vida da primeira comunidade. É a hora em que Pedro se confrontou
com parte de si mesmo: a parte da sua verdade que muitas vezes não queria ver.
Experimentou a sua limitação, a sua fragilidade, o seu ser pecador.
Pedro, o
instintivo, o chefe impulsivo e salvador, com uma boa dose de autossuficiência
e um excesso de confiança em si mesmo e nas suas possibilidades, teve que se
curvar à sua fraqueza e pecado. Era pecador como os outros, era carente como os
outros, era frágil como os outros. Pedro decepcionou Aquele a quem jurara
proteção. Hora crucial na vida de Pedro.”
“Como
discípulos, como Igreja, pode acontecer-nos o mesmo: há momentos em que somos
confrontados, não com as nossas glórias, mas com a nossa fraqueza. Horas
cruciais na vida dos discípulos, mas é também nessas horas que nasce o
apóstolo. Deixemos o texto levar-nos pela mão.”
«Depois de terem
comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas mais
do que estes?”»
Depois de comer,
Jesus convida Pedro a passear um pouco e a única palavra é uma pergunta, uma
pergunta de amor: Tu me amas? Jesus não censura nem condena. Tudo o que Ele
quer fazer é salvar Pedro. Quer salvá-lo do perigo de ficar fechado no seu
pecado, de ficar «a mastigar» a desolação, fruto da sua limitação; do perigo de
desistir, por causa das suas limitações, de todas as coisas boas que vivera com
Jesus. Quer salvá-lo do fechamento e do isolamento.
Quer salvá-lo
daquela atitude destrutiva que é o vitimar-se ou, ao contrário, cair num «vale
tudo o mesmo», acabando por fazer malograr qualquer compromisso no mais danoso
relativismo. Quer libertá-lo de considerar quem se opõe a Ele como se fosse um
inimigo, ou de não aceitar com serenidade as contradições e as críticas. Quer
libertá-lo da tristeza e sobretudo do mau humor.
Com esta
pergunta, Jesus convida Pedro a escutar o seu coração e aprender a
discernir. Uma vez que «não era de Deus defender a verdade à custa da
caridade, nem a caridade à custa da verdade, nem o equilíbrio à custa de ambas,
Jesus quer evitar que Pedro se torne um veraz destruidor ou um caritativo
mentiroso ou um perplexo paralisado», como pode acontecer conosco em tais
situações.”
Jesus interpelou
Pedro sobre o seu amor e insistiu nisso até ele Lhe poder dar uma resposta
realista: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que eu sou deveras teu amigo».
E, deste modo, Jesus confirma-o na missão. Assim o faz tornar-se
definitivamente seu apóstolo.
“O que é que
fortalece Pedro como apóstolo? O que é que nos mantém a nós como apóstolos? Uma
coisa só: fomos tratados com misericórdia. «Não obstante os nossos pecados, os
nossos limites, as nossas faltas; não obstante as nossas numerosas quedas,
Jesus Cristo viu-nos, aproximou-Se, deu-nos a mão e teve misericórdia de nós.
(…).
Cada um de nós
poderá recordar, pensando em todas as vezes que o Senhor o viu, que olhou para
ele, que se aproximou dele e o tratou com misericórdia». Não estamos aqui por
ser melhores do que os outros. Não somos super-heróis que, do alto, descem para
se encontrar com os «mortais».
“Antes, somos
enviados com a consciência de ser homens e mulheres perdoados. E esta é a fonte
da nossa alegria. Somos consagrados, pastores segundo o estilo de Jesus ferido,
morto e ressuscitado.”
A pessoa
consagrada é alguém que encontra, nas suas feridas, os sinais da Ressurreição.
É alguém que consegue ver, nas feridas do mundo, a força da Ressurreição. É
alguém que, segundo o estilo de Jesus, não vai ao encontro dos seus irmãos com
a censura e a condenação.”
“Jesus Cristo
não Se apresenta, aos seus, sem chagas; foi precisamente a partir das suas
chagas que Tomé pôde confessar a fé. Somos convidados a não dissimular nem
esconder as nossas chagas. Uma Igreja com as chagas é capaz de compreender as
chagas do mundo atual e de assumi-las, sofrê-las, acompanhá-las e procurar
saná-las. Uma Igreja com as chagas não se coloca no centro, não se considera
perfeita, mas coloca no centro o único que pode sanar as feridas e que se chama
Jesus Cristo.
A consciência de
ter chagas, nos liberta. É verdade; liberta-nos de nos tornarmos
autorreferenciais, de nos considerarmos superiores. Liberta-nos da tendência
«prometeica de quem, no fundo, só confia nas suas próprias forças e se sente
superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente
fiel a um certo estilo católico próprio do passado».”
O Papa frisou
que “em Jesus, as nossas chagas ficam ressuscitadas. Tornam-nos solidários;
ajudam-nos a derrubar os muros que nos encerram numa atitude elitista,
incitando-nos a construir pontes e ir ao encontro de tantos sedentos do mesmo
amor misericordioso que só Cristo nos pode dar.
«Quantas vezes
sonhamos planos apostólicos expansionistas, meticulosos e bem traçados, típicos
de generais derrotados! Assim negamos a nossa história de Igreja, que é gloriosa
por ser história de sacrifícios, de esperança, de luta diária, de vida gasta no
serviço, de constância no trabalho fadigoso, porque todo o trabalho é “suor do
nosso rosto”».
Vejo, com certa
preocupação, que há comunidades que vivem acometidas pela ânsia de constar no
cartaz, ocupar espaços, aparecer e se mostrar, mais do que pela vontade de
arregaçar as mangas e sair para tocar a dolorosa realidade do nosso povo
fiel.”
“Como nos
interpela a reflexão deste Santo chileno, que advertia: «Por isso, serão
métodos falsos todos os que são impostos pela uniformidade; todos os que
pretendem encaminhar-nos para Deus, fazendo-nos esquecer os nossos irmãos;
todos os que nos levam a fechar os olhos ao universo, em vez de nos ensinar a
abri-los para elevar tudo ao Criador de todas as coisas; todos os que nos fazem
egoístas e nos dobram sobre nós mesmos».
O povo de Deus
não espera nem precisa de super-heróis, espera pastores, pessoas
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Assista:
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Assista:
Papa aos bispos:
Não ao
clericalismo
e a mundos ideais que não tocam a vida de ninguém
Pedir ao
Espírito Santo o dom de sonhar e trabalhar por uma opção missionária e
profética.
Cidade do
Vaticano - Após o
encontro com os sacerdotes e consagrados, nesta terça-feira (16/01), o Papa
Francisco encontrou-se com os bispos do Chile na Sacristia da Catedral, em
Santiago.
O Pontífice
agradeceu as palavras a ele dirigidas pelo Presidente da Conferência Episcopal
Chilena, Dom Santiago Silva Retamales, e a seguir, saudou Dom Benardino Piñera
Carvallo, que celebra, este ano, sessenta anos de episcopado. “É o bispo mais
idoso do mundo, tanto na idade como nos anos de episcopado e viveu quatro
sessões do Concílio Vaticano II. Maravilhosa memória vivente”, disse Francisco.
O Papa recordou
em seu discurso que, em breve, irá completar um ano da visita ad limina dos
bispos chilenos ao Vaticano.
“Agora coube a
mim visitá-los e fico feliz por este encontro acontecer logo depois do encontro
com o «mundo consagrado», pois uma de nossas tarefas principais consiste
precisamente em estar perto de nossas pessoas consagradas, dos nossos
sacerdotes.”
“Se o pastor se
dispersa, também as ovelhas se dispersarão e ficarão à mercê de qualquer lobo.
Irmãos, a paternidade do bispo com os seus sacerdotes, com o seu presbitério!”
"Uma
paternidade que não é paternalismo nem abuso de autoridade. Eis um dom que
vocês devem pedir: estar perto de seus padres, com o estilo de São José. Uma
paternidade que ajuda a crescer e a desenvolver os carismas que o Espírito quis
derramar em seus respectivos presbitérios.”
O Papa retomou
alguns pontos do encontro realizado em Roma, resumindo-os na frase: “a
consciência de ser povo”.
“Um dos
problemas, que enfrentam atualmente as nossas sociedades, é o sentimento de
orfandade, ou seja, sentir que não pertencem a ninguém. Este sentir
«pós-moderno» pode penetrar em nós e no nosso clero; então começamos a pensar
que não pertencemos a ninguém, esquecemo-nos de que somos parte do santo povo
fiel de Deus e que a Igreja não é, e nunca será, uma elite de pessoas
consagradas, sacerdotes ou bispos. ”
“Não poderemos
sustentar a nossa vida, a nossa vocação ou ministério, sem esta consciência de
ser povo.”
Esquecermo-nos
disso – como afirmei à Comissão para a América Latina – «comporta vários riscos
e deformações na nossa experiência, quer pessoal quer comunitária, do
ministério que a Igreja nos confiou».
A falta de
consciência de pertencer ao Povo de Deus como servidores, e não como patrões,
pode-nos levar a uma das tentações que mais danifica o dinamismo missionário,
que somos chamados a promover: o clericalismo, que é uma caricatura da
vocação recebida.”
Segundo o Papa,
“a falta de consciência do fato que a missão é de toda a Igreja, e não do padre
ou do bispo, limita o horizonte e – o que é pior – reduz todas as iniciativas
que o Espírito pode suscitar no meio de nós. Digamos claramente: os leigos não
são os nossos servos, nem os nossos empregados. Não precisam repetir, como
«papagaios», o que dizemos.
«O clericalismo
longe de dar impulso às diferentes contribuições e propostas, apaga pouco a
pouco o fogo profético do qual a Igreja inteira é chamada a dar testemunho no
coração de seus povos. O clericalismo esquece que a visibilidade e a
sacramentalidade da Igreja pertencem a todo o povo de Deus e não só a poucos
eleitos e iluminados»”.
Francisco
convidou a vigiar “contra esta tentação, especialmente nos seminários e em todo
o processo de formação. Os seminários devem pôr o acento no fato de que os
futuros sacerdotes sejam capazes de servir o santo povo fiel de Deus,
reconhecendo a diversidade de culturas e renunciando à tentação de toda forma
de clericalismo”.
“O sacerdote é
ministro de Jesus Cristo, o protagonista que Se torna presente em todo o povo
de Deus. Os sacerdotes de amanhã devem formar-se olhando para o amanhã: o seu
ministério se realizará num mundo secularizado, e isso exige, de nós pastores,
discernir como prepará-los para realizar a sua missão nesse cenário concreto e
não em nossos «mundos ou situações ideais».”
“Uma missão que
se realiza em união fraterna com todo o povo de Deus. Lado a lado, impelindo e
incentivando o laicato num clima de discernimento e sinodalidade, duas
caraterísticas essenciais do sacerdote de amanhã.
“Não ao
clericalismo e a mundos ideais, que só entram nos nossos esquemas, mas que não
tocam a vida de ninguém.”
O Papa convidou
a “rezar, pedir ao Espírito Santo o dom de sonhar e trabalhar por uma opção
missionária e profética que seja capaz de transformar tudo, para que os
costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se
tornem um instrumento mais adequado para a evangelização do Chile do que para
uma autopreservação eclesiástica”.
“Não tenhamos
medo de nos despojar daquilo que nos afasta do mandato missionário”, concluiu o
Pontífice.
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Papa às
detentas:
Uma pena sem reinserção é uma tortura
Francisco
visitou o Centro penitenciário feminino da capital chilena e ofereceu uma
mensagem de esperança às presidiárias.
Cidade do
Vaticano – Um dos momentos
mais significativos deste primeiro dia de visita ao Chile foi o encontro do
Papa com as presidiárias do Centro penitenciário feminino de Santiago. O
ginásio onde ocorreu o evento estava decorado com faixas coloridas que
repropunham ideais e pensamentos do Santo Padre acerca do sistema
penitenciário.
Depois de ouvir
a saudação da Ir. Nelly León, encarregada da Pastoral do Centro, e do
testemunho da reclusa Janeth Zurita, Francisco dirigiu aos funcionários, presas
e suas famílias um discurso repleto de emoção, brincadeiras e, sobretudo,
encorajamento.
O Pontífice
agradeceu a oportunidade deste encontro, de modo especial pelas palavras da
reclusa de pedir perdão a todos os que foram feridos com os delitos. “Obrigado
por nos lembrares esta atitude, sem a qual nos desumanizamos, perdemos a
consciência de ter errado e de que somos chamados a recomeçar cada dia. Não se
deixem coisificar. Vocês não são a presa 'número tal'. Vocês têm um nome e
sobrenome'.
Francisco pediu
para superar a lógica simplória de dividir a realidade em bons e maus, para
entrar numa outra dinâmica capaz de assumir a fragilidade, os limites e também
o pecado, para nos ajudar a seguir em frente.
“Quando entrei,
estavam à minha espera duas mães com os seus filhos e algumas flores. Assim me
deram as boas-vindas, que bem se podem expressar em duas palavras: mãe e
filhos.”
Mãe
O Papa falou
sobre cada uma dessas palavras, a começar por “mãe”, que significa gerar a
vida.
“A maternidade
não é, e nunca será, um problema; é um presente, um dos presentes mais
maravilhosos que vocês poderão ter. Hoje vocês se encontram perante um desafio
muito parecido: trata-se ainda de gerar vida. Hoje lhes é pedido que deem à luz
o futuro; que o façam crescer, que o ajudem a desenvolver-se.”
As mulheres,
disse ainda Francisco, têm uma capacidade incrível de se adaptar às
situações e seguir em frente. “Hoje gostaria de fazer apelo à capacidade de
gerar futuro que vive em cada uma de vocês. (...) Ser privadas de liberdade não
é o mesmo que ser privadas de dignidade. Por isso, é necessário lutar contra
todo o tipo de clichês, de rótulos que digam que não se pode mudar, ou que não
vale a pena, ou que o resultado é sempre o mesmo. Não, queridas irmãs! Não é
verdade que o resultado é sempre o mesmo. Todo o esforço que se fizer lutando
por um amanhã melhor sempre dará fruto e será recompensado”, encorajou o Papa.
Filhos
A segunda
palavra é filhos: estes são força, são esperança, são estímulo, disse
Francisco. “São a memória viva de que a vida se constrói olhando para a frente
e não para trás”, acrescentou, estimulando as presidiárias a levantarem sempre
o olhar para o horizonte, para a frente, para a reinserção na vida comum da
sociedade.
“Todos sabemos
que muitas vezes, infelizmente, a pena da prisão se reduz sobretudo a um
castigo, sem oferecer meios adequados para gerar processos. E isto está errado.
A segurança pública não se deve reduzir apenas a medidas de maior controle, mas
sobretudo deve ser construída com medidas de prevenção, com trabalho, educação
e mais vida comunitária.”
Dignidade
O Papa insistiu
na importância da reinserção. "Uma pena que não tem a reinserção na
sociedade é uma tortura." Para Francisco, as presas têm o direito de
exigir programas de reinserção e, a sociedade, a obrigação de acolhê-las
novamente ao convívio social. "Dignidade gera dignidade", frisou.
"Ninguém tem o direito de tirar a dignidade de vocês. Vocês estão privadas
de liberdade, não de dignidade."
O Santo Padre
concluiu seu discurso saudando também os agentes de pastoral, os voluntários,
os funcionários e suas famílias.
“A Maria,
pedimos-Lhe que interceda por vocês, por cada um dos seus filhos, pelas pessoas
que trazem no coração e os cubra com o seu manto. Estas flores que me deram de
presente, as levarei a Nossa Senhora em nome de todas vocês. De novo,
obrigado!”
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Fonte: www.vaticannews.va/pt
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