quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Papa no Chile

Francisco visita Temuco e encontra povo Mapuche
O Papa vai celebrar a Santa Missa no aeroporto de Maquehue.
Cidade do VaticanoNo segundo dia de seu intenso calendário de atividades no Chile, o Papa Francisco se transfere nesta quarta-feira da capital Santiago para Temuco, no sul do país, onde encontra os povos indígenas Mapuche, -  que há tempo  - reivindicam um maior reconhecimento de sua cultura e de seus direitos.
O Papa vai celebrar a Santa Missa no aeroporto de Maquehue, com a presença de uma ampla representação de grupos étnicos indígenas. Às 12.45, hora local, na casa “Mãe da Santa Cruz”, almoçará com 11 habitantes da região da Araucanía, entre os quais oito membros do povo mapuche.
Às 15h30 locais, Francisco retornará de avião para Santiago, onde chegará uma hora e meia depois, e onde às 17h30 está previsto o encontro com os jovens no Santuário de Maipu. Enfim, o Papa fará uma visita à Pontifícia Universidade Católica do Chile, prevista para as 19:00 horas locais.
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Papa na missa em Temuco:
Precisamos da riqueza que cada povo pode oferecer
A riqueza duma terra nasce precisamente do fato de cada parte saber partilhar a sua sabedoria com as outras.
Cidade do Vaticano - O Papa Francisco celebrou a missa pelo progresso dos povos, nesta quarta-feira (17/01), no Aeródromo de Maquehue, em Temuco, no Chile, primeira etapa de sua 22ª viagem apostólica internacional.
O Pontífice iniciou a homilia dando graças a Deus por visitar "esta parte linda do nosso continente, a Araucânia: terra abençoada pelo Criador com a fertilidade de imensos campos verdes, com florestas cheias de imponentes araucárias – o quinto elogio de Gabriela Mistral a esta terra chilena –, seus majestosos vulcões cobertos de neve, seus lagos e rios cheios de vida.
"Esta paisagem eleva-nos a Deus, sendo fácil ver a sua mão em cada criatura. Muitas gerações de homens e mulheres amaram, e amam, este solo com ciosa gratidão."
“E quero deter-me aqui para saudar de forma especial os membros do povo Mapuche, bem como os outros povos indígenas que vivem nestas terras do sul: Rapanui (Ilha de Páscoa), Aymara, Quechua e Atacama, e muitos outros.”
“Esta terra, se a virmos com olhos de turista, deixar-nos-á extasiados, mas depois continuaremos a nossa estrada como antes; se, pelo contrário, nos aproximarmos do solo, ouvi-lo-emos cantar: «Arauco tem uma pena que não posso calar, são injustiças de séculos que todos veem aplicar»”, frisou Francisco.
“É neste contexto de ação de graças por esta terra e pelo seu povo, mas também de tristeza e dor, que celebramos a Eucaristia. E fazemo-lo neste aeródromo de Maquehue, onde se verificaram graves violações de direitos humanos.
“Oferecemos esta celebração por todas as pessoas que sofreram e foram mortas e pelas que diariamente carregam nos ombros o peso de tantas injustiças.”
"O sacrifício de Jesus na cruz está repleto de todo o pecado e do sofrimento dos nossos povos, um sofrimento a ser resgatado.
“No Evangelho que ouvimos, Jesus pede ao Pai que «todos sejam um só». Numa hora crucial da sua vida, detém-Se a pedir a unidade. O seu coração sabe que uma das piores ameaças que atinge, e atingirá, o seu povo e toda a humanidade será a divisão e o conflito, a subjugação de uns pelos outros. Quantas lágrimas derramadas!
Hoje queremos agarrar-nos a esta oração de Jesus, queremos entrar com Ele neste horto de dor, também com as nossas dores, para pedir ao Pai com Jesus: que também nós sejamos um só. Não permitais que nos vença o conflito nem a divisão.”
Segundo o Papa, “esta unidade, implorada por Jesus, é um dom que devemos pedir insistentemente pelo bem da nossa terra e seus filhos. E é necessário estar atento a eventuais tentações que possam aparecer e «contaminar pela raiz» este dom com que Deus nos quer presentear e com o qual nos convida a ser autênticos protagonistas da história.”
Os falsos sinônimos
“Uma das principais tentações a enfrentar é confundir unidade com uniformidade. Jesus não pede a seu Pai que todos sejam iguais, idênticos; pois a unidade não nasce, nem nascerá, de neutralizar ou silenciar as diferenças. A unidade não é uma simulação de integração forçada nem de marginalização harmonizadora.
“A riqueza duma terra nasce precisamente do fato de cada parte saber partilhar a sua sabedoria com as outras.”
Não é, nem será, uma uniformidade asfixiante que normalmente nasce do predomínio e da força do mais forte, nem uma separação que não reconheça a bondade dos outros.
A unidade pedida e oferecida por Jesus reconhece o que cada povo, cada cultura são convidados a oferecer a esta terra abençoada.
“A unidade é uma diversidade reconciliada, porque não tolera que, em seu nome, se legitimem injustiças pessoais ou comunitárias. ”
Precisamos da riqueza que cada povo pode oferecer, pondo de lado a lógica de pensar que há culturas superiores ou inferiores. Um belo chamal [manto] requer tecelões que conheçam a arte de harmonizar os diferentes materiais e cores; que saibam dar tempo a cada coisa e a cada fase. Poder-se-á imitar de modo industrial, mas todos reconheceremos que é uma peça de roupa confeccionada sinteticamente.
A arte da unidade precisa e requer artesãos autênticos que saibam harmonizar as diferenças nos «laboratórios» das aldeias, das estradas, das praças e das paisagens. Não é uma arte de escrivaninha ou feita apenas de documentos; é uma arte de escuta e reconhecimento. Nisto se enraíza a sua beleza e também a sua resistência ao desgaste do tempo e às inclemências que terá de enfrentar.”
“A unidade, de que necessitam os nossos povos, requer que nos escutemos, mas sobretudo que nos reconheçamos, o que não significa apenas «receber informações sobre os outros (…), mas recolher o que o Espírito semeou neles como um dom também para nós». 
Isto introduz-nos no caminho da solidariedade como forma de tecer a unidade, como forma de construir a história; solidariedade, que nos leva a dizer: temos necessidade uns dos outros com as nossas diferenças, para que esta terra continue a ser linda."
“É a única arma que temos contra o «desflorestamento» da esperança. Por isso pedimos: Senhor, fazei-nos artesãos de unidade.”
As armas da unidade
“A unidade, se quer ser construída a partir do reconhecimento e da solidariedade, não pode aceitar um meio qualquer para esse fim. Há duas formas de violência que, em vez de fomentar os processos de unidade e reconciliação, acabam por os ameaçar. Em primeiro lugar, devemos estar atentos à elaboração de acordos «lindos», que nunca se concretizam.
Palavras bonitas, planos terminados sim – e necessários – mas que, por não se tornar concretos, acabam por «borratar com o cotovelo o que se escreveu com a mão». Isto também é violência, porque frustra a esperança.”
Em segundo lugar, é imprescindível defender que uma cultura do reconhecimento mútuo não se constrói com base na violência e destruição, que acaba por ceifar vidas humanas. Não se pode pedir reconhecimento, aniquilando o outro, porque a única coisa que isso gera é maior violência e divisão. ]
“A violência clama violência, a destruição aumenta a fratura e a separação ”
A violência acaba por tornar falsa a causa mais justa. Por isso, digamos «não à violência que destrói», em qualquer uma dessas duas formas.
Estas atitudes são como lava de vulcão que tudo destrói, tudo queima, deixando atrás de si apenas esterilidade e desolação. Em vez disso, procuremos o caminho da não-violência ativa, «como estilo duma política de paz».  Nunca nos cansemos de procurar o diálogo para a unidade. Por isso, digamos vigorosamente: Senhor, fazei-nos artesãos de unidade.
Todos nós que, de certo modo, somos povo formado da terra (cf. Gn 2, 7), estamos chamados ao bom viver (Küme Mongen), como no-lo recorda a sabedoria ancestral do povo Mapuche.
Quanto caminho a percorrer, quanto caminho para aprender! Küme Mongen, um anseio profundo que brota não só dos nossos corações, mas ressoa como um grito, como um canto em toda a criação. Por isso, irmãos, pelos filhos desta terra, pelos filhos dos seus filhos, digamos com Jesus ao Pai: que também nós sejamos um só; fazei-nos artesãos de unidade.
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                                                                                                  Fonte: www.vaticannews.va/pt

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