Francisco visita
Temuco e encontra povo Mapuche
O Papa vai
celebrar a Santa Missa no aeroporto de Maquehue.
Cidade do
Vaticano - No segundo dia
de seu intenso calendário de atividades no Chile, o Papa Francisco se transfere
nesta quarta-feira da capital Santiago para Temuco, no sul do país, onde
encontra os povos indígenas Mapuche, - que há tempo - reivindicam
um maior reconhecimento de sua cultura e de seus direitos.
O Papa vai
celebrar a Santa Missa no aeroporto de Maquehue, com a presença de uma ampla
representação de grupos étnicos indígenas. Às 12.45, hora local, na casa “Mãe
da Santa Cruz”, almoçará com 11 habitantes da região da Araucanía, entre os
quais oito membros do povo mapuche.
Às 15h30 locais,
Francisco retornará de avião para Santiago, onde chegará uma hora e meia
depois, e onde às 17h30 está previsto o encontro com os jovens no Santuário de
Maipu. Enfim, o Papa fará uma visita à Pontifícia Universidade Católica do
Chile, prevista para as 19:00 horas locais.
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Papa na missa em
Temuco:
Precisamos da riqueza que cada povo pode oferecer
A riqueza duma
terra nasce precisamente do fato de cada parte saber partilhar a sua sabedoria
com as outras.
Cidade do
Vaticano - O Papa Francisco celebrou a missa pelo progresso dos povos, nesta
quarta-feira (17/01), no Aeródromo de Maquehue, em Temuco, no Chile, primeira
etapa de sua 22ª viagem apostólica internacional.
O Pontífice
iniciou a homilia dando graças a Deus por visitar "esta parte linda do
nosso continente, a Araucânia: terra abençoada pelo Criador com a fertilidade
de imensos campos verdes, com florestas cheias de imponentes araucárias – o
quinto elogio de Gabriela Mistral a esta terra chilena –, seus majestosos vulcões
cobertos de neve, seus lagos e rios cheios de vida.
"Esta
paisagem eleva-nos a Deus, sendo fácil ver a sua mão em cada criatura. Muitas
gerações de homens e mulheres amaram, e amam, este solo com ciosa
gratidão."
“E quero deter-me
aqui para saudar de forma especial os membros do povo Mapuche, bem como os
outros povos indígenas que vivem nestas terras do sul: Rapanui (Ilha de
Páscoa), Aymara, Quechua e Atacama, e muitos outros.”
“Esta terra, se
a virmos com olhos de turista, deixar-nos-á extasiados, mas depois
continuaremos a nossa estrada como antes; se, pelo contrário, nos aproximarmos
do solo, ouvi-lo-emos cantar: «Arauco tem uma pena que não posso calar, são
injustiças de séculos que todos veem aplicar»”, frisou Francisco.
“É neste
contexto de ação de graças por esta terra e pelo seu povo, mas também de
tristeza e dor, que celebramos a Eucaristia. E fazemo-lo neste aeródromo de
Maquehue, onde se verificaram graves violações de direitos humanos.
“Oferecemos
esta celebração por todas as pessoas que sofreram e foram mortas e pelas que
diariamente carregam nos ombros o peso de tantas injustiças.”
"O
sacrifício de Jesus na cruz está repleto de todo o pecado e do sofrimento dos
nossos povos, um sofrimento a ser resgatado.
“No Evangelho
que ouvimos, Jesus pede ao Pai que «todos sejam um só». Numa hora crucial da
sua vida, detém-Se a pedir a unidade. O seu coração sabe que uma das piores
ameaças que atinge, e atingirá, o seu povo e toda a humanidade será a divisão e
o conflito, a subjugação de uns pelos outros. Quantas lágrimas derramadas!
Hoje queremos
agarrar-nos a esta oração de Jesus, queremos entrar com Ele neste horto de dor,
também com as nossas dores, para pedir ao Pai com Jesus: que também nós sejamos
um só. Não permitais que nos vença o conflito nem a divisão.”
Segundo o Papa,
“esta unidade, implorada por Jesus, é um dom que devemos pedir insistentemente
pelo bem da nossa terra e seus filhos. E é necessário estar atento a eventuais
tentações que possam aparecer e «contaminar pela raiz» este dom com que Deus
nos quer presentear e com o qual nos convida a ser autênticos protagonistas da
história.”
Os falsos
sinônimos
“Uma das
principais tentações a enfrentar é confundir unidade com uniformidade. Jesus
não pede a seu Pai que todos sejam iguais, idênticos; pois a unidade não nasce,
nem nascerá, de neutralizar ou silenciar as diferenças. A unidade não é uma
simulação de integração forçada nem de marginalização harmonizadora.
“A riqueza duma
terra nasce precisamente do fato de cada parte saber partilhar a sua sabedoria
com as outras.”
Não é, nem será,
uma uniformidade asfixiante que normalmente nasce do predomínio e da força do
mais forte, nem uma separação que não reconheça a bondade dos outros.
A unidade pedida
e oferecida por Jesus reconhece o que cada povo, cada cultura são convidados a
oferecer a esta terra abençoada.
“A unidade é
uma diversidade reconciliada, porque não tolera que, em seu nome, se legitimem
injustiças pessoais ou comunitárias. ”
Precisamos da
riqueza que cada povo pode oferecer, pondo de lado a lógica de pensar que há
culturas superiores ou inferiores. Um belo chamal [manto] requer tecelões que
conheçam a arte de harmonizar os diferentes materiais e cores; que saibam dar
tempo a cada coisa e a cada fase. Poder-se-á imitar de modo industrial, mas
todos reconheceremos que é uma peça de roupa confeccionada sinteticamente.
A arte da
unidade precisa e requer artesãos autênticos que saibam harmonizar as
diferenças nos «laboratórios» das aldeias, das estradas, das praças e das
paisagens. Não é uma arte de escrivaninha ou feita apenas de documentos; é
uma arte de escuta e reconhecimento. Nisto se enraíza a sua beleza e também a
sua resistência ao desgaste do tempo e às inclemências que terá de enfrentar.”
“A unidade, de
que necessitam os nossos povos, requer que nos escutemos, mas sobretudo que nos
reconheçamos, o que não significa apenas «receber informações sobre os outros
(…), mas recolher o que o Espírito semeou neles como um dom também para
nós».
Isto
introduz-nos no caminho da solidariedade como forma de tecer a unidade, como
forma de construir a história; solidariedade, que nos leva a dizer: temos
necessidade uns dos outros com as nossas diferenças, para que esta terra
continue a ser linda."
“É a única arma
que temos contra o «desflorestamento» da esperança. Por isso pedimos: Senhor,
fazei-nos artesãos de unidade.”
As armas da
unidade
“A unidade, se
quer ser construída a partir do reconhecimento e da solidariedade, não pode
aceitar um meio qualquer para esse fim. Há duas formas de violência que, em vez
de fomentar os processos de unidade e reconciliação, acabam por os ameaçar. Em
primeiro lugar, devemos estar atentos à elaboração de acordos «lindos», que
nunca se concretizam.
Palavras bonitas,
planos terminados sim – e necessários – mas que, por não se tornar concretos,
acabam por «borratar com o cotovelo o que se escreveu com a mão». Isto também é
violência, porque frustra a esperança.”
Em segundo
lugar, é imprescindível defender que uma cultura do reconhecimento mútuo não se
constrói com base na violência e destruição, que acaba por ceifar vidas
humanas. Não se pode pedir reconhecimento, aniquilando o outro, porque a
única coisa que isso gera é maior violência e divisão. ]
“A violência
clama violência, a destruição aumenta a fratura e a separação ”
A violência
acaba por tornar falsa a causa mais justa. Por isso, digamos «não à violência
que destrói», em qualquer uma dessas duas formas.
Estas atitudes
são como lava de vulcão que tudo destrói, tudo queima, deixando atrás de si
apenas esterilidade e desolação. Em vez disso, procuremos o caminho da
não-violência ativa, «como estilo duma política de paz». Nunca nos
cansemos de procurar o diálogo para a unidade. Por isso, digamos vigorosamente:
Senhor, fazei-nos artesãos de unidade.
Todos nós que,
de certo modo, somos povo formado da terra (cf. Gn 2, 7), estamos chamados ao
bom viver (Küme Mongen), como no-lo recorda a sabedoria ancestral do povo
Mapuche.
Quanto caminho a
percorrer, quanto caminho para aprender! Küme Mongen, um anseio profundo que
brota não só dos nossos corações, mas ressoa como um grito, como um canto em
toda a criação. Por isso, irmãos, pelos filhos desta terra, pelos filhos dos
seus filhos, digamos com Jesus ao Pai: que também nós sejamos um só; fazei-nos
artesãos de unidade.
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Fonte: www.vaticannews.va/pt
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