Cristo é a melhor solução para as tempestades da vida
Francisco
celebrou a missa na esplanada de Huanchaco, na cidade de Trujillo, e manifestou
solidariedade à população atingida pelas calamidades naturais e sociais.
Cidade do
Vaticano - Na manhã deste
sábado, o Papa Francisco percorreu mais 500 km, desta vez em direção ao norte
do país, à cidade de Trujillo.
Trujillo,
localizado na costa do Pacífico, é conhecido como “cidade da eterna primavera”,
com quase 500 anos de história. A cidade, que já foi a capital do país, aparece
nas crônicas por sofrer com fortes chuvas de janeiro a março. No ano passado, o
“El Niño” deixou milhares de desabrigados.
“Estas terras
têm o sabor do Evangelho”, disse o Papa na homilia ao celebrar a missa na
esplanada de Huanchaco.
Força da
natureza
“Todo o ambiente
que nos rodeia, tendo como pano de fundo este mar imenso, ajuda-nos a
compreender melhor a experiência que os apóstolos viveram com Jesus e que
também nós, hoje, somos chamados a viver.”
Assim como os
discípulos, também hoje muitos moradores da região ganham a vida com a pesca. E
assim como os apóstolos, conhecem bem a força da natureza. Francisco
mencionou o fenômeno “Niño costiero, cujas dolorosas consequências ainda se
fazem sentir em tantas famílias. Foi por isso também que quis vir e rezar aqui
com vocês”.
O Papa comentou
o Evangelho das dez virgens, que ouvem um grito que as acorda e se põem em
movimento.
“Sei que no
momento da escuridão quando sentiram o ‘Niño’, estas terras souberam pôr-se em
movimento e tinham o azeite para correr e ajudar-se como verdadeiros
irmãos. Havia o azeite da solidariedade, da generosidade”, afirmou.
Força divina
Para Francisco,
a alma de uma comunidade se mede pelo modo como consegue unir-se para enfrentar
os momentos difíceis, de adversidade, para manter viva a esperança. Além das
tempestades, outras tormentas castigam as costas peruanas, como a violência
organizada e a insegurança; a falta de oportunidades educativas e laborais,
especialmente para os mais jovens.
Para enfrentar
estas tempestades, disse o Papa, “quero dizer que não existe solução melhor que
a do Evangelho: chama-se Jesus Cristo. Encham sempre a vida de Evangelho”.
“Ele transforma
tudo, renova tudo, consola tudo. Em Jesus, temos a força do Espírito para não
aceitar como normal o que nos prejudica, o que nos definha o espírito e – o que
é pior – nos rouba a esperança.”
Francisco
concluiu ressaltando a devoção do povo de Trujillo pela Virgem de la Puerta:
“Peçamos a Ela que nos coloque sob o seu manto e sempre nos leve ao seu Filho;
mas digamos cantando este lindo cântico marino: ‘Virgenzinha da porta, dá-me a
tua bênção. Virgenzinha da porta, dá-nos paz e muito amor’”.
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Assista:
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Assista:
Papa Francisco:
Ser ricos
de memória nos liberta da tentação de messianismos
Cidade do
Vaticano - Após almoçar no
Arcebispado de Trujillo e visitar a Catedral de Santa Maria, o Papa Francisco
foi ao “Colégio Seminário” para encontrar os sacerdotes, religiosos, religiosas
e seminaristas das Circunscrições eclesiásticas do norte do Peru.
O Colégio tem
390 anos e é dedicado aos Santos Carlos e Marcelo. Fundado em 1625 como casa de
formação para sacerdotes, atualmente é voltado à educação de jovens do primeiro
e segundo grau.
Eis a íntegra do
pronunciamento do Papa:
"É costume
que o aplauso seja no final, parece que vocês estão me saudano, como se eu
tivesse acabado: então vou embora..... (gritam: não!). Agradeço as palavras que
D. José Antonio Eguren Anselmi, Arcebispo de Piura, me dirigiu em nome de todos
os presentes.
Encontrar-me
convosco, conhecer-vos, escutar-vos e manifestar o amor ao Senhor e à missão
que nos deu, é importante. Sei do esforço que fizestes para estar aqui.
Obrigado!
Acolhe-nos este
Colégio-Seminário, um dos primeiros a ser fundados na América Latina para a
formação de tantas gerações de evangelizadores. Estar aqui convosco é sentir
que nos encontramos num desses «berços» que geraram tantos missionários. E não
esqueço que esta terra viu morrer, quando andava em missão, aqui sentado em sua
escrivaninha, São Toríbio de Mogrovejo, bispo Patrono do Episcopado
Latino-Americano.
Tudo nos leva a
olhar para as nossas raízes, para o que nos sustenta no curso do tempo,nos
sustente no decorrer da história para crescer rumo ao Alto e dar fruto. As
raízes. Sem raízes não existem flores, não existem frutos.
Dizia um poeta
que tudo aquilo que a árvore floresce, vem daquilo que está embaixo da terra,
das raízes. As nossas vocações sempre terão esta dupla dimensão: raízes na
terra e coração no céu, não esqueçam. Quando falta uma das duas, algo começa a
correr mal e a nossa vida pouco a pouco definha (cf. Lc 13, 6-9). -
como definha uma árvore que não tem raízes. E digo para vocês que realmente dá
muita dor ver alguns bispos, alguns sacerdotes, alguma religiosa que
definharam.
E mais pena
ainda me dá quando vejo seminaristas "definhados". Esta é uma coisa
muito séria. A Igreja é boa, a Igreja é mãe, e se vocês veem que não conseguem,
por favor, falem para que esteja em tempo, antes que seja tarde, antes de se
darem conta de não ter mais raízes e que estão definhando. Assim, ainda haverá
tempo para vocês se salvarem. porque Jesus veio para isto, para nos salvar. É
por isto que vem: para salvar.
Apraz-me
salientar que a nossa fé, a nossa vocação é rica de memória, a dimensão
deuteronômica da vida. Rica de memória, porque sabe reconhecer que nem a vida,
nem a fé, nem a Igreja começaram com o nascimento de qualquer um de nós: a
memória olha para o passado a fim de encontrar a seiva que, ao longo dos
séculos, irrigou o coração dos discípulos e, assim, reconhece a passagem de Deus
pela vida do seu povo. Memória da promessa que Ele fez aos nossos pais e que,
perdurando viva no meio de nós, é causa da nossa alegria e nos faz cantar: «O
Senhor fez por nós grandes coisas; por isso exultamos de alegria» (Sal 126/125,
3)
Gostaria de
partilhar convosco algumas virtudes deste ser ricos de memória.
1. A
consciência feliz de si
O Evangelho, que
ouvimos, habitualmente lemo-lo em chave vocacional, pelo que nos detemos no
encontro dos discípulos com Jesus. Preferiria, porém, fixar-me em João Batista.
Estava com dois dos seus discípulos e, quando viu Jesus passar, disse-lhes:
«Eis o Cordeiro de Deus» (Jo 1, 36); eles, ao ouvir isto, deixaram João e
seguiram Jesus (cf. 1, 37).
Isto é surpreendente!
Estiveram com João, sabiam que era um homem bom; antes, o maior dentre os
nascidos de mulher, como Jesus o define (cf. Mt 11, 11), mas não era
aquele que devia vir. Também João esperava outro maior do que ele. João sabia
claramente que não era o Messias, mas simplesmente aquele que O anunciava. João
era o homem rico de memória da promessa e da sua própria história.
João manifesta a
consciência do discípulo que sabe que não é, nem nunca será o Messias, mas
apenas um chamado a indicar a passagem do Senhor pela vida do seu povo. Nós,
consagrados, não estamos chamados a suplantar o Senhor, nem com as nossas
obras, nem com as nossas missões, nem com as intermináveis atividades que temos
de fazer.
Simplesmente nos
é pedido para trabalhar com o Senhor, lado a lado, mas sem nunca esquecer que
não ocupamos o seu lugar. Isto não nos faz esmorecer na tarefa evangelizadora;
antes, pelo contrário, impele-nos e exige que trabalhemos, lembrando que somos
discípulos do único Mestre. O discípulo sabe que secunda, e sempre secundará, o
Mestre. Esta é a fonte da nossa alegria.
Faz-nos bem
saber que não somos o Messias! Liberta de nos crermos muito importantes, muito
ocupados (é típico ouvir em algumas regiões: «Não, a essa paróquia não vás,
porque o padre está sempre muito ocupado»). João Batista sabia que a sua missão
era indicar a estrada, iniciar processos, abrir espaços, anunciar que o
portador do Espírito de Deus era Outro. Ser ricos de memória liberta-nos da
tentação dos messianismos.
Esta tentação
combate-se de muitas maneiras, incluindo com o riso. Sim, aprender a rir-se de
si mesmo dá-nos a capacidade espiritual de estar diante do Senhor com os nossos
próprios limites, erros e pecados, mas também com os próprios sucessos, e com a
alegria de saber que Ele está ao nosso lado.
Um bom teste
espiritual é interrogarmo-nos sobre a capacidade que temos de rir de nós
mesmos. O riso salva-nos do neopelagianismo «autorreferencial e prometeico de
quem, no fundo, só confia nas suas próprias forças e se sente superior aos
outros».
Irmãos, ride em
comunidade, mas não da comunidade nem dos outros! Tenhamos cuidado com as
pessoas tão importantes, que se esqueceram como se faz na vida para sorrir.
2. A hora do
chamado
João evangelista
até refere, no seu Evangelho, a hora daquele momento que mudou a sua vida:
«Eram as quatro da tarde» (1, 39). O encontro com Jesus muda a vida, estabelece
um antes e um depois. Faz-nos bem lembrar sempre aquela hora, aquele dia-chave
para cada um de nós, no qual nos demos conta que o Senhor esperava algo mais. A
memória daquela hora, em que fomos tocados pelo seu olhar.
Sempre que nos
esquecemos desta hora, esquecemo-nos das nossas origens, das nossas raízes; e,
perdendo estas coordenadas fundamentais, pomos de parte a coisa mais preciosa
que uma pessoa consagrada pode ter: o olhar do Senhor. Talvez não estejas
contente com o lugar onde te encontrou o Senhor, talvez não seja adequado a uma
situação ideal ou «mais do teu gosto».
Mas foi lá onde
te encontrou e curou as tuas feridas. Cada um de nós conhece onde e quando:
talvez um momento de situações complexas, de situações dolorosas, sim; mas foi
lá que te encontrou o Deus da Vida para tornar-te testemunha da sua Vida, para
fazer-te participante da sua missão e ser, com Ele, carícia de Deus para
muitos.
Faz-nos bem
recordar que as nossas vocações são uma chamada de amor para amar, para servir.
Se o Senhor Se enamorou de vós e vos escolheu, não foi porque éreis mais
numerosos do que os outros – de facto, sois o povo mais pequeno – mas por puro
amor (cf. Dt 7, 7-8). Amor entranhado, amor de misericórdia que
comove as nossas entranhas para ir servir aos outros com o estilo de Jesus
Cristo.
Gostaria de me
deter num aspeto que considero importante. Em muitos de nós, a formação que
tínhamos, no momento de entrar no Seminário ou na Casa de Formação, era a fé
das nossas famílias e vizinhos. Foi assim que demos os nossos primeiros passos,
apoiados não raro nas manifestações de piedade popular, que, no Perú,
adquiriram as formas mais estupendas e um grande enraizamento no povo fiel e
simples.
O vosso povo
demonstra um carinho imenso a Jesus Cristo, a Nossa Senhora e aos Santos e
Beatos, com tantas devoções que nem me atrevo sequer a nomear com medo de
deixar alguma de lado. Nesses santuários, «muitos peregrinos tomam decisões que
marcam suas vidas. As paredes [deles] contêm muitas histórias de conversão, de
perdão e de dons recebidos que milhões poderiam contar». Inclusive muitas das
vossas vocações podem estar gravadas naquelas paredes.
Exorto-vos a não
esquecer, e muito menos desprezar, a fé simples e fiel do vosso povo. Sabei
acolher, acompanhar e estimular o encontro com o Senhor. Não vos transformeis
em profissionais do sagrado que se esquecem do seu povo, donde vos tirou o
Senhor. Não percais a memória e o respeito por quem vos ensinou a rezar.
Recordar a hora
da chamada, conservar memória feliz da passagem de Jesus Cristo pela nossa
vida, ajudar-nos-á a dizer aquela bela oração de São Francisco Solano, grande
pregador e amigo dos pobres: «Meu bom Jesus, meu Redentor e amigo, que tenho eu
que Tu não me tenhas dado? Que sei eu que Tu não me tenhas ensinado?»
Assim, o
religioso, o sacerdote, a consagrada, o consagrado é uma pessoa rica de
memória, alegre e agradecida: trinómio a fixar e manter como «armas» contra
todo o «disfarce» vocacional. A consciência agradecida alarga o coração e
estimula-nos para o serviço.
Sem gratidão,
podemos ser bons executores do sagrado, mas faltar-nos-á a unção do Espírito
para nos tornarmos servidores dos nossos irmãos, especialmente dos mais pobres.
O povo fiel de Deus tem olfato e sabe distinguir entre o funcionário do sagrado
e o servidor agradecido. Sabe distinguir entre quem é rico de memória e quem é
desmemoriado. O povo de Deus sabe suportar, mas reconhece quem o serve e cura
com o óleo da alegria e da gratidão.
3. A alegria
contagiante
André era um dos
discípulos de João Batista que seguira Jesus naquele dia. Depois de ter estado
com Ele e ter visto onde morava, voltou para casa de seu irmão Simão Pedro e
disse-lhe: «Encontramos o Messias!» (Jo 1, 41). Esta é a maior notícia que
lhe podia dar, e levou-o a Jesus. A fé em Jesus é contagiosa, não pode
esconder-se nem fechar-se; aqui se vê a fecundidade do testemunho: os
discípulos recém-chamados, por sua vez, atraem outros mediante o seu testemunho
de fé; e – como vemos na passagem evangélica – Jesus chama-nos por meio de
outros.
A missão brota
espontaneamente do encontro com Cristo. André começa o seu apostolado pelos
mais próximos, pelo seu irmão Simão, quase como algo natural, irradiando
alegria. Este é o melhor sinal de que «descobrimos» o Messias. A alegria é uma
constante no coração dos apóstolos; vemo-la na força com que André confidencia
ao seu irmão: «Encontramo-Lo!» Pois «a alegria do Evangelho enche o coração e a
vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por
Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento.
Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria».
Esta alegria
abre-nos aos outros, é alegria para ser transmitida. No mundo fragmentado onde
nos é concedido viver e que nos impele a isolar-nos, somos desafiados a ser
artífices e profetas de comunidade. Porque ninguém se salva sozinho. E gostaria
de ser claro nisto.
A fragmentação
ou o isolamento não é algo que acontece «fora», como se fosse apenas um
problema do «mundo». Irmãos, as divisões, as guerras, os isolamentos,
vivemo-los também dentro das nossas comunidades. E quanto mal nos faz! Jesus
envia-nos a ser portadores de comunhão, de unidade; mas, muitas vezes, parece
que o fazemos desunidos e, o que é pior, muitas vezes fazendo o outro tropeçar.
É-nos pedido para
sermos artífices de comunhão e unidade, o que não equivale a pensar todos do
mesmo modo, a fazer todos as mesmas coisas. Significa apreciar as várias
contribuições, as diferenças, o dom dos carismas dentro da Igreja, sabendo que
cada um, a partir da sua especificidade, dá a própria contribuição, mas precisa
dos outros. Só o Senhor tem a plenitude dos dons, só Ele é o Messias.
E quis
distribuir os seus dons de tal maneira que todos possamos dar o nosso,
enriquecendo-nos com o dos outros. É preciso defender-se da tentação do «filho
único», que quer tudo para si, porque não tem com quem partilhar. Àqueles que
devem exercer encargos no serviço da autoridade, peço, por favor, que não se
tornem autorreferenciais; procurai cuidar dos vossos irmãos, fazei com que
estejam bem, porque o bem é contagioso.
Não caiamos na
armadilha duma autoridade que se transforma em autoritarismo, esquecendo que,
antes de tudo, é uma missão de serviço.
Queridos irmãos,
mais uma vez obrigado! E que esta memória deuteronómica nos torne mais alegres
e agradecidos por sermos servidores de unidade no meio do nosso povo.
Que o Senhor vos
abençoe e a Virgem Santa vos proteja. E não vos esqueçais de rezar por
mim".
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Assista:
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Assista:
São Toríbio
inspira reflexão do Papa aos bispos:
Trabalhem pela
unidade
São Toríbio quis
chegar à outra margem em busca dos afastados, à outra margem da caridade, à
outra margem da unidade, à outra margem na formação de seus sacerdotes, à outra
margem não só geográfica, mas cultural.
Cidade do
Vaticano - “São Toríbio, o homem que soube chegar à outra margem”. O Papa
Francisco inspirou sua reflexão aos bispos peruanos reunidos da sede do
Arcebispado em Lima, ao Patrono do Episcopado Latino-americano, São Toríbio
de Mogrovejo, “exemplo de construtor de unidade eclesial”, “deixou terreno
seguro para penetrar num universo totalmente novo, desconhecido e cheio de
desafios”
Francisco
recordou o quadro conservado no Vaticano onde aparece São Toríbio atravessando
um rio caudaloso, cujas águas se abrem à sua passagem, “como se fosse o Mar
Vermelho, para que ele possa chegar à outra margem onde o aguarda um numeroso
grupo de indígenas”. Atrás dele, “uma grande multidão de pessoas que segue o
seu pastor da obra da evangelização”:
1. Quis chegar à outra margem em busca dos afastados e dispersos. Para isso, teve
que deixar as comodidades do paço episcopal para percorrer o território, que
lhe estava confiado, em contínuas visitas pastorais, procurando chegar e estar
onde necessitavam dele e quanto necessitavam dele! Ia ao encontro de todos por
caminhos que, nas palavras do secretário, eram mais para cabras do que para
pessoas. Tinha que enfrentar os mais variados climas e ambientes; «de vinte e
dois anos de episcopado, dezoito passou-os fora da sua cidade, percorrendo por
três vezes o seu território».
Sabia que esta
era a única forma de pastorear: estar perto oferecendo os dons de Deus; uma
exortação que ele fazia continuamente também aos seus presbíteros. E não se
limitava a fazê-lo com palavras, mas com o seu testemunho, apresentando-se ele
mesmo na primeira linha da evangelização. Hoje chamá-lo-íamos um bispo «de
estrada». Um bispo com as solas consumadas pelo muito andar, por se mover, por
sair ao encontro dos outros para «anunciar o Evangelho a todos, em todos os
lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo.
A alegria do
Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém». Bem o sabia São
Toríbio! Sem medo nem repugnância, penetrou no nosso continente para anunciar a
Boa Nova.
2. Quis chegar à outra margem não só geográfica mas cultural. Por isso promoveu,
de muitos modos, uma evangelização na língua nativa. Com o III Concílio
Limense, procurou que os catecismos fossem feitos e traduzidos em quechua e
aymara. Incitou o clero a estudar e conhecer a língua dos seus fiéis, para
poderem administrar-lhes os Sacramentos de forma compreensível. Visitando e
vivendo com o seu povo, deu-se conta de que não bastava alcançá-lo apenas
fisicamente, mas era necessário aprender a falar a língua dos outros: só assim
é que o Evangelho poderia ser compreendido e penetrar nos corações.
Como é urgente
esta visão para nós, pastores do século XXI, que – só para dar um exemplo –
temos de aprender uma linguagem completamente nova, como é a digital! Conhecer
a linguagem atual dos nossos jovens, das nossas famílias, das crianças... Como
justamente viu São Toríbio, não é suficiente chegar a um lugar e ocupar um
território, é necessário poder suscitar processos na vida das pessoas, para que
a fé ganhe raízes e seja significativa. E, para isso, devemos falar a língua
delas.
É preciso chegar
onde se geram os novos temas e paradigmas, alcançar com a Palavra de Jesus os
núcleos mais profundos da alma das nossas cidades e dos nossos povos. A
evangelização da cultura requer que entremos no coração da própria cultura,
para que esta seja iluminada a partir de dentro pelo Evangelho.
3. Quis chegar à outra margem da caridade. Segundo o nosso Patrono, a
evangelização não poderia acontecer sem a caridade. Porque sabia que a forma
mais sublime da evangelização era plasmar na própria vida a doação de Jesus
Cristo por amor a cada homem. Nisto se distinguem os filhos de Deus e os filhos
do diabo: todo aquele que não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que
não ama o seu irmão (cf. 1 Jo 3, 10).
Nas suas
visitas, pôde constatar os abusos e excessos que sofriam as populações nativas,
não hesitando, em 1585, a excomungar o governador de Cajatambo, enfrentando
todo um sistema de corrupção e uma rede de interesses, o que «lhe acarretou a
inimizade de muitos», incluindo do Vice-rei. Deste modo se nos apresenta como o
pastor ciente de que o bem espiritual nunca se pode separar do justo bem
material e, menos ainda, quando se põem em risco a integridade e a dignidade
das pessoas.
Profecia
episcopal que não tem medo de denunciar os abusos e excessos cometidos contra o
seu povo. E assim consegue lembrar no seio da sociedade e das comunidades que a
caridade deve ser sempre acompanhada pela justiça, e não há autêntica
evangelização que não anuncie e denuncie toda a falta contra a vida dos nossos
irmãos, especialmente dos mais vulneráveis.
4. Quis chegar à outra margem na formação dos seus sacerdotes. Fundou o primeiro
Seminário depois do Concílio [de Trento] nesta área do mundo, promovendo assim
a formação do clero nativo. Compreendeu que não bastava chegar a todos os
lugares e falar a mesma língua; era necessário que a Igreja pudesse gerar os
seus próprios pastores locais, tornando-se assim mãe fecunda.
Por isso, quando
ainda se discutia muito sobre a mesma, defendeu a Ordenação de padres mestiços,
procurando favorecer e estimular a santidade dos seus pastores, pois se o clero
se devesse diferenciar em algo, que fosse pela santidade de vida e não pela
origem étnica. E esta formação não se limitava apenas aos estudos no Seminário,
mas prosseguia nas visitas contínuas que lhes fazia. Assim podia, em primeira
mão, dar-se conta do «estado dos seus padres», cuidando deles.
Conta-se que,
nas vésperas do Natal, a sua irmã lhe ofereceu uma camisa para a estrear nas
festas. Nesse mesmo dia, ele foi visitar um pároco e, ao ver as condições em
que vivia, pegou naquela camisa e deu-lha. É o pastor que conhece os seus
sacerdotes. Procura ir ter com eles, acompanhá-los, encorajá-los, admoestá-los:
lembrava aos seus padres que eram pastores e não comerciantes e, por
conseguinte, deveriam cuidar e defender os indígenas como se fossem filhos.[7]
Mas não o fazia «sentado à escrivania», e assim pôde conhecer as suas ovelhas e
estas reconhecerem, na voz dele, a voz do Bom Pastor.
5. Quis chegar à outra margem: a da unidade. Promoveu de maneira admirável e
profética a formação e integração de espaços de comunhão e participação entre
as várias componentes do povo de Deus. Assim o realçou São João Paulo II quando
nestas terras, dirigindo-se aos bispos, lhes disse: «O III Concílio Limense é o
resultado desse esforço presidido, encorajado e dirigido por São Toríbio, e que
frutificou num precioso tesouro de unidade na fé, de normas pastorais e de
organização, ao mesmo tempo que em válidas inspirações para a desejada
integração latino-americana».
Bem sabemos que
esta unidade e este consenso foram precedidos de grandes tensões e conflitos.
Não podemos negar as tensões, as diferenças; é impossível uma vida sem conflitos.
Estes exigem de nós – se somos homens e cristãos – que os enfrentemos e
aceitemos. Mas, aceitá-los em unidade, em diálogo honesto e sincero, olhos nos
olhos e evitando cair numa destas tentações: ignorar o que aconteceu ou então
ficar prisioneiros e sem horizontes que permitam encontrar caminhos que sejam
de unidade e de vida.
Serve de
inspiração, no nosso caminho de Conferência Episcopal, recordar que a unidade
sempre prevalecerá sobre o conflito. Queridos irmãos, trabalhai pela unidade,
não fiqueis prisioneiros de divisões que reduzem e limitam a vocação a que
fomos chamados: ser sacramento de comunhão. Não vos esqueçais do que atraía na
Igreja primitiva: era ver como eles se amavam. Essa foi, é e será a melhor
evangelização.
Para São Toríbio
chegou o momento de partir para a margem definitiva, para aquela terra que o
esperava e que ele ia saboreando no seu contínuo deixar a margem. Esta nova
partida, não a fez sozinho. Como no quadro de que vos falei ao início, ia ao
encontro dos Santos, seguido por uma grande multidão atrás dele. É o pastor que
soube encher «a sua mala» de rostos e nomes.
Estes eram o
passaporte dele para o céu. Por isso não quero omitir a nota final, o momento
em que o pastor entregava a sua alma a Deus. Fê-lo unido ao seu povo, enquanto
um aborígene tocava para ele a flauta para que a alma do seu pastor se sentisse
em paz. Quem dera, irmãos, que pudéssemos viver estas coisas, quando tivermos
que realizar a última viagem. Peçamos ao Senhor que no-lo conceda.
E, por favor,
não vos esqueçais de rezar por mim."
Depois de seu
discurso lido, o Papa começou a falar de forma espontânea ao episcopado.
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Papa no Angelus:
O coração não se
pode "photoshopear"
Do balcão do
Arcebispado de Lima diante de uma praça repleta de jovens Francisco expressou
sua alegria por poder se encontrar com eles. O Papa rezou pela República
Democrática do Congo.
Cidade do
Vaticano - O Papa Francisco rezou neste domingo a tradicional oração do Angelus
com os jovens na Praça das Armas, em Lima. Do balcão do Arcebispado diante de
uma praça repleta de jovens Francisco expressou sua alegria por poder se
encontrar com eles afirmando que esses encontros são sempre muito importantes,
mas mais ainda neste ano em que “nos preparamos para o Sínodo sobre os jovens”.
“Os seus rostos,
as suas aspirações, a sua vida são importantes para a Igreja: devemos dar-lhes
a importância que merecem e ter a coragem que demonstraram muitos jovens desta
terra que não tiveram medo de amar e apostar em Jesus”.
Em seguida
recordou os muitos exemplos como o de São Martinho de Porres que nada impediu a
ele de realizar os seus sonhos, gastar a sua vida pelos outros e de amar,
“porque - disse Francisco -, tinha experimentado que o Senhor o amara
primeiro”.
Recordou que ele
mulato com muitas privações, aos olhos humanos soube fazer algo que se tornaria
o segredo da sua vida: ter confiança. Teve confiança no Senhor que o amava.
Há momentos em
que vocês podem pensar que não poderão realizar os desejos de sua vida, seus
sonhos, continuou o Papa. Todos passamos por situações como estas.
“Queridos
amigos, nesses momentos em que parece apagar-se a fé, não se esqueçam que Jesus
está ao seu lado. Não se deixem vencer, não percam a esperança! Não se esqueçam
dos Santos, que nos acompanham do céu; recorram a eles, rezem e não se cansem
de pedir a sua intercessão. Os Santos de ontem, mas também os de hoje”.
Francisco disse
ainda aos jovens que busquem ajuda e conselho de pessoas que vocês sabem serem
boas para lhes aconselhar, porque os seus rostos manifestam alegria e paz.
Deixem-se acompanhar por elas e, assim, avancem pelo caminho da vida.
“Jesus – disse
o Papa - quer ver você em movimento; quer ver você levar adiante os seus ideais
e que você se decida a seguir as suas instruções.”
"Jesus
conta com você, como fez, há muito tempo, com Santa Rosa de Lima, São Toríbio,
São João Macías, São Francisco Solano e muitos outros. Você está disposto a
segui-Lo? Está disposto a deixar-se impelir pelo seu Espírito, para tornar presente
o seu Reino de justiça e amor?"
Jesus disse
ainda Francisco olha para vocês com esperança, nunca desanima a nosso respeito.
Mas nós talvez sim, talvez possamos desanimar de nós mesmos ou dos outros.
O Pontífice em
seguida afirmou que é muito belo ver fotos retocadas digitalmente, mas isso
serve só para as fotografias, não podemos fazer o «photoshop» aos outros, à
realidade, a nós próprios. Os filtros coloridos e a alta definição funcionam
bem apenas nos vídeos; nunca podemos aplicá-los aos amigos. Há fotos que são
muito lindas, mas estão todas maquilhadas; o coração não se pode «photoshopear»,
porque é nele onde se joga o amor verdadeiro; nele joga-se a felicidade.
Jesus não quer
que «maquilhem» o seu coração. Ele ama você assim como você é e tem um sonho
para realizar com cada um de vocês. Não se esqueçam: Ele não desanima de nós.
E se vocês
desanimarem, - disse o Santo Padre - convido-os a pegar a Bíblia e recordar os
amigos que Deus Se escolheu. Entre eles o Papa recordou Moisés, que era
tartamudo; Abraão, um idoso; Jeremias, muito jovem; Zaqueu, de baixa estatura;
Pedro renegou-O... e poderíamos continuar a lista. Que desculpa queremos
encontrar?
Quando Jesus nos
olha, não pensa quão perfeitos somos, mas em todo o amor que temos no coração
para oferecer aos outros e servi-los. Para Ele, o importante é isto e sempre
vai insistir no mesmo.
“Não Se fixa na
sua altura, se tens dificuldade em falar ou não, se adormeces ao rezar, se você
é muito jovem ou uma pessoa idosa. A única pergunta é: você quer seguir-Me e
ser meu discípulo? Não perca tempo em mascarar o seu coração; encha a sua vida
do Espírito!” Ele não se cansa de esperar para nos dar o seu Espírito.
Queridos jovens!
Concluiu o Papa: na minha oração, coloco toso vocês nas mãos de Nossa Senhora.
Tenham a certeza de que Ela os acompanhará em todos os momentos de suas vidas,
em todas as encruzilhadas dos seus caminhos, sobretudo quando tiverem de tomar
decisões importantes. Lá estará Ela, como boa Mãe, encorajando-os, apoiando-os
para que vocês não desanimem. Não deixem de rezar, não deixem de pedir, não
deixem de ter confiança na sua proteção materna.
Antes de rezar o
Angelus o Papa dirigiu o seu pensamento à República Democrática do Congo.
“Notícias
preocupantes chegam da “República Democrática do Congo: peço a todos os
responsáveis que se empenhem ao máximo para deter toda forma de violência e
encontrar uma solução baseada no diálogo”.
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Papa Francisco
em Trujillo:
Lutar contra a praga do feminicídio
"Nesta
praça, queremos fazer tesouro da memória dum povo que sabe que Maria é Mãe e
não abandona os seus filhos", disse o Papa aos mais de 35 mil peruanos
reunidos na Plaza de Armas de Trujillos.
Cidade do
Vaticano - Olhar para Maria para recordar as mães e as avós do Peru, verdadeira
força motriz da vida e das famílias, que devem ser protegidas com leis que
combatem o feminicídio. Francisco na celebração mariana à Virgen de la Puerta,
na Plaza de Armas de Trujillo, convida a seguir Nossa Senhora para promover uma
cultura da misericórdia em que ninguém vire o olhar diante do sofrimento dos
irmãos. O Papa na sua chegada à Nunciatura em Lima encontrou a esperá-lo muitos
fiéis e cerca de trinta enfermos os quais cumprimentou e com quem rezou a
oração do Pai Nosso.
Misericórdia:
remédio para curar o coração
É “um santuário
ao ar livre” que acolhe o Papa no último evento do seu terceiro dia no Peru. Na
Praça de Armas de Trujillo, há 35 imagens de Maria, vindas de todos os lugares
da região, expressão da devoção popular, riqueza de cada comunidade cristã. A
Virgem está ali diante daquele povo que conhece o seu amor de mãe, ela “que -
afirma Francisco em seu discurso - viu suas lágrimas, suas risadas, suas
aspirações”. Diante da Virgen de la Puerta há corações palpitantes e ansiosos,
corações cheios de esperança e de amor pela Edelicadeza de nosso Deus”.
Maria, mãe
mestiça
“A
linguagem do amor de Deus - prossegue o Papa - sempre se pronuncia «em
dialeto», não conhece outra forma de o fazer. E é por isso, na proximidade do
coração, que “a Mãe assume os traços dos filhos, as vestes, o dialeto dos seus,
para os tornar participantes da sua bênção”.
“Maria será
sempre uma Mãe mestiça, porque no seu coração encontram lugar todas as raças,
porque o amor procura todos os meios para amar e ser amado. Todas estas imagens
recordam-nos a ternura com que Deus quer estar perto de cada aldeia, de cada
família, de ti, de mim, de todos”.
No coração de
Maria, todas as raças
Recordando a
proximidade da Virgem, padroeira do Norte do Peru e Rainha da paz universal, ao
povo que tinha colocado encima da porta a imagem de Maria para se defender de
ameaças externas, o Papa sublinha que “Ela continua a defender-nos e a
indicar-nos a Porta que nos abre o caminho para a vida autêntica, a Vida que
não definha”.
“Conheço o amor
que vocês tem pela Virgem Imaculada da Porta de Otuzco que hoje, juntamente com
vocês, desejo proclamar Virgem da Porta, “Mãe da Misericórdia e da Esperança. ”
Misericórdia:
remédio para curar o coração
E vale ainda
para hoje, o convite que o Papa fez no Jubileu extraordinário da Misericórdia,
em 2015, de passar a porta da Misericórdia “para experimentar o amor de Deus
que consola, perdoa e dá esperança”.
“Não há um
remédio melhor para curar tantas feridas do que um coração capaz de
misericórdia, um coração capaz de ter compaixão perante o sofrimento e a
desgraça, perante o erro e a vontade de se levantar de muitos, que
frequentemente não sabem como fazê-lo”.
As mulheres do
Peru, força motriz da vida e das famílias
Na conclusão de
seu discurso, Francisco exorta a olhar para Maria e a ver n’Ela todas as mães e
avós da Nação, “verdadeira força motriz da vida e das famílias do Peru”,
convidando a se perguntar o que seria da vida e do país sem a importante presença
delas.
“O amor a Maria
tem que nos ajudar a gerar atitudes de reconhecimento e gratidão para com a
mulher, para com as nossas mães e avós que são um baluarte na vida das nossas
cidades. Quase sempre silenciosas, fazem avançar a vida. É o silêncio e a força
da esperança. Obrigado pelo vosso testemunho”.
O repúdio à
violência
Diante dos
rostos provados, mas alegres das mulheres presentes, dos seus olhos brilhantes,
da sua dignidade de mães e de avós fortes, Francisco novamente agradece, mas
acima de tudo, pede compromisso contra a violência que muitas vivem dentro de
suas casas.
“Mas, olhando
para as mães e as avós, quero convidar-vos a lutar contra uma praga que fere o
nosso continente americano: os numerosos casos de feminicídio. E muitas são as
situações de violência que ficam silenciadas por trás de tantas paredes.
Convido-vos a lutar contra esta fonte de sofrimento, pedindo que se promova uma
legislação e uma cultura de repúdio a todas as formas de violência”.
Uma cultura que
deve ser “cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os
outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire
a cara quando vê o sofrimento dos irmãos”.
Saudação na
Nunciatura
O Papa chegou à
Nunciatura em Lima e encontrou muitos fiéis a sua espera e cerca de trinta
enfermos os quais saudou e com quem rezou a oração do Pai Nosso.
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Assista:
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Assista:
Papa despede-se
do Peru com mensagem de esperança
“Hoje o Senhor
chama-te a atravessar com Ele a cidade, a tua cidade. Chama-te a ser seu
discípulo missionário, tornando-te assim participante desse grande sussurro que
quer continuar a ressoar nos mais variados ângulos da nossa vida: Alegra-te, o
Senhor está contigo!”
Cidade do
Vaticano - O Papa Francisco
despediu-se do Peru com a celebração de uma Missa para milhares de fiéis na Base
Aérea Las Palmas.
Em sua homilia,
Francisco afirmou que Jesus nos chama para atravessar as nossas cidades com
Ele, como discípulos missionários, nos tornando participantes “do grande
sussurro que quer continuar a ressoar nos mais variados ângulos de nossa
vida: Alegra-te, o Senhor está contigo!”.
“Como
acenderemos a esperança, se faltam profetas? Como enfrentaremos o futuro, se
nos falta unidade? Como chegará Jesus a tantos lugares, se faltam ousadas e
válidas testemunhas?”, perguntou.
Referindo-se ao
Profeta Jonas, o Papa diz que diante das situações de sofrimento e injustiça
que se repetem no dia-a-dia, podemos experimentar “a tentação de fugir, de nos
escondermos, de desertar. E razões não faltam nem a Jonas, nem a nós”.
Nas cidades e
bairros “que poderiam ser lugares de encontro e solidariedade, de alegria”,
constatamos que “há tantos “não-cidadãos”, os “meio-cidadãos” ou os “resíduos
urbanos”» que se encontram na beira dos nossos caminhos, que vão viver à margem
das nossas cidades sem condições necessárias para levar uma vida digna, e custa
ver que muitas vezes, entre estes «resíduos» humanos, se encontram rostos de
tantas crianças e adolescentes; se encontra o rosto do futuro”.
E ao vermos
isso, é gerada em nós “o que poderíamos chamar a síndrome de Jonas: um espaço
irreal, para onde fugir:
“Um espaço para
a indiferença, que nos torna anônimos e surdos face aos demais, torna-nos seres
impessoais de coração assético e, com esta atitude, amarfanhamos a alma do povo”
Francisco traz
uma citação de Bento XVI, quando diz que «a grandeza da humanidade determina-se
essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre. (…) Uma sociedade
que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de contribuir, mediante a
com-paixão, para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido mesmo
interiormente é uma sociedade cruel e desumana».
Ao contrário de
Jonas que foge diante da dor, “Jesus, perante um acontecimento doloroso e
injusto como foi a prisão de João, entra na cidade, entra na Galileia e começa,
partindo daquela insignificante população, a semear o que seria o início da
maior esperança: o Reino de Deus está perto, Deus está no meio de nós”.
E esta mensagem
encontrou eco nos discípulos, passou por vários Santos - como Santa Rosa de
Lima, São Toríbio, São Martinho de Porres, São João Macías, São Francisco
Solano – até chegar a nós, para nos comprometer novamente, “como um antídoto
renovado, contra a globalização da indiferença. Com efeito, perante este Amor,
não se pode ficar indiferente”.
“Jesus chamou
os seus discípulos a viverem, no hoje da história, algo que tem sabor a
eternidade: o amor a Deus e ao próximo”
E faz isto “à
maneira divina, suscitando a ternura e o amor misericordioso, suscitando a
compaixão e abrindo os seus olhos para aprenderem a ver a realidade à maneira
divina. Convida-os a gerar novos vínculos, novas alianças portadoras de
eternidade”.
“Jesus – disse
Francisco - atravessa a cidade com os seus discípulos e começa a ver,
a escutar, a prestar atenção àqueles que sucumbiram sob o manto da indiferença,
lapidados pelo grave pecado da corrupção”:
“Começa a
desvendar muitas situações que sufocavam a esperança do seu povo, suscitando
uma nova esperança. Chama os seus discípulos e convida-os a ir com Ele,
convida-os a atravessar a cidade, mas muda-lhes o ritmo, ensina-os a fixarem o
que até agora passavam por alto, indica-lhes novas urgências. Convertei-vos:
dizia-lhes Ele.”
E Jesus,
“continua a atravessar as nossas estradas”, “a bater às portas, a bater aos
corações para reacender a esperança e os anseios”:
“Que a
degradação seja superada pela fraternidade, a injustiça vencida pela
solidariedade e a violência apagada com as armas da paz. Jesus continua a chamar
e quer ungir-nos com o seu Espírito para que também nós saiamos para ungir com
esta unção capaz de curar a esperança ferida e renovar o nosso olhar”.
“Jesus chamou
os seus discípulos a viverem, no hoje da história, algo que tem sabor a
eternidade: o amor a Deus e ao próximo”
“Deus não Se
cansa nem Se cansará de andar para chegar junto dos seus filhos. Como
acenderemos a esperança, se faltam profetas? Como enfrentaremos o futuro, se
nos falta unidade? Como chegará Jesus a tantos lugares, se faltam ousadas e
válidas testemunhas?”.
“Hoje o Senhor
chama-te a atravessar com Ele a cidade, a tua cidade. Chama-te a ser seu
discípulo missionário, tornando-te assim participante desse grande sussurro que
quer continuar a ressoar nos mais variados ângulos da nossa vida: Alegra-te, o
Senhor está contigo!”
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Assista:
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Francisco
despede-se do Peru:
“Levo vocês no coração”
Na conclusão de
suas palavras o Santo Padre falou mais uma vez de esperança: “vocês têm tantos
motivos para esperar! Vi-o, toquei-o com a mão nestes dias. Conservem a
esperança”.
Cidade do
Vaticano - Na conclusão da Santa Missa na Base Aérea Las Palmas, antes de
deixar o Peru, o Papa Francisco fez o seu último discurso em terras peruanas. O
Santo Padre, agradeceu as palavras do cardeal Juan Luis Cipriani, Arcebispo de
Lima, proferidas momentos antes, agradeceu aos bispos pela presença e a todos
que fizeram com que esta visita deixasse uma marca indelével no seu coração.
Um agradecimento
também a todos aqueles que tornaram possível esta viagem, em primeiro lugar, ao
Senhor Presidente Pedro Pablo Kuczynski, às autoridades civis, aos milhares de
voluntários que, com o seu trabalho silencioso e abnegado como “formiguinhas”,
contribuíram para que tudo se realizasse. Fez-me bem encontrar-me com
vocês. Obrigado!
Francisco recordou
que iniciou a sua peregrinação, afirmando que o Peru é uma terra de esperança:
“Terra de
esperança pela biodiversidade que nele se encontra, juntamente com a beleza de
lugares capazes de nos ajudar a descobrir a presença de Deus. Terra de
esperança pela riqueza das
suas tradições e costumes, que marcaram a alma deste povo. Terra de esperança
pelos jovens, que não são o futuro, mas o presente do Peru.”
Mais uma vez
Francisco pediu aos peruanos que descubram, na sabedoria dos seus avós, dos
seus idosos, o DNA que guiou os seus grandes Santos. Vocês não devem se
desenraizar. Avós e idosos, - pediu ainda - não deixem de transmitir às jovens
gerações as raízes do seu povo e a sabedoria do caminho para chegar ao céu.
Convidou a todos de não terem medo de ser os santos do século XXI.
Na conclusão de
suas palavras o Santo Padre falou mais uma vez de esperança: “vocês têm tantos
motivos para esperar! Vi-o, toquei-o com a mão nestes dias. Conservem a
esperança. Não há melhor maneira de guardar a esperança do que permanecer
unidos, para que todos estes motivos, que a sustentam, se consolidem sempre
mais de dia para dia. A esperança em Deus não engana.”
“Levo vocês no
coração. Deus abençoe vocês! E peço-lhes, por favor, que não se esqueçam de
rezar por mim”, finalizou Francisco.
Da Base Aérea o
Papa dirige-se ao Aeroporto, onde será recebido pelo presidente Pedro
Pablo Kuczynski e consorte. Após passar em revista a Guarda de Honra e saudar
as delegações, Francisco embarca no voo B767 da Latam com destino ao Aeroporto
Ciampino, em Roma, onde deverá chegar às 14h15 de segunda-feira, hora local,
após 11.223 km percorrridos em 13h30min de voo. No voo retorno,
o Brasil não será sobrevoado.
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Fonte: www.vaticannews.va/pt
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