Banquete supõe acolhida, humildade, serviço
No Evangelho, Jesus está jantando na casa de pessoas
importantes da sociedade judaica. Ele observou, não apenas neste jantar, mas em
diversas refeições de que participou, especialmente em banquetes, que as
pessoas faziam verdadeiras ginásticas para estarem em lugar de destaque,
próximas do anfitrião ou do homenageado. Ele aproveitou o momento para fazer
algumas observações que não são de etiqueta, mas de postura em relação ao Reino
do Céu.
Ele inicia
quebrando certa visão conservadora de Deus e de relacionamentos “queridos” por
ele.
Para Jesus não
existe um Deus distante das pessoas e nem a necessidade de render-lhe homenagem
com mortificações, penitências e jejuns. O Deus de Jesus Cristo é o Emanuel,
Deus Conosco, que vem armar sua tenda em nosso meio, que vem participar de
nossas alegrias e tristezas, que vem viver a nossa vida e nos quer ver alegres,
felizes, em paz.
Jesus acolhe a todos com infinita misericórdia |
Em seguida, o
Senhor faz uma advertência sobre quem convidar para o festim.
Os convidados
deverão ser os coxos, os aleijados, os excluídos, aqueles que jamais poderão retribuir
o convite. Dentro da tradição, os convidados seriam irmãos, parentes, amigos e
vizinhos. Jesus, rejeitou esse costume e deu novas orientações, como vimos.
Jesus dá o
alerta em relação aos marginalizados, aos esquecidos. É com eles, com os que
estão presentes apenas para servir, que o Senhor se identificou. Do mesmo modo
Maria, nas Bodas de Caná, se identificou com os servidores, por isso ela
percebeu a falta de vinho. Se estivesse sentada à mesa, não perceberia, mas
como certamente estava ajudando a servir, apesar de convidada, percebeu.
Neste momento
poderemos nos perguntar de que lado nos posicionamos? Qual é nosso lugar social
no mundo em que habitamos? Lugar social não tanto de nascimento, mas de opção.
Colocamo-nos ao lado dos ricos, dos incluídos ou nos identificamos com os
despossuídos?
Depois o Senhor
entra na questão do acolhimento. Banquete, almoço, jantar ou uma simples
refeição, supõem acolhida. Acolhemos apenas os sadios, os perfeitos, os
íntegros, os santos, ou temos espaço para os doentes, para os que levam vida
irregular e estão fora do politicamente e eticamente aceito?
Acolher os
cegos, coxos e aleijados, significava na sociedade judaica acolher os
pecadores, já que o defeito físico, a doença e a miséria eram vistos como
consequências de pecados.
Jesus não está
se referindo a uma refeição concreta, mas a uma postura de vida que aceita os
puros, perfeitos, santos aos olhos dos valores éticos de nossa sociedade e
rejeita aqueles que deveriam estar cobertos de vergonha pela vida que levam ou
que levaram, pelas suas opções erradas, pela demonstração pública de que
rejeitaram as inspirações para o bom caminho. Podemos pensar nos alcoólatras,
drogados, viciados em jogos de azar, prostitutas e outros praticantes de
atitudes que desabonam mocinhas e mocinhos virtuosos.
Concluindo nossa
reflexão, peçamos ao Senhor a graça de mudarmos nosso lugar social e de nos
identificarmos com aqueles que ele, sua e nossa bendita Mãe, se identificaram,
ou seja, com os pobres, com os marginalizados.
Que a celebração
eucarística, que nossa presença na igreja durante a missa, seja sinal do que
acontece em nosso interior, e sintamo-nos irmanados com aquele que estiver ao
nosso lado, seja conhecido ou não, bem apresentável ou não.
Não importa
tanto se em nossa vida é frequente esse tipo de refeição, mas é fundamental que
isso faça parte de nosso coração, de nosso querer, de nossa identificação, de
nosso lugar de fé.
Padre Cesar Augusto dos Santos
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Fonte: radiovaticana.va
Mês Vocacional - Domingo da Vida Consagrada
“...Eles imediatamente deixaram as redes e seguiram a Jesus!”
Na continuidade
do mês vocacional celebramos no domingo, dia 21 de agosto, a vocação à Vida
Consagrada. O Vaticano II ensina que na Igreja todo batizado é consagrado e
todos são chamados à santidade (cf. LG 39-42). Há, porém, cristãos que
sentem-se chamado/as a uma consagração especial, tendo por inspiração e modelo
o próprio Jesus em seu estado de vida – pobre, casto e obediente, vivendo dons
e carismas doados pelo Espírito Santo à própria Igreja (cf. LG 43-47). Pessoas
que se permitiram possuir pelo Mestre Jesus deixam tudo para trás. Consagram-se
para a oração, para o serviço missionário e apostólico, e no meio do mundo
assumindo profissões comuns como consagrados.
Poderíamos fazer
um percurso histórico passando pelas inúmeras Congregações, Ordens e Institutos
de vida consagrada ao longo da história. Pode-se ainda sublinhar seu aspecto
teológico e espiritual. Ficamos com o “rosto” da vida consagrada, para assim
visualizarmos sua presença em nosso meio e perceber que é uma força viva que se
esconde no tecido social e eclesial; homens e mulheres que pela sua vida dão
sabor e perfume do amor misericordioso de Deus no mundo.
Homens e
mulheres que vivem no silêncio e momentos de solidão, mas habitam a plenitude
do amor na vida de contemplação nos mosteiros, abadias e conventos. Falam pouco
do mundo, mas com ele rezam e dialogam com Deus apresentando suas dores e
sofrimentos. Mulheres e homens que parecem ter “fugido” do barulho e se
refugiaram na calmaria e no sossego rotineiro, quase incompreensível às pessoas
“de fora”, mas lá se fortalecem na vida espiritual, não sem lutas com sua
humanidade interior, fortificando seu ser no amor concreto e vivo do Deus-Amor.
Na aparência de estar “atrás das grades” desde o olhar de fora, vivem a
liberdade de filhos e filhas de Deus, cuja alegria brota de poder estar com Ele
na intimidade da oração (Lc 10, 41).
Luz que queima para Deus e para os irmãos |
Vida consagrada
é a irmã religiosa que se curva para se fazer mãe de órfãos e menores aos quais
a pátria não lhes é mãe amorosa e cuidadora. Órfãos de pais e da pátria. Vida
consagrada é o rosto de Deus misericordioso junto aos doentes, aos portadores
de HIV, aos dependentes químicos, aos encarcerados, aos que vivem “das sobras”
das cidades, aos refugiados, aos migrantes...
A vida
consagrada se faz presente nas escolas, colégios, universidades e centros de
saber e pesquisa científica. Ela está na favela e no bairro nobre. Está no
campo e nas cidades, está nas metrópoles e está junto às populações ribeirinhas
de nossa Amazônia e nos vários continentes. Ela está inserida nos ambientes
como presença comum e diferente.
A vida
consagrada se mostra no hábito das religiosas, que se distinguem pela sua
congregação ou instituto construindo e administrando hospitais, escolas,
creches ou obras sociais. Está escondida e disfarçada num médico, numa
professora, numa advogada, numa enfermeira e em tantas outras profissões como
“pessoas comuns” que vivem nos institutos seculares, vivendo uma consagração
silenciosa e testemunhando o evangelho como “fermento na massa”.
A vida
consagrada são as pessoas que cativadas pelo chamado do Senhor dizem sim à sua
voz colocando sua vida a serviço de Deus e da humanidade, no despojamento
pessoal e na humildade da entrega do vazo de perfume (Mt 26, 6-13) – sua vida –
ao Senhor e sua Igreja.
Dom Adilson
Pedro Busin - Bispo auxiliar de Porto Alegre
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Fonte: cnbb.org.br Ilustração: domtotal.com
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