Estamos entrando
em mais um “Ano Novo”. Marcamos o tempo transcorrido de nossa era cristã com o
número 2016. Desde o evento histórico do nascimento de Jesus, passaram-se 2016
anos.
Passaram-se
também vários anos de nossa vida. A espécie humana está presente sobre o
planeta Terra há milhões de anos. Nosso próprio planeta possui milhardes de
anos. Vemos, pois, que o tempo de nossa existência transcorre, porém ele é
insignificante diante da idade da Terra. A imensidade se torna para nós
inimaginável, e o efêmero, nossa possibilidade.
O ser humano foi
aprendendo a marcar o transcorrer do tempo, observando a efemeridade, o ritmo
do nascer e do pôr do sol, a mudança das estações, o subir e o descer das
marés, as fases da lua.
Uma questão se
impôs ao longo dos séculos: o que é o tempo? Santo Agostinho, refletindo sobre
essa questão, observou: “Se estou só comigo mesmo, eu sei o que é o tempo, mas
se me perguntam, não o sei”. Alguns antigos afirmavam que o tempo era um
círculo eterno. Para os egípcios, ele era como uma serpente que morde a cauda;
muda de pele e rejuvenesce cada vez, porém seu corpo envelhece. Ensinavam que o
ser humano se encontra dentro deste ritmo, e que o tempo o vai consumindo. Para
os hindus, o tempo é como uma linda mulher que tudo gera e produz, que tudo
envolve e resgata para si.
Iniciamos um
novo ano! Novo significa inusitado, desconhecido, não experimentado; algo a
respeito do qual não se pode oferecer resposta segundo esquemas preordenados.
Por isso, a partir da compreensão da fé, nos abrimos à possibilidade nova
de um tempo que irrompe diante de nós com sentimentos de prosperidade, com
votos de felicidade, confiantes de que o Senhor haverá de nos sustentar e
inspirar, acompanhar e conservar.
Temos
consciência de sermos únicos. Por isso nos empenhamos em tornar cada instante
que o tempo nos concede em algo precioso, com sabor de eternidade.
Desejamos um
feliz Ano Novo a quem encontramos, porque já trazemos em nós, como promessa, a
felicidade do novo. O que é verdadeiramente novo acontece desde quando o
buscamos intensamente. Assim, cada ano não consiste em uma repetição monótona,
mas é compreendido como uma espiral ou uma escada situada entre a terra e o
céu, que nos permite avançar!
No limiar de
mais um “Novo Ano” podemos crer e desejar que nossa vida, durante todo o ano
vindouro, seja sustentada pela audácia e pela alegria de poder avançar,
convocada a percorrer sendas e vias ainda não plenamente conhecidas, buscando
novos horizontes, alimentando sonhos de dias melhores para todos. Tudo isso,
sem desconsiderar a própria condição de fragilidade.
Urge cultivar
atitudes novas, evitando a agressividade e o desejo de dominação. O novo do ano
que começa será verdadeiramente novo se formos capazes de: descobrir e aprender
meios para auxiliar quem verdadeiramente necessita de auxílio, a fim de que a
vida, em suas diversas expressões, seja cuidada e promovida; ajudar a
compreender que um índice maior de civilidade depende do grau de engajamento e
disposição gratuita para favorecer o bem comum; perceber que precisamos de mais
poesia nas relações interpessoais e com o meio ambiente; resgatar a originária
força (dynamis) que permite a poetas, artistas, pensadores, místicos
contemplarem tudo a partir do êxtase.
Ousamos dizer
que o modo melhor de sermos mais humanos consiste em adorar mais profundamente,
em venerar com maior intensidade, em sermos mais sensíveis, gratos e devotos.
Somos assim provocados a, durante o “Novo Ano”, cultivar com mais determinação
nossa condição humana, marcada por sensibilidade, gratidão e devoção.
Dom Jaime
Spengler - Arcebispo de Porto Alegre
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