Francisco:
Converter-nos de um deus dos milagres ao milagre de Deus, Jesus Cristo
Cidade do
Vaticano (RV) - O Papa Francisco reuniu-se com os fieis na Praça São Pedro ao
meio-dia deste IV Domingo do Tempo Comum para a tradicional Oração mariana do
Angelus. Eis a íntegra de sua reflexão que precedeu a oração:
Queridos irmãos
e irmãs, bom dia!
A narrativa
evangélica do dia nos conduz ainda, como no domingo passado, à Sinagoga de
Nazaré, o vilarejo da Galileia onde Jesus cresceu em família e era conhecido
por todos. Ele, que há pouco tempo havia ido embora para iniciar sua vida
pública, retorna agora pela primeira vez e se apresenta à comunidade, reunida
no sábado na Sinagoga. Lê a passagem do Profeta Isaías que fala do futuro
Messias e declara: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de
ouvir””. Os conterrâneos de Jesus, inicialmente estupefatos e admirados, passam
a murmurar entre eles e a dizer: porque ele, que pretende ser o Consagrado do
Senhor, não repete aqui, em sua cidade, os prodígios que dizem ter realizado em
Cafarnaum e nos vilarejos vizinhos? Então Jesus afirma: “Nenhum profeta é bem
recebido em sua pátria”, e se refere aos grandes Profetas do passado Elias e
Eliseu, que realizavam milagres em favor dos pagãos para denunciar a
incredulidade de seu povo. A este ponto os presentes se sentem ofendidos,
levantam-se indignados, expulsam Jesus e têm vontade de lançá-lo no precipício.
Mas ele, “ passando pelo meio deles, continuou o seu caminho”. A sua hora ainda
não havia chegado.
Jesus Cristo é o milagre de Deus |
Esta passagem do
evangelista Lucas não é simplesmente a narrativa de uma discussão entre companheiros,
como às vezes ocorre, suscitada por invejas e por ciúmes, mas revela uma
tentação à qual o homem religioso está sempre exposto, e da qual é necessário
tomar distância com decisão: a tentação de considerar a religião como um
investimento humano e, por consequência, começar a “fazer contratos” com Deus
buscando o próprio interesse. Trata-se, pelo contrário, de acolher a revelação
de um Deus que é Pai e que tem cuidado por cada uma de suas criaturas, mesmo
daquela menor e insignificante aos olhos dos homens. Precisamente nisto
consiste o ministério profético de Jesus: em anunciar que nenhuma condição
humana pode constituir motivo de exclusão do coração do Pai e que o único
privilégio aos olhos de Deus é o de não ter privilégios, de estar abandonados
nas suas mãos”.
“Hoje se cumpriu
esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. O hoje, proclamado por
Jesus naquele dia, vale para todos os tempos; ressoa também para nós nesta
praça, recordando-nos a atualidade e a necessidade da salvação trazida por
Jesus à humanidade. Deus vem ao encontro dos homens e das mulheres de todos os
tempos e lugares, na situação concreta em que estes se encontram. Vem também ao
nosso encontro. É sempre ele que dá o primeiro passo: vem visitar-nos com a sua
misericórdia, levantar-nos da poeira dos nossos pecados, vem estender-nos a mão
para tirar-nos do abismo em que o nosso orgulho nos fez cair, e nos convida a
acolher a consoladora verdade do Evangelho e a caminhar pelo caminho do bem.
Certamente,
naquele dia, na Sinagoga de Nazaré, estava também Maria, a Mãe. Podemos
imaginar a ressonância do seu coração, vendo Jesus antes admirado, depois
desafiado, depois ameaçado de morte. Em seu coração, pleno de fé, ela guardava
cada coisa. Que ela nos ajude a nos converter de um deus dos milagres ao
milagre de Deus, que é Jesus Cristo.
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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