Migração é a pedra angular do futuro
Em seu longo discurso, o Pontífice ressalta os sinais positivos que
caracterizaram 2015 para a Santa Sé, como os inúmeros acordos internacionais
ratificados, que demonstram “que a convivência pacífica entre membros de
religiões diferentes é possível”.
Viagens
apostólicas
Um caminho rumo
à paz e ao diálogo – recorda o Papa – foi a abertura da Porta Santa na Catedral
de Bangui, na República Centro-Africana, e que leva a rejeitar com força a
ideia de que se possa matar em nome de Deus, como ocorreu “nos sanguinários
ataques terroristas dos meses passados na África, Europa e Oriente Médio”.
Que o calor da misericórdia promova a paz! |
Nesses países,
destaca Francisco, as famílias receberam uma atenção especial, por ser “a
primeira e mais importante escola de misericórdia”. Se falta a fraternidade
vivida em família – adverte – falta a solidariedade na sociedade.
De fato, para o
Pontífice, o espírito individualista está na raiz da indiferença pelo próximo,
e acaba por tornar as pessoas “medrosas e cínicas”, principalmente diante dos
pobres e dos marginalizados.
Migração:
desafio global
Entre os últimos
da sociedade, Francisco cita de modo especial os migrantes. Aliás, o Papa
dedica a maior parte do seu discurso ao Corpo Diplomático à emergência
migratória, que em 2015 interessou principalmente a Europa, a Ásia e a América.
Falando do grito
de Raquel ou da voz de Jacó, o Papa comenta as razões que levam à fuga milhões
de pessoas: conflitos, perseguições, miséria extrema e alterações climáticas.
Razões estas que são resultado da “cultura do descarte” e da “arrogância dos
poderosos”, sacrificando homens e mulheres aos ídolos do lucro e do consumo.
“Onde é
impossível uma migração regular, denuncia o Papa, os migrantes vêem-se muitas
vezes forçados a se dirigirem a quem pratica o tráfico ou o contrabando de
seres humanos”. As dramáticas imagens das crianças mortas no mar testemunham
“os horrores que sempre acompanham guerras e violências”.
Temores pela
segurança
O tema das
migrações é complexo, reconhece o Pontífice, e requer projetos a médio e longo
prazos que devem ir além da lógica da emergência. Para ele, os grandes fluxos
humanos rumo ao Velho Continente desorientam os países de acolhimento e suas
sociedades, com o risco de minar o "espírito humanístico" que
caracteriza a Europa.
Que todas as nações formem a grande família humana |
Francisco
expressa sua gratidão pelas instituições e países que se empenham em acolher os
migrantes, entre eles Líbano, Jordânia, Grécia, Turquia e Itália.
Migrantes: pedra
angular do futuro
As migrações –
defente o Papa – “constituirão uma pedra angular do futuro do mundo mais do que
o têm o sido até agora” e é a chave para que o extremismo e o fundamentalismo
não encontrem terreno fértil. A propósito, “a Santa Sé renova o seu
compromisso em campo ecumênico e inter-religioso para estabelecer um diálogo
sincero e leal que (…) favoreça uma convivência harmoniosa entre todas as
componentes sociais”.
Ameaça nuclear
O discurso do
Papa aos diplomatas se conclui com uma reflexão sobre os eventos positivos que
marcaram o ano passado em nível internacional: o acordo sobre o nuclear
iraniano e o percurso que poderia levar a um acordo sobre o clima. Mas não
deixa de mencionar os desafios à paz: as tensões no Golfo Pérsico, a ameaça
nuclar norte-coreana, o terrorismo internacional e o interminável conflito
médio-oriental.
Por fim,
Francisco garante aos embaixadores a total colaboração da Santa Sé em nível
diplomático: “A Santa Sé jamais deixará de trabalhar para que a voz da paz
possa ser ouvida até aos últimos confins da terra. Assim, renovo a plena
disponibilidade da Secretaria de Estado para colaborar convosco, com a íntima
certeza de que este ano jubilar poderá ser a ocasião propícia para que a fria
indiferença de tantos corações seja vencida pelo calor da misericórdia”. (BF)
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Santa Sé mantém relações diplomáticas com 180 Estados
Por ocasião do encontro desta segunda-feira, 11, do Papa
Francisco com o Corpo Diplomático na Sala Regia, no Vaticano, recorda-se que
são 180 os Estados que atualmente mantém relações diplomáticas com a Santa Sé.
A estes, acrescenta-se a União Europeia e a Soberana Ordem Militar de Malta,
assim como a Missão Permanente do Estado da Palestina. No que tange às
Organizações Internacionais, na data 4 de junho de 2015, a Santa Sé tornou-se
Estado Observador Permanente da Comunidade Caribenha (CARICOM).
Sedes em Roma
As Chancelarias
de Embaixada com sede em Roma, incluídas as da União Europeia e da Soberana
Ordem Militar de Malta, são 86, às quais somaram-se em 2015 as embaixadas de
Belize, Burkina Faso e Guiné Equatorial. Também têm sede em Roma a Missão do
Estado da Palestina e os Escritórios da Liga dos Estados Árabes, da Organização
Internacional para as Migrações e do Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Refugiados.
Acordos firmados
em 2015
Unindo irmãos, construindo paz |
No ano de 2015
foram firmados quatro Acordos: em 1º de abril, a Convenção entre a Santa Sé e o
Governo da República italiana em matéria fiscal; em 10 de junho, o Acordo entre
a Santa Sé - também em nome e por conta do Estado da Cidade do Vaticano – e os
Estados Unidos, para favorecer a observância, a nível internacional, das
obrigações fiscais e implementar a Foreign Account Tax Compliance Act (FATCA);
em 26 de junho, o Acordo global entre a Santa Sé e o Estado da Palestina; em 14
de agosto, o Acordo entre a Santa Sé e a República Democrática do Timor Leste
sobre o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no país. Já em 22 de junho foi
ratificado o Acordo entre a Santa Sé e a República do Chade sobre o Estatuto
Jurídico da Igreja Católica, que havia sido firmado em 6 de novembro de 2013.
Em 10 de setembro, por sua vez, foi assinado um Memorandum de Intenção entre a
Secretaria de Estado e o Ministério dos Assuntos Externos do Estado do Kwait
sobre a realização de consultas bilaterais. (JE)
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Dom Paul Gallagher:
Papa defende esforço conjunto, com olhar de misericórdia
O Papa Francisco proferiu seu discurso de felicitações de Ano Novo ao Corpo Diplomático
acreditado junto à Santa Sé, onde tratou de diversos temas no campo da paz e da
justiça social, entre outros. O Secretário para as Relações com os Estados, Dom
Paul Richard Gallagher, fez uma apreciação dos discurso do Papa aos microfones
da Rádio Vaticano.
Dom Paul Richard Gallagher: “Acredito que o
Santo Padre tenha desejado olhar com uma ótica de espiritualidade também para
estas situações mundiais tão conflituosas. Ele inseriu tudo isto também no
contexto do Jubileu da Misericórdia. É um Jubileu em que nós devemos olhar para
a situação da comunidade internacional com olhos misericordiosos. O Papa fez o
seu elenco dos problemas, dos conflitos no mundo, também com alguma denúncia,
porém não foi um discurso de condenação. Ele deseja que nós realmente nos
sintamos encorajados, que nós – como sociedade humana, como países – sejamos
capazes de enfrentar estes problemas. São problemas gravíssimos, como o das
imigrações europeias. Porém, devemos ser capazes de enfrentar estas situações.
Assim, o Papa quis dar realmente um estímulo positivo, um impulso que é também
um desafio para a comunidade internacional, representada pelos seus
Embaixadores junto à Santa Sé, mas ao mesmo tempo quis dizer: “Sejamos
misericordiosos, procuremos trabalhar neste sentido; a Santa Sé está disposta a
colaborar com vocês, a estar ao vosso lado, também o próprio Papa”
RV: O Santo
Padre denunciou fortemente o terrorismo e quem usa o nome de Deus para matar. E
insistiu também sobre a importância do diálogo, da cooperação com o mundo
muçulmano...
A Santa Sé está do lado dos que promovem a paz |
Dom Paul Richard Gallagher: “Sim, estes são
os dois polos. Reiterar a importância, o valor do diálogo com o Islã, com
outras religiões e com toda a sociedade, é indispensável; e ao mesmo tempo, a
condenação do uso ou do abuso da religião em nome da violência ou do
terrorismo. Isto sim. Pois isto – sobretudo para o Santo Padre – é um escândalo
tremendo: que as pessoas, em nome de Deus, matem outras pessoas, sobretudo
pessoas inocentes e vulneráveis. Que as pessoas submetam inteiras comunidades a
anos e anos de sofrimento e violência. Este é um grande escândalo que nós
devemos vencer. E nós, como Santa Sé, entidade religiosa, sentimos isto de
maneira ainda mais forte, talvez, do que as sociedades seculares ou leigas,
porque nós vemos que a verdadeira mensagem da religião, que é o amor, é tão
distorcida deste modo. E o Papa, justamente, denuncia estas coisas com a máxima
energia”.
RV: Falando da
crise migratória, o Papa agradeceu os esforços realizados por países como a
Turquia, a Grécia e sobretudo a Itália, por salvar a vida de tantos migrantes
no Mediterrâneo. E insistiu na necessidade de uma política pan-europeia para
enfrentar este problema...
Dom Paul Richard Gallagher: “Sim, o Papa
quis apresentar um elogio e reconhecer os grandes esforços, os grandes
sacrifícios que diversos países fizeram, ou aqueles que acolheram imediatamente
os refugiados, como a Jordânia e Líbano, e depois os países de fronteira, como
a Turquia, a Itália e a Grécia, pois não obstante a questão migratória seja uma
crise para a Europa de hoje, ao mesmo tempo muitas destas sociedades, destes
governos, destas autoridades e muitos indivíduos, socorrem estas pessoas que,
como o Papa disse, “não são pessoas anônimas, são pessoas humanas como nós, são
crianças...”. E assim, nós devemos enfrentar este problema espinhoso, esta
crise muito grave. E nisto, não estamos subestimando as dificuldades e os
problemas, nem os problemas internos de certos países, absolutamente não.
Porém, ao mesmo tempo, afirmamos de que é necessário fazer um ulterior esforço,
porque este é um problema que merece atenção, porque é um problema não somente
social, mas é essencialmente uma crise moral para a Europa. A maneira como
reagiremos a esta situação, determinará que tipo de país seremos. E a ideia de
que devemos defender os nossos valores, fechar a nossa sociedade, talvez nos
causará mais danos do que abrir as nossas portas e os nossos corações para
acolher estas pessoas em dificuldade”. (JE)
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Fonte: radiovaticana.va
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