A boa notícia
A liturgia da
Igreja apresenta neste final de semana o discurso de Jesus na Sinagoga de
Nazaré, início de seu ministério de anúncio da Boa Nova, antepondo o prólogo do
Evangelho de São Lucas (Lc 1, 1-4.14-21), onde o autor conta ter decidido
escrever de modo ordenado os acontecimentos da vida do Senhor, para que os
cristãos leitores de seu texto verifiquem a solidez dos ensinamentos recebidos.
Seu trabalho foi fruto de um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o
princípio. Somos levados a sério! E o evangelista põe no início do ministério
público de Jesus o seu “programa”. Trata-se de um manifesto público!
Jesus veio "para proclamar um ano da graça do Senhor" |
O Espírito do
Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção! A novidade vem do
alto. Sabemos que “todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm descendo do Pai
das luzes, que desconhece fases e períodos de sombra” (Tg 1, 17), que derrama
abundantemente sua graça e sua paz. A primeira novidade do tempo que se inaugura
com Jesus Cristo é o dom, a consagração, a unção. Caem por terra todas as
pretensões humanas de alcançar, com as próprias forças, aos píncaros da verdade
e da graça. Faz-se necessário estar abertos para receber a unção! Jesus Cristo,
o ungido do Pai, abre a tempo do Espírito Santo atuando em toda parte! Antes de
tudo é um ato de abertura e de acolhida da graça, mais do que uma conquista.
Feitos novas criaturas, em Cristo, resta-nos suplicar esta efusão do Espírito
Santo, se queremos ser pessoas diferentes e fazer diferente o nosso mundo.
Jesus veio para
anunciar a Boa-nova aos pobres. A Boa Notícia vai às periferias geográficas e
existenciais do mundo. São pessoas que se abrem à ação de Deus, despojadas de
pretensões. Muitas delas, humanamente nem têm mais o que perder! O amor de Deus
alcança os mais pobres e distantes e, para chegar até lá, envolve a todos os
que se encontram nas estradas da vida. Por isso, o amor de Deus não exclui
ninguém! Todos são destinatários e têm a vocação da pobreza radical, que é
reconhecer-se carente de Deus e de sua paternidade.
“Enviou-me para
proclamar a libertação aos cativos... e para libertar os oprimidos”, diz o
Senhor. Basta olhar ao nosso redor, para identificar as antigas e recentes
formas de escravidão e cativeiro, desde as barbáries expostas pelos meios de
comunicação até aquelas mais escondidas, mas concretas e presentes bem perto de
nós. Certamente já ouvimos falar em cativeiro doméstico, sequestros, exigência
de pagamento para resgates, para depois chegar ao medo reinante nas grandes
cidades. E que dizer dos sistemas econômicos excludentes e opressores? E os
cativeiros se multiplicam, quando são criados pelas próprias pessoas, escravas
do dinheiro, dos vícios, da procura desenfreada do prazer, a sede incontrolável
do poder, ou outras formas que se aninham numa palavra moderna e dolorosa,
corrupção e suas tramas e tramoias hoje impressas na vida social, entrevendo
anos e anos para a restauração de relações confiáveis entre pessoas e
instituições. Pois bem, a libertação é de novo proclamada a este que é o nosso
mundo e só se encontra em Jesus Cristo!
E Jesus veio
para anunciar aos cegos a recuperação da vista! Cegos se aproximaram de Jesus e
a cegueira, entendida em tempos antigos como maldição e castigo, torna-se ponto
de partida para uma graça infinitamente maior, a salvação. Em Jericó “Jesus
parou e mandou que lhe trouxessem o cego. Quando ele chegou perto, Jesus
perguntou: ‘Que queres que eu te faça?’ O cego respondeu: ‘Senhor, que eu
veja’. Jesus disse: ‘Vê! A tua fé te salvou’. No mesmo instante, o cego começou
a enxergar de novo e foi seguindo Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo
o povo deu glória a Deus” (Lc 18, 40-43). As muitas cegueiras físicas,
psicológicas ou morais podem ser apresentadas ao Senhor. Trata-se de
reconhecê-las e pedir com confiança! Para todos nós, vale ainda a recomendação
do Apocalipse: “Compra também um colírio para curar os teus olhos, para que
enxergues” (Ap 3, 17)!
Jesus veio “para
proclamar um ano da graça do Senhor”. O tempo, com a sua vinda, já não é como
um badalar implacável de horas insones que muitas vezes nos assustam. O tempo é
oportunidade, é graça! Com a vinda do Salvador, inaugurou-se este ano perene da
graça. Surge a oportunidade quando o coração se abre! E a Igreja, em sua
sabedoria, ainda nos oferece experiências ímpares, adequadas a cada geração que
passa por esta terra. Agora, por convocação do Papa Francisco, este ano é de
“Jubileu da Misericórdia”. Fomos apresentados ao Senhor da anistia plena, o Pai
das Misericórdias! Nossos pecados podem ser lavados no Sangue redentor de Jesus
Cristo! O Espírito Santo foi enviado para o perdão dos pecados! Tudo fala de
perdão, reconciliação, cura, graça, boa notícia!
Dom
Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo de Belém do Pará (PA)
........................................................................................................................
Fonte: cnbb.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário