Ajudinha ou inclusão?
Dia 4 pp.
encontrei, na Praça Dom Adauto, Dona Ana, de Alagoa Grande, com 4 filhinhos,
sentada na porta da igreja do Carmo, pedindo ajuda. Ela me disse que ia ser
recebida num programa de televisão. Esperou o dia todo. Seria atendida só no
outro dia. Ela me pediu para passar a noite no adro da igreja. Eu a trouxe com
os filhinhos para o pátio da Cúria e pedi socorro ao Pe. George, da Comunidade
Filhos da Misericórdia, cuja obra é acolher meninas prostituídas ou viciadas,
entre as quais muitas têm filhos de colo. São encaminhadas na vida, arrancadas
da sina da miséria moral e material. Esse cenário reproduz-se pelo País com o
desemprego crescente e com falta de perspectivas.
Dona Ana me
contou que o marido está desempregado. Empobrecidos, subempregados, à mercê de
alguém que lhes incentive a conquistar uma vida melhor. Com certeza, dispostos
a trabalhar. Qual é a missão do Estado? Eis a missão política dos que nos
representam: garantir a proteção à vida das pessoas e famílias e incentivar a
capacitação para o trabalho, único meio de conquistar uma vida digna. Que
perspectivas o povo pobre tem, se o País se paralisou?
Verbas
surrupiadas, destinadas aos serviços públicos essenciais de Saúde, Educação,
Mobilidade Humana, foram parar nas mãos de corruptos. A crise política e
socioeconômica contrasta com o alijamento da iniciativa privada e com verbas
desviadas. Abandonados os valores e princípios éticos e morais, situações como
a de Dona Ana traduzem o descaso de inúmeros políticos que pensam tão somente
em se manter no cargo, sem preparo e competência para atender ao bem da
coletividade. Dona Ana tem direito ao respeito à sua dignidade de trabalhadora,
não ao paliativo.
Miséria, fome,
pobreza, comove corações, sensibiliza as consciências, ativa o emocional, mexe
com o complexo de culpa. O pobre sempre foi a falácia de políticos demagogos.
Para chegar ao poder, montam seu esquema na compaixão pelo pobre. A Doutrina
Social da Igreja baseia-se no Evangelho, não em falácia ideológica. Subtrai-se
o pobre de situações intoleráveis de marginalização capacitando-o pelo
trabalho, para a produção e renda. Inclusão faz-se com justiça social,
partilhando o amor, a vida, o pão, promovendo sua dignidade, arrancando-o da
exclusão e dos condicionamentos impostos pela sociedade. Pobre é a mentalidade
atrasada, apegada ao egoísmo e mesquinhez. O desapego de si acontece com a
partilha da vida e dos bens. Torna-se a condição de incluir muitos
empobrecidos, marginalizados, excluídos. Isso se faz ensinando a pescar, não
dando só o peixe. Pobres, sempre tereis entre vós (cf. Jo 12, 8).
Dom Aldo Pagotto
- Arcebispo da Paraíba
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Fonte: cnbb.org.br
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