Eles não têm mais vinho
Depois das
festas natalinas, inicia-se o Tempo Comum, em que continuamos a viver os
principais Mistérios da Salvação na caminhada histórica da Igreja. O Evangelho
deste Segundo Domingo do Tempo Comum (Jo 2, 1-11) nos fala das Bodas de Caná. O
motivo da escolha desse texto para este domingo – o segundo depois da Epifania
– é explicado na frase conclusiva: Jesus, em Caná da Galiléia, deu início aos
sinais e manifestou sua glória, e seus discípulos creram Nele (Cf. Jo 2, 11).
Falar de bodas,
casamento nos remete a vários trechos bíblicos em que a comparação do povo
eleito com Deus se faz como um casamento, às vezes fiel e outros momentos
infiel por parte do povo. Mas sempre demonstrando a fidelidade do Senhor que
vai em busca da esposa perdida.
O início dos sinais
de Jesus, segundo João, é justamente vir ao encontro do povo de Deus para
restaurar a alegria da festa do casamento simbolizada no vinho novo, que é
melhor que o antigo. Aparece a figura de Maria como mãe preocupada com a
situação dos filhos e recomenda o caminho do recomeço da aliança: “fazei tudo o
que Ele disser”.
A festa vai continuar |
Merecem ser
destacadas as palavras de Maria: “Eles não têm mais vinho”; “Fazei o que Ele
vos disser” (Jo 2, 3.5). Em ocasião de festas, era costume que as mulheres
amigas da família se encarregassem de preparar tudo. A Virgem Maria, que presta
a sua ajuda, percebe o que se passa. Mas Jesus, seu Filho e seu Deus, está ali;
acaba de iniciar-se o seu ministério público. E ela sabe melhor que ninguém que
o seu Filho é o Messias. E dá-se então um diálogo cheio de ternura e
simplicidade entre a Mãe e o Filho, que o Evangelho nos relata: “A Mãe de Jesus
disse-lhe: Não têm vinho”. Pede sem pedir, expondo uma necessidade. E desse
modo nos ensina a pedir.
“Em Caná, ninguém
pede à Santíssima Virgem que interceda junto de seu Filho pelos consternados
esposos. Mas o coração de Maria, que não pode deixar de se compadecer dos
infelizes, impele a assumir, por iniciativa própria, o ofício de intercessora e
a pedir ao Filho o milagre. Se a Senhora procedeu assim sem que lhe tivessem
dito nada, que teria feito se lhe tivessem pedido que interviesse?” (Santo
Afonso Maria de Ligório). Que não fará quando – tantas vezes ao longo do dia! –
lhe dizem “rogai por nós”? Que não iremos conseguir se recorremos a Ela?
Portanto, o
Evangelho deste segundo domingo do tempo comum, narra uma festa de casamento e
não informa nada sobre o nome dos noivos. O Evangelista tomou um fato histórico
e deu-lhe um sentido espiritual e teológico: o verdadeiro noivo é o Cristo,
Deus em pessoa, que vem desposar sua esposa, o povo de Israel e, mais
precisamente, o novo Israel, a Igreja, representada pela Mulher – a Virgem
Maria! Tudo, na perícope do Evangelho, fala disso: porque o Messias-Esposo
chegou, a água da Antiga Aliança (água da purificação segundo os ritos judaicos
da Lei de Moisés) é transformada no vinho da Nova Aliança (o vinho, símbolo da
alegria e da exultação do Espírito Santo, que é fruto da morte e ressurreição
do Senhor). É esta a glória que Jesus manifestou, é este o sinal! “Sinal” não é
um simples milagre; “sinal” é um gesto do Senhor Jesus carregado de sentido
profundo, que revela Sua pessoa, Sua missão e Sua obra de salvação.
Também nós hoje
temos necessidade, neste ano do jubileu da misericórdia, de escutarmos o Senhor
que nos manda a ter atitudes simples (como encher as vasilhas com água) para
fazer grandes maravilhas neste nosso necessitado tempo (o vinho novo).
Cardeal Orani
João Tempesta - Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
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Fonte: cnbb.org.br Ilustração: franciscanos.org.br
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