O Deus dos ateus
Penso que as
pessoas não são ateias. O ser humano pode ser ateu em relação a certas imagens
de Deus, mas no fundo diz em segredo: “sou ateu graças a Deus”! Freqüentemente
o que acontece é que ao encontrar-se com o sentimento de finitude, da morte, o
absurdo da vida, o homem possa tomar o caminho do desespero que leva à loucura
(Nietzche), ou o caminho da sublimação, na santidade (Gandhi).
O número dos que
se declaram ateus no Brasil aumentou. No último senso passavam um pouco de 8%.
E ultimamente alguns autores trouxeram o tema novamente á baila: Daniel Dennet,
Sam Harris, Michel Onfray, Hitchens Christopher e Richard Dawkins. Todos eles
concordam que o pior na religião é a fé na existência de Deus.
Dom Pedro Carlos Cipollini |
Pode-se duvidar
de Deus. Mas com certeza o ser humano busca amar e ser amado. Não
experimentando amor, é impossível admitir a existência de Deus. Isto,
principalmente em nossa cultura, que esvaziou os símbolos do Pai a tal ponto
que, a figura do Pai entrou em colapso. O evento que preparou a hominização (o
homo sapiens), não foi o assassinato do pai, mas o nascimento da figura do pai,
afirma Edgar Morin. O movimento hoje parece ser o contrário. Estamos a caminho
de uma animalidade sem pai, pois, da morte do pai à morte de Deus é um passo.
Deixando para
traz o refrão marxista que entende a religião como “ópio do povo”, os ataques
passam agora, da religião para a própria possibilidade da existência de Deus:
uma ilusão maléfica para o ser humano. Assim, o zoólogo Richard Dawkins, chegou
a afirmar que seu sonho seria a completa destruição de todas as religiões.
Antes os ateus iam para a fogueira da Inquisição.
Será que agora
serão os crentes que irão para as fogueiras acesas por cientistas e ateus? Esta
agressividade contra Deus e a religião, mostra o desapontamento com a
persistência da fé nos dias atuais, quando se esperava que Deus estivesse morto
e sepultado. Mais que nunca, hoje o homem deseja colocar-se no lugar de Deus. A
tecnociência reivindica pela boca de seus “profetas” o lugar de Deus. Enquanto
parte da intelectualidade científica repropõe a morte de Deus, como avanço, a
Europa como um todo, se espanta com as contínuas conversões ao islamismo de um
lado, de outro lado com o niilismo e o crescimento dos cultos satânicos.
Porém, sem Deus
o mundo e o ser humano não se explicam, se complicam.
Podemos afirmar
sim, que é possível crer depois de Freud. A própria existência do homem impele
a crer na existência de Deus. O físico e matemático B. Pascal, inventor da
máquina de calcular escreve: “o momento mais sublime da razão é quando ela
aceita que não pode explicar tudo”. Para ele somente a religião e a fé podem
ultrapassar o ponto em que a pesquisa científica se choca com o inexplicável.
Nem todos os
cientistas concordam com teses ateias. O biólogo Francis Collins, diretor do
Projeto Genoma, em livro intitulado “A linguagem de Deus”, apresenta as
evidências de que Deus existe. Afirma que a ciência e a fé devem caminhar
juntas e uma não tem nada a temer da outra.
Precisa-se da
humildade de Collins, um ex-ateu, para crer.
A fé nunca
fecha-nos o caminho que conduz à descrença, deixa-nos livres.
No entanto, o
que é crer? Crer é apenas arriscar-se a ler a realidade, para além do empírico,
do perceptível, em chave de símbolo. Não existe contradição entre fé e ciência
se houver diálogo entre elas, deixando de lado o preconceito.
O certo é que
crendo ou não crendo, não se pode negar que há uma parte invisível em tudo o
que é visível, uma ausência no seio de toda presença. E ainda, como escreveu K.
Chesterton: “A verdade mais singela acerca do homem é que ele é um ser muito
estranho, parecendo, quase, um estranho sobre a terra” (in O Homem Eterno Iª
Parte, cap. 1). E isto porque ele foi criado para o infinito que é Deus, e para
lá deve voltar.
Dom Pedro
Carlos Cipollini - Bispo Diocesano de Santo André
.................................................................................................................................................
Nenhum comentário:
Postar um comentário