Crise de
humanidade: que fazer?
Diante do que
presenciamos todos os dias em termos de violência e desprezo com a vida humana
e a natureza, nos perguntamos o que está acontecendo? São muitas as análises e
respostas. Eu fico com a opinião do Papa Francisco que constata estarmos
vivendo uma crise antropológica, ou seja, de humanidade: “A crise
financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na origem, há uma crise
antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criamos novos
ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Ex 32, 1-35) encontrou uma
nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura duma economia sem
rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano”. (Papa Francisco in Evangelii
Gaudium n. 55).
Dom Pedro Carlos Cipollini |
Tudo isto fica
visível nos sinais desta crise: o ser humano reduzido a uma só de suas
necessidades: consumo. Autonomia do mercado e especulação financeira. Luta pelo
poder. Corrupção. Rejeição da ética, porque relativiza o dinheiro. Recusa de
Deus, porque a fé Nele leva o ser humano a responder com a preservação da vida
e da criação, o que não interessa ao “mercado”. Para o mercado, Deus é
incontrolável e não manipulável, pois coloca o ser humano como centro da
criação.
Diz um teólogo:
“A crise que vivemos hoje não é somente uma crise econômica é uma crise de
humanidade: o sistema que dirige hoje a marcha do mundo é objetivamente
inhumano.” (José A. Pagola). A razão acabou sendo sequestrada: não se pergunta
pelos fins, não se fala do sentido que tem a história da humanidade, nem qual o
lugar do ser humano na Terra. Como cortar pela raiz o mal profundo que não é
outro senão a tirania imposta pelos poderes financeiros à comunidade mundial?
Jesus responde.
O impacto da mensagem de Jesus: Boa nova do Reinado de Deus: Deus já está aqui
com sua força criadora de justiça (amor, serviço, solidariedade, partilha,
fraternidade, paz…), tratando de abrir caminho entre nós, para humanizar a
história. O mundo novo querido por Deus vai além dos impérios e ideologias,
religiões e estruturas. Ele começa aqui e avança por toda a eternidade…
Jesus no seu
Evangelho traz um novo paradigma para confrontar-nos com a história humana: o
Reinado do Pai. Um marco para construir um mundo mais justo, digno e feliz, a
partir da confiança total em Deus e da responsabilidade para com a Criação e a
preservação da vida.
Com Jesus começa
um tempo novo. Deus não quer deixar-nos sós diante de nossos conflitos,
sofrimentos e desafios. Quer construir conosco e a nosso lado uma vida mais
humana e digna para todos.
O dinheiro se
converteu em nosso mundo em um ídolo que exige cada vez mais vítimas e desumaniza
aqueles que lhe rendem culto. Deus não pode ser pai de todos de verdade, sem
reclamar justiça para seus filhos que sofrem e são excluídos de uma vida digna.
Não se pode servir a Deus e ao dinheiro (Lc 16,13). O amor ao dinheiro é a raiz
de todos os males (1Tm 6,10). O poder irracional do dinheiro sacrifica vidas
que precisam ser defendidas.
Chegou o momento
em que devemos recuperar a compaixão/ misericórdia como herança decisiva que
Jesus deixou para a humanidade. O que fazer? Temos de recuperar a importância
do bem comum, a responsabilidade do cuidado de uns com os outros, a defesa da
família como lugar por excelência de relações gratuitas, defender a comunidade
cristã como espaço de acolhimento e de mútuo apoio amistoso e fraterno… Enfim,
defender a vida.
A última palavra
sobre a história humana pertence a Deus e Ele já a pronunciou em Jesus: quem
vencerá não é a violência (morte), mas a compaixão solidária (vida).
Dom Pedro Carlos Cipollini - Bispo de Santo André
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Fonte: cnbbsul1.org.br
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