Que alegria
receber de Papa Francisco a Exortação Apostólica Gaudete et
Exsultate sobre a chamada à santidade no mundo atual. Não estamos diante
de um tratado sobre a santidade com definições e distinções eruditas e
sofisticadas. A intenção de Francisco ao escrevê-la é modesta. Ele mesmo nos
diz logo no seu inicio seu objetivo: “fazer ressoar mais uma vez a chamada à
santidade, procurando encarná-la no contexto atual, com os seus riscos,
desafios e oportunidades, porque o Senhor escolheu cada um de nós “para ser
santo e irrepreensível na sua presença, no amor” (cf. Ef 1, 4).
Em nossos dias
soa muito bem retomar tudo isso e ouvir que a santidade não é
privilégio de um grupo reservado. A santidade não é coisa de elite eclesial.
Não é confundida com atitudes de beatice ou de carolice, ou com atitudes
alienadas e com comportamentos desequilibrados e totalmente distantes do mundo
real, tão comuns nos grupos neoconservadores que estão surgindo ultimamente no
interior da nossa Igreja. Ser santo não significa “revirar os olhos num suposto
êxtase” (n. 96).
Sendo uma
prerrogativa exclusiva de Deus, ela é acessível a todos (cf. n. 56). Deus nos
comunica sua santidade e nos faz participantes da sua vida divina.
A santidade, portanto, não é uma qualidade física ou moral. É preciso
enfatizar antes de tudo essa iniciativa de Deus para não sermos vítimas de duas
falsificações da santidade que poderiam extraviar-nos: o gnosticismo e o
pelagianismo (cf. nn. 35-62). São erros antigos que, no entanto,
representam perenes perigos de equívocos da fé, mesmo em contextos históricos
diferentes.
É, portanto um
dom divino e está profundamente relacionada com a prática concreta da vida de
cada dia, não sendo necessário fugir de seu estado de vida (cf. nn. 10 e 11),
superando, desta forma, a ideia de igualitarismo vocacional que
suprime as diferenças e contribui enormemente para o empobrecimento da
comunidade cristã, mas se santificando exatamente e somente através de seu
compromisso com a condição humana e cristã (n.26), respondendo os apelos
divinos através da vivência evangélica do próprio estilo de vida (cf. nn. 14,
15, 16). Cada santo é “uma mensagem que o Espírito Santo extrai da riqueza de
Jesus Cristo e dá ao seu povo” (n.21).
Pertencendo à
família divina e entendendo-nos como frutos do amor ilimitado da Trindade,
nascidos do amor de Deus e predestinados ao amor, recebemos a missão de
comunicar esse amor aos demais homens e mulheres pelo testemunho, através do
próprio modo de viver, através do amor e da caridade. A santidade não
é nada mais do que a “caridade plenamente vivida” (n. 21). Se expressa
assim, Francisco: “gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos
pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que
trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas
que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia,
vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade «ao pé da
porta», daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus,
ou – por outras palavras – da classe média da santidade” (n. 7).
Obrigado Papa
Francisco por sua Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate. Veio em boa
hora! Ela nos acorda e nos faz vislumbrar um caminho acessível
da santidade. “Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e
oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se
encontra” (n. 14). Santidade é avançar corajosamente na direção do futuro, do
novo, do diferente, com: “suportação, paciência e mansidão” (nn. 112-121), com
“alegria e sentido de humor” (cf. nn. 122-128), com “ousadia e ardor” (cf. nn.
129-139), e em oração constante (cf. nn. 147-157). Santidade que leva cada
homem e a mulher a viver em plenitude, com entusiasmo e disponibilidade, mas
também com muito realismo e, por isso, exige a luta e a vigilância (cf. nn.
158-165), o discernimento (cf. nn. 166-177). A santidade une
liberdade e responsabilidade para atuar diretamente nos destinos da história,
fazendo acontecer a transformação do mundo e do convívio social (cf. n. 21,
capítulo III, sobretudo os números 63-94, com especial destaque o n. 101).
Santidade é acolher os apelos de Deus, as novidades do Espírito, sem
alienações, subterfúgios ou coisa parecida (cf. nn. 27, 140-146). E para não
cairmos na tentação de cultivar uma falsa santidade, é indispensável
compreendê-la melhor, a partir das indicações da Palavra de Deus e da
experiência da Igreja, a comunidade dos santos e das santas de Deus (cf. nn.
96-109).
Pe. Eliseu
Wisniewski, C.M
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Fonte: ihu.unisinos.br Foto: livraria.apostoladodaoracao.pt
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