Quaresma, preparação para a Páscoa
Neste tempo que
começa na Igreja, a Quaresma, que vai da Quarta-feira de Cinzas até
Quinta-feira Santa pela manhã, somos chamados a viver em Cristo preparando-nos
para a celebração da festa mais importante do ano, a Páscoa: A morte e
ressurreição de Jesus e a nossa. Como a palavra Quaresma sugere são quarenta
dias que recordam os quarenta anos em que o povo de Israel, atravessando o
deserto depois da fuga do Egito, passou pela provação da e na fé, a fim de
poder entrar na terra prometida. Recordam também os quarenta dias em que Jesus
se retirou ao deserto para se dedicar à oração e à penitência do jejum, e ser
tentado pelo diabo; uma preparação a que Jesus se submeteu como preparação para
a sua vida apostólica que começava. Todos os grandes acontecimentos que são
celebrados como festas, a festa da entrada na terra prometida, a festa do
anúncio da chegada do Reino de Deus e sua justiça, as festas dos mistérios do
Senhor, as festas de Nossa Senhora e dos Santos, foram previamente preparadas e
são sempre renovadas na Liturgia da Igreja por tempos fortes de preparação
(tríduos, novenas, Advento, Quaresma). A Igreja, ou seja, todos nós somos
convidados a entrar generosamente nesse ambiente de preparação, que é tanto
mais longo quanto mais importante é o evento a ser celebrado. A Páscoa, a maior
festa, deve passar necessariamente por esta preparação de quarenta dias.
A palavra chave
na preparação de toda festa religiosa é a conversão. A Quaresma nos propõe a
conversão de vida pela vivência dos exercícios espirituais da oração, jejum e
caridade. Os textos bíblicos da Quarta-feira de Cinzas já nos colocavam no
clima da Quaresma: “Voltai-vos para o Senhor, com todo o coração, com jejuns,
lágrimas e gemidos... Reuni-vos todos em celebrações de culto e oração...
Suplicai o perdão do Senhor... O Senhor é benigno e compassivo, paciente e
cheio de misericórdia” (Joel 2,12-18). Paulo dizia: “É agora o momento
favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6,2). No Evangelho, Jesus pedia :
“Ficai atentos... Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que
faz a tua mão direita... Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e
reza a teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa... Quando
jejuares, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas... E o teu Pai, que
vê o que está escondido, te dará a recompensa” (Mt 6 1-6.16-18).
Neste primeiro
domingo da Quaresma, o Evangelho é o das tentações de Jesus - Mt 4,1-11. O
Espírito conduziu Jesus ao deserto para um recolhimento espiritual, onde Ele
jejuou por quarenta dias e quarenta noites, estando em comunhão permanente de
oração com o Pai. Findos os quais, Jesus estava com fome e o tentador
aproximou-se de Jesus e, com astúcia, o provocou: “Se és Filho de Deus, manda
que estas pedras se transformem em pães!”. Jesus, porém, sem perder a calma,
respondeu: “Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que
sai da boca de Deus’”. Então, o diabo levou Jesus para a parte mais alta do
templo e lhe disse: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui para baixo! Porque
está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a seu respeito, e eles te
levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”. Jesus lhe respondeu:
“Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus!’”. E o diabo O
levou para um monte muito alto, e mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e sua
glória e Lhe disse: “Eu te darei tudo isso, se ajoelhares diante de mim, para
me adorar”. Jesus lhe disse: “Vai-te embora, satanás, porque está escrito:
‘Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a Ele prestarás culto”. Mateus conclui a
passagem, registrando: Então, o diabo o deixou. E os anjos se aproximaram e
serviram a Jesus”.
No sentido
evangélico as tentações em geral, e em particular as de Jesus, não significam
solicitações para fazer o mal, mas devem ser entendidas como provas, provações,
lutas a que o povo ou pessoas, no caso, o próprio Jesus deviam passar. Por
essas provações as pessoas de fé comprovavam a sua fidelidade a Deus. Assim
sendo, a Quaresma é um tempo de comprovação da nossa fidelidade a Deus. Nesses
momentos de retiro espiritual, de mais oração, penitência, jejum, sacrifícios,
como da Quaresma, é que o diabo vem nos tentar. Ele vem precisamente questionar
a nossa fé, nossas convicções, nossa paciência, com todas as artimanhas que ele
sabe muito bem manejar. Vale a pena observar que Jesus respondeu ao demo
servindo-se da Palavra de Deus. Nas três tentações Jesus começou com esta
expressão: “Está escrito na Palavra de Deus...” Diante da Palavra de Deus, o
bicho feio não tinha como contrapor. Até que, enfim, desistiu, e, bufando
enxofre queimado pelas ventas, se mandou.
À conversão
quaresmal se conjugam outras palavras: provação, penitência, purificação, em
resumo, “oração, jejum e caridade”.
O gesto concreto
da Quaresma deste ano vem proposto pela Campanha da Fraternidade 2017, cujo
tema é “Biomas brasileiros e defesa da vida”, e cujo lema é “Cultivar e guardar
a criação”.
Venha participar
na sua comunidade de Igreja das celebrações de preparação para a Páscoa,
procurando seguir o modelo da vida de Jesus Cristo que passou quarenta dias em
oração, jejum e penitência a fim de realizar vitoriosamente o combate contra o
mal e o pecado e a implantação do Reino e Deus com a sua justiça. Se Jesus, o
Filho de Deus e sem pecado, foi tentado, nós também o seremos. Mas, porque foi
tentado e provado, Jesus pode nos ajudar nas tentações. É Ele quem nos ensinou
na sua mais bela oração a pedir ao Pai: “Não nos deixeis cair em tentação, mas
livrai-nos do mal. Amém!”
Dom Caetano Ferrari - Diocese de Bauru
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Fontes: cnbb.org.br Ilustração: parsagradafamilia.webnode.com.br
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