Coragem e harmonia
Cidade do
Vaticano (RV) - Esta é a opinião do Papa Francisco: as mulheres são mais
corajosas que os homens. Nestes quatro anos de pontificado, o Pontífice não
perdeu a oportunidade de falar o que pensa das mulheres, dentro e fora da
Igreja.
Papa tocas as mãos de uma fiel: mulheres devem assumir seu protagonismo |
Em catequeses ou
homilias, Francisco faz uma verdadeira ode à figura feminina.
Como por exemplo
na homilia de 9 de fevereiro passado, em que o Papa afirmou que para
entender uma mulher antes é necessário “sonhá-la”. É a mulher, reconheceu, “que
nos ensina a acariciar, a amar com ternura e que faz do mundo uma coisa bela”.
Sem a mulher não há harmonia no mundo. E se “explorar as pessoas é um
crime de lesa humanidade, explorar uma mulher é mais do que um delito e de
um crime: significa destruir a harmonia que Deus quis proporcionar ao mundo”.
Desafios
Mas Francisco está
consciente dos desafios que as mulheres devem enfrentar, inclusive dentro da
própria Igreja. O Papa confessou que sofre com vê as mulheres desempenhando um
papel de servidão em ambientes eclesiais (discurso aos participantes
do Seminário sobre a Carta Apostólica de João Paulo II “Mulieris dignitatem” em
12 de outubro de 2013).
E reconheceu (no
diálogo que manteve com as participantes na plenária da União Internacional das
Superioras-Gerais - UISG, em maio de 2016): “É verdade que as mulheres são
excluídas dos processos decisórios na Igreja: não excluídas, mas é muito frágil
a inserção das mulheres ali, nos processos decisórios”. Qual é a presença da
mulher na Igreja? De que modo pode ser valorizada? “O papel da mulher na Igreja
não é feminismo, é um direito!”
Mudanças
Aos poucos, algo
vem mudando no Vaticano.... Francisco instituiu uma Comissão de Estudo para o
diaconato feminino, nomeou uma reitora para uma Universidade Pontifícia, o
Pontifício Conselho para a Cultura criou uma Comissão, as funcionárias do
Vaticano se organizaram numa Associação... são pequenos passos numa longa
caminhada, considerando por exemplo que de cada 100 religiosos, 83 são
mulheres. Como diz o próprio Papa, a “Igreja é mulher”.
“Este é o grande
dom de Deus: nos deu a mulher. No Evangelho, ouvimos do que é capaz uma mulher.
Mas é algo mais: a mulher é a harmonia, é a poesia, é a beleza. Sem ela o
mundo não seria belo, não seria harmônico. Gosto de pensar, mas isso é algo
pessoal, que Deus criou a mulher para que todos nós tivéssemos uma mãe.”
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Judas e o risco de perder a fé
Ariccia (RV) - O
risco de perder a fé, o suicídio e a missão da Igreja em busca dos pecadores:
foram os temas candentes sobre os quais se deteve o pregador dos Exercícios
espirituais, Pe. Giulio Michelini, na quinta meditação proposta ao Papa e à
Cúria Romana, reunidos deste domingo passado na localidade de Ariccia, próximo
de Roma. A reflexão da manhã desta quarta-feira (08/03) foi centralizada na
figura de Judas.
De fato, a
meditação matutina do frade menor girou em torno do drama do suicídio de Judas,
um dos Doze. Um evento escandaloso e desconcertante, que porém o Evangelho não
esconde. Um drama evidenciado também pelo arrependimento de Judas que no
Evangelho segundo São Mateus reconhece ter pecado porque traiu sangue inocente.
Judas e nós: o
risco da perda da fé
Em seguida, o
pregador buscou reconstruir os motivos que podem ter levado Judas a trair
Jesus, que o havia escolhido e chamado. E Judas o havia seguido. Para entender
o seu drama, Pe. Michelini releu textos de estudiosos e escritores. De Romano
Guardini a Amós Oz, que dedicaram páginas a esta figura. A primeira hipótese é
que Judas a um certo ponto tenha perdido a fé. Um risco a partir do qual todos
devem se perguntar:
Manhã desta quarta-feira |
“Há por acaso em
minha vida muitos dias em que não abandonamos Cristo – nosso saber melhor,
nosso amor – por uma vaidade, uma sensualidade, um ganho, uma segurança, um
ódio, uma vingança? Temos poucas justificativas para falar com indignação sobre
o traidor. Judas revela nós mesmos.”
O pregador
evocou a experiência do escritor francês Emmanuel Carrère e o seu livro “O
Reino”, de 2014, no qual conta ter novamente abraçado a fé durante três anos e
depois tê-la perdido outra vez. Emerge o trabalho interior de um homem que,
porém, escreve: “Abandono-te, Senhor. Tu, não me abandones.”
Foi levantada
outra hipótese sobre a traição de Judas: Judas queria que Cristo se mostrasse
como o Messias de Israel, libertador, combatente, político. Por conseguinte,
não via mais no rosto de Jesus o Senhor, mas apenas um Rabi, um Mestre, e quer
forçá-lo a fazer aquilo que ele deseja.
Sair pelas ruas
a buscar os pagãos e os publicanos
A segunda
reflexão que a meditação matutina quer provocar é sobre o que se pode fazer por
quem se encontra distante da fé. É preciso sair à procura dos pecadores,
recordou o franciscano que contou uma experiência:
“Vivo com uma
comunidade de jovens que fazem duas missões populares por ano. Brinco com eles
porque saem para dançar, entram nas discotecas e vão aos pubs. Eu,
naturalmente, como professor não me permitiria fazer algo assim e, portanto, brinco
com meus frades. E são muitos anos, desde que ensino, que não faço missões
populares. Mas eles sabem quanta estima tenho pelo fato de ter alguém que vai
ali aonde há isso que não queremos ver, há jovens quem sabe desesperados...
Portanto, mesmo se não fazemos isso, devemos ser realmente gratos e solidários
para com aqueles que saem pelas ruas a buscar, como dizia Jesus, os pagãos e os
publicanos.”
O percurso de
Judas levou-o ao suicídio após dar-se conta de seu pecado, observou o frade. Na
obra “Os noivos” de Alessandro Manzoni é emblemática, nesse sentido, a
conversão do Apaixonado que tem a tentação de tirar a própria vida, até que
ouviu o repicar dos sinos. Retornam a sua memória as palavras de sua amada
Lúcia sobre Deus que perdoa tantas coisas por uma obra de misericórdia. Em
seguida – ainda citando Manzoni –, tem lugar o encontro com o Cardeal Federigo
Borromeo, que lamenta não ter sido ele por primeiro a ir encontrá-lo. São
páginas de fé, que convidam a ir em busca dos pecadores, ressaltou.
Foram também
evocadas palavras do Papa Francisco numa homilia da missa na Casa Santa Marta,
quando a propósito dos sacerdotes que rechaçam Judas, falou do clericalismo:
Judas foi descartado, traidor e arrependido não foi acolhido pelos pastores que
eram intelectuais da religião com uma moral feita a partir da sua inteligência
e não da revelação de Deus.
Os suicídios do
nosso tempo. Ajudar os cristãos a não perder a fé
E falando do
suicídio de Judas, Pe. Michelini não esqueceu a atualidade com os suicídios
assistidos e os suicídios de jovens. Daí, o ponto de agarra para uma pergunta
dirigida aos pastores:
“Como podemos
ajudar os cristãos do nosso tempo a não perder a fé, a retomar consciência da
própria fé, aquela da qual se fala no Novo Testamento, a fé alegre, totalizadora,
a adesão à pessoa de Jesus, o que podemos fazer para que não mais ocorram esses
suicídios?”
Tratou-se de uma
meditação com traços fortemente existenciais sobre a fé, sobre nossas
interpelações e sobre a missão da Igreja no mundo. (RL / DD)
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Sexta meditação nos Exercícios espirituais:
Os sonhos de Deus e a sede de poder
Ariccia (RV) - O
pregador dos Exercícios espirituais propostos ao Papa e à Cúria Romana, Pe.
Giulio Michelini, fez na parte da tarde desta quarta-feira (08/03) a sexta
meditação, a qual foi centralizada no processo sofrido por Jesus e a mulher de
Pilatos (Mt 27,11-26).
Tratou-se de uma
meditação escrita com a participação de um casal de esposos, os cônjuges
Mariateresa Zattoni e Gilberto Gillini, com os quais o religioso franciscano
colabora há vários anos pregando exercícios espirituais às famílias e para
outros encontros de formação, e com os quais escreveu vários livros que
apresentam uma dúplice forma de leitura do texto bíblico, exegética e
contextual familiar.
O frade menor
disse que a leitura e a exegese da Sagrada Escritura não são prerrogativa dos
consagrados ou dos especialistas, e que os casais e as famílias devem ser
ajudadas a praticá-las, algo que até agora não parece ter sido feito pela
Igreja de modo convicto, afirmou Pe. Michelini.
Num primeiro
ponto, o pregador deteve-se sobre a escolha feita por Pôncio Pilatos, entre
Jesus e Barrabás, e recordou a interpretação reportada por Bento XVI em relação
a uma variante textual registrada por Orígenes, sobre o nome de Barrabás, o
mesmo de “Jesus”.
Em seguida,
explicou como isso é importante para entender o complexo sistema com o qual o
evangelista São Mateus vê a eficácia do sangue de Jesus para o perdão dos
pecados. Porém, esse sistema teológico apresentado por Mateus não nos deve
levar a perder de vista a dimensão humana de um fato aparentemente evidente e
que é de uma gravidade inaudita: dois homens – e não simplesmente dois cabritos
(como os que Mateus teria imaginado, reconstruindo a cena do Yom Kipur para
ilustrar a morte do Messias) – estão um diante do outro, e somente um
sobreviverá.
O pregador dos
Exercícios espirituais evocou o romance de William Styron, A Escolha de
Sofia, no qual fala de uma jovem mãe obrigada por um oficial nazista a escolher
qual dos dois filhos ser assassinado.
Pe. Michelini
concluiu que, infelizmente, durante séculos o povo judeu foi acusado pelos
cristãos de deicídio. Definitivamente, essa acusação absurda foi desfeita em
todos os níveis. Mas não podemos esquecer que segundo a paixão narrada por São
Mateus essa acusação jamais deveria ter tido êxito, nem mesmo do ponto de vista
simplesmente lógico: porque, como no caso de Sofia, que é obrigada a escolher
que sua própria garota seja assassinada, a responsabilidade dessa terrível
decisão é de quem colocou a multidão na condição de escolher, ou seja, o
prefeito romano.
No segundo
ponto, Pe. Michelini leu a contribuição dos cônjuges Gallini-Zattoni. Eles
evidenciaram como no jogo de poder masculino, a cumplicidade entre um sumo
sacerdote e Pilatos, irrompe a voz tênue de uma mulher, mas somente através de
um mensageiro, porque “enquanto os homens jogam sua partida não lhe é permitido
aproximar-se”.
A mulher de
Pilatos pode, porém, legitimar-se diante destes homens porque, diz, “muito
sofreu” (Mt 27,19) por causa daquele “justo”, Jesus.
Por fim, foram
examinados os cinco sonhos do Evangelho da infância segundo São Mateus, e o
sonho da mulher de Pilatos. Esses sonhos devem ser vistos em seu conjunto,
porque apresentam aquilo que podemos chamar o “sonho de Deus”: a salvação do Filho
(que mediante os sonhos do início do Evangelho escapa de quem quer matá-lo).
Mas se José e os
Magos entendem aquilo que devem fazer, e apesar da fragilidade daquilo que
receberam o colocam em prática (segundo o midrash, o sonho é somente “um
sexagésimo” da profecia); Pilatos, por sua vez, não ouve a voz da mulher, não
ouve os sonhos, – como Herodes – está interessando unicamente em preservar o
poder. (RL)
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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