Exercícios espirituais da Quaresma
Cidade do
Vaticano (RV) – Como já é tradição neste Pontificado, o Papa deixou o
Vaticano na tarde deste I Domingo de Quaresma (5 de março) em direção de
Ariccia, a cerca de 30 km a sudeste de Roma, para seguir exercícios
espirituais. O tema este ano é “Paixão, morte e ressurreição de Jesus segundo
São Mateus”.
Meditações e orações marcam os dias do retiro |
Ariccia é
uma pequena localidade situada entre os lagos Albano e Nemi, de pouco mais de
18.000 habitantes e que, assentada entre colinas e afastada da rumorosa capital
italiana e da Santa Sé, constitui um lugar propício para a meditação.
Às 16h, o
micro-ônibus do Vaticano deixou a Casa Santa Marta com o Pontífice e seus
colaboradores com os quais, a partir de segunda-feira (06/03), seguirá uma
rotina marcada pela oração na Casa dos Paulinos Divino Amor.
Até sexta-feira
(10/03), o grupo fará nove meditações, missas de manhã cedo, adorações e
oração das vésperas, no final da tarde.
Segundo o Frei
Giulio Michelini, pregador dos exercícios, haverá ‘muita atualidade’ em suas
meditações, como temas ligados à família, aos pobres, às pessoas que vivem na
provação. Entrevistado pelo jornal L’Osservatore Romano, o frade revelou que
seus textos não serão limitados a reflexões evangélicas, mas conterão
referências a obras de Amos Oz, Franz Kafka e outros. (CM)
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Exercícios espirituais:
Aceitar seguir Jesus e carregar a própria cruz
Ariccia (RV) -
Ouço a voz do Senhor, que fala de modo humilde, ou coloco meu interesse pessoal
acima do Reino de Deus? Na manhã desta segunda-feira (06/03), na primeira
meditação dos Exercícios espirituais proposta ao Papa Francisco e à Cúria
Romana, Pe. Giulio Michelini exortou os 74 presentes a se fazerem algumas
perguntas sobre a própria vida espiritual.
“A confissão de
Pedro e o caminho de Jesus para Jerusalém” no Evangelho segundo São Mateus são
o ponto de partida da meditação desta segunda-feira. Na tarde de domingo foi
feita a introdução dos Exercícios espirituais, que se realizam até esta
sexta-feira (10/06) na localidade de Ariccia, nas proximidades de Roma.
Os Exercícios
espirituais são marcados pela Liturgia das Horas e pelas duas meditações
diárias, que passam da interpretação dos textos ao desdobramento existencial.
Jesus tomava suas decisões na oração, não através de sonhos ou magos, como, ao
invés, fazia Alexandre Magno, segundo nos relata Plutarco. Pe. Michelini
exortou os presentes a se perguntarem como tomam as decisões importantes da
própria vida:
“Faço
discernimento baseado em qual critério? Decido impulsivamente, deixo-me levar
por aquilo que é habitual, coloco a mim mesmo e meu interesse pessoal acima do
Reino de Deus? Ouço a voz de Deus, que fala de modo humilde?”
Pedro e a
tradição rabínica sobre a voz de Deus através dos pequenos: a humildade de
ouvir-nos
Em seguida, Pe.
Michelini se concentrou na figura de Pedro e na tradição rabínica. Mediante
revelação, Pedro reconhece que Jesus é o Messias. Daí, o religioso franciscano
sugere que o Pai tenha falado não somente por meio do Filho, mas tenha falado
ao Filho, Jesus, também através de Pedro. É Jesus que revela pouco a pouco a
sua vocação, mas realiza gestos também porque é solicitado por outros.
Papa Francisco e membros da Cúria Romana durante os Exercícios espirituais |
Na vida de Jesus
de Nazaré é deixado muito espaço aos encontros, que incidem na sua missão. Segundo
a tradição rabínica, com o fim da grande profecia, se considerava que Deus
continuasse falando de modos muito humildes, como por exemplo mediante a voz
das crianças e dos loucos.
Com uma
comunicação parecida com o sussurro de um vento leve como se deu com o profeta
Elias no monte Horebe. E Pe. Michelini ofereceu aos presentes outra ocasião de
reflexão:
“Tenho a
humildade de ouvir Pedro? Temos a humildade de ouvir-nos uns aos outros,
estando atentos aos preconceitos ou às pré-leituras que certamente temos, mas
atentos a colher aquilo que Deus quer dizer apesar – talvez – dos meus
fechamentos? Ouvir a voz dos outros, talvez frágil, ou escuto somente a minha
voz?”
Aceitar seguir
Jesus e carregar a própria cruz
Em seguida, o
pregador dos Exercícios espirituais deteve-se sobre a interpretação daqueles
estudiosos que consideram que Jesus soubesse o que estava para acontecer. No
Evangelho segundo Mateus se diz que Jesus se retirava, um verbo que no grego
antigo indicava a retirada dos exércitos diante de uma derrota ou de um perigo.
Também Jesus
parece retirar-se diante da notícia da prisão do Batista e quando sabe que os
fariseus querem matá-lo, mas todas essas retiradas são estratégicas, ressaltou
Pe. Michelini, não são para deter-se: após ter-se retirado, Jesus faz coisas
concretas, isto é, começa a anunciar o Reino e a curar os doentes.
Entre as muitas
referências que enriqueceram a meditação do frade menor, encontra-se a que fez
a Hanna Arendt, que falava da banalidade do mal, em referência a como os
hierarcas nazistas falavam das atrocidades por eles cometidas.
Tal alusão foi
feita para referir-se à ferocidade com a qual foi perpetrado o assassinato de
João Batista após o pedido de Herodíades.
Aludiu também ao
rabino Hillel, para ressaltar que Jesus continua a missão assumindo sempre
novas responsabilidade até a que o levará a Jerusalém. Daí, o ponto de agarra
para a última reflexão:
“Pergunto-me se
tenho a coragem de caminhar até o fim para seguir Jesus Cristo, levando em
consideração que isso comporta levar a cruz, como Ele disse, anunciando a
ressurreição, a alegria, mas também a provação: ‘Se alguém quiser vir após mim,
negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me’.” (RL/ DD)
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Exercícios espirituais:
Jamais dividir oração e caridade
Ariccia (RV) -
Os Exercícios espirituais para o Papa e a Cúria Romana prosseguiram na tarde
desta segunda-feira (06/03) em Ariccia – nas proximidades de Roma – com a
segunda meditação dedicada ao tema: “As últimas palavras de Jesus e o início da
Paixão” no Evangelho segundo São Mateus.
Tendo na parte
da manhã proposto a primeira meditação partindo da “confissão de Pedro e o
caminho de Jesus a Jerusalém”, na parte da tarde o pregador franciscano, Pe.
Giulio Michelini, recordou a importância de conjugar ajuda aos pobres e oração.
“Concluídos
todos os discursos”, Jesus anuncia que será entregue para ser crucificado. O
trecho do Evangelho segundo São Mateus do qual parte a meditação vespertina deu
a oportunidade ao frade menor de deter-se sobre o silêncio de Jesus diante dos
opositores, característico da Paixão.
O silêncio de
Jesus na Paixão e os silêncios que, ao invés, não deveriam existir
Efetivamente,
podemos dizer que em alguns momentos as palavras não servem, como quando os
interlocutores são potenciais antagonistas ou o poder não permite
pronunciá-las, ressaltou o pregador.
Também São
Francisco de Assis diz aos frades que estejam entre os infiéis de dois modos:
anunciando o Evangelho, se podem, ou então, com a sua simples presença
vivificante.
Exercícios espirituais propostos ao Papa e à Cúria Romana |
Aliás, às vezes,
as palavras podem prejudicar, observou, como dizia Baal Shem, rabino
considerado o fundador do hassidismo moderno: “as palavras que saem dos lábios
dos mestres e daqueles que rezam, mas não com um coração voltado para o céu,
não sobem para o alto, mas enchem a casa de uma parede a outra e do piso ao
teto”.
Por conseguinte,
Jesus se cala diante de quem o considerava um blasfemo, de quem o queria
destruir. É um silêncio que se rompe com um golpe de lança e o grito com o qual
termina a sua existência terrena.
Existem, porém,
vários tipos de silêncio, observou o franciscano: existe um silêncio rancoroso
de quem medita vingança, ou mesmo o silêncio de quem, como disse Elie Wiesel,
“jamais ajuda as vítimas”.
O silêncio de
Jesus na Paixão é um silêncio desconcertante, desarmado e sereno. Mas para além
do silêncio de Jesus, existe “o silêncio mais premente, o silêncio de Deus”. E
Jesus confia Ele mesmo àquele silêncio do Pai. Portanto, é preciso perguntar-se
de que tipo são os próprios silêncios:
“Pensando no
silêncio de Jesus pergunto-me, em primeiro lugar, se comunico a fé somente com
palavras ou se minha vida é evangelizante. Pergunto-me também de que tipo são
meus silêncios, e em relação ao ofício eclesial que desempenho, se sou culpado
de silêncios que não deveriam existir.”
Não salvaguardar
a fachada em detrimento das pessoas
Outros
personagens que aparecem neste trecho do Evangelho segundo São Mateus são
Caifás, os chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, que decidem capturar
Jesus, mas não durante a festa para evitar uma revolta. Não se trata de
estigmatizar os judeus, porque essa atitude diz respeito a uma hierarquia
religiosa que pode ser, de todas as formas, de instituição humana, explicou Pe.
Michelini.
Trata-se de uma
atitude que perde a justa perspectiva crendo servir a Deus. Surge, portanto, o
confronto entre duas lógicas: de um lado está Jesus, um judeu observante, mas
leigo que se prepara para celebrar a Páscoa, e de outro estão os sumo
sacerdotes que se preparam para matar um inocente, que se preocupam com a festa
no sentido da realização exterior.
A pergunta que
Pe. Michelini convidou a fazer-se é se se é “profissional do sacro” cedendo a
pactos para salvaguardar a fachada, a instituição, em detrimento dos direitos
das pessoas.
A mulher que
unge a cabeça de Jesus e os pobres
Logo em seguida,
o Evangelho propõe as unção de Betânia: uma mulher derrama perfume precioso na
cabeça de Jesus. A cena é descrita por todos os quatro Evangelhos, embora com
algumas diferenças. Jesus defende essa mulher que parece ser a única que
percebe o que está para acontecer com Jesus, e faz um gesto fortemente
simbólico.
A unção é unção
real, mas pode ser interpretada também como uma unção fúnebre. Jesus louva o
gesto daquela mulher e rejeita os argumentos de quem diz que o dinheiro gasto
com aquele perfume caro poderia ser dado aos pobres porque, como recorda Sergio
Quinzio, aquele era o momento para servir Jesus.
Em seguida, Pe.
Michelini recordou os tantos pobres: aqueles que não participam das liturgias
porque anciãos ou doentes, aqueles que batem em nossas portas pedindo apenas
para ser ouvidos:
“São muitos os
que não têm coragem de bater em nossas portas, e até aos quais devemos ir. Se
somos sinceros e olhamos para dentro de nós, não podemos deixar de colocar-nos
também nós entre aqueles pobres: no fundo cada um é um pobre para o outro. As
palavras de Jesus dizem que a sua missão não termina com a sua existência
histórica, e, efetivamente, continua com o compromisso da comunidade crente em
prol de todos os pobres, nós inclusive.”
Amar Deus e o
próximo
O pregador dos
Exercícios espirituais concluiu com uma exortação a manter juntos o amor a Deus
e o amor ao próximo:
“Pergunto-me se
escolho somente uma parte – aquela que me é mais congenial, ou aquela mais
‘fácil’, e, portanto, coloco-me a ungir os pés de Jesus, talvez com a liturgia,
a oração, deixando de lado os pobres, ou mesmo me dedico aos pobres, mas
esqueço de rezar e honrar Jesus. Consigo manter juntos o amor a Deus e o amor
ao próximo?” (RL / DD)
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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