Ajudar os jovens a encontrar horizontes concretos
Cidade do
Vaticano (RV) - O Papa Francisco presidiu neste sábado, 31 de dezembro, último
dia do ano, na Basílica de São Pedro, as primeiras Vésperas com o Te Deum da
Solenidade da Santa Mãe de Deus, Maria.
«Quando chegou a
plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o
domínio da Lei, para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim
de que fôssemos adotados como filhos» (Gal 4, 4-5).
“Hoje, ressoam
com uma força particular estas palavras de São Paulo, que, de forma breve e
concisa, nos introduzem no plano que Deus tem para nós: quer que vivamos como
filhos. Ecoa aqui toda a história da salvação: Aquele que não estava sujeito à
Lei decidiu, por amor, deixar de lado todo tipo de privilégio e entrar pelo
lugar menos esperado, a fim de nos libertar.”
“Longe de se
encerrar num estado de ideia ou essência abstrata, quis estar perto de todos
aqueles que se sentem perdidos, mortificados, feridos, desanimados, abatidos e
amedrontados; perto de todos aqueles que, na sua carne, carregam o peso do
afastamento e da solidão, para que o pecado, a vergonha, as feridas, o
desconforto, a exclusão não tenham a última palavra na vida dos seus filhos.”
Bênção do Santíssimo |
O Papa frisou
que “o presépio nos convida a assumir esta lógica divina: não uma lógica
centrada no privilégio, em favores, no compadrio; mas a lógica do encontro, da
aproximação e da proximidade. O presépio nos convida a abandonar a lógica feita
de exceções para uns e exclusões para outros. O próprio Deus veio quebrar a
cadeia do privilégio que gera sempre exclusão, para inaugurar a carícia da
compaixão que gera a inclusão, que faz resplandecer em cada pessoa a dignidade
para que foi criada. Um menino envolto em panos mostra-nos a força de Deus que
interpela como dom, como oferta, como fermento e oportunidade para criar uma
cultura do encontro”.
“Queremos hoje,
diante do Menino de Belém, admitir a necessidade que temos de que o Senhor nos
ilumine, pois tantas vezes parecemos míopes ou ficamos prisioneiros da atitude
decididamente egocêntrica de quem quer forçar os outros a entrar nos próprios
esquemas. Ver o presépio implica saber que o tempo que nos espera requer
iniciativas cheias de audácia e esperança, bem como a renúncia a vãos
protagonismos ou a lutas intermináveis para sobressair”, sublinhou Francisco.
“Ao ver o
presépio, deparamo-nos com os rostos de José e Maria: rostos jovens, cheios de
esperanças e aspirações, cheios de incertezas; rostos jovens, que perscrutam o
futuro com a tarefa não fácil de ajudar o Deus-Menino a crescer. Não se pode
falar de futuro sem contemplar estes rostos jovens e assumir a responsabilidade
que temos para com os nossos jovens; mais do que responsabilidade, a palavra
justa é dívida: sim, a dívida que temos para com eles. Falar de um ano que
termina, é nos sentir convidados a pensar como estamos a nos interessar pelo
lugar que os jovens têm em nossa sociedade”.
Segundo o Papa,
“criamos uma cultura que por um lado idolatra a juventude procurando torná-la
eterna, mas por outro, paradoxalmente, condenamos os nossos jovens a não
possuir um espaço de real inserção, porque lentamente os fomos marginalizando
da vida pública, obrigando-os a emigrar ou a mendigar trabalho que não existe ou
que não lhes permite projetar o amanhã. Privilegiamos a especulação em vez de
trabalhos dignos e genuínos que lhes permitam ser protagonistas ativos na vida
da nossa sociedade. Esperamos deles e exigimos que sejam fermento de futuro,
mas os discriminamos e condenamos a bater a portas que, na maioria delas,
permanecem fechadas”.
“A cada um de
nós é pedido para assumir o próprio compromisso – por mais insignificante que
possa parecer – de ajudar os nossos jovens a encontrar aqui na sua terra, na
sua pátria, horizontes concretos de um futuro a construir. Não nos privemos da
força das suas mãos, das suas inteligências, das suas capacidades de profetizar
os sonhos dos seus idosos. Se queremos apontar para um futuro que seja digno
deles, só o poderemos alcançar apostando numa verdadeira inclusão: a inclusão
resultante do trabalho digno, livre, criativo, participativo e solidário”,
concluiu Francisco. (MJ)
Segue, na
íntegra, a homilia do Papa Francisco nas primeiras vésperas da Solenidade de
Maria Mãe de Deus.
HOMILIA DO SANTO
PADRE
«Quando chegou a
plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o
domínio da Lei, para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim
de recebermos a adoção de filhos» (Gal 4, 4-5).
Hoje ressoam com
uma força particular estas palavras de São Paulo, que, de forma breve e
concisa, nos introduzem no plano que Deus tem para nós: quer que vivamos como
filhos. Ecoa aqui toda a história da salvação: Aquele que não estava sujeito à
Lei decidiu, por amor, deixar de lado qualquer tipo de privilégio (privus
legis) e entrar pelo lugar menos esperado, a fim de nos libertar a nós que
estávamos – nós, sim – sob a Lei. E a novidade é que decidiu fazê-lo na
pequenez e fragilidade dum recém-nascido; decidiu aproximar-Se pessoalmente e,
na sua carne, abraçar a nossa carne; na sua fraqueza, abraçar a nossa fraqueza;
na sua pequenez, superar a nossa. Em Cristo, Deus não Se mascarou de homem, fez-Se
homem e partilhou em tudo a nossa condição. Longe de se encerrar num estado de
ideia ou essência abstrata, quis estar perto de todos aqueles que se sentem
perdidos, mortificados, feridos, desanimados, abatidos e amedrontados; perto de
todos aqueles que, na sua carne, carregam o peso do afastamento e da solidão,
para que o pecado, a vergonha, as feridas, o desconforto, a exclusão não tenham
a última palavra na vida dos seus filhos.
O presépio
convida-nos a assumir esta lógica divina: não uma lógica centrada no
privilégio, em favores, no compadrio; mas a lógica do encontro, da aproximação
e da proximidade. O presépio convida-nos a abandonar a lógica feita de exceções
para uns e exclusões para outros. O próprio Deus veio quebrar a cadeia do
privilégio que gera sempre exclusão, para inaugurar a carícia da compaixão que
gera a inclusão, que faz resplandecer em cada pessoa a dignidade para que foi
criada. Um menino envolto em panos mostra-nos a força de Deus que interpela
como dom, como oferta, como fermento e oportunidade para criar uma cultura do
encontro.
Não podemos
dar-nos ao luxo de ser ingénuos; sabemos que nos vem, de vários lados, a
tentação de viver nesta lógica do privilégio que, ao separar, nos separa; ao
excluir, nos exclui; ao confinar os sonhos e a vida de muitos dos nossos
irmãos, nos confina.
Queremos hoje, diante do Menino de Belém, admitir a necessidade que temos que o
Senhor nos ilumine, pois tantas vezes parecemos míopes ou ficamos prisioneiros
da atitude decididamente egocentrista de quem quer forçar os outros a entrar
nos próprios esquemas. Precisamos da luz que nos faça aprender com os nossos
próprios erros e tentativas, a fim de melhorar e nos vencermos; aquela luz que
nasce da consciência humilde e corajosa de quem, todas as vezes, encontra força
para se erguer e recomeçar.
Quando chega ao
fim mais um ano, paremos diante do presépio para agradecer todos os sinais da
generosidade divina na nossa vida e na nossa história, que se manifestou de
inúmeras maneiras no testemunho de tantos rostos que anonimamente souberam
arriscar. Agradecimento esse, que não quer ser nostalgia estéril nem vã
recordação do passado idealizado e desencarnado, mas memória viva que ajude a
suscitar a criatividade pessoal e comunitária, pois sabemos que Deus está connosco.
Paremos diante
do presépio a contemplar como Deus Se fez presente durante todo este ano,
lembrando-nos assim de que cada tempo, cada momento é portador de graça e
bênção. O presépio desafia-nos a não dar nada e ninguém como perdido. Ver o
presépio significa encontrar a força de ocupar o nosso lugar na história, sem
nos perdermos em lamentos nem azedumes, sem nos fecharmos nem evadirmos, sem
procurar atalhos que nos privilegiem. Ver o presépio implica saber que o tempo
que nos espera requer iniciativas cheias de audácia e esperança, bem como a
renúncia a vãos protagonismos ou a lutas intermináveis para sobressair.
Ver o presépio é
descobrir como Deus Se envolve envolvendo-nos, tornando-nos parte da sua obra,
convidando-nos a acolher com coragem e decisão o futuro que temos à nossa
frente.
Ao ver o
presépio, deparamo-nos com os rostos de José e Maria: rostos jovens, cheios de
esperanças e aspirações, cheios de incertezas; rostos jovens, que perscrutam o
futuro com a tarefa não fácil de ajudar o Deus-Menino a crescer. Não se pode
falar de futuro sem contemplar estes rostos jovens e assumir a responsabilidade
que temos para com os nossos jovens; mais do que responsabilidade, a palavra
justa é dívida: sim, a dívida que temos para com eles. Falar de um ano que termina,
é sentirmo-nos convidados a pensar como estamos a interessar-nos com o lugar
que os jovens têm na nossa sociedade.
Criamos uma
cultura que por um lado idolatra a juventude procurando torná-la eterna, mas
por outro, paradoxalmente, condenamos os nossos jovens a não possuir um espaço
de real inserção, porque lentamente os fomos marginalizando da vida pública,
obrigando-os a emigrar ou a mendigar ocupação que não existe ou que não lhes
permite projetar o amanhã. Privilegiamos a especulação em vez de trabalhos
dignos e genuínos que lhes permitam ser protagonistas ativos na vida da nossa
sociedade. Esperamos deles e exigimos que sejam fermento de futuro, mas
discriminamo-los e «condenamo-los» a bater a portas que, na maioria delas,
permanecem fechadas.
Somos convidados
a não ser como o estalajadeiro de Belém que, à vista do jovem casal, dizia:
aqui não há lugar. Não havia lugar para a vida, para o futuro. A cada um de nós
é pedido para assumir o compromisso próprio – por mais insignificante que possa
parecer – de ajudar os nossos jovens a encontrar aqui na sua terra, na sua
pátria, horizontes concretos de um futuro a construir. Não nos privemos da
força das suas mãos, das suas inteligências, das suas capacidades de profetizar
os sonhos dos seus idosos (cf. Jl 3, 1). Se queremos apontar para um futuro que
seja digno deles, só o poderemos alcançar apostando numa verdadeira inclusão: a
inclusão resultante do trabalho digno, livre, criativo, participativo e
solidário (cf. Discurso na atribuição do Prémio Carlos Magno, 6 de maio de
2016).
Ver o presépio
desafia-nos a ajudar os nossos jovens para não ficarem desiludidos à vista das
nossas imaturidades, e a estimulá-los para que sejam capazes de sonhar e lutar
pelos seus sonhos; capazes de crescer e tornar-se pais e mães do nosso povo.
Olhando o ano
que acaba, como nos faz bem contemplar o Deus-Menino! É um convite a voltar às
fontes e às raízes da nossa fé. Em Jesus, a fé faz-se esperança, torna-se
fermento e bênção: «Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma
ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria» (Exort.
ap. Evangelii gaudium, 3).
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Assista:
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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