do conflito à comunhão
Cidade do
Vaticano (RV) – “Do conflito à comunhão. Juntos na esperança”: este é o lema da
viagem que o Papa Francisco iniciou na manhã desta segunda-feira (31/10) à
Suécia.
Francisco embarca para a Suécia |
Trata-se de sua
17ª viagem apostólica e a última deste ano de 2016. A ocasião da visita é a
comemoração conjunta dos 500 anos da Reforma protestante e os 50 anos do
diálogo entre as duas confissões – ambas as datas que serão recordadas de
maneira oficial em 2017.
No total, serão
pouco mais de 24 horas em solo sueco. Depois de 2 horas e 40 minutos de voo, o
Papa será acolhido no aeroporto internacional de Malmö pelo Primeiro-Ministro
sueco, Stefan Löfven. Em Lund, depois do almoço na residência papal de Igelosa,
Francisco realizará a visita de cortesia à família real da Suécia: ao acolhê-lo
na residência real estarão o Rei Carlos XVI Gustav e a Rainha Silvia.
A oração ecumênica
comum
A tarde
prosseguirá com a aguardada oração ecumênica na Catedral luterana de
Lund. De fato, esta cidade foi escolhida para a viagem apostólica porque
foi ali que em 1947 foi fundada a Federação Luterana Mundial, enquanto a data –
31 de outubro – é o dia em que, segundo a tradição, Martinho Lutero expôs as
suas 95 teses sobre a porta da Igreja do castelo de Wittenberg, em 1517.
Este evento
inédito – a oração ecumênica comum – é fruto de 50 anos de diálogo: com os
luteranos, os católicos iniciaram os colóquios com o Concílio Vaticano II; em
1999, as duas comunidades assinaram a Declaração conjunta sobre a Justificação
e, em 2013 aprovaram o documento “Do conflito à comunhão”, que se tornou o lema
desta viagem.
O programa do
Papa ainda nesta segunda-feira prevê o regresso de Lund a Malmö para o evento
ecumênico no ginásio da cidade e o encontro com as delegações ecumênicas –
eventos com transmissão ao vivo da Rádio Vaticano.
Comunidade
católica sueca
A terça-feira
(1°/11) do Papa Francisco será dedicada à pequena comunidade católica sueca.
Trata-se de pouco mais de 1% da população de cerca de 10 milhões de habitantes
no total. O Pontífice celebra a missa, em latim e sueco, no estádio de Malmo, com
a oração mariana do Angelus. Ao final da manhã, o Papa regressa ao
Vaticano.
No vôo aos
jornalistas
“Esta viagem é
importante porque é uma viagem eclesial, muito eclesial no campo do ecumenismo.
O trabalho de vocês ajudará muito a compreender isso, e ajudar as pessoas
entenderem bem isso. Muito obrigado”. Foi o que disse o Papa aos jornalistas,
nesta manhã de segunda-feira, durante o voo para a Suécia.
(SP)
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Francisco:
Olhar ao nosso passado, reconhecer o erro e pedir perdão
Lund (RV) – Após
o almoço em privado na Residência Papal de Igelosa, onde Francisco reside
nestes dois dias de visita à Suécia, o Santo Padre se transferiu para o Palácio
Real de Lund, onde realizou um visita de cortesia à Família Real.
Momento da oração ecumênica |
O Papa foi
recebido pelo Rei Carlos XVI Gustavo e pela Rainha Silvia. Depois do encontro
com a Família Real, o Pontífice, juntos com os soberanos, se dirigiu para a
Catedral da cidade onde teve lugar a Oração Ecumênica Comum. Francisco foi
acolhido pela Primaz da Igreja da Suécia, Arcebispa Antje Jakelén e pelo Bispo
Católico de Estocolmo, Dom Anders Arborelius. Tomaram parte na procissão de
entrada representantes da Federação Mundial Luterana. Após os cantos, as
leituras e a homilia do Presidente da Federação Mundial Luterana, Bispo Munib
Younan, o Papa Francisco fez a sua homilia.
Já no início de
seu discurso o Santo Padre recordou as palavras de Cristo “Permanecei em Mim,
que Eu permaneço em vós”, pronunciadas no contexto da Última Ceia. Podemos
sentir as suas palpitações de amor por nós e o seu desejo de unidade para todos
os que creem n’Ele, afirmou.
Desejo de permanecer
unidos
Neste encontro
de oração, aqui em Lund, - prosseguiu o Papa - queremos manifestar o nosso
desejo comum de permanecer unidos a Ele para termos vida. E acrescentou,
recordando os irmãos que não se resignaram à divisão:
“É também um
momento propício para dar graças a Deus pelo esforço de muitos irmãos nossos,
de diferentes comunidades eclesiais, que não se resignaram com a divisão, mas
mantiveram viva a esperança da reconciliação entre todos os que creem no único
Senhor”.
Agora, no
contexto da comemoração comum da Reforma de 1517 - continuou -, temos uma
nova oportunidade para acolher um percurso comum, que se foi configurando ao
longo dos últimos cinquenta anos no diálogo ecumênico entre a Federação
Luterana Mundial e a Igreja Católica.
“Não podemos
resignar-nos com a divisão e o distanciamento que a separação gerou entre nós.
Temos a possibilidade de reparar um momento crucial da nossa história,
superando controvérsias e mal-entendidos que impediram frequentemente de nos
compreendermos uns aos outros”.
Reconhecer o
erro e pedir perdão
Francisco
evidenciou em seguida que devemos também olhar, com amor e honestidade, para o
nosso passado e reconhecer o erro e pedir perdão, só Deus é o juiz. E, com a
mesma honestidade e amor, - sublinhou - temos de reconhecer que a nossa
divisão se afastava da intuição originária do povo de Deus, cujo anélito é
naturalmente estar unido, e, historicamente, foi perpetuada mais por homens de
poder deste mundo do que por vontade do povo fiel, que sempre e em toda parte
precisa ser guiado, com segurança e ternura, pelo seu Bom Pastor.
Ambos os lados
tinham uma vontade sincera de professar e defender a verdadeira fé, mas estamos
conscientes também de que nos fechamos em nós mesmos com medo ou preconceitos
relativamente à fé que os outros professam com uma acentuação e uma linguagem
diferentes. Dizia o Papa João Paulo II: “Não devemos deixar-nos guiar pelo
intento de nos tornarmos árbitros da história, mas unicamente pela intenção de
compreendermos melhor os acontecimentos e de sermos portadores da verdade”.
Novo olhar ao
passado
Com este novo
olhar ao passado, não pretendemos fazer uma correção inviável do que aconteceu,
mas “contar essa história de maneira diferente”, afirmou.
Jesus
recorda-nos: «Sem Mim, nada podeis fazer», disse Francisco. “É Ele que nos
sustenta e encoraja a procurar os modos para tornar a unidade uma realidade
cada vez mais evidente”.
“Sem dúvida, a
separação foi uma fonte imensa de sofrimentos e incompreensões; mas ao mesmo
tempo levou-nos a tomar consciência sinceramente de que, sem Ele, nada podemos
fazer, dando-nos a possibilidade de compreender melhor alguns aspetos da nossa
fé. Com gratidão, reconhecemos que a Reforma contribuiu para dar maior
centralidade à Sagrada Escritura na vida da Igreja”.
Experiência
espiritual de Lutero
A experiência
espiritual de Martinho Lutero – disse o Papa - interpela-nos lembrando-nos que
nada podemos fazer sem Deus. «Como posso ter um Deus misericordioso?» Esta é a
pergunta que constantemente atormentava Lutero. Na verdade, a questão da justa
relação com Deus é a questão decisiva da vida. Como é sabido, Lutero descobriu
este Deus misericordioso na Boa Nova de Jesus Cristo encarnado, morto e
ressuscitado. Com o conceito «só por graça divina», recorda-nos que Deus tem sempre
a iniciativa e que precede qualquer resposta humana inclusive no momento em que
procura suscitar tal resposta. Assim, a doutrina da justificação exprime a
essência da existência humana diante de Deus.
Testemunhas
credíveis da misericórdia
Francisco recordou
que Jesus intercede por nós como mediador junto do Pai, pedindo-Lhe a unidade
dos seus discípulos para que «o mundo creia». “Concedei-nos o dom da unidade,
para que o mundo creia na força da vossa misericórdia”. Este é o testemunho que
o mundo espera de nós. E nós, cristãos, seremos testemunhas credíveis da
misericórdia, na medida em que o perdão, a renovação e a reconciliação forem
uma experiência diária entre nós. E Francisco concluiu:
“Nós, luteranos
e católicos, rezamos juntos nesta Catedral e estamos conscientes de que, sem
Deus, nada podemos fazer; pedimos o seu auxílio para sermos membros vivos
unidos a Ele, sempre carecidos da sua graça para podermos levar, juntos, a sua
Palavra ao mundo, que tem necessidade da sua ternura e misericórdia”. (SP)
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Declaração Conjunta:
Graças ao diálogo já não somos desconhecidos
Lund (RV) – Por
ocasião da comemoração conjunta católico-luterana da Reforma, durante a Oração
ecumênica comum na Catedral luterana de Lund, o Papa Francisco e o Presidente
da Federação Luterana Mundial, Rev. Mounib Younan assinaram uma Declaração Conjunta
introduzida pelas seguintes palavras: “Permanecei em Mim, que Eu
permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só
permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes
em Mim” (Jo 15, 4).
Francisco na Catedral Luterana de Lund |
Com esta
Declaração Conjunta, - lê-se no texto -, expressamos jubilosa gratidão a
Deus por este momento de oração comum na Catedral de Lund, com que iniciamos o
ano comemorativo do quinto centenário da Reforma. Cinquenta anos de constante e
frutuoso diálogo ecumênico entre católicos e luteranos ajudaram-nos a superar
muitas diferenças e aprofundaram a compreensão e confiança entre nós. Ao mesmo
tempo, aproximamo-nos uns dos outros através do serviço comum ao próximo –
muitas vezes em situações de sofrimento e de perseguição. Graças ao diálogo e
testemunho compartilhado, já não somos desconhecidos; antes, aprendemos que
aquilo que nos une é maior do que aquilo que nos separa.
Do conflito à
comunhão
No texto se
evidencia ainda que “ao mesmo tempo que estamos profundamente gratos pelos dons
espirituais e teológicos recebidos através da Reforma, também confessamos e
lamentamos diante de Cristo que luteranos e católicos tenham ferido a unidade
visível da Igreja. Diferenças teológicas foram acompanhadas por preconceitos e
conflitos, e instrumentalizou-se a religião para fins políticos.
A nossa fé comum
em Jesus Cristo – continua o texto -, e o nosso Batismo exigem de nós uma
conversão diária, graças à qual repelimos as divergências e conflitos
históricos que dificultam o ministério da reconciliação. Enquanto o passado não
se pode modificar, aquilo que se recorda e o modo como se recorda podem ser
transformados. Rezamos pela cura das nossas feridas e das lembranças que turvam
a nossa visão uns dos outros. Rejeitamos categoricamente todo o ódio e
violência, passados e presentes, especialmente os implementados em nome da
religião. Hoje, escutamos o mandamento de Deus para se pôr de parte todo o
conflito. Reconhecemos que fomos libertos pela graça para nos dirigirmos para a
comunhão a que Deus nos chama sem cessar.
O nosso
compromisso em prol dum testemunho comum
A
Declaração Conjunta evidencia que “enquanto superamos os episódios da nossa
história que gravam sobre nós, comprometemo-nos a testemunhar juntos a graça
misericordiosa de Deus, que se tornou visível em Cristo crucificado e
ressuscitado”. Cientes de que o modo como nos relacionamos entre nós incide
sobre o nosso testemunho do Evangelho, comprometemo-nos a crescer ainda mais na
comunhão radicada no Batismo, procurando remover os obstáculos ainda existentes
que nos impedem de alcançar a unidade plena. Cristo quer que sejamos um só,
para que o mundo possa acreditar (cf. Jo 17, 21).
No texto
destaca-se também que muitos membros “das nossas comunidades anseiam por
receber a Eucaristia a uma única Mesa como expressão concreta da unidade
plena”. “Temos experiência da dor de quantos partilham toda a sua vida, mas não
podem partilhar a presença redentora de Deus na Mesa Eucarística”. Reconhecemos
a nossa responsabilidade pastoral comum de dar resposta à sede e fome
espirituais que o nosso povo tem de ser um só em Cristo. Desejamos ardentemente
que esta ferida no Corpo de Cristo seja curada. Este é o objetivo dos nossos
esforços ecumênicos, que desejamos levar por diante inclusive renovando o nosso
empenho no diálogo teológico.
Um só em Cristo
Evidencia-se no
texto que se reza a Deus para que católicos e luteranos saibam testemunhar
juntos o Evangelho de Jesus Cristo, convidando a humanidade a ouvir e receber a
boa notícia da ação redentora de Deus. “Pedimos a Deus inspiração, - continua a
Declaração -, ânimo e força para podermos continuar juntos no serviço,
defendendo a dignidade e os direitos humanos, especialmente dos pobres,
trabalhando pela justiça e rejeitando todas as formas de violência”.
Deus chama-nos a
estar perto de todos aqueles que anseiam por dignidade, justiça, paz e
reconciliação, acrescenta o texto. “Hoje, de modo particular, levantamos as
nossas vozes para pedir o fim da violência e do extremismo que ferem tantos
países e comunidades, e inumeráveis irmãos e irmãs em Cristo”. Em seguida uma
exortação a luteranos e católicos para que trabalhem juntos para acolher quem é
estrangeiro, prestem auxílio a quantos são forçados a fugir por causa da guerra
e da perseguição, e defendam os direitos dos refugiados e de quantos procuram
asilo.
Um olhar também
à criação inteira que sofre a exploração e os efeitos duma ganância insaciável.
“Reconhecemos o direito que têm as gerações futuras de gozar do mundo, obra de
Deus, em todo o seu potencial e beleza. Rezamos por uma mudança dos corações e
das mentes que leve a um cuidado amoroso e responsável da criação”, destaca a
Declaração Conjunta.
Depois de
agradecer aos irmãos e irmãs das várias Comunhões e Associações Cristãs
mundiais que estão presentes e unidos em oração, renova-se o compromisso de
passar do conflito à comunhão, e fazendo isso como membros do único Corpo de
Cristo, no qual estamos incorporados pelo Batismo.
Apelo aos
católicos e luteranos do mundo inteiro
Enfim um apelo:
“apelamos a todas as paróquias e comunidades luteranas e católicas para que
sejam corajosas e criativas, alegres e cheias de esperança no seu compromisso
de prosseguir na grande aventura que nos espera. Mais do que os conflitos do
passado, há de ser o dom divino da unidade entre nós a guiar a colaboração e a
aprofundar a nossa solidariedade. (SP)
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Católicos e luteranos
juntos na defesa e promoção da justiça social
Rádio Vaticano
(RV) – “Como duas organizações cristãs mundiais trabalhando pela dignidade
humana e justiça social, decidimos dar as mãos”.
Caritas leva alimentos à crianças no Zimbábue |
Esta é a
principal mensagem da Declaração de Intenções entre a Caritas e o Serviço
Mundial luterano firmada na tarde desta segunda-feira (31/10), em Malmö, na
Suécia, ao final do evento ecumênico com a presença do Papa Francisco.
“Para trazer
esperança. Para testemunhar e agir juntos, sem exclusão. E para convidar nossos
membros para que se engajem também localmente”, prossegue o texto da
declaração.
Dentro dos
objetivos principais deste trabalho conjunto estão: a criação de oportunidades;
o comprometimento para cooperar onde for apropriado; partilhar ensinamentos,
desafios e oportunidades; assegurar que membros, pessoal e voluntários entendam
a Declaração de Intenções e trabalhem juntos em harmonia e colaboração.
Áreas de atuação
A Caritas e o
Serviço Mundial luterano se comprometem ainda em trabalhar unidas no auxílio a
refugiados, deslocados internos e migrantes; na construção da paz e da
reconciliação; resposta humanitária; implementação dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável e programas e ações entre as confissões.
Para analisar a
aplicação concreta dos mecanismos de cooperação, encontros anuais serão
realizados também para planejar ações futuras.
A Caritas e o
Serviço Mundial já trabalharam juntos em diversas ocasiões nas últimas décadas
em vários países contra a pobreza e crises humanitárias.
Atualmente a
Caritas, “braço social e de justiça” da Igreja, é uma confederação presente em
200 países e territórios representada por 165 organizações nacionais. (rb)
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Papa Francisco:
Diálogo confirma desejo de plena comunhão
Malmö (RV) - O
Papa Francisco participou do evento ecumênico na Arena de Malmö, na Suécia, na
tarde desta segunda-feira (31/10).
Papa e a arcebispa Ante Jackelen, Primaz da Igreja Luterana da Suécia |
“Dou graças a
Deus por esta comemoração conjunta dos 500 anos da Reforma, que estamos vivendo
com espírito renovado e conscientes de que a unidade entre os cristãos é uma
prioridade, porque reconhecemos que, entre nós, é muito mais o que nos une do
que aquilo que nos separa”, disse o Papa em seu discurso.
“O diálogo entre
nós permitiu aprofundar a compreensão mútua, gerar confiança recíproca e
confirmar o desejo de caminhar para a plena comunhão. Um dos frutos produzidos
por este diálogo é a colaboração entre distintas organizações da Federação
Luterana Mundial e da Igreja Católica. Hoje, graças a este novo clima de
compreensão, Caritas Internationalis eLutheran World Federation World
Service assinarão uma declaração comum de acordos que visam desenvolver e
consolidar uma cultura de colaboração para a promoção da dignidade humana e da
justiça social. Saúdo cordialmente os membros de ambas as organizações que, num
mundo dividido por guerras e conflitos, foram e são um exemplo luminoso de
dedicação e serviço ao próximo. Exorto-os a prosseguir no caminho da
cooperação”, frisou o Papa.
Testemunhos
A seguir,
Francisco comentou os 4 testemunhos que foram dados antes de seu discurso.
Sobre o primeiro, relativo à Criação, ressaltou que “toda a criação é uma
manifestação do amor imenso de Deus para conosco. Somos chamados a cultivar uma
harmonia com nós mesmos e com os outros, mas também com Deus e com a obra de
suas mãos”.
Em relação ao
segundo, sobre o trabalho conjunto que católicos e luteranos realizam na
Colômbia, o Papa frisou que “é uma boa notícia saber que os cristãos se unem
para dar vida a processos comunitários e sociais de interesse comum” e pediu
orações para que “se possa chegar finalmente à paz, tão desejada e necessária
para uma digna convivência”.
Do terceiro
testemunho, o Papa chamou a atenção para o trabalho em prol das crianças vítimas
de atrocidades e para o compromisso em favor da paz. O Pontífice agradeceu à
jovem burundinesa pelo seu compromisso em comunicar a mensagem de paz.
O último, dado
por uma jovem da Equipe Olímpica de Refugiados, o Papa disse que ela “soube
tirar proveito do talento que Deus lhe deu no esporte”. O Santo Padre agradeceu
à jovem pelos esforços e cuidados para animar outras meninas a regressarem à
escola e também pelas orações que reza todos os dias pela paz no Sudão do Sul.
O Papa recordou
também Aleppo, cidade síria martirizada pela guerra, onde se desprezam e
espezinham os direitos fundamentais.
“Queridos irmãos
e irmãs, não nos deixemos abater pelas adversidades. Que estas histórias nos
estimulem e deem novo impulso para trabalharmos cada vez mais unidos. Quando
voltarmos às nossas casas, levemos o compromisso de realizar cada dia um gesto
de paz e reconciliação para sermos testemunhas corajosas e fiéis da esperança
cristã”, concluiu Francisco. (MJ)
***
Assista:
A seguir, a
íntegra do discurso.
Queridos irmãos
e irmãs!
Dou graças a
Deus por esta comemoração conjunta dos quinhentos anos da Reforma, que estamos
a viver com espírito renovado e conscientes de que a unidade entre os cristãos
é uma prioridade, porque reconhecemos que, entre nós, é muito mais o que nos
une do que aquilo que nos separa. O caminho empreendido para a alcançar já é um
grande dom que Deus nos concede e, graças à sua ajuda, estamos reunidos aqui
hoje, luteranos e católicos, em espírito de comunhão, para dirigir o nosso
olhar ao único Senhor, Jesus Cristo.
O diálogo entre
nós permitiu aprofundar a compreensão mútua, gerar confiança recíproca e
confirmar o desejo de caminhar para a plena comunhão. Um dos frutos produzidos
por este diálogo é a colaboração entre distintas organizações da Federação Luterana
Mundial e da Igreja Católica. Hoje, graças a este novo clima de compreensão,
Caritas Internationalis e Lutheran World Federation World Service assinarão uma
declaração comum de acordos que visam desenvolver e consolidar uma cultura de
colaboração para a promoção da dignidade humana e da justiça social. Saúdo
cordialmente os membros de ambas as organizações que, num mundo dividido por
guerras e conflitos, foram e são um exemplo luminoso de dedicação e serviço ao
próximo. Exorto-vos a prosseguir pelo caminho da cooperação.
Ouvi atentamente
os testemunhos de como, no meio de tantos desafios, dia após dia dedicam a vida
a construir um mundo que corresponda cada vez mais aos desígnios de Deus.
Pranita referiu-se à criação. É verdade que toda a criação é uma manifestação
do amor imenso de Deus para conosco; por isso podemos também contemplar a Deus
por meio dos dons da natureza. Compartilho a tua consternação pelos abusos que
danificam o nosso planeta, a nossa casa comum, com graves consequências também
sobre o clima. Como justamente recordaste, os maiores impactos recaem
frequentemente sobre as pessoas mais vulneráveis e com menos recursos, que se
veem forçadas a emigrar para se salvar dos efeitos das mudanças climáticas.
Todos somos responsáveis pela salvaguarda da criação, e de modo particular nós
cristãos. O nosso estilo de vida, os nossos comportamentos devem ser coerentes
com a nossa fé. Somos chamados a cultivar uma harmonia com nós mesmos e com os
outros, mas também com Deus e com a obra das suas mãos. Pranita, encorajo-te a
continuares no teu compromisso a favor da nossa casa comum.
Mons. Héctor
Fabio informou-nos sobre o trabalho conjunto que católicos e luteranos realizam
na Colômbia. É uma boa notícia saber que os cristãos se unem para dar vida a
processos comunitários e sociais de interesse comum. Peço-vos uma oração
especial por aquela terra maravilhosa para que, com a colaboração de todos, se
possa chegar finalmente à paz, tão desejada e necessária para uma digna
convivência humana. Seja uma oração que abrace também a todos os países onde
perduram graves situações de conflito.
Marguerite
chamou a nossa atenção para o trabalho em prol das crianças vítimas de tantas
atrocidades e para o compromisso a favor da paz. É algo admirável e,
simultaneamente, um apelo para tomar a sério inúmeras situações de
vulnerabilidade que padecem tantas pessoas indefesas, aquelas que não têm voz.
Aquilo que tu consideras como uma missão, foi uma semente que produziu frutos
abundantes, e hoje, graças a esta semente, milhares de crianças podem estudar,
crescer e recuperar a saúde. Obrigado pelo facto de agora, mesmo no exílio,
continuares a comunicar uma mensagem de paz. Disseste que, todos os que te
conhecem, pensam que aquilo que fazes é uma loucura. Sim, é a loucura do amor a
Deus e ao próximo! Quem dera que esta loucura pudesse propagar-se, iluminada
pela fé e a confiança na Providência! Segue em frente; e possa aquela voz de
esperança que ouviste no início da tua aventura continuar a estimular o teu
coração e o coração de muitos jovens.
Rose, a mais
jovem, ofereceu um testemunho verdadeiramente comovente. Soube tirar proveito
do talento que Deus lhe deu através do desporto. Em vez de malbaratar as suas
forças em situações adversas, empregou-as numa vida fecunda. Enquanto ouvia a
tua história, vinha-me à mente a vida de tantos jovens que precisam de
testemunhos como o teu. Gostaria de lembrar que todos podem descobrir esta
condição maravilhosa de ser filhos de Deus e o privilégio de ser queridos e
amados por Ele. Rose, de coração te agradeço pelos teus esforços e cuidados
para animar outras meninas a regressar à escola e também pelas orações que
rezas todos os dias pela paz no jovem Estado do Sudão do Sul que tanto precisa
dela.
Depois de ter
ouvido estes testemunhos corajosos, que nos fazem pensar na nossa vida e no
modo como respondemos às situações de necessidade que existem ao nosso lado,
quero agradecer a todos os governos que prestam assistência aos refugiados, aos
deslocados e àqueles que pedem asilo, porque cada ação em favor destas pessoas
que precisam de proteção constitui um grande gesto de solidariedade e
reconhecimento da sua dignidade. Para nós, cristãos, é uma prioridade sair ao
encontro dos descartados e marginalizados do nosso mundo, tornando palpável a
ternura e o amor misericordioso de Deus, que não descarta ninguém, mas acolhe a
todos.
Daqui a pouco
ouviremos o testemunho do Bispo D. Antoine, que vive em Aleppo, cidade exausta
pela guerra, onde se desprezam e espezinham até mesmo os direitos mais
fundamentais. As notícias referem-nos diariamente o sofrimento indescritível
causado pelo conflito sírio, que dura já há mais de cinco anos. No meio de
tanta devastação, é verdadeiramente heroica a permanência lá de homens e
mulheres para prestar assistência material e espiritual aos necessitados. E é
admirável também que tu, querido irmão, continues a trabalhar no meio de tantos
perigos para nos contares a dramática situação dos sírios. Cada um deles está
presente no nosso coração e na nossa oração. Imploremos a graça da conversão
dos corações de quantos têm a responsabilidade dos destinos daquela região.
Queridos irmãos
e irmãs, não nos deixemos abater pelas adversidades. Que estas histórias nos
estimulem e deem novo impulso para trabalharmos cada vez mais unidos. Quando
voltarmos às nossas casas, levemos o compromisso de realizar cada dia um gesto
de paz e reconciliação para sermos testemunhas corajosas e fiéis de esperança
cristã.
Assista:
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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