“PEC 241 é injusta,
seletiva, supervaloriza o mercado e afronta a Constituição”
seletiva, supervaloriza o mercado e afronta a Constituição”
Conselho
Permanente é contrário à proposta que congela gastos com saúde e educação
Em coletiva à
imprensa, nesta quinta-feira, 27, o Conselho Permanente da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota sobre a Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) 241/2016, de autoria do Poder Executivo.
Apresentada como
fórmula para alcançar o equilíbrio dos gastos públicos, a PEC 241 limita, a
partir do ano que vem, as despesas primárias do Estado, como a educação, saúde,
infraestrutura, segurança, funcionalismo e outros, para os próximos 20 anos.
Em Coletiva, Dom Sergio da Rocha apresenta a Nota |
Na nota, os
bispos afirmam que a proposta é injusta e seletiva. “Ela elege, para pagar a
conta do descontrole dos gastos, os trabalhadores e os pobres, ou seja, aqueles
que mais precisam do Estado para que seus direitos constitucionais sejam
garantidos”, diz um trecho.
O texto, lido
pela presidência da CNBB, enfatiza que a proposta supervaloriza o mercado em
detrimento do Estado e garante, ainda, que a mesma é um afronte à Constituição
de 1988. “Ao tratar dos artigos 198 e 212, que garantem um limite mínimo de
investimento nas áreas de saúde e educação, ela desconsidera a ordem
constitucional”, afirma o texto.
Como sugestão
para reverter o caminho, no final, a CNBB afirma que a PEC precisa ser debatida
de forma ampla e democrática. Para a entidade, a mobilização popular e a
sociedade civil são fundamentais para superação da crise econômica e política.
“A CNBB continuará acompanhando esse processo, colocando-se à disposição para a
busca de uma solução que garanta o direito de todos e não onere os mais
pobres”, diz o trecho final.
Destaques
Questionado se a
CNBB pretende levar à nota ao Congresso Nacional, o presidente da entidade, dom
Sergio da Rocha, afirmou que, primeiramente, o objetivo é que ela chegue a
todas às comunidades da própria igreja. “É claro que nós temos interesse que os
próprios parlamentares conheçam essa reflexão, essa posição da CNBB,
especialmente o Senado já que a próxima etapa acontece lá, então estamos
dispostos a um diálogo com os poderes”, garantiu.
Ainda sobre a
mesma temática, o vice-presidente da CNBB, dom Murilo Krieger ressaltou que
pesa sobre o Senado Federal, a responsabilidade de dialogar amplamente com a
sociedade. “A sociedade não tem uma participação, ela foi colocada diante de
uma situação e nem imagina as consequências, que serão duradouras. Então, se é
uma solução ideal para o Brasil, porque não dialogar e envolver toda a
sociedade?”, indagou o bispo.
Ainda durante à
coletiva, os bispos trataram de assuntos referentes a reunião do Conselho
Permanente, ocorrida de 25 a 27 de outubro. Na pauta estiveram a criação da
Comissão Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano, o relato da visita da
presidência da CNBB ao papa Francisco e a temática da próxima Assembleia Geral
dos Bispos, que ocorrerá de 26 de abril a 05 de maio, em Aparecida (SP).
Na nota, a entidade
afirma que continuará buscando uma solução que garanta o direito de todos.
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A Presidência da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nesta quinta-feira,
dia 27 de outubro, durante entrevista coletiva à imprensa, a Nota da CNBB
sobre a Proposta de Emenda Constitucional 241 (PEC 241), que estabelece um teto
para os gastos públicos para os próximos vinte anos. O texto foi aprovado pelo
Conselho Permanente da entidade, reunido, em Brasília, entre os dias 25 e 27 deste
mês.
Leia o texto na
íntegra:
Brasília-DF, 27
de outubro de 2016
P - Nº. 0698/16
NOTA DA CNBB
SOBRE A PEC 241
“Não fazer os
pobres participar dos próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida.”
(São João Crisóstomo, século IV)
O Conselho
Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em
Brasília-DF, dos dias 25 a 27 de outubro de 2016, manifesta sua posição a
respeito da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/2016, de autoria do
Poder Executivo que, após ter sido aprovada na Câmara Federal, segue para
tramitação no Senado Federal.
Apresentada como
fórmula para alcançar o equilíbrio dos gastos públicos, a PEC 241 limita, a
partir de 2017, as despesas primárias do Estado – educação, saúde,
infraestrutura, segurança, funcionalismo e outros – criando um teto para essas
mesmas despesas, a ser aplicado nos próximos vinte anos. Significa, na prática,
que nenhum aumento real de investimento nas áreas primárias poderá ser feito
durante duas décadas. No entanto, ela não menciona nenhum teto para despesas
financeiras, como, por exemplo, o pagamento dos juros da dívida pública. Por
que esse tratamento diferenciado?
A PEC 241 é
injusta e seletiva. Ela elege, para pagar a conta do descontrole dos gastos, os
trabalhadores e os pobres, ou seja, aqueles que mais precisam do Estado para
que seus direitos constitucionais sejam garantidos. Além disso, beneficia os
detentores do capital financeiro, quando não coloca teto para o pagamento de
juros, não taxa grandes fortunas e não propõe auditar a dívida pública.
A PEC 241
supervaloriza o mercado em detrimento do Estado. “O dinheiro deve servir e não
governar! ” (Evangelii Gaudium, 58). Diante do risco de uma idolatria do
mercado, a Doutrina Social da Igreja ressalta o limite e a incapacidade do
mesmo em satisfazer as necessidades humanas que, por sua natureza, não são e
não podem ser simples mercadorias (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja,
349).
A PEC 241
afronta a Constituição Cidadã de 1988. Ao tratar dos artigos 198 e 212, que
garantem um limite mínimo de investimento nas áreas de saúde e educação, ela
desconsidera a ordem constitucional. A partir de 2018, o montante assegurado
para estas áreas terá um novo critério de correção que será a inflação e não
mais a receita corrente líquida, como prescreve a Constituição Federal.
É possível
reverter o caminho de aprovação dessa PEC, que precisa ser debatida de forma
ampla e democrática. A mobilização popular e a sociedade civil organizada são
fundamentais para superação da crise econômica e política. Pesa, neste momento,
sobre o Senado Federal, a responsabilidade de dialogar amplamente com a
sociedade a respeito das consequências da PEC 241.
A CNBB
continuará acompanhando esse processo, colocando-se à disposição para a busca
de uma solução que garanta o direito de todos e não onere os mais pobres.
Nossa Senhora
Aparecida, Padroeira do Brasil, continue intercedendo pelo povo brasileiro.
Deus nos abençoe!
Dom Sergio da Rocha - Arcebispo de Brasília-DF - Presidente da CNBB
Dom Murilo S. R. Krieger - Arcebispo de S. Salvador da Bahia-BA - Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner - Bispo Auxiliar de Brasília-DF - Secretário-Geral da CNBB
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Fonte: cnbb.org.br
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