O pecado da corrupção
Uma das maiores
causas da grave situação que vivemos está na relação estabelecida com o
dinheiro em nossa sociedade. Aceitamos pacificamente seu domínio sobre tudo. “A
crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma
crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano”, escreve o
Papa Francisco (cf. EG n. 55). A síndrome da adoração do bezerro de ouro
promove a especulação financeira e a autonomia absoluta do mercado. Em meio a
tudo isso a corrupção corre solta como se fosse “regra do jogo”. A lei da selva
que impõe o consumo como bem supremo, impõe também a ganância e a corrupção
como parte do modo de vida regido pela mesma lei da selva na qual os mais
espertos e mais fortes levam vantagem em tudo.
Ninguém nasce
corrupto, corruptor ou ladrão. Antes de chegar a sê-lo, é certo que houve uma lenta
preparação interior, formada de insensibilidade pelos direitos dos outros,
sedução pelas presumidas vantagens do crime e enfim, as condições favoráveis
que induzem à prática do crime já consentido no coração e na mente: a ocasião
faz o ladrão! Os furtos diários, principalmente os praticados por pessoas ou
gangues são chocantes, sobretudo quando se configuram como latrocínio. Porém,
não deveriam ser menos chocantes os crimes de corrupção, em especial os de
“colarinho branco”, que finalmente começam a ser investigados e punidos. O fato
é que a corrupção também gera morte.
A burocratização
da administração e da sociedade toda favorece a corrupção porque muitas pessoas
e organismos acabam tomando decisão sobre vários assuntos e em meio a tantas
pessoas e organismos que decidem, a corrupção é facilmente camuflada; e no fim,
ninguém sabia de nada ou ninguém tem culpa de nada. Uma pergunta se impõe: é
possível controlar a corrupção?
Somente uma
reeducação para a justiça e o direito, no sentido de sobrepor o bem comum ao
bem pessoal, a valorização dos princípios éticos no relacionamento social,
poderiam coibir a corrupção. Torna-se necessária uma profilaxia moral, uma
limpeza nas consciências e isto é em grande parte papel da educação. Aos que
tem religião, se apela para que sejam praticantes, porque a prática da própria
fé sempre indica o caminho da caridade, do altruísmo para com o próximo, o que
exclui a exploração e a corrupção.
Na Bíblia
podemos ler: “Não roubarás” (Dt 5,19), e ainda: “Nem ladrões nem os avarentos
nem os injuriosos herdarão o Reino de Deus” (1Cor 6,10). Este é o sétimo
mandamento da Lei de Deus dada a nós por Moisés, que prescreve a prática da
justiça e da caridade na administração. Este mandamento é aceito pelas três
grandes religiões monoteístas que perfazem dois terços da humanidade: judaísmo,
cristianismo e islamismo. É um mandamento contra os corruptos e corruptores.
Antigamente se
dizia: “Ou o Brasil acaba com a saúva ou ela acaba com o Brasil”, hoje se pode
dizer: “Ou o Brasil acaba com a corrupção ou ela acaba com o Brasil”. A
corrupção é pecado porque destrói os relacionamentos na sociedade, é uma
injustiça e passa a ideia de que não existe Deus além do dinheiro. É preciso
combater a corrupção para sobrevivermos.
Dom Pedro
Cipollini - Bispo de Santo André (SP)
.........................................................................................................................................
Fonte: cnbb.org.br Ilustração: cdpa.ufg.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário