Igreja é livre na profecia e não num sistema de normas
Cidade do
Vaticano (RV) - “Em seu caminho de fé, a Igreja e todo cristão devem cuidar
para não se fechar num sistema de normas, mas abrir espaço para a memória dos
dons recebidos por Deus, ao dinamismo da profecia e ao horizonte da esperança”.
Foi o que disse
o Papa Francisco na homilia da missa celebrada nesta segunda-feira, (30/05), na
Casa Santa Marta.
Tenhamos memória das maravilhas que Deus fez e faz em nossa vida! |
A estrutura da
lei que delimita tudo e o sopro libertador da profecia que impulsiona para além
dos confins.
“Na vida de fé o
excesso de confiança na norma”, adverte o Papa Francisco, “pode sufocar o valor
da memória e o dinamismo do Espírito”.
Jesus, no
Evangelho do dia demonstra este assunto aos escribas e fariseus com a parábola
dos vinhateiros homicidas.
Os agricultores
resolveram se revoltar contra o patrão que plantou e arrendou a vinha para
eles, espancando e matando os empregados que o patrão enviava para receber a
sua parte dos frutos da vinha.
O cúmulo do
drama ocorreu quando mataram o único filho do patrão, pensando que herdariam
toda a propriedade.
Casuística e
liberdade
Matar os
empregados e filho, imagem dos profetas da Bíblia e de Cristo, “mostra a imagem
de um povo fechado em si mesmo, que não se abre para as promessas de Deus, que
não espera as promessas de Deus”, disse o Papa.
“Um povo sem
memória, sem profecia e sem esperança”. Aos chefes do povo, em particular,
interessa erguer um muro de leis, “um sistema jurídico fechado”, e nada mais:
“A memória não
interessa. A profecia: melhor que não venham os profetas! E a esperança? Cada
um irá ver. Este é o sistema com o qual eles legitimam: doutores da lei,
teólogos que sempre caminham na estrada da casuística e não permitem a
liberdade do Espírito Santo. Não reconhecem o dom de Deus, o dom do Espírito e
engaiolam o Espírito, porque não permitem a profecia na esperança.”
Este é o sistema
religioso do qual fala Jesus. “Um sistema de corrupção, mundanidade e
concupiscência”, diz São Pedro na Primeira Leitura.
A memória
liberta
No fundo,
reconheceu o Papa, “o próprio Jesus é tentado a perder a memória da sua missão,
de não dar lugar à profecia e de preferir a segurança à esperança”, isto é, a
essência das três tentações que sofreu no deserto. Então Francisco observou:
“Por conhecer a
tentação, Jesus repreende essas pessoas: ‘Vocês percorrem o mundo para fazer um
prosélito e quando o encontram, o fazem escravo’. Este povo assim organizado,
esta Igreja assim organizada faz escravos! E assim se entende como Paulo reage
quando fala da escravidão da lei e da liberdade que a graça oferece. Um povo é
livre, uma Igreja é livre quando tem memória, quando dá lugar aos profetas,
quando não perde a esperança”.
Coração aberto
ou engaiolado?
A vinha bem
organizada, destacou o Papa, é “a imagem do povo de Deus, a imagem da Igreja e
também a imagem da nossa alma” que o Pai cuida sempre com “tanto amor e tanta
ternura”. Rebelar-se a Ele, como para os agricultores homicidas, é “perder a
memória do dom” recebido por Deus. “Para recordar e não errar no caminho”, é
importante “voltar sempre às raízes”:
“Eu tenho
memória das maravilhas que o Senhor fez na minha vida? Tenho memória dos dons
do Senhor? Eu sou capaz de abrir o coração aos profetas, isto é, a quem me diz
‘assim não dá, tem que ir para lá; vai avante, arrisque? É o que os profetas
fazem… Eu estou aberto a isso ou sou temeroso e prefiro me fechar na gaiola da
lei? E por fim: eu tenho esperança nas promessas de Deus, como teve nosso pai
Abraão, que saiu da sua terra sem saber para onde ir somente porque acreditava
em Deus? Nos fará bem fazer essas três perguntas …”. (MJ/BF)
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Fonte: radiovaticana.va
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