domingo, 15 de maio de 2016

Reflexões para o Domingo de Pentecostes

Conviver na terra com as realidades do céu


As festas litúrgicas desta época do ano nos levam ao coração do mistério da fé cristã. Entendamos por “mistério” um tesouro imensamente rico e inexaurível de verdade, beleza e vida. Nele podemos entrar e nos deixar encantar; dele podemos nutrir-nos espiritualmente e haurir forças à vontade para nossa existência, sem nunca esgotar nem diminuir sua riqueza.
Dizemos mistério, não porque ele é totalmente incompreensível, mas porque é maior que nós e nunca conseguiremos abraçá-lo inteiramente, nem colocá-lo por completo em nossa humana e limitada cabeça. O mistério da fé refere-se ao próprio Deus vivo.
Vinde, Espírito Santo!
Celebramos a Páscoa da ressurreição: o Filho de Deus, que se tornou humano entre nós, sofreu a morte humanamente e redimiu a própria morte, vencendo-a; abriu-nos, assim, a esperança na superação também da nossa morte: “se morremos com Cristo, também viveremos com ele” (cf.Rm 6,8). A ressurreição de Jesus representa um divisor de águas na compreensão da existência humana: não estamos voltados para a morte eterna e esta não tem a última palavra sobre nossa existência. Não é realização e mérito nosso mas, obra da misericórdia de Deus e da solidariedade do Salvador com nossa raça humana.
A Ascensão de Jesus ao céu é mais um mistério da fé, que nos encanta e enche de esperança. Jesus ressuscitado elevou-se ao céu, não para se afastar de nossa humilde condição terrena, mas para ser, junto de Deus Pai, nosso representante, intercessor e mediador perene entre o céu e a terra. A Liturgia proclama com júbilo: “a Ascensão de Jesus já é nossa vitória (...) pois, membros do seu corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória”.
O Filho de Deus não retornou ao céu do mesmo modo como veio ao mundo, quando se encarnou no seio da Virgem Maria: voltou, unido à nossa humanidade, já glorificada pela ressurreição. Com razão, podemos proclamar que a Ascensão realiza a perfeita “comunhão de dons entre o céu e a terra”: Em Jesus Cristo glorificado, o céu e a terra estão unidos para sempre. Deus não rejeitou a humanidade, mas assumiu-a e a redimiu no Filho, enviado a este mundo.
Este “mistério da fé” nos enche de alegria e esperança, por sabermos que não estamos sós e desamparados neste mundo, sem rumo e sem futuro. O rumo nos é dado por Jesus, “caminho, verdade e vida”; o futuro é o Senhor glorificado no céu; lá, ele foi “preparar-nos um lugar”. Não nascemos para morrer, mas para viver e para sermos reunidos à família de Deus “na casa do Pai”. Desde agora, já podemos conviver com as realidades do céu; nossos corações podem voltar-se para o alto, cheios de fé e certeza, uma vez que lá já está, junto de Deus, a nossa humanidade (cf. oração da Missa da Ascensão).
Talvez isso é motivo para alienar-nos das realidades da terra? Será que a fé cristã torna a pessoa alienada das realidades da família, do trabalho, do gozo das alegrias deste mundo? Impede-nos de assumir nossas responsabilidades pessoais e sociais? A Igreja ensina que não é assim que deve ser; apenas uma interpretação errônea da fé cristã afastaria as pessoas de suas responsabilidades terrenas. A fé e a esperança cristã oferecem motivos consistentes para o testemunho dos valores do bem e da justiça e nos fazem lutar contra todas as formas de “império da morte”, que ainda possam oprimir a existência humana. A esperança cristã faz trabalhar com alegria por um mundo melhor para todos. Ao mesmo tempo, evita que se fixem os objetivos últimos da existência nos bens deste mundo; e isso favorece a partilha generosa, a justiça e a solidariedade.
Em Pentecostes, a Igreja comemora o mistério da contínua presença e ação de Deus no mundo e, especialmente, na Igreja de Cristo. Jesus prometeu enviar o Espírito Santo como consolador, advogado, conselheiro e força divina, que continua a agir no mundo até o final dos tempos. Deus não abandona a Igreja e a humanidade, mas é nossa companhia e faz frutificar toda obra boa do homem neste mundo.
Com a solenidade da Santíssima Trindade, contemplamos, extasiados, o mistério da fé por excelência: o mistério santo e insondável do nosso Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi quem o deu a conhecer” (Jo 1,18). Em Jesus Cristo, filho de Deus feito homem, crucificado e glorificado, vemos o rosto misericordioso e glorioso de Deus. Sim, nossa fé, celebrada na Liturgia, já nos permite experimentar na terra as realidades do céu.
                                              Cardeal Odilo Pedro Scherer Arcebispo de São Paulo
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                                                Linguagem do Amor

Cinqüenta dias depois da ressurreição de Jesus aconteceu o Pentecostes. O Espírito Santo veio sobre os Apóstolos reunidos, juntamente com a Mãe de Jesus, em forma de  línguas de fogo. Depois disso os discípulos se encheram de coragem e saíram para executar a missão dada pelo Mestre, ensinando a todos sobre quem é a pessoa dele e seus ensinamentos.
Espírito de Amor, tornai novas todas as coisas!
Alguns se preocupam em fazer alguns ritos, orações e manifestações religiosas, usando até superstições, julgando que isso é o que faz obter favores especiais do Espírito Santo. No entanto, este mesmo Espírito nos ajuda a realizar o bem. Não merecemos sua ajuda porque fazemos esses tipos de ações e gestos e sim porque, como Deus, Ele quer o nosso bem. O melhor é seguir suas inspirações para realizar o que o Filho nos ensinou. A fé só tem efeito quando nos dispomos a cooperar com a ação divina. Leva-nos a colocar valor na prática do amor, do serviço, da promoção da justiça e do bem das pessoas e da sociedade como um todo. Não seremos julgados porque fizemos muitos ritos e orações e sim porque colocamos em prática o amor ao semelhante, que nos leva a promover sua vida de qualidade humana. Deste modo, realizamos o desenvolvimento da família como instituição sagrada, da inclusão dos deixados de lado no convívio social, da ação política adequada à sustentação do bem comum... Preces, sacrifícios, orações e ritos, quando bem focalizados e não supersticiosos, são meios importantes que devemos usar para fortificar nossa fé. Mas eles devem nos levar à conseqüente prática do amor e da justiça, para merecermos de Deus os favores necessários à nossa salvação.
Paulo lembra que os dons do Espírito Santo são outorgados a cada um, mas em vista do bem comum (Cf. 1 Coríntios 12, 3-7). Esse Apóstolo adverte que, mesmo a pessoa tendo dons especiais, como o da profecia, o de falar em línguas diferentes e tantos outros, se não viver o dom do amor, nada adiantaria (Cf. 1 Coríntios 13,1-13). Ele explicita sobre como atuar com esse dom, ou seja, ter a prática da paciência, da superação da inveja, do rancor, do egoísmo, da injustiça, do ressentimento, da mentira... (Cf. O mesmo).
Não vale só buscar na Bíblia frases que nos convêm. Precisamos buscar o cerne da verdade e da sustentação do amor absoluto indicado nela por Deus. Por isso, ligamos alguns pontos com o todo da verdade bíblica. Jesus resume tudo na prática do amor a Deus e ao próximo. Sem isso não entendemos nem absorvemos os porquês de Deus indicadas nas Escrituras Sagradas. Em Jesus temos toda a realização das promessas de Deus apresentadas na experiência de seu povo dentro das narrativas bíblicas. Assim, nossa fé somente é completa quando unimos o culto ao Criador com a prática da caridade e da justiça misericordiosa em relação ao semelhante. Muitos podem não ter a explicitação da fé na manifestação de ritos religiosos, mas podem ter o dom do Espírito Santo na prática da justiça e da caridade. Se tivermos a graça da fé, explicitada na ação de culto, teremos também de ser conseqüentes na vivência do amor ao semelhante, que nos leva a nos sacrificar pelo bem dele.
Antes da subida ao céu Jesus frisa bem a missão dos discípulos, enviando-os para ensinarem a todos a seguirem seu exemplo e a vida de amor e de paz (Cf. João 20,21-22).
                               Dom José Alberto Moura - Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
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         Fonte: cnbb.org.br     Ilustrações - 1: franciscanos.org.br   2:  beneditinasdp.org.br

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