Não perder o gosto de viver
No caminho da
vida não existem só flores e nem só espinhos. Somos um misto de grandes
alegrias e tristezas, fruto do sucesso e do insucesso, de amigos e inimigos, de
luzes e trevas, de ganhos e perdas, que na somatória só fica o que somos
capazes de assumir sem medo e com fé.
O realismo da
vida me leva a viver cada momento com aquilo que é. Recordo uma frase do então
papa João XXIII: “Encontramo-nos na terra emprestados, mas não devemos perder o
gosto de viver”. É difícil compreender que a cada dia da vida o tempo não
se repete e o que tempo que temos é curto e passa rápido. Viver o provisório,
com suas causas e coisas, depende do grau de confiança que deposito e a
prontidão em aceitar acertos e desacertos.
Deus nos olha com muito amor, zelo e cuidado |
Ninguém esta
isento de problemas financeiros, de perda de emprego, de traição amorosa,
depressão, de frustração nas escolhas feitas, sentimentos de que
não valeu a pena o que fez ou deixou de fazer, vontade de que tudo se acabe,
que mundo não seja mundo e sim fim de tudo. Nestas horas parece que deixar de
viver é a única saída, afinal a vida não nos pertence, é o maior presente
de Deus.
Talvez o que
está faltando de fato é um espaço maior para que o Deus da vida seja a direção
de tudo e não as coisas de Deus que tomaram conta da vida. O coração
humano não precisa de coisas, quantas coisas sobrando e quantos mendigando um
pouco de atenção, de amor e de afeto, proporcionando um caminho novo de que
vale apena viver.
Nestes momentos
em que não vemos mais por onde e como caminhar, resta-nos um olhar que vem do
coração, de uma força superior às nossas, um olhar com os olhos de Deus; e isso
só é possível pela fé. Uma fé que faz ver além das aparências, que faz brotar
uma esperança viva capaz de dissipar as trevas, e devolver a luz e contemplar a
beleza de amar e ser amados. As coisas passam, só amor permanece. O gosto de
viver retorna quando somos capazes de ver a vida como presente de Deus e que só
Ele tem o poder de tirá-la. Nada deste mundo pode dominar o direito de viver e
viver com dignidade. O vazio, a falta de sentido, o desgosto da vida
desaparecerá, quando somos capazes de orar e fazer da vida uma oração e não
somente fazer uma oração na vida. O gosto de viver será sempre vivo, quando as
cruzes são pontes a atravessar e as vitórias lições para toda a vida e os joelhos
calejados de tanto orar.
Dom Anuar
Battisti - Arcebispo de Maringá (PR)
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Fonte: cnbb.org.br Ilustração: paroquiasaofranciscoxavier.org.br
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