Crítica à Igreja, sim, mas na fidelidade à Igreja!
Ultimamente, estamos vivendo, na grande mídia e nas redes sociais, uma onda de críticas à Igreja, ao Papa e à CNBB, na maioria das vezes, a partir de notícias falsas.
Hoje, tudo na Igreja é alvo de crítica: o que ela é e o que não é, mas deveria ser; o que ela faz e o que não faz, mas deveria fazer. A Igreja é criticada de fora e de dentro, pelos ‘progressistas’ e pelos ‘conservadores’, pelas suas doutrinas e pelas suas práticas.
Dependendo dos lugares e pessoas, são exigidas da Igreja opções e condutas contrárias. Para uns, a Igreja deveria ser a Igreja da fraternidade e do amor, e é uma instituição fria, autoritária; deveria ser a Igreja da participação e corresponsabilidade, e é uma Igreja dogmática; deveria ser a Igreja do diálogo e da compreensão, e é uma Igreja doutrinária e clerical; deveria ser uma Igreja servidora e pobre, e é uma Igreja poderosa e rica. Para outros, a Igreja deveria ser o lugar das certezas e da segurança, das posições firmes e imutáveis, e é uma Igreja mundana, que muda conforme os ventos da moda.
A crítica, no sentido amplo de discussões e conflitos, sempre existiu na Igreja. Os cristãos da Igreja antiga e medieval percebiam as limitações, incoerências e infidelidades da Igreja. E as criticavam, às vezes, mais duramente do que os cristãos mais críticos de hoje. Porém as críticas não afetavam sua lealdade eclesial, não se escandalizavam como nós hoje, nem eram tentados a viver a fé cristã independentemente da Igreja histórica concreta, fora dela ou contra ela. A crítica aos papas, aos bispos e ao clero foi exercida por grandes teólogos e santos, mas sempre com muito respeito à instituição e à função.
Na verdade, tanto o católico de tendência “tradicionalista” quanto o católico de tendência “progressista” são idealistas, por sonharem com uma Igreja totalmente pura. No fundo, as duas posições concebem a Igreja como uma grandeza externa aos cristãos que a formam. Negam, na prática, que a Igreja que existe concretamente, a comunidade da qual são membros os cristãos reais, inclusive eles mesmos, é e será sempre a Igreja de pecadores, que deve ser incessantemente perdoada e purificada pelo amor de Deus.
Uns criticam a Igreja a partir de um amor sincero, mas ferido ou desiludido; outros a agridem por desprezo ou menosprezo, por ignorância ou má fé. Diante das críticas, é necessário encontrar as motivações profundas dessas reações, tais como: a irritação, a agressividade, o desânimo e o ceticismo.
As limitações, falhas e incoerências da Igreja, no passado e no presente, são inegáveis. Com razão, foram e devem continuar sendo criticadas. Porém, ainda que sejam verdadeiras e pertinentes, as críticas não põem em questão a essência nem a existência da Igreja. Apenas mostram a necessidade da existência da Igreja como sacramento do perdão e da reconciliação.
Alguns criticam a dimensão institucional da Igreja como sendo um mal necessário, por limitar a liberdade das pessoas. Sem dúvida, as instituições delimitam o espaço da liberdade do indivíduo, mas não a escravizam nem a diminuem, antes, elas criam as condições para que a liberdade possa ser exercida e desenvolvida. E uma prova da necessidade das instituições é que, quando elas são destruídas, é destruída também a vida social: as formas de convivência, de comunicação, de entendimento e de participação entre os homens. O próprio Jesus não foi (como alguns julgam) apenas um profeta itinerante. Ele instituiu os Apóstolos, prometeu edificar sua Igreja sobre a fé professada por Pedro, instituiu a Eucaristia e, após a ressurreição, enviou os Apóstolos por todo o mundo, dando-lhes determinados poderes e instruções.
A fidelidade à Igreja não nasce da obrigação, pura e simples, mas da adesão livre e amorosa do fiel. Dessa liberdade fundante é que se pode deduzir a necessária fidelidade.
Nesse sentido, a fidelidade à Igreja é necessária, porque a Igreja somos nós e, por conseguinte, somos responsáveis de alguma maneira, por ação ou por omissão, pelas falhas e infidelidades que criticamos. Diante dessa responsabilidade, alguns se distanciam ou se separam da Igreja real, julgando-se justos e puros. Não percebem que as críticas que saem de um coração não convertido, não convertem ninguém. Outros identificam a Igreja criticada com a hierarquia. Contudo, considerar o clero responsável por tudo o que há de errado na Igreja, é identificar toda a Igreja com a hierarquia e cair no tão combatido clericalismo.
Exercer o direito e o dever da crítica à Igreja na fidelidade à Igreja, nas situações concretas, é uma tarefa necessária, mas difícil e delicada. A ausência de crítica leva facilmente à autossuficiência, ao autoritarismo e ao triunfalismo por parte da hierarquia e das pessoas ou grupos que se comportam como se fossem donos da Igreja e da verdade. O excesso de crítica corre o risco de romper os vínculos de comunhão na Igreja, de ferir a fraternidade e de conduzir, finalmente, ao desânimo e ao derrotismo.
Uma coisa é certa: para que a crítica seja responsável e construtiva, deve ser crítica em relação a quem a faz; deve ser uma crítica competente no assunto criticado; e deve ser praticada com respeito às pessoas criticadas.
Para que a crítica à Igreja produza frutos de conversão e de renovação na Igreja, são necessários certos pressupostos e modos de proceder: a crítica deve nascer do amor e da esperança; deve acolher o amor de Cristo e amar a Cristo; deve crer que o Espírito não abandona sua Igreja. E os modos de proceder são os seguintes: olhar de frente toda a realidade, sem subestimar nem supervalorizar a crise atual; superar o falso confronto entre ‘conservadores’ e ‘progressistas’; e exercer uma crítica responsável por meio da participação e do diálogo.
Meu irmão, minha irmã, tenha espírito crítico em relação a tudo, inclusive em relação à Igreja, mas sempre na fidelidade a Jesus e à própria Igreja! É preferível errar com a Igreja a tentar acertar sozinho e contra ela, porque foi à Igreja que Jesus enviou o Espírito Santo; não a você em particular. Você se deixará conduzir pelo Espírito Santo somente se estiver na fidelidade à Igreja de Cristo, ao Papa e ao seu Bispo.
Dom Antônio Carlos Félix - Bispo de Governador Valadares
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Fonte: cnbbleste2.org.br
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