sábado, 7 de dezembro de 2024

Bela reflexão:

A alegria é possível

José Antonio Pagola

A primeira palavra da parte de Deus a seus filhos, quando o Salvador se aproxima do mundo, é um convite à alegria. É o que Maria ouve: “Alegra-te”.

Jürgen Moltmann, o grande teólogo da esperança, expressou isto da seguinte maneira: “A palavra última e primeira da grande libertação que vem de Deus não é ódio, mas alegria; não é condenação, mas absolvição. Cristo nasce da alegria de Deus, e morre e ressuscita para trazer sua alegria a este mundo contraditório e absurdo”.

No entanto, a alegria não é fácil. Não se pode forçar ninguém a ficar alegre; não se pode impor a alegria a partir de fora. A verdadeira alegria deve nascer no mais profundo de nós mesmos. Do contrário, será riso exterior, gargalhada vazia, euforia passageira, mas a alegria ficará fora, à porta do nosso coração.

A alegria é um presente belo, mas também vulnerável. Um dom de que devemos cuidar com humildade e generosidade no fundo da alma. O romancista alemão Hermann Hesse diz que os rostos atormentados, nervosos e tristes de tantos homens e mulheres se devem ao fato de que “a felicidade só pode senti-la a alma, e não a razão, nem o ventre, nem a cabeça, nem o bolso".

Mas existe algo mais. Como se pode ser feliz quando há tantos sofrimentos sobre a terra? Como se pode rir quando ainda não secaram todas as lágrimas e diariamente brotam outras novas? Como ter prazer quando dois terços da humanidade se encontram mergulhados na fome, na miséria ou na guerra?

A alegria de Maria é o prazer de uma mulher crente que se alegra em Deus salvador, aquele que levanta os humilhados e dispersa os soberbos, aquele que enche de bens os famintos e despede os ricos de mãos vazias. A alegria verdadeira só é possível no coração daquele que deseja e busca justiça, liberdade e fraternidade para todos. Maria se alegra em Deus porque ele vem consumar a esperança dos abandonados.

Só se pode ser alegre em comunhão com os que sofrem e em solidariedade com os que choram. Só tem direito à alegria quem luta por torná-la possível entre os humilhados. Só pode ser feliz quem se esforça por tornar felizes os outros. Só pode celebrar o Natal quem busca sinceramente o nascimento de um homem novo entre nós.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                                        Fonte: franciscanos.org.br       Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos

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