sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Sábia reflexão de dom Itacir Brassiani:

E então, o que restou do Natal? 

O Natal já é passado, embora as festas continuem. Desta vez não se prolongarão até o carnaval, mas ainda temos o Ano Novo e, para muitos, as desejadas e merecidas férias. O clima não é de avaliações e balanços, mas eu pergunto: e então, o que resta do Natal recém-celebrado? A resposta depende daquilo que cada um celebrou no dia 25… 

Dom Itacir Brassiani

Para quem viveu o Natal como uma festa comercial e gastronômica, para quem fez reverência ao Papai Noel, passados os dias de consumo e comemoração, o que resta é mais contas a pagar, menos dinheiro no bolso, uns quilos a mais no corpo, uma árvore artificial num canto da sala e muito material descartado. 

Para outros, entre os quais estão aqueles que dispensaram a prudência, junto com o cansaço provocado por trajetos longos e estradas abarrotadas de veículos, a lembrança dos riscos e sustos e, por vezes, resta o sabor amargo de algum acidente sofrido, provocado ou testemunhado. E para os poucos que apostaram no velhinho-propaganda, o que resta é uma boa soma de dinheiro no banco. 

Talvez você diga que estou exagerando nas tintas, que as coisas não são bem assim. Eu respondo reconhecendo que carregar as tintas é um modo de chamar a atenção para algo deveras importante. Na verdade, quero destacar a necessidade de viver o Natal como um tempo de graça, tempo no qual se manifesta a bondade de Deus e ressoa o chamado a viver com moderação, justiça e piedade (cf. Tt 2,11-12). 

Para quem viveu o Natal como preparação e encontro com o Menino Deus envolto em faixas e deitado na manjedoura, os saldos não são bancários e os frutos não são amargos, nem fugazes. Faço parte dessa porção da humanidade, pois estou inscrito entre os cristãos, aqueles que querem viver o Natal como a inacreditável humanização da Divindade, como entrada da Eternidade no tempo. 

Para estes, as celebrações do Natal, que prosseguem até a festa da manifestação de Deus aos peregrinos estrangeiros, deixaram a certeza de que Deus continua apostando na humanidade, não obstante seus inúmeros limites e fracassos, tanto que continua fazendo-se carne e armando sua tenda entre nós. Ele é Deus conosco, por nós e em nós. 

Para nós, o essencial do Natal continua, mesmo depois que os chocolates acabaram, as visitas se foram e a apelativa decoração das ruas e vitrines desapareceu. O Deus que se faz Menino e se reveste de pobres panos continua nos visitando, como pessoa que pede nosso auxílio ou como humano voluntário que estende sua mão em nosso favor.  

Como diz o Vaticano II, a luz do Verbo encarnado ilumina o mistério do ser humano. Ele assume a condição humana e a torna ainda mais digna e preciosa. Pela sua encarnação, o Filho de Deus uniu-se a todos os seres humanos: trabalhou com mãos humanas, pensou e agiu como ser humano, amou com um coração humano; foi realmente um dos nossos em tudo, exceto no pecado.  Revelando o mistério do Pai e de seu amor, Jesus Cristo nos revela o que é o ser humano e a grandeza da nossa vocação.

Dom Itacir Brassiani - Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

_____________________________________________________________________________________
                                                                                                                           Fonte: cnbb.org.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário