O segredo de Éfrata
Éfrata existe
“desde os dias da eternidade”, assim se disse o profeta Miqueias. Ela é
esperança daqueles que vivem na opressão e trôpegos pela falta de
esperança.
Éfrata é o antigo nome de Belém, foi ali, em suas portas, que Raquel foi enterrada; foi ali, na poeira do mundo, que a visão de um profeta adquiriu contornos límpidos e se tornou vida.
Nenhuma cidade,
entretanto, existe desde a eternidade, só Deus é eterno, mas Éfrata
existe.
Não existe como
a cidade que viríamos a conhecer mais tarde, mas existe na ideia de Deus.
O tempo
aproximado no plano de Deus arremessou a eternidade para a história com a
encarnação do filho amado. Foi por isso que Jesus disse: “Eu vim para fazer a
tua vontade” (Hb 10,9).
Oculta desde os
abismos do tempo é a vontade de Deus. Nela já estava estabelecida que Éfrata
seria o lugar da Encarnação, porque não importa os interstícios do tempo, a
vontade de Deus se consumará sempre; e, se consumar no tempo é se fazer, e para
que tomemos ciência do que foi feito o evento se tornou humano no Natal.
Éfrata está por
toda parte! Por todo canto testemunhamos o seu desenrolar na ação daqueles que
amam a Deus, e nele expressa a sua fé. Éfrata é uma ideia maior que nós mesmos.
Nem os mais sábios chegam a dominá-a completamente. Seus mistérios e surpresas
germinam quotidianamente nas desconexões das incontáveis vidas e experiências
vividas no escorrer do tempo sem fim.
Embora Éfrata
não possa ser conquistada, ela pode ser colhida no estender de seus incontáveis
ramos que florescem nas terras abandonadas da existência de quem tem coragem de
procurá-la.
Éfrata é
mistério desvelado daquele que deveria vir e veio. Também Malaquias fala desse
aparecimento dizendo que Ele é “Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos
lavadeiros” (3,2).
Como fogo da
Forja, em Éfrata espera-se aquele que tudo liquefará para modelar de novo a
humanidade e o porvir. A forja que tudo transforma não consumirá o mundo, mas o
fará ainda melhor, quase outra coisa em vista do que tinha sido até então. A
história começou a ser remodelada. E, onde o desespero havia se imposto, a
esperança o subjuga e cresce.
Continua dizendo
Malaquias sobre aquele que veio, que o seu forjar é como a barrela que
purificará. Como a roupa é lavada com a barrela, também o mundo o será com esta
nova presença.
Éfrata,
portanto, não é um lugar, embora em um lugar esteja. Éfrata é o lugar que Deus
escolheu para cumprir o seu projeto de amor por nós. Tendo que se encarnar em
algum lugar, desde a eternidade Éfrata estava em seu pensamento junta com todas
as outras coisas. É a sua ideia que existe desde sempre, pois desde sempre no
pensamento de Deus estávamos todos nós.
Assim, a partir
daquela forja irresistível, projetada numa manjedoura, o mundo contemplou o seu
porvir e sua salvação nos braços de Jesus Cristo, que existe desde os dias da
eternidade!
Dom Lindomar Rocha Mota - Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
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