Sejamos mais
lúcidos e proativos!
A Copa do Mundo
tem envolvido um terço da população do planeta, com um custo altamente
bilionário. O sistema empresarial em torno da bola e dos 265 milhões de
jogadores profissionais e amadores, em todo o mundo, gera lucros gigantescos. O
futebol mundial não foi, no entanto, idealizado dessa forma capitalista pelo
católico humanista francês, Jules Rimet, ao criar a Copa do Mundo, sendo a
primeira, realizada no Uruguai, em 1930.
Quando criança,
ele foi “coroinha” na Igreja de sua aldeia. Em meio a uma grande crise
econômica da Europa, sua família mudou-se para Paris, em busca de dias
melhores. Ele e seus amigos, influenciados pela primeira Encíclica Social da
Igreja Católica, chamada Rerum Novarum (Coisas Novas), do Papa Leão XIII,
publicada em 1891, se tornaram jovens idealistas em favor dos trabalhadores
assolados pela exploração e pela miséria.
Dom Reginaldo Andrietta |
Inspirados por
essa Encíclica, eles fundaram uma associação de assistência social e médica aos
mais pobres. Ele tornou-se advogado, dedicando-se sempre à caridade. Amante do
futebol, tomou a iniciativa de promover esse esporte para unir pessoas,
especialmente os mais pobres. Fundou, então, um clube aberto a qualquer pessoa,
sem discriminação étnica e social, com o objetivo de promover convivência
saudável.
Motivado pela
possibilidade dos esportistas cultivarem um bom relacionamento, em lugar de
“ódio em seus corações e insultos em seus lábios”, como dizia, ele fomentou o
futebol, até então, desprezado por ser considerado esporte de classe baixa. Em
1904, ele participou da fundação da Federação Internacional de Futebol (FIFA).
O plano dessa associação de organizar uma Copa do Mundo foi frustrado pela
primeira guerra mundial, entre 1914 e 1918.
Após a guerra,
tornando-se presidente da FIFA, ele se dedicou ao ideal de tornar o futebol um
meio de congraçamento entre povos. Esse destino, no entanto, não se tornou tão
promissor, pois o futebol incorporou a lógica mercantilista, se tornou objeto
de investimento capitalista e corrupção dos próprios dirigentes de futebol,
inclusive da FIFA, e passou a ser um instrumento alienador, nocivo à vida
sócio-política, pois seu fanatismo passou a anestesiar consciências.
No Brasil, por
exemplo, é difícil encontrar alguém que não saiba o nome do técnico da seleção.
Mas, poucos sabem os nomes dos ministros do trabalho, da educação e da saúde, e
como eles atuam. Enquanto milhões de brasileiros se fanatizam pela seleção, o
Congresso aprova leis que lesam a classe trabalhadora e retiram direitos
sociais, com informações ínfimas dos meios de comunicação, se comparadas às
jogadas futebolísticas mostradas e comentadas com detalhes.
Estamos em
processo eleitoral. São poucos, no entanto, os brasileiros esclarecidos e
ativos nesse processo. Neste ano, coincidentemente, dedicado pela Igreja ao
laicato, qual tem sido a postura dos cristãos leigos e leigas, vocacionados a
atuarem, primordialmente, na vida pública? Estão, realmente, fazendo jus à
missão confiada por Cristo de serem “sal da terra e luz do mundo” (cf. Mt
5,13-16), construindo projetos coletivos com impacto sócio-político positivo?
Se os belos
ideais do criador da Copa do Mundo não foram assegurados por sua própria
ingenuidade sócio-política, o que dizer de quem sequer tem ideais sociais?
Desafiados a mudar a cultura mercantilista, inspiremo-nos no bom combate do
Apóstolo Paulo, travado com fé lúcida (cf. 2Tm 4,7). Que tal, então, sermos
mais esclarecidos e proativos politicamente? Senão, mesmo ganhando Copas do
Mundo não conquistaremos melhores condições de vida.
Jales, 28 de
junho de 2018
Dom Reginaldo
Andrietta, Bispo Diocesano de Jales
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