Caminhar, rezar e trabalhar juntos
Definindo-se um
“peregrino em busca de unidade e de paz", o Papa Francisco participou da
oração ecumênica na sede do Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra.
Cidade do Vaticano - O Papa Francisco
deixou o Vaticano na manhã desta quinta-feira (21/06) para uma peregrinação
ecumênica a Genebra.
Depois de uma
hora e 40 minutos de voo, o Pontífice chegou à cidade suíça por volta das 10h,
onde foi recebido pelo Presidente da Confederação Helvécia, Alain Berset, no
aeroporto internacional da cidade para uma breve cerimônia de boas-vindas e um
encontro privado.
Na sequência, o
Papa se transferiu de carro até o Centro Ecumênico do Conselho Mundial de Igrejas,
pois justamente este é o motivo dessa peregrinação: celebrar os 70 anos desta
instituição, criada depois da II Guerra Mundial.
Mais de 500
milhões de fiéis
O Conselho
Mundial de Igrejas (CMI) é a maior organização mundial do movimento ecuménico,
com o mais alto número de membros: são 345 comunidades cristãs de mais de 110
países, com exceção da Igreja Católica, e compreende reformados, luteranos,
anglicanos metodistas, batistas, ortodoxos e outras Igrejas. Representa mais de
500 milhões de fiéis em todo o mundo, cuja sede é Genebra.
No Centro
Ecumênico do CMI, realizou-se uma oração comum, com a participação de cerca de
230 pessoas – ocasião em que o Pontífice pronunciou o primeiro discurso do dia.
Caminhar segundo
o Espírito
Inspirado na
leitura extraída da Carta aos Gálatas, Francisco propôs uma reflexão sobre a
expressão “Caminhar segundo o Espírito” .
“Caminhar
segundo o Espírito é rejeitar o mundanismo. É escolher a lógica do serviço e
avançar no perdão. É inserir-se na história com o passo de Deus: não com o
passo ribombante da prevaricação, mas com o passo cadenciado por «uma única
palavra: Ama o teu próximo como a ti mesmo» (Gal 5, 14).”
No decurso da
história, afirmou o Papa, as divisões entre cristãos deram-se porque na raiz,
na vida das comunidades, se infiltrou uma mentalidade mundana: primeiro
cultivavam-se os próprios interesses e só depois os de Jesus Cristo. A direção
seguida era a da carne, não a do Espírito.
“Mas o movimento
ecumênico, para o qual tanto contribuiu o Conselho Ecumênico das Igrejas,
surgiu por graça do Espírito Santo”, recordou o Papa.
Ser do Senhor
É preciso
escolher ser de Jesus antes que de Apolo ou de Cefas, antepor o ser de Cristo
ao fato de ser «judeu ou grego», ser do Senhor antes que de direita ou de
esquerda, escolher em nome do Evangelho o irmão antes que a si mesmo.
A resposta aos
passos vacilantes, prosseguiu o Papa, é sempre a mesma: caminhar segundo o
Espírito, purificando o coração do mal, escolhendo com obstinação o caminho do
Evangelho e recusando os atalhos do mundo.
“Depois de
tantos anos de empenho ecumênico, neste septuagésimo aniversário do Conselho,
peçamos ao Espírito que revigore o nosso passo. (…) Que as distâncias não sejam
desculpas! É possível, já agora, caminhar segundo o Espírito. Rezar,
evangelizar, servir juntos: isto é possível. Caminhar juntos, rezar juntos,
trabalhar juntos: eis a nossa estrada-mestra.”
Unidade
Esta estrada tem
uma meta concreta: a unidade. A estrada oposta, a da divisão, leva a guerras e
destruições. “O Senhor pede-nos unidade; o mundo, dilacerado por demasiadas
divisões que afetam sobretudo os mais fracos, invoca unidade.”
Francisco
conclui seu discurso definindo-se um “peregrino em busca de unidade e de paz”.
“Agradeço a Deus porque aqui encontrei irmãos e irmãs já a caminho. Que a Cruz
nos sirva de orientação, porque lá, em Jesus, foram abatidos os muros de
separação e foi vencida toda a inimizade: lá compreendemos que, apesar de todas
as nossas fraquezas, nada poderá jamais separar-nos do seu amor.
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Papa em Genebra:
Cristãos precisam de novo ímpeto evangelizador
“Estou
convencido de que, se aumentar o impulso missionário, crescerá também a unidade
entre nós”, disse o Papa no encontro ecumênico na sede do Conselho Mundial de
Igrejas em Genebra.
Cidade do Vaticano - O segundo
compromisso do Papa Francisco em Genebra foi o encontro ecumênico na sede do
Conselho Mundial de Igrejas (CMI), com a presença do Comitê Central do CMI,
delegados ecumênicos, autoridades civis e o séquito papal.
Após os
discursos do Secretário-geral do CMI, Rev. Olav Fykse Tveit, e da Moderadora
Dra. Agnes Abuom, o Pontífice tomou a palavra num discurso centralizado na
vocação missionária de todo cristão.
Simbologia
bíblica do número 70
Inicialmente,
Francisco agradeceu o convite para participar das celebrações dos 70 anos do
CMI e falou da simbologia bíblica em torno deste número: setenta anos evoca a
duração completa de uma vida, sinal de bênção divina. Mas setenta é também um
número que traz à mente duas passagens famosas do Evangelho. Na primeira, o
Senhor mandou perdoar não até sete vezes, mas «até setenta vezes sete» (Mt 18,
22).
O número não
pretende indicar um limite quantitativo, explicou o Papa, mas abrir um
horizonte qualitativo: não mede a justiça, mas alonga a medida para uma
caridade desmesurada, capaz de perdoar sem limites. “É esta caridade que nos
permite, depois de séculos de contrastes, estar juntos como irmãos e irmãs
reconciliados e agradecidos a Deus nosso Pai.”
Novo ímpeto
evangelizador
Setenta lembra
também os discípulos que Jesus, durante o ministério público, enviou em missão.
O número destes discípulos alude ao número das nações conhecidas, elencadas nos
primeiros capítulos da Sagrada Escritura.
“Que sugestão
nos deixa isto? Que a missão tem em vista todos os povos, e cada discípulo,
para ser tal, deve tornar-se apóstolo, missionário.”
O Papa
declarou-se preocupado com a dissociação entre ecumenismo e missão. “O mandato
missionário, que é mais do que a diakonia e a promoção do desenvolvimento
humano, não pode ser esquecido nem anulado. Em causa está a nossa identidade. O
anúncio do Evangelho até aos últimos confins da terra é conatural ao nosso ser
de cristãos.”
Para Francisco,
necessita-se de um novo ímpeto evangelizador. “Estou convencido que, se
aumentar o impulso missionário, crescerá também a unidade entre nós.”
Caminhar - Rezar
- Trabalhar juntos
O Pontífice
comentou o lema dos 70 anos do CMI: Caminhar - Rezar - Trabalhar juntos.
Caminhar num
movimento duplo: de entrada e de saída. De entrada, a fim de nos dirigir
constantemente para o centro, que é Jesus. De saída, rumo às múltiplas
periferias existenciais de hoje.
Rezar, pois a
oração é o oxigênio do ecumenismo. Sem oração, a comunhão asfixia e não avança,
porque impedimos que o vento do Espírito a empurre para diante.
Trabalhar
juntos, pois a credibilidade do Evangelho é testada pela maneira como os
cristãos respondem ao clamor de quantos são vítimas do trágico aumento de uma
exclusão que, gerando pobreza, fomenta os conflitos. “Se um serviço é possível,
por que não projetá-lo e realizá-lo conjuntamente, começando a experimentar uma
fraternidade mais intensa no exercício da caridade concreta?”, questionou o
Papa.
Ecumenismo de
sangue
Francisco
mencionou também os cristãos perseguidos. “Estejamos ao seu lado. E
lembremo-nos de que o nosso caminho ecumênico é precedido e acompanhado por um
ecumenismo já realizado, o ecumenismo do sangue, que nos exorta a avançar.”
O Pontífice
concluiu seu discurso com as seguintes palavras: “Ajudemo-nos a caminhar, rezar
e trabalhar juntos, para que, com a ajuda de Deus, progrida a unidade e o mundo
acredite”.
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Discurso do Papa
no Encontro Ecumênico - texto integral
"O fato de
nos encontrarmos aqui deve-se também a quantos nos precederam no caminho,
escolhendo a estrada do perdão e consumindo-se para responder à vontade do
Senhor: que «todos sejam um só» (Jo 17, 21)", disse o Santo Padre no
início de seu discurso.
Cidade do
Vaticano - O segundo
compromisso público do Papa Francisco em Genebra, foi o Encontro Ecumênico
no Visser't Hooft Hall. Eis o seu discurso na íntegra:
"Amados
irmãos e irmãs!
Estou feliz por
vos encontrar e grato pela vossa calorosa receção. Agradeço de modo particular
ao Secretário-Geral, Reverendo Dr. Olav Fykse Tveit, e à Moderadora, Dra. Agnes
Abuom, pelas suas palavras e por me terem convidado por ocasião do septuagésimo
aniversário da criação do Conselho Mundial das Igrejas.
Biblicamente, o
cômputo de setenta anos evoca a duração completa duma vida, sinal de bênção
divina. Mas, setenta é também um número que traz à mente duas passagens famosas
do Evangelho. Na primeira, o Senhor mandou perdoar-nos, não até sete vezes, mas
«até setenta vezes sete» (Mt 18, 22). O número não pretende por certo
indicar um limite quantitativo, mas abrir um horizonte qualitativo: não mede a
justiça, mas alonga a medida para uma caridade desmesurada, capaz de perdoar
sem limites. É esta caridade que nos permite, depois de séculos de contrastes,
estar juntos como irmãos e irmãs reconciliados e agradecidos a Deus nosso Pai.
O fato de nos
encontrarmos aqui deve-se também a quantos nos precederam no caminho,
escolhendo a estrada do perdão e consumindo-se para responder à vontade do
Senhor: que «todos sejam um só» (Jo 17, 21). Impelidos pelo desejo ardente
de Jesus, não se deixaram manietar pelos nós complicados das controvérsias, mas
encontraram a audácia de olhar mais além e acreditar na unidade, superando as
barreiras das suspeitas e do medo.
É verdade aquilo
que afirmava um antigo pai na fé: «Se verdadeiramente o amor conseguir eliminar
o medo e este se transformar em amor, então descobrir-se-á que o que salva é
precisamente a unidade» (São Gregório de Nissa, Homilia 15 sobre o Cântico
dos Cânticos). Somos os beneficiários da fé, da caridade e da esperança de
muitos que tiveram, com a força desarmada do Evangelho, a coragem de inverter o
sentido da história; aquela história que nos levara a desconfiar uns dos outros
e a alhear-nos mutuamente, seguindo a espiral diabólica de incessantes
fragmentações.
Graças ao
Espírito Santo, inspirador e guia do ecumenismo, o sentido mudou e ficou
indelevelmente traçado um caminho novo e, ao mesmo tempo, antigo: o caminho da
comunhão reconciliada, rumo à manifestação visível daquela fraternidade que já
une os crentes.
Mas, o número
setenta proporciona-nos um segundo motivo evangélico: lembra aqueles discípulos
que Jesus, durante o ministério público, enviou em missão (cf. Lc 10,
1) e são objeto de celebração no Oriente cristão. O número destes discípulos
alude ao número das nações conhecidas, elencadas nos primeiros capítulos da
Sagrada Escritura (cf. Gn 10). Que sugestão nos deixa isto? Que a
missão tem em vista todos os povos, e cada discípulo, para ser tal, deve
tornar-se apóstolo, missionário.
O Conselho
Ecuménico das Igrejas nasceu como instrumento do movimento ecuménico que foi
suscitado por um forte apelo à missão: como podem os cristãos evangelizar, se
estão divididos entre si? Esta premente interpelação orienta ainda o nosso
caminho e traduz o pedido do Senhor para permanecermos unidos a fim de que «o
mundo creia» (Jo 17, 21).
Permiti-me,
amados irmãos e irmãs, que, além de viva gratidão pelo empenho que dedicais à
unidade, vos manifeste também uma preocupação. Esta deriva da impressão de que
o ecumenismo e a missão já não aparecem tão intimamente interligados como no
princípio. E todavia o mandato missionário, que é mais do que a diakonia e
a promoção do desenvolvimento humano, não pode ser esquecido nem anulado. Em
causa está a nossa identidade.
O anúncio do
Evangelho até aos últimos confins da terra é conatural ao nosso ser de
cristãos. Com certeza, a maneira de exercer a missão varia segundo os tempos e
lugares e, perante a tentação – infelizmente habitual – de se impor seguindo
lógicas mundanas, é preciso lembrar-se de que a Igreja de Cristo cresce por
atração.
Mas, em que
consiste esta força de atração? Não está por certo nas nossas ideias,
estratégias ou programas: não se crê em Jesus Cristo através duma recolha de
consensos, nem o Povo de Deus se pode reduzir ao nível duma organização
não-governamental. Não! A força de atração está toda naquele dom sublime que
conquistou o apóstolo Paulo: «Conhecer a [Cristo], na força da sua ressurreição
e na comunhão com os seus sofrimentos» (Flp 3, 10). Este é o nosso único
motivo de glória: «o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de
Cristo» (2 Cor 4, 6) e que nos foi dado pelo Espírito vivificador.
Este é o tesouro
que nós, frágeis vasos de barro (cf. 2 Cor 4, 7), devemos oferecer a
este nosso amado e atribulado mundo. Não seríamos fiéis à missão que nos foi
confiada, se reduzíssemos este tesouro ao valor dum humanismo puramente
imanente, ao sabor das modas do momento. E seríamos maus guardiões, se
quiséssemos apenas preservá-lo, enterrando-o com medo de sermos provocados
pelos desafios do mundo (cf. Mt 25, 25).
Aquilo de que
temos verdadeiramente necessidade é dum novo ímpeto evangelizador. Somos
chamados a ser um povo que vive e partilha a alegria do Evangelho, que louva ao
Senhor e serve os irmãos, com o espírito que deseja ardentemente descerrar
horizontes de bondade e beleza inauditos a quem ainda não teve a graça de
conhecer verdadeiramente a Jesus. Estou convencido que, se aumentar o impulso
missionário, crescerá também a unidade entre nós.
Como nos
primórdios o anúncio marcou a primavera da Igreja, assim a evangelização
marcará o florescimento duma nova primavera ecuménica. Como nos primórdios,
estreitemo-nos em comunhão ao redor do Mestre, envergonhando-nos das nossas
contínuas hesitações e dizendo-Lhe com Pedro: «A quem iremos nós, Senhor? Tu
tens palavras de vida eterna» (Jo 6, 68).
Amados irmãos e
irmãs, desejei participar pessoalmente nas comemorações deste aniversário do
Conselho inclusive para reafirmar o empenhamento da Igreja Católica na causa
ecuménica e encorajar a cooperação com as Igrejas-membros e com os parceiros
ecuménicos. A propósito, quero deter-me um pouco, também eu, no lema escolhido
para este dia: Caminhar - Rezar - Trabalhar juntos.
Caminhar sim,
mas para onde? Na base do que ficou dito, sugeriria um movimento duplo: de
entrada e de saída. De entrada, a fim de nos dirigirmos constantemente
para o centro, reconhecendo-nos ramos enxertados na única videira que é Jesus
(cf. Jo 15, 1-8). Não daremos fruto sem nos ajudarmos mutuamente a
permanecer unidos a Ele. De saída, rumo às múltiplas periferias
existenciais de hoje, para levarmos juntos a graça sanadora do Evangelho à
humanidade atribulada.
Poderíamos
interrogar-nos se estamos a caminhar de verdade ou apenas em palavras, se
apresentamos os irmãos ao Senhor e os temos verdadeiramente a peito, ou se
estão longe dos nossos reais interesses. Poderíamos interrogar-nos também se o
nosso caminho é um mero cirandar sobre os nossos passos, ou uma convicta saída
pelo mundo levando-lhe o Senhor.
Rezar: como no
caminho, também na oração não podemos avançar sozinhos, porque a graça de Deus,
mais do que retalhar-se à medida do indivíduo, difunde-se harmoniosamente entre
os crentes que se amam. Quando dizemos «Pai nosso», ressoa dentro de nós a
nossa filiação, mas também o nosso ser de irmãos. A oração é o oxigênio do
ecumenismo. Sem oração, a comunhão asfixia e não avança, porque impedimos que o
vento do Espírito a empurre para diante. Interroguêmo-nos: Quanto rezamos uns
pelos outros? O Senhor rezou para sermos um só; imitamo-Lo nisto?
Trabalhar juntos:
a propósito, quero reiterar que a Igreja Católica reconhece a importância
particular do trabalho realizado pela Comissão Fé e Constituição e deseja
continuar a contribuir para ele através da participação de teólogos altamente
qualificados. A pesquisa de Fé e Constituição em ordem a uma visão comum da
Igreja e o seu trabalho no discernimento das questões morais e éticas tocam pontos
nevrálgicos do desafio ecumênico.
De igual modo a
presença ativa na Comissão para a Missão e a Evangelização, a colaboração com o
Departamento para o Diálogo Inter-religioso e a Cooperação – ainda recentemente
sobre o tema importante da educação para a paz –, a preparação conjunta dos
textos para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos e várias outras formas
de sinergia são elementos constitutivos duma sólida e corroborada colaboração.
Além disso,
aprecio o papel imprescindível do Instituto Ecuménico de Bossey na formação
ecuménica das jovens gerações de responsáveis pastorais e académicos de muitas
Igrejas e Confissões Cristãs de todo o mundo. Há muitos anos que a Igreja
Católica colabora nesta obra educativa com a presença dum professor católico na
Faculdade; e cada ano tenho a alegria de saudar o grupo de alunos que realiza a
sua visita de estudo a Roma. Quero também mencionar, como bom sinal de
«harmonia ecuménica», a crescente adesão ao Dia de Oração pela Salvaguarda da
Criação.
Além disso, o
trabalho tipicamente eclesial tem um sinónimo bem definido: diakonia. É o
caminho por onde podemos seguir o Mestre, que «não veio para ser servido, mas
para servir» (Mc 10, 45). O serviço variado e intenso das Igrejas-membros
do Conselho encontra uma expressão emblemática na Peregrinação de Justiça
e de Paz.
A credibilidade
do Evangelho é testada pela maneira como os cristãos respondem ao clamor de
quantos injustamente, nos diferentes cantos da terra, são vítimas do trágico
aumento duma exclusão que, gerando pobreza, fomenta os conflitos. Os fracos são
cada vez mais marginalizados, vendo-se sem pão, sem trabalho nem futuro,
enquanto os ricos são sempre menos e sempre mais ricos.
Sintamo-nos
interpelados pelo pranto dos que sofrem e compadeçamo-nos, porque «o programa
do cristão (…) é um coração que vê» (Bento XVI, Carta enc. Deus
caritas est, 31). Vejamos o que é possível fazer concretamente, em vez de nos
desencorajar pelo que não o é. Olhemos também para muitos dos nossos irmãos e
irmãs que em várias partes do mundo, especialmente no Médio Oriente, sofrem
porque são cristãos. Estejamos ao seu lado. E lembremo-nos de que o nosso
caminho ecuménico é precedido e acompanhado por um ecumenismo já realizado, o
ecumenismo do sangue, que nos exorta a avançar.
Encorajemo-nos a
superar a tentação de absolutizar certos paradigmas culturais e de nos deixar
absorver por interesses de parte. Ajudemos as pessoas de boa vontade a dar
maior espaço a situações e vicissitudes que afetam grande parte da humanidade,
mas ocupam um lugar demasiado marginal na grande informação.
Não podemos
desinteressar-nos, e devemos inquietar-nos quando alguns cristãos se mostram
indiferentes face a quem passa necessidade. E mais triste ainda é a convicção
de quantos consideram os seus benefícios como puros sinais de predileção
divina, e não como apelo a servir responsavelmente a família humana e
salvaguardar a criação. É sobre o amor ao próximo, a cada pessoa que nos está
próxima, que nos interpelará o Senhor (cf. Mt 25, 31-46), o Bom
Samaritano da humanidade (cf. Lc 10, 29-37).
Perguntemo-nos
então: que podemos fazer juntos? Se um serviço é possível, por que não
projetá-lo e realizá-lo conjuntamente, começando a experimentar uma
fraternidade mais intensa no exercício da caridade concreta?
Amados irmãos e
irmãs, reitero-vos a minha cordial gratidão. Ajudemo-nos a caminhar, rezar e
trabalhar juntos, para que, com a ajuda de Deus, progrida a unidade e o mundo
acredite. Obrigado."
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Papa Francisco
no Instituto Ecumênico de Bossey
Cidade do
Vaticano - Após a Oração
Ecumênica no Centro Ecumênico em Genebra, o Papa Francisco dirigiu-se ao
Instituto Ecumênico de Bossey, distante 18 km, onde almoçou com 9 membros do
CMI, o cardeal Kurt Koch e um intérprete.
Às 13h30, a
troca de presentes no jardim. O CMI ofereceu a Francisco duas pequenas garrafas
com um pouco de água para simbolizar que o acesso à água é um direito humano,
um bem comum que não deveria ser privatizado.
Este presente também se refere aos esforços que devem ser feitos para reduzir o
consumo de água engarrafada, devido aos seus efeitos nocivos sobre o meio
ambiente.
Esse posicionamento do CMI estava contido em uma carta que acompanhava as
garrafas entregues ao Pontífice.
O outro presente consistiu em uma cruz de madeira esculpida por um jovem
queniano com deficiência auditiva e que traz três símbolos da deficiência:
física, cegueira e surdez.
O Papa Francisco, por sua vez, presenteou o CMI com uma pequena escultura
em madeira da crucificação e uma placa comemorativa da "peregrinação
ecumênica" realizada pelo Santo Padre com esta viagem.
Francisco também
visitou a Capela Ecumênica, onde estavam presentes cerca de 30 estudantes do
Instituto. Na entrada, o Papa recebeu flores, que colocou aos pés do altar.
O Instituto de
Bossey é um centro internacional de encontro, diálogo e formação do Conselho
Mundial de Igrejas (CMI), com sede no Castelo de Bossey, do século XVIII, e
localizado entre as cidades de Versoix e Nyon.
Desde a Idade
Média esta pequena região é conhecida localmente como “terra santa”, devido a
sua história cristã.
A cada ano o
Instituto recebe estudantes e pesquisadores de todo o mundo, pertencentes a
diversas igrejas, culturas e origens, no comum interesse pelo ecumenismo, pelos
estudos acadêmicos e trocas culturais.
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Papa
Francisco:
Trabalhar para que não haja indiferença perante o irmão
Em sua
homilia, o Pontífice destacou as palavras: “Pai, pão e perdão.” “Três palavras
que encontramos no Evangelho de hoje; três palavras, que nos levam ao coração
da fé.”
Cidade do
Vaticano - O Papa Francisco celebrou a missa no Palexpo de Genebra, na Suíça,
na tarde desta quinta-feira (21/06), no âmbito da peregrinação ecumênica pelos
70 anos do Conselho Mundial de Igrejas.
Em sua
homilia, o Pontífice destacou as palavras: “Pai, pão e perdão.” “Três
palavras que encontramos no Evangelho de hoje; três palavras, que nos levam ao
coração da fé.”
Palavra ‘Pai’
é a chave de acesso ao coração de Deus
“Pai: começa
assim a oração. Pode-se continuar com palavras diferentes, mas não é possível
esquecer a primeira, porque a palavra ‘Pai’ é a chave de acesso ao coração de
Deus.
“Com efeito,
só dizendo Pai é que rezamos em língua cristã, é que rezamos
‘cristão’: não um Deus genérico, mas Deus que é, antes de tudo, Papai.
De fato,
Jesus pediu-nos para dizer ‘Pai-nosso que estais nos céus’; não ‘Deus dos céus,
que sois Pai’. Primeiramente, antes de ser infinito e eterno, Deus é Pai.”
“D’Ele provém
toda a paternidade e maternidade. N’Ele está a origem de todo o bem e da nossa
própria vida.
“Então
‘Pai-nosso’ é a fórmula da vida, aquela que revela a nossa identidade: somos
filhos amados.”
É a fórmula
que resolve o teorema da solidão e o problema da orfandade. É a equação que
indica o que se deve fazer: amar a Deus, nosso Pai, e aos outros, nossos
irmãos.”
“É a oração
do nós, da Igreja; uma oração sem o eu nem o meu, mas toda
voltada para o vós de Deus (o vosso nome, o vosso reino,
a vossa vontade) e que se conjuga apenas na primeira pessoa do
plural. ‘Pai-nosso’: duas palavras que nos oferecem o sinal da vida
espiritual”, frisou o Papa.
“Sempre que
fazemos o sinal da cruz no princípio do dia e antes de cada atividade
importante, sempre que dizemos ‘Pai-nosso’, apropriamo-nos novamente das raízes
que nos servem de fundamento.
Precisamos
fazer isso em nossas sociedades frequentemente desarraigadas. O ‘Pai-nosso’
revigora as nossas raízes. Quando está o Pai, ninguém fica excluído; o medo e a
incerteza não levam a melhor. Prevalece a memória do bem, porque, no coração do
Pai, não somos personagens virtuais, mas filhos amados. Ele não nos une em
grupos de partilha, mas nos gera juntos como família.
Não nos
cansemos de dizer ‘Pai-nosso’: irá nos lembrar que não existe filho algum sem
Pai e, por conseguinte, nenhum de nós está sozinho neste mundo; mas irá nos
lembrar também que não há Pai sem filhos: nenhum de nós é filho único, cada um
deve cuidar dos irmãos na única família humana.”
Segundo
Francisco, “ao dizer Pai-nosso, afirmamos que cada ser humano é parte
nossa e, diante de inúmeros malefícios que ofendem o rosto do Pai, nós, seus
filhos, somos chamados a reagir como irmãos, como bons guardiões da nossa
família e a trabalhar para que não haja indiferença perante o irmão, cada
irmão: tanto do bebê que ainda não nasceu como do idoso que já não fala,
tanto de um nosso conhecido a quem não conseguimos perdoar como do pobre
descartado. Isto é o que o Pai nos pede, nos manda: amar-nos com coração de
filhos, que são irmãos entre si.”
O pão deve
ser acessível a todos
Sobre a
segunda palavra, pão, o Pontífice sublinhou que “Jesus diz para pedir a cada
dia, ao Pai, o pão. Não é preciso pedir mais: só o pão, isto é, o essencial
para viver. O pão é, primeiramente, o alimento suficiente para hoje, para a
saúde, para o trabalho de hoje; aquele alimento que, infelizmente, falta a
muitos de nossos irmãos e irmãs. Por isso digo: ai daqueles que especulam sobre
o pão! O alimento básico para a vida cotidiana dos povos deve ser
acessível a todos."
Para Francisco,
“pedir o pão de cada dia é dizer também: «Pai, ajuda-me a ter uma vida mais
simples. A vida tornou-se tão complicada; apetece-me dizer que hoje, para
muitos, a vida de certo modo está ‘drogada’: corre-se de manhã à noite,
por entre mil telefonemas e mensagens, incapazes de parar, fixando os rostos,
mergulhados numa complexidade que fragiliza e numa velocidade que fomenta a
ansiedade”.
“Impõe-se uma
opção de vida sóbria, livre de pesos supérfluos. Uma opção contracorrente, como
outrora fez São Luís Gonzaga que hoje recordamos.
A opção de
renunciar a muitas coisas que enchem a vida, mas esvaziam o coração. Optemos
pela simplicidade do pão, para voltar a encontrar a coragem do silêncio e
da oração, fermento duma vida verdadeiramente humana.
“Optemos pelas
pessoas em vez das coisas, para que construam relações, não virtuais, mas
pessoais.”
Voltemos a
amar a genuína fragrância daquilo que nos rodeia. Em casa, quando eu era
criança, se o pão caísse da mesa, nos ensinavam a apanhá-lo imediatamente e a
beijá-lo. Apreciar o que temos de simples a cada dia e guardá-lo: não usar e
jogar fora, mas apreciar e guardar.
Não
esqueçamos também que ‘o Pão de cada dia’ é Jesus. Sem Ele, nada podemos fazer.
Ele é o alimento básico para viver bem. Às vezes, porém, reduzimos Jesus a um
tempero ; mas, se não for o nosso alimento vital, o centro dos nossos dias, o
respiro da vida cotidiana, tudo é vão. Ao suplicar o pão, pedimos ao Pai e
dizemos para nós mesmos todos os dias: simplicidade de vida, cuidar daquilo que
nos rodeia, Jesus em tudo e antes de tudo.”
O perdão é a
cláusula vinculante do Pai-nosso
Sobre o
perdão, o Papa ressaltou que “é difícil perdoar”, pois “dentro trazemos sempre
um pouco de queixa, de ressentimento e, quando somos provocados por quem já
tínhamos perdoado, o rancor volta e com juros.
Mas, como
dom, o Senhor pretende o nosso perdão. Impressiona o fato de o único comentário
original ao Pai-nosso, o de Jesus, se concentrar numa única frase:
‘Porque, se perdoardes aos outros as suas ofensas, também o vosso Pai celeste
vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas,
também o vosso Pai vos não perdoará as vossas’.
O perdão é a
cláusula vinculante do Pai-nosso. Deus nos liberta o coração de todo o
pecado, perdoa tudo, tudo; mas pede uma coisa: que, por nossa vez, não nos
cansemos de perdoar.De cada um pretende uma anistia geral das culpas alheias.
“Seria
preciso fazer uma boa radiografia do coração, para ver se, dentro de nós, há
bloqueios, obstáculos ao perdão, pedras a remover.”
E então dizer
ao Pai: ‘Vede este penedo! Confio-o a vós e peço-vos por esta pessoa, por esta
situação; embora sinta dificuldade em perdoar, peço-vos a força de o fazer’.”
Segundo o
Papa, “o perdão renova, faz milagres. Pedro experimentou o perdão de Jesus
e tornou-se pastor do seu rebanho; Saulo tornou-se Paulo depois do perdão que
recebeu de Estêvão; cada um de nós renasce como nova criatura quando, perdoado
pelo Pai, ama os irmãos.
O
perdão muda o mal em bem
Só então
introduzimos uma novidade verdadeira no mundo, porque não há novidade maior do
que o perdão, que muda o mal em bem. Vemos isso na história cristã.
Como nos fez
e continuará fazendo bem o fato de nos perdoarmos uns aos outros, de voltar a
descobrir-nos irmãos depois de séculos de controvérsias e lacerações!
O Pai é
feliz, quando nos amamos e perdoamos verdadeiramente de coração; e então nos dá
o seu Espírito. Peçamos esta graça: de não nos fecharmos com ânimo endurecido,
sempre a reivindicar dos outros, mas de dar o primeiro passo, na oração, no
encontro fraterno, na caridade concreta. Assim seremos mais parecidos com o
Pai, que ama sem esperar recompensa. Ele derramará sobre nós o Espírito de
unidade.
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Papa Francisco
retorna a Roma
O avião papal
aterrissou a Roma trazendo Francisco de retorno da peregrinação ecumênica a
Genebra, por ocasião dos 70 anos da fundação do Conselho Mundial de Igrejas.
Antes de se dirigir ao Vaticano, uma visita à Basílica de Santa Maria Maior.
Cidade do Vaticano - O avião da
Alitalia transportando o Papa Francisco deixou o aeroporto de Genebra às 19h55,
na conclusão de um longo dia dedicado ao ecumenismo, aterrissando a Roma às
21h10, hora local. No Aeroporto Internacional de Genebra teve lugar a cerimônia
de despedida, com a presença do presidente da Confederação Suíça, Alain Berset,
da Conselheira Federal, Doris Leuthard, e do embaixador junto à Santa Sé, Fux
Pierre-Yves.
Deixando a
Suíça, o Papa enviou ao Presidente da Confederação um telegrama de saudação no
qual ele expressou "profunda gratidão" pela
"hospitalidade", assegurando suas orações e invocando sobre toda a
nação a benção de Deus.
Antes de
retornar ao Vaticano, o Papa Francisco - como é costume na conclusão de uma sua
viagem apostólica - foi à Basílica de Santa Maria Maior para agradecer à Virgem
pelo êxito de sua peregrinação. Um gesto que havia feito ontem, na véspera da
viagem.
Ecumenismo
caminho segundo o Espírito
Esta foi a 23ª
viagem apostólica de Francisco. Entre os momento salientes da visita, o
encontro ecumênico e a Santa Missa celebrada no Palexpo de Genebra. Durante o
voo que o levou a Genebra, em conversa com os jornalistas, definira a viagem
uma peregrinação ecumênica: "uma viagem em direção à unidade, com desejos
de unidade".
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Papa com os
jornalistas:
Remover do dicionário a palavra 'proselitismo'
Coletiva de
imprensa do Papa Francisco durante o voo que o trouxe de Genebra a Roma. Sobre
o dia não esconde que foi para ele "pesado" no sentido de cansaço.
Cidade do
Vaticano - "Devemos
remover do dicionário a palavra 'proselitismo'", se existe um, não pode
existir outro. Francisco encerra a coletiva de imprensa no voo de retorno de
Genebra a Roma, revelando a "bonita palavra" sobre a qual os líderes
do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) concordaram na conversa durante o almoço
com o chefe da Igreja Católica. Além disso, o proselitismo é, por assim dizer,
o lado sombrio do que para o Papa representa a luz na relação entre as
confissões cristãs, ou seja o diálogo.
Sobre o dia que
não esconde foi para ele "pesado" no sentido de cansaço, Francisco
abriu a coletiva de imprensa com sessenta jornalistas no voo insistindo
repetidamente sobre o valor do “encontro”. Com todos, admite, teve um
"encontro humano" para além dos formalismos. Do Presidente da
Confederação Helvética aos líderes das igrejas cristãs, com os quais, disse, se
falou, não sem preocupação sobre os "jovens". Este, refere, foi
"o assunto que tomou mais tempo" e, acrescenta palavras sobre o
pré-sínodo de março - com os milhares de jovens de todas as religiões e também
os não crentes – que “despertou um interesse especial" .
Em seguida
Francisco passa o microfone aos jornalistas que desejam conversar sobre a
atualidade. Questões já debatidas, sobre as quais o Papa volta a oferecer novos
esclarecimentos. Como no caso dos bispos alemães e o confronto sobre a admissão
à Eucaristia em casamentos onde há um cônjuge católico e um protestante. O Papa
resume os passos dados repetindo que, tendo avaliado as várias posições, um
aprofundamento da questão pareceu a melhor solução, como escreveu o prefeito da
Doutrina da Fé, o cardeal Ladaria, em uma carta, afirma Francisco, escrito
"com minha permissão". O Papa elogia o documento com o qual os bispos
da Alemanha iniciaram o confronto. Em síntese, observa, é preciso avaliar
corretamente a responsabilidade de gerir as situações de casamentos
interconfessionais - hoje prerrogativa de cada bispo – em relação a uma
amplidão mais "universal" que teria uma decisão tomada em nível de
Conferência Episcopal. Em suma, diz, respondendo ao jornalista, não se tratou
de uma "freada", mas de escolher o melhor caminho.
Não falta a habitual questão sobre a imigração, com eventos que oferecem uma crônica quente em ambos os lados do Atlântico. Para mim, reafirma o Papa, para quem foge "da fome e da guerra", se deve adotar critérios condensados em quatro verbos: "acolher, acompanhar, organizar, integrar". Francisco se diz horrorizado com as notícias que chegam daquelas que ele chama de "as prisões dos traficantes" - crueldade indescritível que fazem vítimas especialmente
entre mulheres e crianças, algo que não ocorreu nem mesmo durante a Segunda
Guerra Mundial. Mas insiste que os governos devem "entrar em acordo"
principalmente na administração da "emergência" a curto prazo e então
planejar políticas a médio prazo para resolver o fenômeno migratório em sua
raiz. A ideia do Papa é bem conhecida: criar educação e trabalho nos países
mais em dificuldade, sejam africanos ou latino-americanos, para acabar com o
problema do "tráfico de migrantes". "O problema das guerras é
difícil de ser resolvido" como também "o da perseguição aos
cristãos" e, no entanto, diz Francisco, "o problema da fome pode ser
resolvido", desde que a comunidade internacional aja de modo concreto.
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Fonte: vaticannews.va
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