a rotina de Francisco
Cidade do Vaticano (RV) - Uma entrevista sobre o significado de “ser Papa”: ao jornal argentino “La Voz del Pueblo”, Francisco falou de sua relação com as pessoas, do seu amor pelos pobres, de como transcorre os seus dias, de suas esperanças e preocupações.
O Pontífice
recebeu na Casa Santa Marta o jornalista Juan Berretta, que lhe perguntou
porque sempre repete a frase “rezem por mim”. “Porque eu preciso. Preciso que a
oração do povo me ajude. É uma necessidade interior.”
Jorge Mario
Bergoglio reiterou que jamais pensou em ser eleito para a Cátedra de Pedro e,
brincando, lembrou que no último Conclave seu nome estava em 46º lugar nas
apostas dos bookmakers ingleses. Ao mesmo tempo, destacou, “a vida de um
religioso, de um jesuíta, muda de acordo com a necessidade”.
Comer uma pizza
O Papa então
confessou as coisas de que mais sente falta em relação aos anos transcorridos
na Argentina: “Sair pela rua, caminhar. Ou ir a uma pizzaria comer uma pizza”.
“Mas é possível pedi-la e comer no Vaticano”, observou o jornalista. “Sim, mas
não é a mesma coisa. O belo é estar ali. Sempre gostei de caminhar. A cidade me
encanta”. Outro dia, revelou que entrou no carro e esqueceu de fechar o vidro.
“Eu estava ao lado do motorista e as pessoas não deixavam o carro passar,
porque perceberam que o Papa estava ali. “É verdade, tenho fama de
indisciplinado, não sigo muito o protocolo, é frio, mas quando há algo oficial,
cumpro-o totalmente.”
Estar com as
pessoas me faz bem
À pergunta sobre
sua relação com o povo, Francisco declarou que é como se as pessoas
compreendessem o que ele tem a dizer. “Estar com as pessoas me faz bem e eu,
psicologicamente, não posso viver sem elas.”
Durmo tranquilo,
levanto-me às 4h
O jornalista de
“La Voz del Pueblo” perguntou ao Papa se consegue dormir não obstante as
tensões ligadas a seu ministério. “Tenho um sono tão profundo – respondeu – que
deito e durmo. “Durmo seis horas, normalmente às 21h vou para o quarto e leio
quase até às 22h. Quando começa a lacrimejar um olho, apago a luz e durmo até
às 4h, quando acordo sozinho, é o meu relógio biológico”. Porém, acrescentou,
“preciso da sesta”, depois do almoço. Tenho que dormir de 40 minutos a uma
hora, tiro os sapatos e vou para cama”. E sente as consequências no dia em que
não pode fazê-la. O Papa disse que neste período está lendo “São Silvano do
Monte Atos, um grande mestre espiritual”. Francisco disse ainda que lê somente
um jornal italiano, pela manhã, e não vê televisão há 25 anos. "É um voto
que fiz a Nossa Senhora do Carmo em 15 de julho de 1990."
Lágrimas
Como caráter,
Francisco disse que, de maneira geral, “não sente medo”. Sobre o risco de
atentados, afirmou “estar nas mãos de Deus”, mas contou que tem medo da dor
física. Diante de situações de injustiça, às vezes chora interiormente,
sobretudo quando diz respeito a cristãos perseguidos, crianças ou aos
encarcerados, mas não gosta de chorar em público. “Em duas ocasiões tive que me
conter. É preciso ir avante.”
Pressões não
faltam
Quanto às
pressões relacionadas ao seu ministério, afirmou que o mais cansativo é o ritmo
de trabalho neste período. “É a síndrome do final de ano escolar, que acaba em
junho”, ao qual se acrescentam “mil coisas e problemas”. Constatou, “que
existem problemas que te armam com o que diz ou não diz… os meios de
comunicação às vezes pegam uma palavra e depois a descontextualizam”. A
propósito da Argentina, destacou que não acompanha mais a evolução política de
sua nação que, com um pouco de amargura, definiu “um país de tantas
possibilidades e tantas oportunidades perdidas”.
O Papa dos
pobres?
O jornalista
questionou se Francisco está feliz com a definição de “o Papa dos pobres”. E
respondeu: “A pobreza está no centro do Evangelho. Jesus veio para pregar aos
pobres, se tirarem a pobreza do Evangelho não se entende nada”. E identificou os
piores males do mundo de hoje: “a pobreza, a corrupção, o tráfico de pessoas”.
Desarraigar a pobreza pode ser considerada uma utopia, afirmou, mas as utopias
“nos levam avante”. Por fim, à pergunta sobre como gostaria de ser lembrado,
Francisco respondeu com simplicidade: “Como uma pessoa que se empenhou em fazer
o bem, não tenho outra pretensão”. (BF)
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Fonte: radiovaticana.va
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