Papa Francisco:
Paz e reconciliação, dons do Espírito
Cidade do
Vaticano (RV) - O Papa Francisco presidiu a celebração eucarística na manhã
deste domingo (24/05), Solenidade de Pentecostes, na Basílica de São
Pedro.
Segue, na
íntegra, a homilia do pontífice.
«Assim como o
Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós (...) Recebei o Espírito Santo» (Jo
20, 21.22). A efusão do Espírito, que tivera lugar na tarde da Ressurreição,
repete-se no dia de Pentecostes, corroborada por sinais visíveis
extraordinários. Na tarde de Páscoa, Jesus aparece aos Apóstolos e sopra sobre
eles o seu Espírito (cf. Jo 20, 22); na manhã de Pentecostes, a efusão acontece
de forma estrondosa, como um vento que se abate impetuoso sobre a casa e
irrompe na mente e no coração dos Apóstolos. Como resultado, recebem uma força
tal que os impele a anunciar, nas diferentes línguas, o evento da Ressurreição
de Cristo: «Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras
línguas» (Act 2, 4). Juntamente com eles, estava Maria, a Mãe de Jesus,
primeira discípula, Mãe da Igreja nascente. Com a sua paz, com o seu sorriso,
acompanhava a alegria da jovem Esposa, a Igreja de Jesus.
Maria e os apóstolos recebem o Espírito Santo |
No Evangelho,
Jesus promete aos seus discípulos que, quando Ele tiver regressado ao Pai, virá
o Espírito Santo que os «há-de guiar para a verdade completa» (Jo 16, 13).
Chama-Lhe precisamente «Espírito da verdade», explicando que a sua ação será
introduzi-los sempre mais na compreensão daquilo que Ele, o Messias, disse e
fez, nomeadamente da sua morte e ressurreição. Aos Apóstolos, incapazes de
suportar o escândalo da Paixão do seu Mestre, o Espírito dará uma nova chave de
leitura para os introduzir na verdade e beleza do evento da Salvação. Estes
homens, antes temerosos e bloqueados, fechados no Cenáculo para evitar
repercussões da Sexta-feira Santa, já não se envergonharão de ser discípulos de
Cristo, já não tremerão perante os tribunais humanos. Graças ao Espírito Santo,
de que estão repletos, compreendem «a verdade completa», ou seja, que a morte
de Jesus não é a sua derrota, mas a máxima expressão do amor de Deus; um amor
que, na Ressurreição, vence a morte e exalta Jesus como o Vivente, o Senhor, o
Redentor do homem, da história e do mundo. E esta realidade, de que são
testemunhas, torna-se a Boa Notícia que deve ser anunciada a todos.
O dom do
Espírito Santo renova a terra. O Salmo diz: «Se envias o teu Espírito, (...)
renovas a face da terra» (Sal 103/104, 30). A narração dos Actos dos Apóstolos
sobre o nascimento da Igreja encontra uma significativa correspondência neste
Salmo, que é um grande louvor de Deus Criador. O Espírito Santo, que Cristo
enviou do Pai, e o Espírito que tudo vivifica são uma só e mesma pessoa. Por
isso, o respeito pela criação é uma exigência da nossa fé: o «jardim» onde
vivemos é-nos confiado, não para o explorarmos, mas para o cultivarmos e
guardarmos com respeito (cf. Gn 2, 15). Mas isto só é possível, se Adão – o
homem plasmado da terra – se deixar, por sua vez, renovar pelo Espírito Santo,
se deixar re-plasmar pelo Pai segundo o modelo de Cristo, novo Adão. Então sim,
renovados pelo Espírito de Deus, podemos viver a liberdade dos filhos em
harmonia com toda a criação e, em cada criatura, podemos reconhecer um reflexo
da glória do Criador, como se afirma noutro Salmo: «Ó Senhor, nosso Deus, como
é admirável o teu nome em toda a terra!» (8, 2.10).
Na Carta aos
Gálatas, São Paulo quer mostrar qual é o «fruto» que se manifesta na vida
daqueles que caminham segundo o Espírito (cf. 5, 22). Temos, duma parte, a
«carne» com o cortejo dos seus vícios elencados pelo Apóstolo, que são as obras
do homem egoísta, fechado à ação da graça de Deus; mas, doutra, há o homem que,
com a fé, deixa irromper em si mesmo o Espírito de Deus e, nele, florescem os
dons divinos, resumidos em nove radiosas virtudes que Paulo chama o «fruto do
Espírito». Daí o apelo, repetido no início e no fim como um programa de vida:
«caminhai no Espírito» (Gal 5, 16.25).
O mundo tem
necessidade de homens e mulheres que não estejam fechados, mas repletos de
Espírito Santo. Para além de falta de liberdade, o fechamento ao Espírito Santo
é também pecado. Há muitas maneiras de fechar-se ao Espírito Santo: no egoísmo
do próprio benefício, no legalismo rígido – como a atitude dos doutores da lei
que Jesus chama de hipócritas –, na falta de memória daquilo que Jesus ensinou,
no viver a existência cristã não como serviço mas como interesse pessoal, e
assim por diante. O mundo necessita da coragem, da esperança, da fé e da
perseverança dos discípulos de Cristo. O mundo precisa dos frutos do Espírito
Santo: «amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade,
mansidão, autodomínio» (Gal 5, 22). O dom do Espírito Santo foi concedido em
abundância à Igreja e a cada um de nós, para podermos viver com fé genuína e
caridade operosa, para podermos espalhar as sementes da reconciliação e da paz.
Fortalecidos pelo Espírito e seus múltiplos dons, tornamo-nos capazes de lutar,
sem abdicações, contra o pecado e a corrupção e dedicar-nos, com paciente
perseverança, às obras da justiça e da paz. (MJ/Sedoc)
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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