Teologia: ver
tudo com os olhos de Deus
“Se eu não tiver amor, eu nada sou” (cf. 1Cor
13,2-3)
Para ver tudo a
partir de Deus é preciso, em primeiro lugar, professar Deus. Ter fé. A teologia
nasce da fé, do encontro com Deus. O primeiro ato teológico é o ato de crer. A
teologia é ato segundo. Faz-se no coração daquele que se dobra diante do Mistério.
Todo aquele que crê possui a semente da teologia, pois esta brota das terras
fecundadas pela fé.
E o ato de fé se
dá no coração do ser humano, o mesmo coração que busca as razões das coisas e
da esperança, da fé e do amor. Se de um lado a fé suporta buscas, perguntas, de
outro a busca de respostas fundamenta a fé. O que é incompatível com a fé não
são as infinitas perguntas, mas a dúvida ou a descrença. Damo-nos conta, então,
de que não é possível ser teólogo sem a fé. Às vezes se ouve dizer que a teologia
faz perder a fé. Talvez isso ocorra quando a inteligência não conseguiu
integrar o ato de crer com o ato do pensar, ambos dons de Deus para o ser
humano, dons do criador.
Dom João Justino de Medeiros Silva |
O que Deus tem a
ver com a aurora do dia, com o silêncio da noite, com a algazarra das crianças,
com o afago dos apaixonados? O que Deus tem a ver com a luta pela terra, com a
abundância e com a escassez da água, com a fome e com o desperdício, com a
guerra santa, com o terror, com a violência? O que Deus tem a ver com a
história, com os desencontros entre os povos, com as previsões catastróficas,
com a destruição da camada de ozônio? O que Deus tem a ver com a manipulação
genética, com as vacinas, com as próteses, com as radioterapias e as
quimioterapias, com as córneas doadas e com o paciente de hemodiálise que
aguarda o novo rim? O que Deus tem a ver com a vida? O que Ele tem a ver com a
morte?
Para aquele que
crê uma resposta pode ser balbuciada: Deus tem tudo a ver com tudo! E o teólogo
é aquele que aprende que tudo pode ser visto com a luz de Deus, com a luz da
fé. Não se trata de uma técnica que se aprende em alguns anos de estudo. Não se
trata de cumprir os requisitos acadêmicos de um curso de teologia, de julgar-se
sabedor de Deus, conhecedor de todas as doutrinas, defensor de todos os dogmas,
cumpridor de todos os cânones. Lembrem-se todos: “Se eu não tiver amor, eu nada
sou” (cf. 1Cor 13,2-3).
As duas asas, as
asas da razão e da fé, nos fazem alçar voos e perceber que muitas perguntas
permanecerão sem respostas, que a sabedoria advém do esvaziamento, que a
tradição não é impedimento, mas impulso, que a disciplina não é rigidez, mas
ascese daquele que deseja. Perceber que Deus não ficou diferente porque “eu sou
teólogo”. Experimentar que “eu sou teólogo”, exatamente, porque não sou Deus.
Dom João Justino
de Medeiros Silva - Arcebispo Metropolitano de Montes Claros - MG
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Fonte: cnbbleste2.org.br
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