O não ao
uso e posse de armas atômicas entre no Catecismo
No voo
Tóquio-Roma Francisco reitera a forte mensagem de Hiroshima, expressando
dúvidas também sobre as centrais nucleares até que não haja segurança total. A
propósito da investigação financeira, ele diz: "Estou contente porque é a
primeira vez que no Vaticano a panela é destampada a partir de dentro, não de
fora”.
Do voo
Tóquio-Roma - “O uso das armas
nucleares é imoral, por isso deve ser introduzido no Catecismo da Igreja
Católica (CIC), e não somente o uso, mas também a posse, porque um acidente, ou
a loucura de algum governante, a loucura de um pode destruir a humanidade.” No
diálogo durante o voo que de Tóquio o trazia de volta para Roma, o Papa
Francisco respondeu a muitas perguntas dos jornalistas a bordo, reiterando a
forte condenação pronunciada em Hiroshima no sentido de fazer compreender o seu
valor magisterial. Eis a transcrição feita pelo Vatican News.
“Agradeço a
vocês pelo trabalho – disse o Papa no início do encontro –, por uma viagem
intensa com uma mudança de categoria: uma coisa era a Tailândia e outra o
Japão. Não se pode avaliar as coisas com as mesmas categorias, as realidades
devem ser avaliadas com aquilo que provém da categoria em questão. Japão e
Tailândia são duas realidades completamente diferentes. Por isso é necessário o
trabalho dobrado, e obrigado a vocês por isso, também pelos dias muito
intensos, eu me senti próximo de vocês neste trabalho.”
Padre Makoto
Yamamoto, Catholic Shimbum: Nós agradecemos
ao senhor de coração por ter vindo de muito distante ao Japão. Sou sacerdote
diocesano próximo de Nagasaki. O senhor visitou Nagasaki e Hiroshima, como se
sentiu? A sociedade e a Igreja ocidental têm algo a aprender da sociedade e da
Igreja oriental?
Papa Francisco: “Começo pela
última. Um dito me iluminou muito: lux ex Oriente, ex Occidente luxus. A
luz vem do Oriente, o luxo, o consumismo vem do Ocidente. Há essa sabedoria
oriental, que não é sabedoria somente de conhecimento, mas de tempos, de
contemplação. Ajuda muito à nossa sociedade ocidental – sempre demasiadamente
às pressas – aprender a contemplação, a deter-se e olhar as coisas também
poeticamente. Essa é uma opinião pessoal, mas creio que falte ao Ocidente um
pouco de poesia a mais. Há coisas poéticas belíssimas, mas o Oriente vai além.
O Oriente é capaz de ver as coisas com olhos que vão além, não gostaria de usar
a palavra ‘transcendental’ porque alguns religiosos orientais não acenam à
transcendência, mas a uma visão além do limite da imanência, sem porém dizer
transcendência. Por isso uso expressões como poesia, gratuidade, a busca da própria
perfeição no jejum, nas penitências, na leitura da sabedoria dos sábios
orientais. Creio que fará bem a nós ocidentais parar um pouco e dar tempo à
sabedoria.
Nagasaki e
Hiroshima ambas sofreram a bomba atômica, e isso as faz assemelhar-se. Mas há
uma diferença. Nagasaki não teve somente a bomba, mas também os cristãos.
Nagasaki tem raízes cristãs, o cristianismo é antigo, havia perseguição aos
cristãos em todo o Japão, mas em Nagasaki foi muito forte. O secretário da
Nunciatura me presenteou um fac-símile em madeira onde está escrito o “wanted”
daquele tempo: procuram-se cristãos! Se você encontrar um, o denuncie e será
bem compensado, se encontrar um sacerdote, o denuncie e será bem compensado.
Isso impressiona, foram séculos de perseguições, esse é um fenômeno cristão que
de certo modo ‘relativiza’, no sentido bom da palavra, a bomba atômica. Ao
invés, ir a Hiroshima é somente para (recordar, ndr) a bomba atômica,
porque não é uma cidade cristã como Nagasaki. Por isso eu quis ir a ambas, em
ambas houve o desastre atômico. Hiroshima foi uma verdadeira catequese humana
sobre a crueldade, não pude ver o museu de Hiroshima por motivos de tempo,
porque foi um dia difícil (devido ao ritmo intenso, ndr), mas dizem que é
terrível: cartas dos Chefes de estado, dos generais que explicavam como se
podia fazer um desastre maior. Para mim foi uma experiência muito mais
comovente. E ali reiterei que o uso das armas nucleares é imoral, por isso deve
ser introduzido no Catecismo da Igreja Católica, e não somente o uso, mas
também a posse, porque um acidente, ou a loucura de algum governante, a loucura
de um pode destruir a humanidade. Pensemos naquele dito de Einstein: ‘A quarta
guerra mundial será combatida com paus e pedras’.”
Shinichi
Kawarada, The Asahi Shimbum: Como o senhor
justamente indicou, não se faz uma paz duradoura sem um desarmamento. O Japão é
um país que goza da proteção nuclear dos EUA, e é também produtor de energia
nuclear, o que comporta um grande risco como aconteceu em Fukushima. Como o
Japão pode contribuir para a paz mundial? As centrais nucleares deveriam ser
desativadas?
Papa Francisco: “Volto a falar
sobre a posse de indústrias nucleares. Sempre pode acontecer um acidente, o
tríplice desastre (o terremoto, o tsunami e o desastre nuclear da central de
Fukushima em 2011, ndr), vocês o experimentaram. O nuclear é o limite,
devemos abandonar as armas porque elas são destruição. O uso do nuclear está
muito no limite porque ainda não alcançamos uma segurança total. Você poderia
me dizer que também com a energia elétrica se pode provocar um desastre por uma
insegurança, mas seria um pequeno desastre. O desastre de uma central nuclear
será um grande desastre. E a segurança ainda não foi elaborada. É uma opinião
pessoal, eu não usaria a energia nuclear enquanto não houver uma segurança
total sobre sua utilização. Alguns dizem que é um risco para a custódia da
criação e que a energia nuclear deve ser suspensa. Eu me detenho sobre a
segurança. Não há asseguração para garantir a impossibilidade de um acidente.
Sim, um a cada dez anos no mundo. Além disso há a criação, o desastre da
potência nuclear sobre a criação, sobre a pessoa. Houve o acidente na Ucrânia,
(em Chernobyl, 1986, ndr). Devemos pesquisar sobre a segurança, quer para
evitar acidentes, quer para as consequências sobre o ambiente. Sobre o ambiente
creio que fomos além do limite, na agricultura com os pesticidas, na criação de
frangos com os médicos que orientam as mães a não dar às crianças para comer
aqueles frangos de criação porque são criados com os hormônios e fazem mal à
saúde. Muitas doenças raras que hoje existem devido ao mau uso do ambiente. A
custódia do ambiente é uma coisa que ou se faz hoje ou nunca mais. Mas voltando
à energia nuclear: construção, segurança e custódia da criação.”
Elisabeth Zunica
, Kyoto News - Akamada Iwao é
um japonês condenado à morte, à espera da revisão do processo. Estava presente
na missa na Tóquio Dome, mas não teve como falar com o senhor. Estava
programado um breve encontro com o senhor? O tema da pena de morte é muito
discutido no Japão. Pouco antes da reforma do Catecismo sobre este tema foram
executadas treze condenações à morte. Em seus discursos não há uma referência a
essa questão. O senhor falou sobre isso com o premier Shinto Abe?
Papa Francisco: “Sobre aquele
caso de pena de morte, eu fiquei sabendo depois, não sabia daquela pessoa.
Falei com o primeiro-ministro sobre muitos problemas, sobre processos,
condenações eternas que jamais acabam, quer com a morte, quer sem ela. Mas
falei de problemas gerais, que existem também em outros países: os cárceres
superlotados, as pessoas que aguardam com uma prisão preventiva sem presunção
de inocência. Quinze dias atrás fiz um pronunciamento para o Simpósio
Internacional de Direito Penal e falei sobre esse tema. Não se pode utilizar a
pena de morte, não é moral. Isso deve ser unido a uma consciência que se
desenvolve. Por exemplo, alguns países não podem aboli-la por problemas
políticos, mas fazem uma suspensão que é um modo de dar a prisão perpétua sem
declará-la. Mas a condenação deve ser sempre para a reinserção, uma condenação
sem janelas de horizonte não é humana. Também para a prisão perpétua se deve
pensar sobre como o condenado possa se reinserir, dentro ou fora. O senhor me
dirá: mas há condenados por um problema de loucura, doença, incorrigibilidade
genética... Então é preciso buscar o modo a fim de que desempenhem atividades
que lhes façam sentir-se pessoas. Em muitas partes do mundo os cárceres estão
superlotados, são depósitos de carne humana, que ao invés de crescer de modo
salutar muitas vezes se corrompe. Devemos lutar contra a pena de morte lenta.
Existem casos que me dão alegria porque há países que dizem: nós paramos por
aqui. Um governador de um Estado no ano passado, antes de deixar o encargo, fez
a suspensão quase definitiva: são passos de uma consciência humana. Mas alguns
países ainda não conseguiram incorporar-se nessa linha de humanidade.”
Jean-Marie
Guénois, Le Figaro - O senhor disse
que a paz verdadeira pode ser somente desarmada, mas o que acontece com a
legítima defesa, quando um país é atacado por outro? Existe ainda a
possibilidade de uma guerra justa? Ainda está em projeto uma encíclica sobre a
não-violência?
Papa Francisco: “Um projeto, o
próximo Papa o fará... Há projetos que estão na gaveta. Um sobre a paz está lá,
está amadurecendo. Sinto que quando for o momento o farei. Por exemplo, o
problema do bullyng é um problema de violência, falei sobre isso aos jovens
japoneses. É um problema que estamos buscando resolver com muitos programas
educacionais. É um problema de violência. Uma encíclica sobre a não-violência
ainda não a vejo amadurecida, devo rezar muito e devo buscar o caminho. Há
aquele dito romano: Si vis pacem para bellum. Aí não fomos maduros, as
organizações internacionais não conseguem, as Nações Unidas não conseguem,
fazem muitas mediações meritórias, país como a Noruega sempre está disposto a
mediar, me apraz, mas é pouco, é preciso fazer ainda mais. Pense no Conselho de
Segurança da ONU, se há um problema com as armas e todos estão de acordo para
resolver aquele problema para evitar um incidente bélico, todos votam sim, um
com direito de veto vota não e tudo se bloqueia. Não sei julgar se é bom ou
não, é uma opinião que ouvi, mas talvez as Nações Unidas deveriam dar um passo
avante renunciado no Conselho de Segurança ao direito de veto que algumas
nações têm. Ouvi isso como uma possibilidade. No equilíbrio mundial há temas
que neste momento não sou capaz de julgar. Porém, tudo aquilo que se pode fazer
para deter a produção das armas, para favorecer a negociação, com a ajuda dos facilitadores,
isso se deve fazer sempre, e dá resultados. Por exemplo, no caso da
Ucrânia-Rússia, não se fala de armas, houve a negociação para a troca de
prisioneiros, isso é positivo. No Donbass se pensa numa planificação de um
regime governamental diferente, estão discutindo sobre isso. Esse é um passo
positivo. Uma coisa feia é a hipocrisia ‘armamentista’. Países cristãos, países
europeus que falam de paz e vivem das armas, isso é hipocrisia, uma palavra
evangélica, Jesus fala sobre isso no capítulo 23 de Mateus: é preciso acabar
com essa hipocrisia. É preciso a coragem de dizer: ‘Não posso falar de paz,
porque a minha economia lucra muito com as armas’. São todas coisas sobre as
quais se falar como irmãos, em prol da fraternidade humana, sem insultar e sem
macular esse ou aquele país: paremos rapaziada, porque a coisa não é boa. Num
porto chegou de um país uma embarcação que deveria passar as armas a outra
embarcação para ir para o Iêmen, e os trabalhadores do porto disseram ‘não’.
Fizeram bem e a embarcação voltou para seu lugar de partida. É um caso, mas nos
ensina como se deve seguir nessa direção. Hoje a paz é muito frágil, mas não se
deve desencorajar-se. A hipótese da legítima defesa permanece sempre, mesmo na
teologia moral é contemplada, mas como último recurso. Último recurso às armas.
A legítima defesa deve ser feita com a diplomacia, com as mediações. Ultimo
recurso: legítima defesa com as armas. Mas ressalto: último recurso! Nós
seguimos avante num progresso ético que me agrada, ao colocar em questão toda
essas coisas. Isso é bonito porque diz que a humanidade segue adiante com o
bem, não somente com o mal.”
Cristiana
Caricato, TV 2000: As pessoas leem
nos jornais que a Santa Sé comprou imóveis que custaram milhões no centro de
Londres e fica um pouco espantada com esse uso das finanças do Vaticano, em
particular quando está envolvido o Óbolo de São Pedro. O senhor sabia dessas
transações financeiras e, sobretudo, na sua opinião, o uso do Óbolo está
correto? O senhor disse várias vezes que não se deve ganhar dinheiro com
dinheiro, denunciou o uso sem escrúpulo das finanças, mas depois vemos que
essas operações também envolvem a Santa Sé, e isso escandaliza. Como o senhor
vê toda essa história?
Papa Francisco: «Obrigado.
Primeiramente, a boa administração normal: chega a soma do Óbolo de São Pedro.
O que eu faço, coloco na gaveta? Não, isso é má administração! Procuro fazer um
investimento e quando preciso doar, quando há necessidade, em um ano, pega-se
(o dinheiro, ndr) e esse capital não se desvaloriza, se mantém ou cresce um
pouco. Esta é uma boa administração. A administração da gaveta é má. Mas é
preciso buscar uma boa administração, um bom investimento. Está claro? Um
investimento como dizemos, “das viúvas”, como fazem as viúvas: dois ovos aqui,
três ali, cinco acolá. Se um cai, há outro, não se arruína. Sempre seguro e
moral. Se você faz um investimento do Óbolo de São Pedro na fábrica de
armamentos, o Óbolo não será Óbolo ali. Se você faz um investimento e durante
anos não mexe no capital, não é bom. O Óbolo de São Pedro deve ser gasto em um
ano, um ano e meio, até que chegue a outra coleta que se faz mundialmente. Isso
é boa administração: com segurança. Pode-se comprar também uma propriedade,
alugá-la e depois vendê-la, mas com segurança, com todas as seguranças para o
bem das pessoas do Óbolo. Depois, aconteceu o que aconteceu, um escândalo:
fizeram coisas que não pareciam limpas, mas a denúncia não veio de fora. A
reforma da metodologia econômica que começou com Bento XVI foi adiante e foi o
Revisor das contas internas quem disse: aqui há algo ruim, aqui tem coisa que
não funciona. Veio até mim e eu lhe disse: O senhor está seguro? Sim.
Respondeu-me. Mostrou-me e me perguntou: O que devo fazer? Eu disse: Existe a
justiça vaticana. Vai e faça a denúncia ao Promotor de Justiça. E fiquei
contente por isso porque se vê que a administração vaticana agora tem recursos
para esclarecer as coisas ruins que aconteceram dentro, como neste caso, que se
não é o caso do imóvel de Londres, porque isso ainda não está claro, ali havia
casos de corrupção. O Promotor de Justiça estudou a questão, fez consultorias e
viu que havia um desequilíbrio no orçamento. Depois, pediu-me permissão para
fazer as investigações: há um pressuposto de corrupção e me disse que que ele
tinha que fazer investigação nesta, naquela e naquela outra repartição. Eu
assinei a autorização. A investigação foi realizada em cinco escritórios e
hoje, embora exista a suposição de inocência, existem capitais que não são bem
administrados, também com a corrupção. Acredito que em menos de um mês terão
início os interrogatórios das cinco pessoas que foram bloqueadas porque houve
indícios de corrupção. Você poderá me dizer: esses cinco são corruptos? Não, a
suposição de inocência é uma garantia, um direito humano. Mas há corrupção, se
vê. Com as investigações veremos se são culpados ou não. É uma coisa feita. Não
é bonito que isso aconteça no Vaticano. Mas foi esclarecido pelos mecanismos
internos que começam a funcionar e que o Papa Bento tinha começado a fazer. Por
isso, eu agradeço a Deus. Não agradeço a Deus porque há corrupção, mas agradeço
a Ele porque o sistema de controle vaticano funciona bem».
Philip Pullella,
Reuters: Há preocupação
nas últimas semanas com aquilo que está acontecendo nas finanças do Vaticano e,
na opinião de alguns, há uma guerra interna sobre quem deve controlar o
dinheiro. A maior parte dos membros do Conselho de administração da AIF
(Autoridade de Informação Financeira, ndr) se demitiu. Egmont, que é o grupo
dessas autoridades financeiras, suspendeu o Vaticano das comunicações seguras
depois do ataque de 1º de outubro. O diretor da AIF foi suspenso, como o senhor
disse, e ainda não há um revisor-geral. O que o senhor pode fazer ou dizer para
garantir à comunidade financeira internacional e aos fiéis chamados a
contribuir ao Óbolo que o Vaticano não voltará a ser considerado um paria a
ser excluído, do qual não confiar, e que as reformas continuarão e que não se
voltará aos hábitos do passado?
Papa Francisco: «O Vaticano fez
progressos na sua administração: por exemplo, o IOR hoje é aceito por todos os
bancos e pode agir como os bancos italianos, algo que um ano atrás não existia,
houve progressos. Depois, sobre o grupo Egmont: é algo não oficial
internacional, é um grupo de membros da AIF, e o controle internacional não
depende do grupo Egmont, que é um grupo privado, mesmo que tenha o seu peso.
Monyeval fará a inspeção programada para os primeiros meses do ano próximo,
será feita. O diretor da AIF foi suspenso porque havia suspeitas de uma gestão
não eficiente. O presidente da AIF se esforçou com o grupo Egmont para
recuperar a documentação (sequestrada, ndr) e isso a justiça não pode fazê-lo.
Diante disto, consultei um magistrado italiano, importante: que devo fazer? A
justiça diante de uma acusação de corrupção é soberana num país, ninguém pode
interferir lá dentro, ninguém pode dar os papéis ao grupo Egmont. Devem ser
estudados os documentos que fazem emergir aquilo que parece uma má
administração, no sentido de um controle mal feito: parece que a AIF que não
controlou os delitos dos outros. O seu dever era controlar. Eu espero que se
prove que não é assim, agora há a presunção de inocência. Mas, no momento, o
magistrado é soberano e deve estudar como as coisas aconteceram; do contrário,
um país teria uma administração superior que prejudicaria a sua soberania. O
presidente da AIF terminaria no dia 19 (novembro, ndr), eu o chamei alguns dias
antes e ele não se deu conta, disse-me depois. E anunciei que no dia 19
ele deixava. Já encontrei o sucessor, um magistrado de altíssimo nível
jurídico e econômico nacional e internacional, e na minha volta assumirá o
cargo da presidência da AIF. Seria um contrassenso que a autoridade de controle
fosse soberana acima do Estado. É algo não fácil de entender. O que um pouco prejudicou
foi o grupo Egmont, que é um grupo privado: ajuda muito, mas não é a autoridade
de controle de Moneyval. Moneyval estudará os números, estudará os
procedimentos, estudará como agiu o promotor de justiça e como o juiz e os
juízes determinaram a coisa. Eu sei que nesses dias começará o interrogatório
de algumas das cinco pessoas que foram suspensas. Não é fácil, mas não devemos
ser ingênuos, não devemos ser escravos. Alguém me disse, mas eu não acredito:
com o fato de que tocamos o grupo Egmont, as pessoas se assustam e está sendo
feito um pouco de terrorismo (psicológico, ndr). Vamos deixar isso de lado. Nós
vamos avante com a lei, com Moneyval, com o novo presidente da AIF. E o diretor
foi suspenso: espero que seja inocente, eu gostaria, porque é algo belo que uma
pessoa seja inocente e não culpada, eu espero. Mas foi feito um pouco de
barulho com este grupo que não queria que fossem tocados os documentos que
pertenciam ao grupo.
É a primeira vez
no Vaticano que a panela é destampada a partir de dentro, não de fora. De fora
tantas vezes (isso aconteceu, ndr). Isso nos foi dito tantas vezes e nós com
tanta vergonha... Mas o Papa Bento foi sábio, começou um processo que
amadureceu, amadureceu e agora existem as instituições. Que o revisor tenha tido
a coragem de fazer uma denúncia escrita contra cinco pessoas está
funcionando... Realmente, não quero ofender o grupo Egmont, porque promove
tanto bem, ajuda, mas neste caso a soberania do Estado é a justiça, que é mais
soberana que o poder executivo. Não é fácil de entender, mas lhes peço que
entendam».
Roland Juchem,
CIC: Santo Padre, no
voo de Bangcoc a Tóquio, o senhor enviou um telegrama a Carrie Lam de Hong
Kong. O que o senhor acha da situação ali, com as manifestações e as eleições
municipais? E quando podemos acompanhá-lo a Pequim?
Papa Francisco: "Os
telegramas são enviados a todos os Chefes de Estado, é uma coisa automática de
saudação e é também uma forma educada de pedir permissão para sobrevoar o seu
território. Isto não significa condenação ou apoio. É uma coisa mecânica que
todos os aviões fazem quando tecnicamente entram, avisam que estão entrando, e
nós o fazemos com cortesia. Isto não tem nenhum valor no sentido da sua
pergunta, tem apenas valor de cortesia. Sobre a outra coisa que o senhor me
disse: se pensamos nisso, não é só Hong Kong. Pense no Chile, pense na França,
na democrática França: um ano de coletes amarelos. Pense na Nicarágua, pense em
outros países latino-americanos que têm problemas do gênero e também em alguns
países europeus. É uma coisa geral. O que faz a Santa Sé com isto? Apela ao
diálogo, à paz, mas não é só Hong Kong, há várias situações com problemas que
não sou capaz de avaliar neste momento. Eu respeito a paz e peço paz para todos
estes países que têm problemas, incluindo a Espanha. Convém relativizar as
coisas e apelar ao diálogo, à paz, para que se resolvam os problemas. E
finalmente: Eu gostaria de ir a Pequim, eu amo a China".
Valentina
Alazraki, Televisa: Papa Francisco,
a América Latina está em chamas. Vimos depois da Venezuela e do Chile imagens
que não pensávamos ver depois de Pinochet. Vimos a situação na Bolívia, na
Nicarágua ou em outros países: revoltas, violência nas ruas, mortes, feridos,
igrejas até queimadas, violadas. Qual é a sua análise do que está ocorrendo
nestes países? A Igreja e os senhor, pessoalmente, como Papa latino-americano,
estão fazendo alguma coisa?
Papa Francisco: "Alguém me
disse isto: é preciso fazer uma análise. A situação hoje na América Latina se
parece com a de 1974-1980, no Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, Paraguai com
Strössner, e creio também Bolívia... eles tinham a Operação Condor naquele
momento... Uma situação em chamas, mas eu não sei se é um problema que se
parece ou é outro. Realmente neste momento eu não sou capaz de fazer a análise
disso. É verdade que não existem precisamente declarações de paz. O que está
ocorrendo no Chile assusta-me, porque o Chile está saindo de um problema de
abusos que causou tanto sofrimento e agora um problema deste tipo que não
compreendemos bem. Mas está em chamas, como a senhora disse, e temos de
procurar o diálogo e também a análise. Ainda não encontrei uma análise bem
feita da situação na América Latina e também há governos fracos, muito fracos,
que não conseguiram colocar ordem e paz, e é por isso que chegamos a essa
situação".
Valentina
Alazraki, Televisa - Evo Morales
pediu a sua mediação, por exemplo. Coisas concretas...
Papa Francisco: "Sim,
coisas concretas. A Venezuela pediu mediação e a Santa Sé sempre se mostrou
disponível. Há uma boa relação, realmente uma boa relação, estamos lá presentes
para ajudar quando é necessário. A Bolívia fez algo assim e fez um pedido às
Nações Unidas que enviaram delegados, e até também alguém das nações europeias.
Não sei se o Chile fez algum pedido de mediação internacional, o Brasil
certamente não, mas ali também há problemas. É um pouco estranho, mas não quero
dizer uma palavra a mais porque sou incompetente e não estudei bem e
sinceramente não entendo bem.
Aproveito a sua
pergunta para acrescentar que vocês falaram pouco sobre a Tailândia, que é algo
diferente do Japão, uma cultura de transcendência, uma cultura também de beleza
diferente da beleza do Japão: uma cultura, tanta pobreza e tantas riquezas
espirituais. Mas há também um problema que faz mal ao nossos corações que nos
faz pensar na "Grécia e nos outros", a senhora é mestra neste
problema da exploração, estudou-o bem, e o seu livro fez tanto bem. E na
Tailândia, alguns lugares na Tailândia são difíceis por isso. Mas há a
Tailândia do sul, e há também a bela Tailândia do norte, onde eu não pude ir,
que é tribal e tem toda uma outra cultura. Recebi cerca de vinte pessoas
daquela região, primeiros cristãos, primeiros batizados, que vieram a Roma, com
outra cultura, diferente, as culturas tribais. E Bangcoc, como vimos, é uma
cidade forte, muito moderna, mas tem problemas diferentes dos do Japão e tem
riquezas diferentes das do Japão. Sobre o problema da exploração, eu quis
sublinhá-lo para agradecê-la pelo seu livro, assim como gostaria também de
agradecer o livro "verde" de Franca Giansoldati: duas mulheres que
estão no avião e que fizeram um livro; cada uma aborda os problemas de hoje; o
problema ecológico e o problema da destruição da mãe terra, do meio ambiente, e
o problema da exploração humana que a senhora tocou. Podemos ver que as
mulheres trabalham mais do que os homens e são capazes. Obrigado a vocês duas,
por esta contribuição. E não me esqueço da camisa de Rocio (a referência é à
camisa de uma mexicana assassinada, que Valentina Alzraki doou ao Papa durante
uma entrevista em vídeo nos meses passados, ndr). E obrigado pelas perguntas
diretas, isso faz bem. Rezem por mim. Tenham um bom almoço".
(Transcrição não
oficial, texto realizado por Alessandro Guarasci e Andrea Tornielli)
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O Papa Francisco
chega a Roma após viagem à Tailândia e Japão
chega a Roma após viagem à Tailândia e Japão
Conclui-se assim
a 32ª viagem apostólica internacional de Francisco, na qual visitou a Tailândia
e o Japão, iniciada na terça-feira, 19 de novembro. Do aeroporto romano, antes
de voltar para o Vaticano o Papa foi até a Basílica de Santa Maria Maior, onde
rezou diante do ícone mariano da Salus Populi Romani.
Cidade do
Vaticano - O avião Boeing 787-9 da companhia aérea All Nippon Airways, que
trouxe o Papa proveniente de Tóquio, no Japão, de onde partiu às 11h43 locais
desta terça-feira (26/11), aterrissou às 16h13 (12h13 de Brasília) no aeroporto
internacional Fiumicino de Roma, concluindo assim, após mais de 12 horas de
voo, a 32ª viagem apostólica internacional de Francisco.
Iniciada na
terça-feira (19/11), o Santo Padre visitou na primeira etapa a Tailândia, no
sudeste asiático, onde esteve até sábado, dia 23, quando partiu para o Japão,
segunda e última etapa desta viagem.
A etapa
tailandesa teve como lema “Discípulos de Cristo, discípulos missionários”, cuja
visita recordou os 350 anos da instituição da Missão Católica no Sião e os 50
anos das relações diplomáticas entre a Tailândia e a Santa Sé.
A visita ao
Japão teve como lema “Proteger toda a vida”, sendo fortemente marcada pelas
prementes palavras do Pontífice que definiu “imorais uso e a posse das armas
nucleares”.
Oração na Santa
Maria Maior
Como costuma
fazer no retorno de suas Viagens Apostólicas e antes de voltar ao Vaticano, o
Papa foi à Basílica de Santa Maria Maggiore onde rezou diante do ícone mariano
da Salus Populi Romani, como deu a conhecer um tweet da Sala de Imprensa
da Santa Sé. Uma oração silenciosa que o Pontífice faz antes e depois de cada
Viagem, renovando uma tradição muito cara aos jesuítas e aos Pontífices.
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A viagem do Papa
à Tailândia e ao Japão em 1 minuto
Em 1 minuto, as
mais bonitas imagens da Viagem Apostólica do Papa Francisco à Ásia. Momentos
intensos e de alegria do abraço à minoria católica na Tailândia e no Japão.
Uma viagem que
começou em 19 de novembro com a partida de Roma: o Papa Francisco visitou a
Tailândia e o Japão e recebeu um abraço afetuoso nos dois países asiáticos de
minoria católica.
Em Bangcoc,
destaque para o encontro com o Patriarca Supremo dos Budistas no Templo
Real de Wat Ratchabophit, onde foi enaltecido o empenho das religiões na promoção
da paz e da fraternidade. No Japão, mais uma visita direcionada à paz e pela
proteção à vida. Importante os encontros com os sobreviventes da bomba atônica
em Hiroshima e Nagasaki, além daquele com as vítimas dos três desastres de
2011: o terremoto, o tsunami e o acidente nuclear de Fukushima. Forte as
palavras do Papa: "imorais o uso e a posse de armas nucleares".
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Fonte: vaticannews.va
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