celebrar o Dia Mundial dos Pobres
é muito mais do que um dia para dar
esmolas
Instituído pelo
papa Francisco em 2015, no encerramento do Ano Santo da Misericórdia, o Dia
Mundial dos Pobres quer ser um gesto concreto do ser cristão. O Santo
Padre determinou que essa dia fosse celebrado em toda a Igreja sempre no XXXIII
Domingo do Tempo Comum, como a "mais digna preparação para bem viver a
solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, que Se identificou com
os mais pequenos e os pobres e nos há de julgar sobre as obras de misericórdia
(cf. Mt 25, 31-46)”. Este ano, a celebração no próximo final de
semana, 17 de novembro. Para este ano, o papa definiu como tema: "A esperança
dos pobres jamais se frustrará" (Sal 9, 19)
Segundo o
arcebispo metropolitano de Pouso Alegre, dom José Luiz Majella Delgado -
C.Ss.R., este dia não quer ser um dia de combate à pobreza, mas um dia de
retomar a consciência de que o pobre também é pessoa, é filho de Deus.
"É o
terceiro ano que a Igreja celebra esta dia mundial dos pobres. O papa Francisco
propõe este dia para tornar os pobres mais visíveis e criar um ambiente no qual
sejam vistos como pessoas, como irmãos. Sabemos que brota do coração do papa Francisco
uma Igreja pobre e para os pobres. Encontramos esse desejo desde o início de
seu ministério como papa. Ele manifesta esse desejo já na Evangelium
Gaudim, de reencontrar na alegria do Evangelho a verdadeira riqueza que a
Igreja e chamada a testemunhar. Para o papa, essa alegria
está justamente na opção preferencial pelospobres. É preciso
valorizar o pobre como pessoa. Nós, como Igreja, precisamos estar próximos e
solidários com as vitimas da pobreza injusta", disse.
Ainda segundo o
arcebispo, a necessidade quanto Igreja é evangelizar as pessoas, formar
discípulos, para que lutem sempre pela vida e pela dignidade de todos, sempre à
luz da opção preferencial pelos pobres, como dizem as Diretrizes Gerais da
Igreja no Brasil.
"Que este
dia mundial dos pobres nos ajude a estarmos mais próximos dos pobres que
encontramos nas ruas, nas praças. Como é comum passarmos em frente a
alguns estabelecimentos comerciais, em algumas praças, e encontrarmos pessoas
jogadas pelo chao, mal vestidas. Olhamos e fazemos, às vezes, mal julgamento,
damos aquilo que pedem, damos uma moedinha e seguimos adiante. O papa
Francisco nos diz que dar esmola é, antes de tudo, olhar no rosto da pessoa,
conversar com a pessoa. tocar na pessa", explicou.
É preciso
lembrar que em novembro deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), através dos dados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS),
mostrou que o Brasil atingiu nível recorde de pessoas vivendo em situação
de miséria. O país tem mais 13,5 milhões pessoas com renda mensal per
capta inferior a 145 reais, ou 1,9 dólares por dia, critério adotado pelo Banco
Mundial para identificar a condição de pobreza extrema. Esse número é
equivalente a 6,5% dos brasileiros e maior que a população de países como
Bolívia, Bélgica, Cuba, Grécia e Portugal. O total de miseráveis no país
vem crescendo desde que começou a crise econômica, em 2015. Em 2014, 4,5% dos
brasileiros viviam abaixo da linha de extrema pobreza. Em 2018, esse porcentual
subiu ao patamar recorde de 6,5%. Em quatro anos de piora na pobreza extrema,
mais 4,504 milhões de brasileiros passaram a viver na miséria. Antes de 2012, o
recorde de pessoas em situação de extrema pobreza havia sido registrado em
2012, com 5,8% dos brasileiros vivendo nesta situação.
"Vivemos
uma crise econômica, mas os ricos aumentam seus lucros. Como vem
aumentando o número de pessoas que vivem nos lixões da sociedade, pessoas
revirando lixos nas calçadas. A gente olha e continua, nem se importa. Celebrar
o dia mundial dos pbores é acolher o pobre, mas, também, estar junto dele
como uma pessoa. Não temos uma proposta, enquanto arquidiocese, mas deixo para
que cada cristão, cada comunidade paroquial, sinta-se sensibilizada e motivada
para estar junto com o pobre, que muitas vezes está na porta da igreja, na
praça, enquanto celebramos a missa. Que saibamos estar próximos deles. Vamos
dar esperança ao pobre. A esperança é que ele seja visto como pessoa e que seus
direitos sejam reconhecidos", finalizou dom Majella.
MENSAGEM DO
SANTO PADRE FRANCISCO
PARA O III DIA
MUNDIAL DOS POBRES
XXXIII DOMINGO
DO TEMPO COMUM
(17 DE NOVEMBRO
DE 2019)
“A esperança dos
pobres jamais se frustrará”
1. «A esperança
dos pobres jamais se frustrará» (Sal 9, 19). Estas palavras são de
incrível atualidade. Expressam uma verdade profunda, que a fé consegue gravar
sobretudo no coração dos mais pobres: a esperança perdida devido às injustiças,
aos sofrimentos e à precariedade da vida será restabelecida.
O salmista
descreve a condição do pobre e a arrogância de quem o oprime (cf. Sal 10,
1-10). Invoca o juízo de Deus, para que seja restabelecida a justiça e vencida
a iniquidade (cf. Sal 10, 14-15). Parece ecoar nas suas palavras uma
questão que atravessa o decurso dos séculos até aos nossos dias: como é que
Deus pode tolerar esta desigualdade? Como pode permitir que o pobre seja
humilhado, sem intervir em sua ajuda? Por que consente que o opressor tenha
vida feliz, enquanto o seu comportamento haveria de ser condenado precisamente
devido ao sofrimento do pobre?
No período da redação
do Salmo, assistia-se a um grande desenvolvimento econômico, que acabou também
– como acontece frequentemente – por gerar fortes desequilíbrios sociais. A
desigualdade gerou um grupo considerável de indigentes, cuja condição aparecia
ainda mais dramática quando comparada com a riqueza alcançada por poucos
privilegiados. Observando esta situação, o autor sagrado pinta um quadro
realista e muito verdadeiro.
Era o tempo em
que pessoas arrogantes e sem qualquer sentido de Deus espiavam os pobres para
se apoderar até do pouco que tinham, reduzindo-os à escravidão. A realidade,
hoje, não é muito diferente! A numerosos grupos de pessoas, a crise
econômica não lhes impediu um enriquecimento tanto mais anômalo quando
confrontado com o número imenso de pobres que vemos pelas nossas estradas e a
quem falta o necessário, acabando por vezes humilhados e explorados. Acodem à
mente estas palavras do Apocalipse: «Porque dizes: “sou rico, enriqueci e nada
me falta”, e não te dás conta de que és um infeliz, um miserável, um pobre, um
cego, um nu?» (3, 17). Passam os séculos, mas permanece imutável a condição de
ricos e pobres, como se a experiência da história não ensinasse nada. Assim, as
palavras do salmo não dizem respeito ao passado, mas ao nosso presente
submetido ao juízo de Deus.
2. Também hoje
devemos elencar muitas formas de novas escravidões a que estão submetidos
milhões de homens, mulheres, jovens e crianças.
Todos os dias
encontramos famílias obrigadas a deixar a sua terra à procura de
formas de subsistência noutro lugar; órfãos que perderam os pais ou
foram violentamente separados deles para uma exploração brutal; jovens em
busca duma realização profissional, cujo acesso lhes é impedido por míopes
políticas econômicas; vítimas de tantas formas de violência, desde a
prostituição à droga, e humilhadas no seu íntimo. Além disso, como esquecer os
milhões de migrantes vítimas de tantos interesses ocultos, muitas
vezes instrumentalizados para uso político, a quem se nega a solidariedade e a
igualdade? E tantas pessoas sem abrigo e marginalizadas que
vagueiam pelas estradas das nossas cidades?
Quantas vezes
vemos os pobres nas lixeiras a catar o descarte e o supérfluo, a fim
de encontrar algo para se alimentar ou vestir! Tendo-se tornado, eles próprios,
parte duma lixeira humana, são tratados como lixo, sem que isto provoque
qualquer sentido de culpa em quantos são cúmplices deste escândalo. Aos pobres,
frequentemente considerados parasitas da sociedade, não se lhes perdoa sequer a
sua pobreza. A condenação está sempre pronta. Não se podem permitir sequer o
medo ou o desânimo: simplesmente porque pobres, serão tidos por ameaçadores ou
incapazes.
Drama dentro do
drama, não lhes é consentido ver o fim do túnel da miséria. Chegou-se ao ponto
de teorizar e realizar uma arquitetura hostil para desembaraçar-se da
sua presença mesmo nas estradas, os últimos espaços de acolhimento. Vagueiam
duma parte para outra da cidade, esperando obter um emprego, uma casa, um
afeto… Qualquer possibilidade que eventualmente lhes seja oferecida, torna-se
um vislumbre de luz; e mesmo nos lugares onde deveria haver pelo menos justiça,
até lá muitas vezes se abate sobre eles violentamente a prepotência.
Constrangidos durante horas infinitas sob um sol abrasador para recolher a
fruta da época, são recompensados com um ordenado irrisório; não têm segurança
no trabalho, nem condições humanas que lhes permitam sentir-se iguais aos
outros. Para eles, não existe fundo de desemprego, liquidação nem sequer a
possibilidade de adoecer.
Com vivo
realismo, o salmista descreve o comportamento dos ricos que roubam os pobres:
«Arma ciladas para assaltar o pobre e (…) arrasta-o na sua rede» (cf. Sal 10,
9). Para eles, é como se se tratasse duma caçada, na qual os pobres são
perseguidos, presos e feitos escravos. Numa condição assim, fecha-se o coração
de muitos, e leva a melhor o desejo de desaparecer. Em suma, reconhecemos uma
multidão de pobres, muitas vezes tratados com retórica e suportados com
fastídio. Como que se tornam invisíveis, e a sua voz já não tem força nem
consistência na sociedade. Homens e mulheres cada vez mais estranhos entre as
nossas casas e marginalizados entre os nossos bairros.
3. O contexto
descrito pelo salmo tinge-se de tristeza, devido à injustiça, ao sofrimento e à
amargura que fere os pobres. Apesar disso, dá uma bela definição do pobre: é
aquele que «confia no Senhor» (cf. 9, 11), pois tem a certeza de que nunca será
abandonado. Na Escritura, o pobre é o homem da confiança! E o autor sagrado
indica também o motivo desta confiança: ele «conhece o seu Senhor» (cf. 9, 11)
e, na linguagem bíblica, este «conhecer» indica uma relação pessoal de afeto e
de amor.
Encontramo-nos
perante uma descrição verdadeiramente impressionante, que nunca esperaríamos.
Assim faz sobressair a grandeza de Deus, quando Se encontra diante dum pobre. A
sua força criadora supera toda a expetativa humana e concretiza-se na
«recordação» que Ele tem daquela pessoa concreta (cf. 9, 13). É precisamente
esta confiança no Senhor, esta certeza de não ser abandonado, que convida o
pobre à esperança. Sabe que Deus não o pode abandonar; por isso, vive sempre na
presença daquele Deus que Se recorda dele. A sua ajuda estende-se para além da
condição atual de sofrimento, a fim de delinear um caminho de libertação que
transforma o coração, porque o sustenta no mais profundo do seu ser.
4. Constitui um
refrão permanente da Sagrada Escritura a descrição da ação de Deus em favor dos
pobres. É Aquele que «escuta», «intervém», «protege», «defende», «resgata»,
«salva»… Em suma, um pobre não poderá jamais encontrar Deus indiferente ou
silencioso perante a sua oração. É Aquele que faz justiça e não esquece
(cf. Sal 40, 18; 70, 6); mais, constitui um refúgio para o pobre e
não cessa de vir em sua ajuda (cf. Sal 10, 14).
Podem-se
construir muitos muros e obstruir as entradas, iludindo-se assim de sentir-se a
seguro com as suas riquezas em prejuízo dos que ficam do lado de fora. Mas não
será assim para sempre. O «dia do Senhor», descrito pelos profetas (cf. Am 5,
18; Is 2 – 5; Jl 1 – 3), destruirá as barreiras criadas
entre países e substituirá a arrogância de poucos com a solidariedade de
muitos. A condição de marginalização, em que vivem acabrunhadas milhões de
pessoas, não poderá durar por muito tempo. O seu clamor aumenta e abraça a
terra inteira. Como escrevia o Padre Primo Mazzolari: «O pobre é um contínuo
protesto contra as nossas injustiças; o pobre é um paiol. Se lhe ateias o fogo,
o mundo vai pelo ar».
Como não
assinalar que as Bem-aventuranças, com que Jesus inaugurou a pregação do Reino
de Deus, começam por esta expressão: «Felizes vós, os pobres» (Lc 6, 20)?
O sentido deste anúncio paradoxal é precisamente que o Reino de Deus pertence
aos pobres, porque estão na condição de o receber. Encontramos tantos pobres
cada dia! Às vezes parece que o transcorrer do tempo e as conquistas da
civilização, em vez de diminuir o seu número, aumentam-no. Passam os séculos, e
aquela Bem-aventurança evangélica apresenta-se cada vez mais paradoxal: os
pobres são sempre mais pobres, e hoje são-no ainda mais. Mas, colocando no
centro os pobres ao inaugurar o seu Reino, Jesus quer-nos dizer precisamente isto:
Ele inaugurou, mas confiou-nos, a nós seus discípulos, a tarefa de lhe dar
seguimento, com a responsabilidade de dar esperança aos pobres. Sobretudo num
período como o nosso, é preciso reanimar a esperança e restabelecer a
confiança. É um programa que a comunidade cristã não pode subestimar. Disso
depende a credibilidade do nosso anúncio e do testemunho dos cristãos.
6. Ao
aproximar-se dos pobres, a Igreja descobre que é um povo, espalhado entre
muitas nações, que tem a vocação de fazer com que ninguém se sinta estrangeiro
nem excluído, porque a todos envolve num caminho comum de salvação. A condição
dos pobres obriga a não se afastar do Corpo do Senhor que sofre neles. Antes,
pelo contrário, somos chamados a tocar a sua carne para nos comprometermos em
primeira pessoa num serviço que é autêntica evangelização. A promoção, mesmo
social, dos pobres não é um compromisso extrínseco ao anúncio do Evangelho;
pelo contrário, manifesta o realismo da fé cristã e a sua validade histórica. O
amor que dá vida à fé em Jesus não permite que os seus discípulos se fechem num
individualismo asfixiador, oculto nas pregas duma intimidade espiritual, sem
qualquer influxo na vida social (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii
gaudium, 183).
Recentemente,
choramos a perda dum grande apóstolo dos pobres, Jean Vanier, o qual, com a sua
dedicação, abriu novos caminhos à partilha promotora das pessoas
marginalizadas. Jean Vanier recebeu de Deus o dom de dedicar toda a sua vida
aos irmãos com deficiências profundas, que muitas vezes a sociedade tende a
excluir. Foi um «santo da porta ao lado» da nossa; com o seu entusiasmo, soube
reunir à sua volta muitos jovens, homens e mulheres, que, com o seu empenho
diário, deram amor e devolveram o sorriso a tantas pessoas vulneráveis e
frágeis, oferecendo-lhes uma verdadeira «arca» de salvação contra a
marginalização e a solidão. Este seu testemunho mudou a vida de muitas pessoas
e ajudou o mundo a olhar com olhos diferentes para as pessoas mais frágeis e
vulneráveis. O clamor dos pobres foi ouvido e gerou uma esperança inabalável,
criando sinais visíveis e palpáveis dum amor concreto, que podemos constatar
até ao dia de hoje.
7. «A opção
pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora» (ibid.,
195), é uma escolha prioritária que os discípulos de Cristo são chamados a
abraçar para não trair a credibilidade da Igreja e dar uma esperança concreta a
tantos indefesos. É neles que a caridade cristã encontra a sua prova real,
porque quem partilha os seus sofrimentos com o amor de Cristo recebe força e dá
vigor ao anúncio do Evangelho.
O compromisso
dos cristãos, por ocasião deste Dia Mundial e sobretudo na vida
ordinária de cada dia, não consiste apenas em iniciativas de assistência que,
embora louváveis e necessárias, devem tender a aumentar em cada um aquela
atenção plena, que é devida a toda a pessoa que se encontra em dificuldade.
«Esta atenção amiga é o início duma verdadeira preocupação» (ibid.,
199) pelos pobres, buscando o seu verdadeiro bem. Não é fácil ser testemunha da
esperança cristã no contexto cultural do consumismo e do descarte, sempre
propenso a aumentar um bem-estar superficial e efémero. Requer-se uma mudança
de mentalidade para redescobrir o essencial, para encarnar e tornar incisivo o
anúncio do Reino de Deus.
A esperança
comunica-se também através da consolação que se implementa acompanhando os
pobres, não por alguns dias permeados de entusiasmo, mas com um compromisso que
perdura no tempo. Os pobres adquirem verdadeira esperança, não quando nos veem
gratificados por lhes termos concedido um pouco do nosso tempo, mas quando
reconhecem no nosso sacrifício um ato de amor gratuito que não procura
recompensa.
8. A tantos
voluntários, a quem muitas vezes é devido o mérito de ter sido os primeiros a
intuir a importância desta atenção aos pobres, peço para crescerem na sua
dedicação. Queridos irmãos e irmãs, exorto-vos a procurar, em cada pobre que
encontrais, aquilo de que ele tem verdadeiramente necessidade; a não vos deter
na primeira necessidade material, mas a descobrir a bondade que se esconde no
seu coração, tornando-vos atentos à sua cultura e modos de se exprimir, para
poderdes iniciar um verdadeiro diálogo fraterno. Coloquemos de parte as
divisões que provêm de visões ideológicas ou políticas, fixemos o olhar no
essencial que não precisa de muitas palavras, mas dum olhar de amor e duma mão
estendida. Nunca vos esqueçais que «a pior discriminação que sofrem os pobres é
a falta de cuidado espiritual» (ibid.,
200).
Antes de tudo,
os pobres precisam de Deus, do seu amor tornado visível por pessoas santas que
vivem ao lado deles e que, na simplicidade da sua vida, exprimem e fazem
emergir a força do amor cristão. Deus serve-se de tantos caminhos e de
infinitos instrumentos para alcançar o coração das pessoas. É certo que os
pobres também se aproximam de nós porque estamos a distribuir-lhes o alimento,
mas aquilo de que verdadeiramente precisam ultrapassa a sopa quente ou a
sanduíche que oferecemos. Os pobres precisam das nossas mãos para se reerguer,
dos nossos corações para sentir de novo o calor do afeto, da nossa presença
para superar a solidão. Precisam simplesmente de amor…
9. Por vezes,
basta pouco para restabelecer a esperança: basta parar, sorrir, escutar.
Durante um dia, deixemos de parte as estatísticas; os pobres não são números,
que invocamos para nos vangloriar de obras e projetos. Os pobres são pessoas a
quem devemos encontrar: são jovens e idosos sozinhos que se hão de convidar a
entrar em casa para partilhar a refeição; homens, mulheres e crianças que
esperam uma palavra amiga. Os pobres salvam-nos, porque nos permitem encontrar
o rosto de Jesus Cristo.
Aos olhos do
mundo, é irracional pensar que a pobreza e a indigência possam ter uma força
salvífica; e, todavia, é o que ensina o Apóstolo quando diz: «Humanamente
falando, não há entre vós muitos sábios, nem muitos poderosos, nem muitos
nobres. Mas o que há de louco no mundo é que Deus escolheu para confundir os
sábios; e o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é
forte. O que o mundo considera vil e desprezível é que Deus escolheu; escolheu
os que nada são, para reduzir a nada aqueles que são alguma coisa. Assim,
ninguém se pode vangloriar diante de Deus» (1 Cor 1, 26-29). Com os olhos
humanos, não se consegue ver esta força salvífica; mas, com os olhos da fé, é
possível vê-la em ação e experimentá-la pessoalmente. No coração do Povo de
Deus em caminho, palpita esta força salvífica que não exclui ninguém, e a todos
envolve numa verdadeira peregrinação de conversão para reconhecer os pobres e
amá-los.
10. O Senhor não
abandona a quem O procura e a quantos O invocam; «não esquece o clamor dos
pobres» (Sal 9, 13), porque os seus ouvidos estão atentos à sua voz. A
esperança do pobre desafia as várias condições de morte, porque sabe que é
particularmente amado por Deus e, assim, triunfa sobre o sofrimento e a
exclusão. A sua condição de pobreza não lhe tira a dignidade que recebeu do
Criador; vive na certeza de que a mesma ser-lhe-á restabelecida plenamente pelo
próprio Deus. Ele não fica indiferente à sorte dos seus filhos mais frágeis;
pelo contrário, observa as suas fadigas e sofrimentos, para os tomar na sua
mão, e dá-lhes força e coragem (cf. Sal 10, 14). A esperança do pobre
torna-se forte com a certeza de que é acolhido pelo Senhor, n’Ele encontra
verdadeira justiça, fica revigorado no coração para continuar a amar (cf. Sal 10,
17).
Aos discípulos
do Senhor Jesus, a condição que se lhes impõe para serem evangelizadores
coerentes é semear sinais palpáveis de esperança. A todas as comunidades
cristãs e a quantos sentem a exigência de levar esperança e conforto aos
pobres, peço que se empenhem para que este Dia Mundial possa reforçar
em muitos a vontade de colaborar concretamente para que ninguém se sinta
privado da proximidade e da solidariedade. Acompanhem-nos as palavras do
profeta que anuncia um futuro diferente: «Para vós, que respeitais o meu nome,
brilhará o sol de justiça, trazendo a cura nos seus raios» (Ml 3, 20).
Vaticano, na
Memória litúrgica de Santo António de Lisboa, 13 de junho de 2019.
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Fonte: arquidiocese-pa.org.br
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