Francisco pede mais
compaixão pela dor dos sobreviventes do terremoto, tsunami e acidente nuclear
de 2011
Cerca de 800
pessoas aceitaram o convite e participaram do encontro com Francisco na manhã
desta segunda-feira (25), em Tóquio. Os três desastres, que fizeram mais de 18
mil vítimas fatais em março de 2011, ainda trazem consequências na vida da
sociedade, e o Papa exorta compaixão com os sobreviventes através do combate à
cultura da indiferença.
Andressa Collet
- Cidade do Vaticano - O Papa Francisco começou a semana e a sua segunda-feira
(25) no Japão encontrando as vítimas de um dos anos inesquecíveis para a
história de vida de milhares de japoneses: era março de 2011 quando um
terremoto de magnitude 9 ainda provocou um tsunami e causou um acidente nuclear
em Fukushima – esse último, comprovado por especialistas como um desastre
provocado pelo homem, e não apenas uma consequência da força da natureza no
nordeste do país. Ao testemunhar esses três desastres ao Pontífice, Toshiko,
Tokuun e Matsuki, no Centro de Convênios Bellesalle Hanzomon, um dos mais
importantes de Tóquio, que recebeu cerca de 800 pessoas.
Um momento de
silêncio pelas 18 mil vítimas fatais
O Pontífice
iniciou o discurso falando da importância de encontrar e de ouvir os
sobreviventes dos desastres, que tanto sofreram, mas que, com a sua presença,
demonstram “esperança aberta para um futuro melhor”. E daí, a convite de uma
das vítimas, Matsuki, o Papa motivou para um momento de silêncio e oração
“pelas mais de 18 mil pessoas que perderam a vida, pelas suas famílias e pelos
que ainda estão desaparecidos”.
Em seguida veio
o agradecimento às forças locais que trabalharam na reconstrução das áreas
afetadas e auxiliaram as mais de 50 mil pessoas evacuadas por causa das catástrofes
e que, ainda hoje, moram “em alojamentos provisórios, sem poder ainda regressar
às suas casas”. O Pontífice também estendeu gratidão ao mundo todo que se
mobilizou, com “a oração e a assistência material e financeira”, para socorrer
as populações atingidas.
O apelo pelo
suporte aos sobreviventes
O apelo pelo
suporte continua mesmo depois de 8 anos dos três desastres, afirmou o Papa, ao
lembrar que muitos afetados agora estão esquecidos, precisando enfrentar
“terras e florestas contaminadas e os efeitos a longo prazo das radiações”.
Pela solidariedade e apoio de toda a comunidade, Francisco exortou:
“Ninguém se
‘reconstrói’ sozinho, ninguém pode começar de novo sozinho. É essencial
encontrar uma mão amiga, uma mão irmã, capaz de ajudar a erguer não só a
cidade, mas também o olhar e a esperança.”
O combate à
cultura da indiferença
Ao responder um
questionamento do sobrevivente Tokuun, sobre o problema das guerras, dos
refugiados, da alimentação, das desigualdades econômicas e dos desafios
ambientais, Francisco disse que é preciso tomar decisões corajosas sobre o uso
dos recursos naturais, em particular, sobre as fontes de energia, mas sobretudo
trabalhar para combater um dos males que mais nos afeta: a indiferença.
“Urge
mobilizar-se para ajudar a tomar consciência que, se um membro da nossa família
sofre, todos sofremos com ele; porque não se alcança uma interconexão se não se
cultiva a sabedoria da mútua pertença – pertencemo-nos uns aos outros –, a
única capaz de assumir os problemas e as soluções de maneira global.”
Aqui o Papa
Francisco fez referência ao acidente nuclear em Fukushima que continua trazendo
consequências, em especial, no tecido da sociedade para restabelecer os laços
das comunidades locais:
“Daqui brota a
preocupação com o prolongamento do uso da energia nuclear, como justamente
apontaram os meus irmãos bispos do Japão, que pediram a abolição das centrais
nucleares. O nosso tempo sente-se tentado a fazer do progresso tecnológico a
medida do progresso humano.”
Esse “paradigma
tecnocrático” de progresso e desenvolvimento, acrescentou o Papa, afeta a vida
das pessoas e o funcionamento da sociedade. O momento é de reflexão crítica e
de grande responsabilidade com as futuras gerações sobre quem queremos ser,
exortou Francisco: “que espécie de mundo, que tipo de legado queremos deixar a
quem vier depois de nós?” Nesse caminho, “todos podemos colaborar, como
instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura,
experiência, iniciativas e capacidades”.
“Queridos
irmãos, no trabalho contínuo de recuperação e reconstrução depois dos três
desastres, muitas mãos se devem juntar e muitos corações se devem unir como se
fossem um só. Dessa forma, as pessoas que sofreram receberão apoio e saberão
que não foram esquecidas. Saberão que muitas pessoas compartilham, ativa e
eficazmente, o seu sofrimento, e continuarão a estender uma mão fraterna para
ajudar. Mais uma vez, louvemos e demos graças por todos aqueles que procuraram,
com simplicidade, aliviar o peso das vítimas. Que essa compaixão seja o caminho
que permita a todos encontrar esperança, estabilidade e segurança para o
futuro.”
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Assista:
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Assista:
Francisco com o
Imperador do Japão Naruhito
Após o encontro
com as vítimas do triplo desastre no Centro de Convenções Bellesalle Hanzomon,
o Papa foi ao Palácio Imperial em Tóquio para um colóquio com o imperador do
Japão Naruhito.
Marco Guerra -
Cidade do Vaticano - O Papa foi recebido pelo imperador Naruhito na entrada do
Palácio Imperial e juntos seguiram até a Audience Hall, onde foi
tirada a foto oficial do encontro, realizado de forma privada. A conversa entre
Francisco e Naruhito durou meia hora, das 11h às 11h31, horário local. O
Pontífice presenteou o imperador com um quadro em mosaico "Vista do Arco
de Tiro", tirada de uma aquarela do pintor romano Filippo Anivitti
(1876-1955).
O Palácio
Imperial do Japão
O Palácio
Imperial de Tóquio está localizado nas proximidades da Estação Central, na
mesma área onde antigamente ficava o Castelo de Edo, ou seja, a sede do Shogun
da família Tokugawa, que governou o Japão de 1603 a 1867. Daquele castelo é
possível ver hosje o que restou da Torre de Fushimi.
Em 1869, o
imperador Meiji transferiu sua sede de Kyoto para Tóquio e, desde então, o
Palácio se tornou a residência oficial imperial. Destruído durante a Segunda
Guerra Mundial e reconstruído pouco depois no mesmo estilo sóbrio, o prédio é
enriquecido pelos grandes parques que o cercam e nos quais foram plantadas mais
de 300 cerejeiras, conhecidas em todo o mundo por sua floração em tons rosa
durante a primavera.
Em particular, a
leste estão situados os Jardins Higashi Gyoen, que em seu interior abrigam a
Tokagakudo, a grande sala de concertos octogonal recoberta de cerâmica,
construída em 1966 para o 60º aniversário da imperatriz Kojom, falecida em
2000.
Também imponente
nas cercanias o Parque Gaien, onde foi erguida a grande estátua de bronze do
samurai Kusunoki Masashige, que viveu no século XIV.
Imperador
Naruhito
O Imperador do
Japão, sua Majestade Imperial Naruhito, filho mais velho do ex-imperador
Akihito e da ex-imperatriz Michiko, nasceu no Palácio Togu, em Tóquio, em 1960.
Ele se formou no Departamento de História da Universidade Gakushuin em 1982 e
um ano mais tarde, ingressou no Metron College na Universidade Oxfod,
onde estudou por mais três anos.
Após a morte de
seu avô, o imperador Hirohito, em janeiro de 1989, tornou-se herdeiro do trono,
sendooficialmente coroado príncipe durante uma cerimônia realizada em fevereiro
de 1991.
Naruhito e a
nova era do Japão
Em 1° de maio de
2019 Naruhito sobe ao trono do Crisântemo, após a abdicação de seu pai, o
ex-imperador Akihito, após mais de 30 anos de reinado. Desta forma, o Japão
acabou de viver uma passagem definida como histórica por todos os observadores
internacionais.
A abdicação de
Akihito é de fato a primeira nos últimos 200 anos da história da casa real
japonesa, a mais antiga monarquia hereditária do mundo. Segundo a Constituição
japonesa, o imperador é o "símbolo do Estado e da unidade de seu
povo".
Akihito, de 85
anos, deixou o trono para seu filho mais velho para abrir uma nova era de
"Magnífica Harmonia", em japonês a era "Reiwa" e assim
colocar fim à era "Heisei" do "Alcançar a paz".
Durante a última
aparição pública, em 30 de abril de 2019, Akihito disse que rezaria pela
manutenção da paz e pela felicidade no decorrer da nova era.
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Papa aos jovens
japoneses:
“combater a pobreza espiritual é um dever de todos"
“Importante não
é tanto concentrar-me e questionar-me por que vivo, como sobretudo para quem
vivo”. Palavras do Papa Francisco aos jovens japoneses em um discurso que
focaliza a cultura do encontro. O Pontífice encontrou os jovens na Igreja de
Santa Maria em Tóquio nesta segunda-feira 25 de novembro.
Jane Nogara -
Cidade do Vaticano - No seu terceiro compromisso na cidade de Tóquio nesta
segunda-feira (25), o Papa Francisco foi à Catedral de Santa Maria para
encontrar os jovens japoneses.
Em seu discurso
o Papa respondeu às questões apresentadas por três jovens que deram seu
testemunho. Primeiramente saudou a todos recordando que vendo-os percebe uma
grande diversidade cultural e religiosa, sendo eles, jovens que vivem no Japão
e algo da beleza que a sua geração oferece ao futuro. E continua: “A amizade
entre vocês e a sua presença aqui lembram-nos a todos que o futuro não é
‘monocromático’", convidando a “contemplá-lo na variedade e diversidade
das contribuições que cada um pode dar”. E considera: “Como a nossa família
humana precisa aprender a viver em harmonia e paz, sem necessidade de sermos
todos iguais!”
Bullyng: Unam-se
para ajudar os que precisam
Em seguida falou
sobre o tema de uma das perguntas dos jovens presentes: o bullyng escolar. O
Papa afirmou que “o ponto mais cruel do bullyng é que fere o nosso espírito e
autoestima no momento em que mais precisávamos de força para nos aceitar a nós
mesmos e enfrentar novos desafios na vida”. E que algumas vezes as vítimas
chegam a culpar-se por serem ‘alvos fáceis’. E afirma: “Paradoxalmente, os
molestadores é que são frágeis de verdade, pois pensam que podem afirmar a sua
identidade fazendo mal aos outros”. “No fundo – continua - os molestadores
têm medo; são medrosos que se escondem por trás da sua força aparente”. E
encoraja todos a tomar uma atitude: “Devemos nos unir contra esta cultura do
bullying e aprender a dizer: Basta!”
E como fazer
isso? O Papa recomenda:
“Vocês devem se
unir, entre amigos e companheiros, para dizer: Isto não! Isto é mal! Não existe
arma maior para se defender de tais ações do que vocês poderem se levantar,
entre companheiros e amigos, e dizer: Aquilo que vocês está fazendo é uma coisa
grave”
Medo, inimigo do
amor
“O medo,
continua Francisco é sempre inimigo do bem, porque é inimigo do amor e da paz.
As grandes religiões ensinam tolerância, harmonia e misericórdia; não ensinam
medo, divisão e conflito”.
E esclarece:
“Jesus não Se cansava de dizer aos seus seguidores para não terem medo. Porquê?
Porque, se amamos a Deus e aos nossos irmãos e irmãs, este amor expulsa o
temor”
E agradece ao
jovem dizendo “O mundo precisa de ti: nunca te esqueças disto! O Senhor tem
necessidade de ti, para poderes dar coragem a tantos que hoje pedem uma mão
para os ajudar a levantar-se”. Isso supõe aprender a desenvolver uma qualidade
muito importante, mas desvalorizada: a capacidade de disponibilizar tempo para
os outros”, à família, a Deus, rezando e meditando.
E para os que
têm dificuldade recomenda:
“A oração
consiste principalmente em estar lá. Ficar quieto, dar espaço a Deus, deixa-se
olhar por Ele e Ele te encherá da sua paz”
Pobreza
espiritual
Como encontrar
Deus em uma sociedade frenética, competitiva na qual as pessoas são
materialmente ricas, mas são escravas da solidão? É o quesito que o Papa
responde a outro jovem. Primeiramente o Papa recordou as palavras de Madre
Teresa que trabalhava entre os mais pobres dos pobres: “A solidão e a sensação
de não ser amado é a pobreza mais terrível”. E o Papa adverte:
“Combater esta
pobreza espiritual é um dever a que todos somos chamados, e vocês têm um papel
especial nisso, porque requer uma grande alteração nas nossas prioridades e
opções”
E Francisco
recorda: “Importante não é tanto concentrar-me e questionar-me por que vivo,
como sobretudo para quem vivo”
“As coisas são
importantes, mas as pessoas são indispensáveis; sem elas, desumanizamo-nos,
perdemos o rosto, o nome e tornamo-nos mais um objeto”.
Respirar
espiritualmente e mediante atos de amor
Francisco
explica aos jovens que “para nos manter vivos fisicamente, temos que
respirar” e “para nos manter vivos no sentido mais amplo e pleno da palavra,
devemos também aprender a respirar espiritualmente, através da oração e da
meditação”. Porém, adverte o Papa “necessitamos também de um movimento
exterior, pelo qual nos aproximamos dos outros mediante atos de amor e
serviço”.
Mantendo “este duplo
movimento podemos crescer e descobrir não só que Deus nos amou, mas também
que confiou a cada um de nós uma missão, uma vocação única, que descobrimos na
medida em que nos damos aos outros, às pessoas concretas”.
Aqui o Papa
abordou o tema de como crescer para descobrir a nossa identidade, bondade e
beleza interior. E explica:
“Para ser
felizes, devemos pedir ajuda aos outros (…) sair de nós mesmos e ir ter com os
outros, especialmente os mais necessitados”
O Papa pede aos
jovens que ajudem os que buscam refúgio no país, que eles devem considerá-los
irmãos e irmãs.
Por fim o Papa
convida “Não deturpem nem interrompam seus sonhos, lhes deem espaço e ousem
contemplar grandes horizontes, ver o que espera vocês se tiverem a coragem de
construí-lo juntos. O Japão precisa de vocês, o mundo precisa de vocês, despertos
e generosos, alegres e entusiastas, capazes de construir uma casa para todos”.
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Assista:
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Assista:
Scholas
Occurrentes com o Papa na Nunciatura em Tóquio
O Papa Francisco
agradeceu aos jovens pela criatividade e pelo compromisso assumido nas Scholas
Occurrentes.
Cidade do
Vaticano - Na manhã desta
segunda-feira, 25, às 9h30, horário local, o Papa Francisco encontrou na sede
da Nunciatura em Tóquio um grupo de jovens japoneses envolvidos nas iniciativas
das Scholas Occurrentes no Japão, acompanhados por um representante
da Fundação.
Os jovens
falaram ao Papa de seu compromisso com o estudo, vivido como uma missão, para
que o mundo seja mais justo e sem guerra, e do encontro, por meio das Scholas,
com pessoas de diversas culturas.
Para o encontro,
os jovens prepararam uma grande pintura sobre tela que apresentaram ao Santo
Padre.
Após uma breve
saudação de José Maria del Corral, presidente das Scholas Occurrentes,
Francisco dirigiu algumas palavras aos presentes, agradecendo-lhes pelo
testemunho e criatividade. E explicou: "Sabedoria não é ter ideias, mas
expressar-se com três linguagens: a da mente, as ideias; a do coração, isto é,
o que eu sinto; e a das mãos, aquilo que eu faço. Na pintura vocês usaram
as três linguagens – observou – e quando as três linguagens são usadas
harmoniosamente, alguém é realmente criativo".
O Santo Padre
então agradeceu aos jovens por sua coragem, porque "é muito mais cômodo
fechar-se nas próprias ideias, enquanto sair, sentir e fazer é um risco: vocês
se arriscam e é muito bonito!".
Por fim,
abençoou uma pequena oliveira e uma placa que será colocada na nova sede das Scholas
em Sendai. O encontro durou 20 minutos.
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Papa na Missa em
Tóquio:
O oposto de um "eu" isolado só pode ser um "nós"
partilhado
No penúltimo dia
da sua visitam ao Japão, o Papa Francisco celebrou nesta segunda-feira a Santa
Missa no Estádio Tóquio Dome na presença de mais de 50 mil pessoas.
Silvonei José –
Cidade do Vaticano - No início da
tarde desta segunda-feira (hora local) o Papa Francisco deixou a Nunciatura
apostólica e dirigiu-se ao Estádio Tóquio Dome onde celebrou a Santa Missa.
Presentes mais de 50 mil pessoas. A Santa Missa, em latim, foi celebrada pelo
Dom da Vida Humana. A primeira leitura foi feita em português.
Na sua homilia o
Santo Padre, citando o Evangelho do dia recordou que o mesmo faz parte do
primeiro grande discurso de Jesus; conhecido como o «Sermão da Montanha» e
descreve-nos a beleza do caminho que somos convidados a percorrer.
Segundo a
Bíblia, a montanha é o lugar onde Deus Se manifesta e dá a conhecer: «sobe ao
encontro do Senhor» (Ex 24, 1), disse Deus a Moisés. Em Jesus, -
disse o Papa – “encontramos o cimo do que significa ser humano e indica-nos o
caminho que nos leva à plenitude capaz de ultrapassar todos os cálculos
conhecidos; n’Ele encontramos uma vida nova, onde se experimenta a liberdade de
nos sentirmos filhos amados”.
Francisco
advertiu que “estamos cientes de que, ao longo do caminho, esta liberdade
filial pode ver-se sufocada e enfraquecida, quando ficamos prisioneiros do
círculo vicioso da ansiedade e da competição, ou quando concentramos toda a
nossa atenção e as nossas melhores energias na busca obstinada e frenética de
produtividade e consumismo como único critério para medir e avaliar as nossas
opções ou definir quem somos e quanto valemos”.
“Como oprime e
enreda a alma - frisou o Santo Padre - a ânsia gerada por pensar que tudo pode
ser produzido, conquistado e controlado!”
Em seguida o
Papa disse “que os jovens fizeram-me notar esta manhã (no encontro que tive com
eles) que, numa sociedade como o Japão com uma economia altamente desenvolvida,
não são poucas as pessoas socialmente isoladas que permanecem à margem,
incapazes de entender o significado da vida e da sua própria existência.
“A casa, a
escola e a comunidade, destinadas a ser lugares onde cada um apoia e ajuda os
outros, estão a deteriorar-se cada vez mais pela excessiva competição na busca
do lucro e da eficiência. Muitas pessoas sentem-se confusas e inquietas, ficam
sobrecarregadas pelas demasiadas exigências e preocupações que lhes tiram a paz
e o equilíbrio.”
Ressoam, como
bálsamo reparador, as palavras do Senhor que convidam a não nos inquietarmos,
mas a termos confiança.
Não se trata –
disse Francisco -, de nos desinteressarmos do que sucede ao nosso redor nem de
nos desleixarmos relativamente às nossas ocupações e responsabilidades diárias;
antes pelo contrário, é um desafio a abrirmos as nossas prioridades para um
horizonte de sentido mais amplo e, assim, criar espaço para olhar na mesma
direção: «Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se
vos dará por acréscimo» (Mt 6, 33).
O Senhor não nos
diz que as necessidades básicas, como alimento e roupa, não sejam importantes;
mas convida-nos a repensar as nossas opções diárias para não acabarmos
entalados ou fechados na busca do êxito a todo o custo, incluindo a custo da
própria vida. As atitudes mundanas que buscam e perseguem apenas o próprio
lucro ou benefício neste mundo, e o egoísmo que pretende a felicidade
individual, subtil mas realmente conseguem apenas tornar-nos infelizes e
escravos, para além de dificultar o desenvolvimento duma sociedade
verdadeiramente harmoniosa e humana.
“O oposto de um
«eu» isolado, fechado e até sufocado só pode ser um «nós» partilhado, celebrado
e comunicado.”
Este convite do
Senhor lembra-nos que «precisamos de reconhecer alegremente que a nossa
realidade é fruto dum dom, e aceitar também a nossa liberdade como graça. Isto
é difícil hoje, num mundo que julga possuir algo por si mesmo, fruto da sua
própria originalidade e liberdade».
Como comunidade
cristã – frisou o Papa - somos convidados a proteger toda a vida e testemunhar,
com sabedoria e coragem, um estilo marcado pela gratuidade e compaixão, pela
generosidade e a escuta simples, um estilo capaz de abraçar e receber a vida
como se apresenta «com toda a sua fragilidade e pequenez e, muitas vezes, até
com todas as suas contradições e insignificâncias».
Somos convidados
a ser comunidade que desenvolva uma pedagogia capaz de acolher «tudo o que não
é perfeito, tudo o que não é puro nem destilado, mas lá por isso não menos
digno de amor. Por acaso uma pessoa portadora de deficiência, uma pessoa frágil
não é digna de amor? (…) Uma pessoa, mesmo que seja estrangeira, tenha errado,
se encontre doente ou numa prisão, não é digna de amor?
“O anúncio do
Evangelho da Vida impele-nos e exige de nós, como comunidade, que nos tornemos
um hospital de campanha preparado para curar as feridas e sempre oferecer um caminho
de reconciliação e perdão.”
Unidos ao
Senhor, cooperando e dialogando sempre com todos os homens e mulheres de boa
vontade, e também com as pessoas de convicções religiosas diferentes, podemos
tornar-nos fermento profético duma sociedade que protege e cuida cada vez mais
de toda a vida.
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O Papa às
autoridades do Japão:
Casa Comum delicada como a flor da cerejeira
"O nível da
civilização de uma nação não se mede pelo seu poder econômico". Palavras
do Papa Francisco no encontro com as Autoridades e o Corpo diplomático em
Tóquio. Foi seu último compromisso nesta segunda-feira (25).
Manuel Tavares -
Cidade do Vaticano - O Santo Padre
concluiu seu penúltimo dia de atividades, no Japão, encontrando, em Kantei, as
Autoridades e o Corpo Diplomático.
Após saudar o
Primeiro Ministro e as Autoridades do Governo e do Corpo Diplomático em seudiscurso,
o Papa disse:
“Todos vocês,
segundo as suas competências, dedicam-se à construção da paz e do progresso do
povo desta nobre nação e dos países que representam. Fico muito agradecido ao
imperador Naruhito, que encontrei nesta manhã. Desejo felicidades a todos e
invoco as bênçãos de Deus sobre a Família Imperial e, sobretudo, o povo japonês
no início desta nova era”
Proteger toda a
vida
A seguir,
Francisco ressaltou que “as relações amistosas entre a Santa Sé e o Japão são
muito antigas, enraizadas no reconhecimento e admiração que os primeiros
missionários sentiram por estas terras”. E, recordando o objetivo da sua visita
ao Japão, disse:
“Vim confirmar
os católicos japoneses na fé, em seus esforços de caridade para com os
necessitados e em seu serviço ao país, do qual se sentem cidadãos orgulhosos.
Como nação, o Japão é particularmente sensível ao sofrimento dos desfavorecidos
e das pessoas com deficiência. O lema da minha visita é: "Proteger toda a
vida", reconhecendo a sua dignidade inviolável e a importância da
solidariedade e apoio aos nossos irmãos e irmãs mais necessitados”
Paz duradoura
Na senda dos
seus predecessores, o Pontífice pediu a Deus e todas as pessoas de boa vontade
para continuar a encorajar e favorecer todos os meios dissuasivos necessários
para que jamais, na história da humanidade, aconteça uma destruição como a
provocada pelas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. E continuou:
“A história
ensina-nos que os conflitos entre povos e nações, até os mais graves, podem
encontrar soluções válidas através do diálogo, única arma digna do ser humano e
capaz de garantir uma paz duradoura. Estou convencido da necessidade de se
tratar da questão nuclear em nível multilateral, promovendo um processo
político e institucional, capaz de criar um consenso e uma ação internacional
mais amplos”
Uma cultura de
encontro e de diálogo, afirmou Francisco, é essencial para construir um mundo
mais justo e fraterno. O Japão reconheceu a importância de promover os setores
da instrução, cultura, esporte e turismo, sabendo que podem contribuir muito
para a harmonia, a justiça, a solidariedade e a reconciliação, que são os
pilares da paz. E o Papa ponderou:
“Nestes dias,
pude admirar o precioso patrimônio cultural, que o Japão conseguiu desenvolver
e preservar ao longo de muitos séculos de história, e os profundos valores
religiosos e morais que caracterizam esta cultura antiga. Uma boa relação entre
as várias religiões é essencial, não só para o futuro da paz, mas também para
preparar as novas gerações em vista de uma sociedade mais justa e humana”
Casa Comum:
delicada como a cerejeira
Nenhum visitante
do Japão pode deixar de admirar a beleza natural deste país, simbolizada,
sobretudo, pela imagem das cerejeiras em flor. No entanto, a delicadeza desta
flor lembra a fragilidade da nossa Casa comum, sujeita a desastres naturais,
ganância, exploração e devastação pelas mãos do homem. A proteção da nossa Casa
comum deve levar em consideração também a “ecologia humana".
“A dignidade
humana deve ocupar o centro de toda a atividade social, econômica e política; é
preciso promover a solidariedade entre gerações e nunca se esquecer dos
excluídos. Penso, de modo particular, nos jovens, idosos e pessoas abandonadas,
que sofrem pelo isolamento. O nível da civilização de uma nação ou de um povo
mede-se, não pelo seu poder econômico, mas pela atenção aos necessitados e a
promoção da vida ”
O Papa concluiu
seu discurso expressando sua gratidão pelo convite de visitar o Japão e pela
cordial hospitalidade. Por fim, encorajou os esforços por uma ordem social,
capaz de proteger a vida, a dignidade e os direitos da família humana.
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Fonte: vaticannews.va
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