sábado, 2 de dezembro de 2017

Viagem Apostólica do Papa Francisco

O encontro do Papa com a vida consagrada em Daca
Daca (RV) – A Igreja do Santo Rosário – Igreja Catedral da Arquidiocese de Chittagong -  foi o local escolhido para o encontro do Papa Francisco com a vida consagrada em Bangladesh. 1.500 sacerdotes, religiosos(as), consagrados, seminaristas e noviças estavam presentes no templo.
Ao chegar, o Santo Padre foi acolhido pelo Bispo de Khulna (sufragânea de Chittagong), Dom Romen Boiragi, pelo Pároco e pelo Presidente da Associação dos Religiosos de Bangladesh.
Antes do pronunciamento do Santo Padre, um sacerdote, um missionário, uma religiosa, um religioso e um seminarista deram seus testemunhos. O Papa entregou seu discurso preparado e, em espanhol, falou espontaneamente aos consagrados. 
Eis a íntegra do discurso que seria lido:
"Amados irmãos e irmãs!
Sinto-me muito feliz por estar convosco. Agradeço ao Arcebispo Moses [Costa] a calorosa saudação que me fez em vosso nome. Estou especialmente agradecido a quantos ofereceram os seus testemunhos e partilharam connosco o seu amor a Deus. Expresso a minha gratidão também ao Padre Mintu [Palma] por ter composto a oração que, em breve, recitaremos a Nossa Senhora. Como sucessor de Pedro, é meu dever confirmar-vos na fé. Mas gostaria que soubésseis que hoje, através das vossas palavras e da vossa presença, também vós me confirmais na fé e me dais uma grande alegria.
A Comunidade católica no Bangladesh é pequena. Mas sois como o grão de mostarda que Deus, no tempo devido, fará árvore perfeita (cf. Mt 13, 31-32). Alegro-me por ver como cresce este grão e por ser testemunha direta da fé profunda que Deus vos deu. Penso nos missionários dedicados e fiéis que plantaram e cuidaram deste grão de fé durante quase cinco séculos.
Em breve, visitarei o cemitério e rezarei por estes homens e mulheres que serviram, com tanta generosidade, esta Igreja local. Pousando os olhos em vós, vejo missionários que continuam esta santa obra. Vejo também muitas vocações nascidas nesta terra: são um sinal das graças com que o Senhor a está a abençoar. Uma alegria particular me dão as irmãs de clausura com a sua presença entre nós e as suas orações.
Papa saudado por religiosas na Igreja Santo Rosário
É significativo que o nosso encontro tenha lugar nesta antiga Igreja do Santo Rosário. O Rosário é uma meditação magnífica sobre os mistérios da fé que são a seiva vital da Igreja; uma oração que forja a vida espiritual e o serviço apostólico. Quer sejamos sacerdotes, religiosos, consagrados, seminaristas ou noviços, a oração do Rosário incentiva-nos a dar as nossas vidas completamente a Cristo, em união com Maria. Convida-nos a participar na solicitude de Maria para com Deus no momento da Anunciação, na compaixão de Cristo por toda a humanidade quando está pregado na cruz e na alegria da Igreja quando recebe, do Senhor ressuscitado, o dom do Espírito Santo.
A solicitude de Maria. Terá havido, ao longo da história, uma pessoa tão solícita como Maria no momento da Anunciação? Deus preparou-A para aquele momento e Ela respondeu com amor e confiança. Assim também o Senhor preparou cada um de nós e nos chamou pelo nome. Responder a tal chamada é um processo que dura toda a vida. Cada dia, somos chamados a aprender a ser mais solícitos para com o Senhor na oração, meditando as suas palavras e procurando discernir a sua vontade.
Sei que o trabalho pastoral e o apostolado exigem muito de vós e que muitas vezes as vossas jornadas são longas e vos deixam cansados. Mas não podemos levar o nome de Cristo ou participar na sua missão, sem sermos antes de tudo homens e mulheres radicados no amor, inflamados pelo amor, através do encontro pessoal com Jesus na Eucaristia e nas palavras da Sagrada Escritura. Isto mesmo nos lembraste, Padre Abel, quando falaste da importância de intensificar uma relação íntima com Jesus, porque nela experimentamos a sua misericórdia e dela recebemos uma nova energia para servir os outros.
A solicitude pelo Senhor permite-nos ver o mundo através dos olhos d’Ele e, deste modo, tornar-nos mais sensíveis às necessidades daqueles a quem servimos. Começamos a entender as suas esperanças e alegrias, os medos e pesos, vemos de forma mais clara os numerosos talentos, carismas e dons que trazem para construir a Igreja na fé e na santidade. Irmão Lawrence, ao falares do teu eremitério, ajudaste-nos a compreender a importância de cuidar das pessoas procurando saciar a sua sede espiritual. Que todos vós possais, na grande variedade dos vossos serviços de apostolado, ser uma fonte de restauração espiritual e de inspiração para aqueles que servis, tornando-os capazes de partilhar cada vez mais plenamente os seus dons entre eles, promovendo a missão da Igreja.
A compaixão de Cristo. O Rosário introduz-nos na meditação da paixão e morte de Jesus. Penetrando mais profundamente nestes mistérios dolorosos, chegamos a conhecer a sua força salvífica e sentimo-nos confirmados na vocação de tomar parte neles com as nossas vidas, com a compaixão e o dom de nós mesmos. O sacerdócio e a vida religiosa não são carreiras. Não são veículos para avançar. São um serviço, uma participação no amor de Cristo que Se sacrifica pelo seu rebanho. Configurando-nos diariamente Àquele que amamos, chegamos a apreciar o facto de que as nossas vidas não nos pertencem. Já não somos nós que vivemos, mas é Cristo que vive em nós (cf. Gal 2, 20).
Encarnamos esta compaixão quando acompanhamos as pessoas, especialmente nos seus momentos de sofrimento e provação, ajudando-as a encontrar Jesus. Obrigado, Padre Franco, por teres colocado este aspeto em primeiro plano: cada um de nós é chamado a ser um missionário, levando o amor misericordioso de Cristo a todos, especialmente a quantos estão nas periferias das nossas sociedades.
Sinto-me particularmente agradecido, porque muitos de vós estão comprometidos, de tantos modos, nos campos do serviço social, da saúde e da educação, atendendo às necessidades das vossas comunidades locais e dos numerosos migrantes e refugiados que chegam ao país. O vosso serviço à comunidade humana mais alargada, especialmente àqueles que estão mais necessitados, é precioso para construir uma cultura do encontro e da solidariedade.
A alegria da Igreja. Por fim, o Rosário enche-nos de alegria pelo triunfo de Cristo sobre a morte, pela sua ascensão à direita do Pai e a efusão do Espírito Santo sobre o mundo. Todo o nosso ministério tem em vista proclamar a alegria do Evangelho. Na vida e no apostolado, todos estamos bem cientes dos problemas do mundo e dos sofrimentos da humanidade, mas nunca perdemos a confiança no facto que a força do amor de Cristo prevalece sobre o mal e sobre o Príncipe da mentira, que nos procura enganar.
Nunca vos deixeis desanimar pelas vossas falhas ou pelos desafios do ministério. Se permanecerdes solícitos para com o Senhor na oração e perseverardes na oferta da compaixão de Cristo aos vossos irmãos e irmãs, então o Senhor encherá certamente os vossos corações com a alegria reconfortante do seu Espírito Santo.
Irmã Mary Chandra, partilhaste conosco a alegria que brota da tua vocação religiosa e do carisma da tua Congregação. Marcelius, também tu nos falaste do amor que tu e os teus companheiros do Seminário tendes pela vocação ao sacerdócio. Lembrastes-nos, ambos, que todos somos chamados dia-a-dia a renovar e aprofundar a nossa alegria no Senhor, esforçando-nos por imitá-Lo cada vez mais plenamente.
Ao princípio, isto pode parecer árduo, mas enche os nossos corações de alegria espiritual. Com efeito, cada dia torna-se uma oportunidade para começar mais uma vez, responder de novo ao Senhor. Nunca desanimeis, porque a paciência do Senhor é para nossa salvação (cf. 2 Ped 3, 15). Alegrai-vos sempre no Senhor!
Queridos irmãos e irmãs, agradeço a vossa fidelidade em servir a Cristo e à sua Igreja, através do dom da vossa vida. Asseguro a minha oração por todos vós e peço a vossa por mim. Voltemo-nos agora para Nossa Senhora, para a Rainha do Santo Rosário, pedindo-Lhe que nos obtenha, a todos, a graça de crescer em santidade e ser testemunhas sempre mais alegres da força do Evangelho, para levar cura, reconciliação e paz ao nosso mundo".
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Papa visita cemitério paroquial
e igreja construída por missionários portugueses
Daca (RV) – Ao final do encontro com a vida consagrada, o Papa visitou o cemitério paroquial onde estão sepultados muitos religiosos. Francisco rezou em silêncio e acendeu uma vela.
No cemitério estão sepultados muitos missionários
que ao longo de cinco séculos levaram a Boa Nova do Evangelho à região
"Penso nos missionários dedicados e fiéis que plantaram e cuidaram deste grão de fé durante quase cinco séculos. Em breve, visitarei o cemitério e rezarei por estes homens e mulheres que serviram, com tanta generosidade, esta Igreja local", havia antecipado o Papa no encontro com a vida consagrada.
Após a visita ao cemitério, o Santo Padre entrou na antiga Igreja do Santo Rosário, construída pelos missionários portugueses em 1677 e utilizada atualmente como Capela de Adoração Perpétua.
O Papa foi acolhido pelo Bispo de Dinajpur, Dom Sebastian Tudu, pela Superiora Geral e pela Superiora local do Instituto que mantém o orfanato existente ao lado.
Aguardavam Francisco cerca de 200 crianças órfãs e algumas religiosas que os assistem. O Papa abençoou as crianças, sem proferir discursos.
Ao final do encontro, Francisco dirigiu-se à Nunciatura Apostólica de Daca, onde almoçou com o séquito.
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Papa aos consagrados bengaleses:
Servir a Deus com alegria
Daca (RV) – Momentos de grande alegria e entusiasmo no final da manhã deste sábado no encontro do Papa Francisco com a vida consagrada de Bangladesh, na Catedral de Chitagong, intitulada ao Santo Rosário.
Distante pouco mais de 10 km da Nunciatura Apostólica, a Igreja acolheu cerca de 2 mil sacerdotes, religiosos e religiosas, seminaristas e noviças. Também presentes irmãs de clausura, liberadas nestas ocasiões para sair dos conventos.
Deixando de lado o discurso preparado de 8 páginas, o Papa falou informalmente em espanhol aos consagrados bengaleses.
“Queridos irmãos e irmãs,
Obrigado ao Arcebispo Costa pela sua introdução e obrigado pelos pronunciamentos de vocês. Eu havia preparado um discurso de oito páginas para vocês (risos e aplausos), mas nós estamos aqui para ouvir o Papa e não para nos chatearmos. Por isto, para não nos chatearmos, entregarei o discurso ao Cardeal que depois fará uma tradução para o bengali, enquanto eu direi algumas palavras que me vem no coração (aplausos). Não sei se será melhor ou pior, porém, estejam certos de que será menos chato.
Religiosas atentas e felizes
Ao entrar e saudar vocês me veio em mente uma imagem, do Profeta Isaías, e precisamente a primeira leitura que teremos na próxima terça-feira: “Naqueles dias, da casa de Israel, nascerá um pequeno rebento, crescerá e crescerá, e com o Espírito de Deus, gerará o espírito da sabedoria, de inteligência, da ciência, do conhecimento...”. Em um certo sentido, Isaías aqui descreve os aspectos pequenos e grandes da vida de fé, da vida a serviço de Deus. E falando de vida de fé e de serviço a Deus, me dirijo a você, que são homens e mulheres de fé no testemunho a Deus.
Iniciamos pela planta.  O broto surge na terra, e é uma semente. A semente não é nem tua, nem minha: a semente é semeada por Deus. E é Deus que a faz crescer. Eu sou o broto: isto pode ser dito por cada um de vocês, mas não por mérito próprio; porque dissemos isto do diálogo inter-religioso: faremos o contrário dentro da nossa própria confissão católica, das nossas comunidades?
Também neste âmbito, Bangladesh deve ser exemplo de harmonia! São muitos os inimigos da harmonia, são muitos. Gosto de citar um, que para mim é fundamental O inimigo da harmonia em uma comunidade religiosa, em um presbitério, em um episcopado, em um seminário é o espírito de fofoca (risos e aplausos). E isto não foi inventado por mim: há dois mil anos disse um tal Tiago em uma de suas Cartas. A língua irmãos e irmãs. O que destrói uma comunidade é o falar mal de outra pessoa.
O enfatizar os defeitos dos outros, mas não dizê-lo às pessoas interessadas, mas falar delas nas costas e assim criar um ambiente de desconfiança, um ambiente de suspeita, um ambiente onde não existe a paz, mas reina a divisão.
É feia esta imagem que me vem, por este espírito de fofoca: é terrorismo. Terrorismo (risos e aplausos). Porque quem fala mal do outro, não o faz publicamente; o terrorista não diz publicamente: “Sou terrorista”. E quem fala mal do outro, o faz escondido: fala com alguém, atira a bomba e vai embora. E aquela bomba destrói. E ele vai embora tranquilamente, lança uma outra bomba, e assim por diante...
Queridos irmãos e irmãs, quanto vocês tiverem vontade de falar mal de uma pessoa, mordam a língua: o pior que pode acontecer é fazer mal a vocês, mas não fará mal a outro irmão ou irmã.
O espírito de divisão: quantas vezes nas Cartas de São Paulo lemos sobre sua dor quando na Igreja entrava este espírito de divisão. Vocês poderiam me perguntar: “Padre, mas se eu encontro um defeito em um irmão ou uma irmã e gostaria de corrigi-lo, gostaria de apontá-lo, mas não posso atirar a bomba, o que posso fazer?”.
Você pode fazer duas coisas (...) A primeira, se pode – mas nem sempre é possível – é falar diretamente à pessoa, face a face. Jesus nos dá este conselho. É verdade que alguém poderia dizer: “Não se pode fazer, Padre, porque é uma pessoa complicada, como também você: não se pode fazer”.
Está bem: pode ser que por uma forma de prudência não seja oportuno. Mas o segundo princípio, portanto, é: se você não pode dizer à pessoa, diga a quem poderia remediar, mas a ninguém mais.
Quantas comunidades – e não falo daquilo que “ouvi”, falo daquilo que “vi”: quantas comunidades vi serem destruídas por causa do espírito de fofoca! Por favor, mordam a língua! (aplausos)
O terceiro pensamento que gostaria de partilhar – ao menos vocês não estão se chateando...depois vocês terão o texto chato (risos ) é: procurem manter um espírito de alegria. Sem alegria não se pode servir a Deus. Eu peço a cada um de vocês – mas cada um responda em seu coração: “Como está a sua alegria?”.
Asseguro a vocês que é realmente triste quando encontro sacerdotes, consagrados, consagradas, seminaristas, bispos amargurados, com um rosto triste, que alguém tem o desejo de perguntar: “O que você tomou hoje no café da manhã? Vinagre?” (risos) Cara de vinagre. Esta amargura no coração, que nasce da erva má, e diz: “Oh, veja aquele, foi promovido à Superior, aquela à Superiora, aquele à Bispo, e quanto a mim, me deixaram de lado...”.
Nisto, não existe alegria. Santa Teresa – a Grande – Santa Teresa tem – e é quase uma maldição, uma frase que é quase uma maldição, e ela diz isso às suas monjas: “Ai daquela monja que diz: ‘Sofri uma injustiça’”. Usa a expressão em espanhol “sin razón”, sem razão (...)”. Quando encontrava uma religiosa que se lamentava porque “não me deram aquilo que deveriam dar, (...) não me promoveram à Priora” ou algo do gênero, ai daquela monja: está uma estrada em descida...
A alegria. A alegria também nos momentos difíceis. É aquela alegria que, se não faz você rir porque a dor é muito grande, também é paz. Mas por outro lado me vem em mente uma cena da vida da pequena Tereza, Terezinha do Menino Jesus.
Devia acompanhar todas as noites uma monja idosa ao refeitório; esta irmã era realmente insuportável, sempre irritada e, pobrezinha, muito doente e reclamava de tudo. Em qualquer lugar que a tocassem dizia: “Não, que me faz mal!”. E era esta irmã idosa que Terezinha tinha que levar ao refeitório.
Uma noite, enquanto a acompanhava atravessando o convento, escutou – de um prédio vizinho – a música de uma festa, a música de pessoas que estavam se divertindo, de pessoas boas, como havia mostrado às suas irmãs. Imaginou as pessoas que dançavam e disse: “A minha grande alegria é esta. Agora. Não lá, mas aqui e agora, com esta irmã idosa”.
Nos momentos difíceis vividos nas comunidades, tolerar às vezes uma Superiora “um pouco estranha”, e nestes momentos dizer: “Sou feliz, Senhor. Sou feliz”, como dizia São Alberto Hurtado: a alegria do coração.
Estejam certos que me causa tanta ternura quando encontro sacerdotes, bispos ou religiosas idosas que viveram a vida em plenitude. Os seus olhos são indescritíveis, tão cheios de alegria e paz. Para aqueles que não viveram a sua vida deste modo, Deus é bom e se preocupa também por eles; mas falta aquela vibração do coração que vem quando você foi alegre em sua vida.
Procurem olhar – sobretudo as mulheres – olhar nos olhos das irmãs idosas, aquelas irmãs que passaram toda a vida servindo, com tanta alegria e paz: têm o olhar agudo, desperto, brilhante, cheio de vida. Porque têm a plenitude do Espírito Santo.
O pequeno broto, nestes idosos, nestas idosas, entrou na plenitude dos sete dons do Espírito Santo. Recordem-se disto, na próxima terça-feira, quando vocês ouvirem a Leitura, a Missa e perguntem-se: “Estou cuidando da minha plantinha? A rego? Cuido também das plantinhas dos outros, rego também elas? Tenho medo de ser terrorista e por isto nunca falarei mal dos outros? E: tenho o dom da alegria?
Desejo a todos vocês, como o bom vinho, no final de vossos dias, que os vossos olhos brilhem de esperteza, de alegria e de plenitude do Espírito Santo. Por favor, rezem por mim como eu rezarei por vocês”.
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Encontro com os jovens conclui viagem do Papa a Bangladesh
Daca (RV) –  “Finalmente nos encontramos!”. Assim como em Mianmar, foi com os jovens que Francisco concluiu sua visita a Bangladesh, a 3ª visita ao sudeste asiático.
O encontro estava marcado para o Notre Dame College, de Daca, fundado pela Congregação da Santa Cruz em 1949. Aberto a estudantes de todas as Confissões religiosas, a instituição transferiu-se para o bairro atual em 1954.
O Papa foi acolhido pelo encarregado da Pastoral Juvenil, o Bispo de Barisal, Dom Subroto Howlader CSC, pelo Reitor da Universidade e pelo Diretor da Escola Notre Dame, ambas mantidas pela Congregação da Santa Cruz.
Francisco abençou a pedra fundamental do novo prédio “Notre Dame University Bangladesh” e uma placa comemorativa.
Sete mil jovens esperavam pelo Papa no campo esportivo da instituição. O palco, muito simples, foi montado com um material muito comum na região: o bambu.
Francisco aplaude a apresentação
Danças e cânticos de um coral receberam o Santo Padre, que. após ouvir testemunhos de dois jovens, dirigiu algumas palavras ao presentes em italiano, com tradução simultânea em bengali em um telão.
Ao dirigir-se aos jovens, agradeceu pelas palavras-chaves oferecidas em seus testemunhos, como “sabedoria” e “esperança”.
Ao comentar as palavras da jovem Upasana, Francisco referiu-se a um conhecido escritor bengalês, Kazi Nazrul Islam, que definiu a juventude do país como «arrojada», «habituada a arrancar a luz do ventre das trevas», observando:
“Os jovens estão sempre prontos para avançar, fazer com que as coisas aconteçam e correr riscos. Encorajo-vos a avançar com este entusiasmo nas circunstâncias boas e nas más. Avançar, especialmente nos momentos em que vos sentis oprimidos pelos problemas e pela tristeza e, olhando para fora, parece que Deus não Se faz ver no horizonte”.
Mas ao avançar – foi o seu alerta -  “certificai-vos de escolher o caminho certo”. Mas, o que significa isto?, perguntou, respondendo:
“Significa saber viajar na vida, não vagar sem rumo. A nossa não é uma vida sem direção; tem um objetivo, que nos foi dado por Deus. Ele guia-nos, orientando-nos com a sua graça. É como se tivesse colocado dentro de nós um software, que nos ajuda a discernir o seu programa divino e a responder-lhe livremente. Mas, como qualquer software, também este precisa de ser constantemente atualizado. Mantennham atualizado o vosso programa, prestando ouvidos ao Senhor e aceitando o desafio de fazer a sua vontade”.
O testemunho do jovem Anthony, ofereceu ao Papa “uma outra chave”, a palavra “sabedora”:
“Quando se passa do viajar ao vagar sem rumo, perdeu-se toda a sabedoria! A única coisa que nos orienta e faz avançar pelo caminho certo é a sabedoria, a sabedoria que nasce da fé. Não é a falsa sabedoria deste mundo. É a sabedoria que se vislumbra nos olhos dos pais e dos avós, que puseram a sua confiança em Deus.”
E é justamente esta sabedoria – disse o Santo Padre - que nos ajuda a identificar e rejeitar as promessas falsas de felicidade:
“Uma cultura que faz promessas falsas não pode libertar; conduz apenas a um egoísmo que enche o coração de escuridão e amargura. Pelo contrário, a sabedoria de Deus ajuda-nos a saber como acolher e aceitar aqueles que agem e pensam de forma diferente de nós. É triste quando começamos a fechar-nos no nosso pequeno mundo e nos retraímos em nós próprios. Então adotamos o princípio «ou é como digo eu, ou não se faz nada», acabando enredados, fechados em nós mesmos”.
Quando um povo, uma religião ou uma sociedade se tornam um «pequeno mundo» - observou o Papa - perdem o melhor que têm e precipitam numa mentalidade presunçosa, que faz dizer «eu sou bom, tu és mau».
Neste sentido – explicou o Papa - “a sabedoria de Deus abre-nos aos outros. Ajuda-nos a olhar para além das nossas comodidades pessoais e das falsas seguranças que nos deixam cegos perante os grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna de ser vivida”.
Em um país onde os católicos são minoria, 0,2% da população, Francisco expressou a sua alegria pela presença no encontro de “amigos muçulmanos e de outras religiões”:
“Com o fato de vos encontrardes aqui hoje, mostrais a vossa determinação de promover um clima de harmonia, onde se estende a mão aos outros, apesar das vossas diferenças religiosas”.
A sabedoria de Deus ajuda-nos também a olhar para além de nós mesmos para intuir a bondade do nosso patrimônio cultural:
“A vossa cultura ensina-vos a respeitar os idosos. Como disse antes, os idosos ajudam-nos a apreciar a continuidade das gerações. Possuem a memória e a sabedoria feita de experiência, que nos ajudam a evitar a repetição dos erros do passado. Os idosos têm o «carisma de colmar as distâncias», assegurando que os valores mais importantes sejam transmitidos aos filhos e aos netos. Através das suas palavras, do seu amor, do seu carinho e da sua presença, compreendemos que a história não começou connosco, mas somos parte de um antigo «viajar» e que a realidade é maior do que nós”.
Falai com os vossos pais e avós – exortou Francisco - não passeis o dia inteiro com o celular, ignorando o mundo ao vosso redor!.
Por fim, o Papa fala de outra palavra presente nos dois testemunhos: a esperança:
“A sabedoria de Deus fortalece em nós a esperança e ajuda-nos a enfrentar o futuro com coragem. Nós, cristãos, encontramos esta esperança no encontro pessoal com Jesus na oração e nos Sacramentos, e no encontro concreto com Ele nos pobres, doentes, atribulados e abandonados. Em Jesus, descobrimos a solidariedade de Deus, que caminha constantemente ao nosso lado”.
“Ao despedir-me hoje do vosso país – concluiu o Papa - asseguro-vos a minha oração, para que todos possais continuar a crescer no amor de Deus e do próximo. E, por favor, não se esqueçam de rezar por mim. Isshór Bangladeshké ashirbád Korun [Deus abençoe o Bangladesh).
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Papa Francisco despede-se de Bangladesh
Daca (RV) – Ao despedir-se de Bangladesh neste sábado, o Papa Francisco concluiu a 21ª Viagem Apostólica internacional de seu Pontificado.
Missão cumprida
O Pontífice foi recebido no Vip Lounge do Aeroporto Internacional de Daca pelo Ministro do Exterior, com quem manteve um encontro de poucos minutos, enquanto o séquito papal embarcava.
O Santo Padre foi o último a embarcar no voo B777/BIMAN da Bangladesh Airlines, que decolou às 17h10min (hora local) com destino ao Aeroporto Fiumicino, em Roma, onde deverá chegar por volta das 23 horas (horário italiano).
O Pontífice havia partido de Roma na noite de domingo, 26 de novembro, chegando no início da tarde de segunda-feira ao Aeroporto Internacional de Yangun, Mianmar, primeira etapa de sua viagem, concluída no início da tarde de quinta-feira, quando partiu para Daca, capital de Bangladesh.
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Francisco a jornalistas no voo de retorno ao Vaticano:


"Meu interesse é que chegue a mensagem"
Cidade do Vaticano (RV) – “Para mim, a viagem faz bem quando consigo encontrar o povo do país, o povo de Deus. Quando consigo falar ou encontrá-los ou a saudá-los”.
Com estas palavras o Papa Francisco concluiu a coletiva de imprensa no avião que o trouxe de volta de Bangladesh, na noite de sábado, 2 de dezembro.
O encontro de 58 minutos com os jornalistas começou meia hora após o avião ter decolado do Aeroporto Internacional de Daca. Entre os temas tratados, o drama humanitário da etnia Rohingya,  a questão nuclear, a possibilidade – ainda remota – de uma visita à China.
Eis a transcrição da entrevista:
Greg Burke: Obrigado Santo Padre, antes de tudo obrigado: O senhor escolheu estes dois países interessantes para visitar, dois países muito diferentes, mas com algo em comum, que é uma Igreja pequena, em cada um destes países, mas muito ativa, plena de alegria, cheia de jovens e repleta de um espírito de serviço a toda a sociedade. Nós certamente vimos muito, aprendemos muito, mas nos interessa saber o que o senhor viu e aprendeu, Se o senhor quiser fazer uma saudação antes das perguntas;;;
Papa Francisco: Boa noite…se pensamos aqui, ou boa tarde, se pensamos em Roma. Muito obrigado pelo trabalho de vocês e, como disse Greg, são dois países muito interessantes com culturas muito tradicionais, profundas, ricas. Por isto penso que o trabalho de vocês tenha sido muito intenso. Muito obrigado.
Greg Burke: Se posso roubar o microfone por um segundo: a primeira pergunta é de Sagrario Ruiz de Apodaca, da Rádio Nacional da Espanha.
Sagrario Ruiz de Apodaca (RNE): Boa tarde, Santo Padre. Obrigado. Eu faço a pregunta em espanhol, com a permissão de meus colegas italianos, porque ainda não confio no meu italiano, mas se o senhor quiser responder em italiano, seria perfeito para todos….
A crise dos rohingya concentrou grande parte desta viagem à Ásia. Ontem, o senhor finalmente os chamou pelo nome, em bengali. O senhor teve vontade de ter feito o mesmo em Mianmar, de ter usado esta palavra para referir-se a eles, rohingya? E, o que sentiu ontem quando pediu a eles perdão?
Papa Francisco: Não foi a primeira vez ontem. Várias vezes em público, desde a Praça São Pedro, no Angelus ou em audiências eu os nomeei…
Sagrario Ruiz de Apodaca: Mas nesta viagem...
Francisco fala a jornalistas
Papa Francisco: Sim, porém quero sublinhar que já se sabia o que pensava e o que dizia. Porém sua pergunta é muito interessante, porque me leva…. A sua pergunta é interessante porque me leva a refletir sobre como eu procuro comunicar-me. Para mim, a coisa mais importante é que a mensagem chegue, e por isto procurar dizer as coisas passo a passo e ouvir as respostas, para que chegue a mensagem. Por exemplo, um exemplo da vida cotidiana: um jovem, uma jovem na crise de adolescência pode dizer aquilo que pensa, batendo a porta na cara do outro e a mensagem não chega, se fecha. Para mim interessa que esta mensagem chegue. Por isto, vi que se no discurso oficial tivesse pronunciado a palavra, teria batido a porta na cara. Mas descrevi a situação, os direitos, ninguém excluído, cidadania para permitir-se nos colóquios privados ir além. Eu fiquei muito, muito satisfeito pelos colóquios que pude ter, porque é verdade, não – digamos assim – não tive o prazer de bater a porta na cara, publicamente, uma denuncia: não, mas tive a satisfação de dialogar, de fazer o outro falar, de dizer a minha e assim a mensagem chegou. E chegou a tal ponto, que continuou e continuou e acabou ontem com aquilo. E isto é muito importante, na comunicação: a preocupação que a mensagem chegue. Tantas vezes, denúncias, mesmo na mídia – não querem ofender, mas que com alguma coisa de agressividade fecham o diálogo, fecham a porta e a mensagem não chega. E vocês, que são especialistas em fazer chegar a mensagem, entendem bem isto.
O senhor me pergunta o que eu senti ontem: isto não estava programado, assim. Eu sabia que encontraria os rohingya. Não sabia nem onde e nem como, mas esta era a condição da viagem, para mim, e se preparavam as formas. Depois de tantas tratativas, também com o governo, com a Caritas, o governo permitiu esta viagem, destes que vieram ontem. Porque o governo, que os protege e dá a eles hospitalidade – e isto é grande: o que faz Bangladesh por eles é grande, é um exemplo de acolhida. Um país pequeno, pobre, que recebeu 700mil… eu penso em países que fecham as portas. Devemos ser agradecidos pelo exemplo que nos deram. O governo deve trabalhar por relações internacionais com Mianmar com permissões, diálogo, porque estão em campo refugiados, um estado [estatuto, condição] especial. Mas, afinal, vieram. Assustados. Não sabiam. Também, alguém ali havia dito [a eles]: “Saúdem o Papa, mas não digam nada”, e assim...alguém que não era do governo de Bangladesh...gente que se ocupava dos trâmite... A um determinado ponto, após o diálogo inter-religioso, a oração inter-religiosa, isto preparou o coração de todos nós: estávamos religiosamente muito abertos. Eu, ao menos, me sentia assim. E chegou o momento que eles vieram me saudar. Em fila indiana – não gostei disto, mas...um, o outro... – mas logo queriam mandá-los embora do cenário. E ali eu me irritei e gritei um pouco – sou pecador... – e disse tantas vezes a palavra “respeito”: respeito. Parei, e eles ficaram ali. Depois de tê-los ouvido um a um com a intérprete que falava a sua língua, eu comecei a sentir coisas dentro: “Mas, eu não posso deixá-los ir sem dizer uma palavra”, e pedi o microfone. E comecei a falar... não recordo o que disse. Sei que em determinado momento pedi perdão. Acredito que duas vezes, não me recordo. Mas a sua pergunta é “o que senti”: no momento, eu chorava. Procurava que não vissem. Eles também choravam. E depois, pensei que estávamos em um encontro inter-religioso, e [enquanto] os líderes das outras tradições religiosas, os religiosos estavam distantes: “não, venham vocês também: eles são os rohingyas de todos nós”. E eles saudaram, ali...e eu não sabia o que mais dizer porque olhavam para eles, saudava... e pensei:  “Todos nós falamos, os líderes religiosos. Mas, um de vocês, que faça uma oração, um de vocês...”.
E acredito que fosse um Imã, um “clérigo” da religião deles, que fez aquela oração, e também eles rezaram ali, conosco.  E vendo tudo o que se passou, todo o caminho, eu senti [que] a mensagem tinha chegado. Não sei se satisfiz a sua pergunta, mas parte era programado, mas a grande parte aconteceu espontaneamente. Depois, hoje teve – me disseram – um programa feito por um de vocês – não sei se está aqui ou não está aqui – o TG1: é um programa longo, longo...quem o fez, a senhora o sabe?
Greg Burke: Está ainda em Bangladesh, TG1
Papa Francisco: E que depois foi repetido no TG4, não sei... Eu não vi, mas alguns que estão aqui viram. Uma reflexão: a mensagem chegou não somente aqui. Vocês viram hoje as capas dos jornais: todos receberam a mensagem. E eu não ouvi nenhuma crítica. Talvez existirão, mas eu não ouvi nenhuma.
Greg Burke: A próxima pergunta é de George Abraham Kallivayalil, um indiano que viaja conosco pelo “Deepika Daily”:
George Abraham Kallivayalil, “Deepika Daily”: Santo Padre, espero que a sua viagem à Ásia, a dois países, tenha sido de grande sucesso. Nós sabemos que nesta mesma ocasião, o senhor gostaria de ter ido à Índia […]. Qual foi exatamente a razão que fez com que a hipótese de ir à Índia caiu por terra? Milhões de pessoas na Índia, incluindo os nossos fiéis, ainda desejam e esperam que o Santo Padre visite a Índia no próximo ano: podemos esperá-lo na Índia em 2018?
Papa Francisco: Sim: o plano inicial era de ir à Índia e Bangladesh, mas depois as tratativas para ir se alongaram, o tempo urgia e escolhi estes dois países. Bangladesh permaneceu, mas com Mianmar. Foi providencial, porque para visitar a Índia é necessária uma única viagem: você deve ir ao Sul, ao Centro, a Leste, a Oeste, ao Norte, dali, pelas diversas culturas da Índia... espero poder fazer em 2018, se estiver vivo. Mas a ideia era Índia e Bangladesh. Mas depois o tempo nos obrigou a fazer esta escolha. Obrigado.
Greg Burke: E agora, do gripo francês, Santo Padre, Ettiene Loraillere di Kto, que é da televisão católica.
Etiene Loraillère, Kto: Santidade, tem uma pergunta do grupo de jornalistas da França. Alguns colocam em oposição diálogo inter-religioso e evangelização. Durante esta viagem, o senhor falou de diálogo para construir a paz. Mas qual é a prioridade: evangelizar ou dialogar pela paz? Porque, evangelizar significa suscitar conversões que provocam tensões e às vezes conflitos entre os que acreditam; portanto, qual é a prioridade, evangelizar ou dialogar?
Papa Francisco: Obrigado. Primeira distinção: evangelizar não é fazer proselitismo. A Igreja cresce não por proselitismo, mas por atração, isto é, por testemunho, Isto o disse o Papa Bento XVI.
O que é a evangelização? É viver o Evangelho, é testemunhar como se vive o Evangelho, testemunhar as bem-aventuranças, testemunhar Mateus 25, testemunhar o Bom Samaritano, testemunhar o perdão 70 x 7. Neste testemunho o Espírito Santo trabalha e acontecem conversões. Mas nós não somos muito entusiasmados para fazer logo as conversões. Se vêm, esperam , se fala, a tradição de vocês, procurar que uma conversão seja a resposta a algo que o Espírito Santo moveu em meu coração diante do testemunho do cristão.
No almoço com os jovens na Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia, eram cerca de 15, e um deles me fez esta pergunta: O que devo dizer a um colega de universidade, bom amigo, mas que é ateu?  O que devo dizer para mudá-lo, para convertê-lo?  A resposta foi esta: a última coisa que tu deves fazer é dizer algo. Tu viva o Evangelho e se ele te pergunta porque fazes isto, podes explicar a ele porque o fazes e deixe que o Espírito Santo o atraia. Esta é a força e a mansidão do Espírito Santo na conversão. Não é convencer mentalmente, com apologética, razão. É o Espírito que faz a conversão. Nós somos  testemunha do espírito, testemunhas do Evangelho. Testemunha, uma palavra grega que diz mártires. O martírio de todo o dia, o martírio também de sangue quando chega. E a sua pergunta: o que é prioritário, a paz ou a conversão?   Mas quando se vive com testemunho e respeito, se faz a paz. A paz começa a se romper neste campo quando começa o proselitismo. E existem tantos modos de proselitismo. Isto não é Evangelho. Não sei se respondi
Greg Burke: Obrigado, Santidade. Agora, do grupo anglófono, Joshua McElwee do “National Catholic Reporter”:
Joshua McElwee, Ncr: Muito obrigado, Santidade, e uma mudança total de tema. Durante a Guerra Fria, o Papa São João Paulo II disse que a política mundial de dissuasão nuclear era julgada como moralmente aceitável. No mês passado, em uma conferência sobre o desarmamento, o senhor disse que a simples posse de armas nucleares deve ser condenada. O que mudou no mundo que o levou a fazer esta mudança? Que papel tiveram os insultos e as ameaças entre o Presidente Donald Trump e Kim Jong-um nas suas decisões? E o senhor, o que diz aos políticos que não querem renunciar aos arsenais nucleares e tampouco reduzi-los?
Papa Francisco: Eu preferiria que antes fossem feitas as perguntas sobre a viagem, digo isto a todos; mas faço uma exceção porque você fez a pergunta. Mas agora, finalizemos tudo sobre a viagem. Depois, eu gostaria de dizer alguma coisa sobre a viagem e depois vêm as outras perguntas.
O que mudou: mudou a irracionalidade. Me vem em mente a Encíclica “Laudato Si”, a custódia da Criação. Desde o tempo em que o Papa São João Paulo II disse isto até hoje passaram-se tantos anos, quantos?  Tens a data?
Joshua McElwee, Ncr: 1982.
Papa Francisco: 1982, 1992, 2002, 2012 e quatro: 34 anos. No nuclear, em 34 anos, se foi além, além, além. Hoje estamos no limite: isto pode ser discutido, mas é a minha opinião; mas a minha opinião convicta: eu estou convencido disto. Estamos no limite da legitimidade de ter e usar armas nucleares. Por que? Porque hoje, com o arsenal nuclear assim tão sofisticado, se corre o risco da destruição da humanidade, ou ao menos de grande parte da humanidade. Por isto relaciono com a “Laudato Si”. O que mudou? Isto. O crescimento do armamento nuclear, mudou também...são sofisticadas e também cruéis, também são capazes de destruir as pessoas sem tocar as estruturas. Estamos no limite, e porque estamos no limite eu me faço esta pergunta, e isto não como Magistério Pontifício, mas é a pergunta que se faz um Papa: hoje é lícito manter os arsenais nucleares [assim] como estão, ou hoje, para salvar a Criação, salvar a humanidade não é necessário retroceder? Volto a uma coisa que havia dito, que é de Guardini, não é minha. Existem duas formas de incultura: antes a incultura que Deus nos deu para fazer cultura, com o trabalho, com a pesquisa e em frente, fazer a cultura...mas, pensemos nas ciências médicas, tanto progresso, tanta cultura, na mecânica, em tantas coisas. E o homem tem a missão de fazer cultura da cultura recebida. Mas chegamos a um ponto em que o homem tem em mãos, com esta cultura, a capacidade de fazer uma outra incultura: pensemos em Hiroshima e Nagasaki. E isto, há 60, 70 anos. A destruição. E também isto acontece quando na energia atômica não se consegue ter todo o controle: pensem nos incidentes na Ucrânia... Por isto, voltando às armas, que são para vencer destruindo, eu digo que estamos no limite da legitimidade.
Greg Burke: Obrigado Santidade. Agora me assinalaram que as perguntas mudam da viagem a outras, portanto, se o senhor quiser dizer alguma coisa sobre a viagem…
Papa Francisco: Eu gostaria de mais alguma sobre a viagem, porque poderia parecer que não tenha sido tão interessante, não?
Delia Gallagher, Cnn: Santidade, não sei o quanto o senhor possa ou não responder, mas estou muito curiosa a respeito de seu encontro com o General Hein, porque eu aprendi muito sobre esta situação,  estando lá, e entendi que à parte Aung San Suu Kyi, há também este militar que é muito importante na crise, que o senhor encontrou pessoalmente. Que tipo de encontro foi e como fez para conversar com ele?
Papa Francisco: Inteligente a pergunta, bela. Mas eu distinguiria entre dois encontros, dois tipos de encontros. Os encontros em que eu fui encontrar as pessoas e os encontros nos quais eu recebi as pessoas. Este general, ele pediu para conversar: eu o recebi. Eu nunca fecho a porta. Você pede para conversar? Venha! Falando não se perde nada, se ganha sempre. Foi uma bela conversa. Eu não poderia revelar, porque foi privada, mas eu não negociei a verdade, asseguro para vocês. Mas o fiz de tal forma que ele entendeu um pouco, que um outro caminho, como era nos tempos difíceis, renovado hoje, não é viável. Foi um belo encontro, civilizado; e também ali, chegou a mensagem.
Gerry O’Connell, “America Magazine”: Obrigado, Padre. A minha é de certa forma o desenrolar da pergunta da Delia. O senhor encontrou Aung Sam Suu Kyi, o Presidente, os militares, o monge que cria um pouco de dificuldade, e depois o senhor foi a Bangladesh, encontrou também a Primeira Ministra, o Presidente, os líderes islâmicos de lá e os líderes budistas em Myanmar A minha pergunta: o que o senhor traz de todos estes encontros? Qual é a sua análise de todos estes encontros? Quais perspectivas para o futuro em um desenvolvimento melhor para estes dois países, também considerando a situação dos rohingya?
Papa Francisco: Não será fácil, para seguir em frente em um desenvolvimento construtivo, e não será fácil para quem quiser voltar atrás. Estamos em um ponto em que as coisas devem ser estudadas. Alguém – não sei se é verdade: isto não sei se é verdade – me disse que o Estado de Rakhine é um Estado muito rico em pedras preciosas e que talvez poderiam existir interesses de ser uma terra um pouco sem pessoas para trabalhar. Mas não sei se é verdade: estas são hipóteses que se fazem, também sobre a África se fazem tantas. Mas acredito que estamos em um ponto onde não será fácil seguir em frente, no sentido positivo, e não será fácil voltar atrás porque a consciência, hoje, da humanidade... o fato - e volto aos rohingya - de que as Nações Unidas tenham dito de que os rohingya são hoje a minoria religiosa e étnica mais perseguida do mundo, este é um ponto que, a quem quer voltar atrás, deve pesar. Estamos em um ponto, ali, que com o diálogo, começar um passo e outro passo, talvez meio passo para trás e dois para frente, mas como se fazem as coisas humanas: com benevolência, com diálogo, nunca com agressões, nunca com a guerra. Não é fácil. Mas é um ponto de virada: se faz, este ponto de virada, para o bem, ou se faz, este ponto de virada, para voltar atrás? Ah, sim, a esperança eu não a perco, não? Porque, sinceramente, se o Senhor permitiu isto que vivemos ontem e que vivemos de maneira reservada, exceto dois discursos, o Senhor permite alguma coisa para prometer outra. Eu tenho a esperança cristã, não se sabe nunca...
Valentina Alazraki, “Televisa”: Sobre a viagem, era um pergunta que queríamos ter feito ao senhor antes e acabou não dando. Nós gostaríamos de saber: um Papa que todos os dias fala de refugiados, migrantes. O senhor gostaria de ter ido a um capo de refugiados dos rohingya? E por que não foi?
Papa Francisco: Não, é verdade. Eu gostaria de ter ido. Gostaria de ter ido, mas não foi possível. Se estudaram as coisas, não foi possível. Por vários fatores, também o tempo, também a distância, mas também outros fatores. Mas o campo refugiado veio até mim, como representação.  Eu teria gostado, mas não foi possível.
Greg Burke: O senhor decide? Escolhe o senhor?
Papa Francisco: Não: eu vi ali que vinha para frente…
Enzo Romeo, Rai: Santidade, obrigado. Eu gostaria de perguntar duas coisas, rapidamente. Uma sobre globalização, porque vimos sobretudo em Bangladesh, e é motivo da pergunta ligada à viagem, que é um país que está buscando sair da pobreza, mas com sistemas que parecem para nós realmente pesados. Fomos até o Rana Plaza, aquele lugar onde desabou o prédio que era utilizado pelas indústrias têxteis: 110 pessoas mortas, 5 mil feridos, por 60 euros ao dia, trabalhavam. Em nosso restaurante, para comer um prato de pizza, se pagava 50 euros. Isto parece incrível. Na sua opinião, daquilo que o senhor viu e ouviu, é possível sair deste mecanismo? E a outra coisa é esta, que pensamos todos: sobre a questão-rohingya, parecia que havia também o desejo por parte de alguns grupos jihadistas de intervir, al Qaeda, Isis, que, pelo que parece, tentavam tornar-se os tutores deste povo, da liberdade deste povo. É interessante que o líder da cristandade tenha se mostrado mais amigo, de qualquer forma, destes grupos extremistas: é correta esta sensação?
Papa Francisco: Parto da segunda: havia grupos terroristas ali, que tentavam se aproveitar da situação dos rohingya, que são gente de paz. Eles são como todas as etnias e todas as religiões, sempre existe um grupo fundamentalista. Também nós católicos os temos. Os militares justificam a sua intervenção por causa destes grupos. Eu não escolhi falar com esta gente: eu escolhi falar com as vítimas desta gente. Porque as vítimas eram o povo rohingya, que por um lado sofria aquela discriminação, e por outro era defendido pelos terroristas. Mas pobrezinhos! O governo de Bangladesh tem uma campanha muito forte – assim me disseram os ministros – de tolerância zero com o terrorismo, e não somente por isto: para evitar outros pontos. Mas estes que se alistaram no Isis, mesmo que sejam rohingya, mas é um grupo fundamentalista extremista, pequeno. Mas isto fazem os extremistas: justificam a intervenção que destruiu bons e maus.
Greg Burke: E a globalização, não?, a primeira pergunta.
Papa Francisco: É um dos problemas mais sérios. Falei disto nos encontros pessoais. Eles estão conscientes disto, estão conscientes também do fato de que a liberdade até um certo ponto é condicionada, não somente pelos militares, mas pelos grandes trust internacionais. E apostaram na educação, acredito que tenha sido uma escolha sábia. Existem planos educativos... me mostraram percentuais dos últimos anos, como decresceu o analfabetismo. Esta é a escolha deles, quem dera que vá bem, porque eles sustentam que com a educação o país crescerá.
Jean-Marie Guénois, «Le Figaro»: Boa noite. Hoje, portanto, Birmânia, o país do qual vem… Antes disto, o senhor esteve na Coreia, nas Filipinas, no Sri Lanka… dá a impressão de fazer uma volta ao redor da China… Portanto, duas perguntas sobre a China. Está em preparação uma viagem sobre a China? E, a segunda pergunta: que coisas o senhor aprendeu nesta viagem sobre a mentalidade asiática e também em vista deste projeto sobre a China? Qual foi a lição para o senhor?
Papa Francisco: ….colocar o nariz na China… Hoje a Sra. Conselheira de Estado de Mianmar foi a Pequim: se vê que existem diálogos ali. Pequim tem uma grande influência na região, porque é natural: Mianmar não sei quantos quilômetros tem de fronteira ali; também nas Missas havia chineses que vieram... Acredito que nestes países que circundam a China, também o Laos, o Camboja, têm necessidade de boas relações, são vizinhos. E isto eu acho sábio, politicamente construtivo se pode avançar. Porém, é verdade que a China hoje é uma potência mundial: se a olharmos sob esta ótica, pode mudar o panorama. Mas serão os cientistas políticos a nos explicar, eu não posso, não sei. Mas me parece natural que tenham uma boa relação.
A viagem à China não está em preparação: fiquem tranquilos, no momento não está em preparação. Mas voltando à Coreia, quando me disseram que estávamos atravessando o espaço aéreo chinês, se queria dizer alguma coisa: que gostaria muito de visitar a China! Gostaria, não é um segredo. As tratativas com a China são de alto nível cultural: hoje, por exemplo, nestes dias, há uma Mostra dos Museus Vaticanos na China, depois terá outra – ou teve uma, não sei – dos Museus chineses no Vaticano... as relações culturais, científicas, os professores, padres que ensinam na Universidade estatal chinesa, existem... É uma coisa. Depois, existe o diálogo político, sobretudo pela Igreja chinesa, com aquela história da Igreja Patriótica, a Igreja clandestina, que se deve caminhar passo a passo, com delicadeza, como se está fazendo. Lentamente. Acredito que nestes dias, hoje ou amanhã, começará uma reunião em Pequim da Comissão mista. E isto, com paciência. Mas as portas do coração estão abertas, E acredito que fará bem a todos, uma viagem à China. Eu gostaria muito de fazê-la...
James Longman, “Abc News”: Me desculpo, mas eu não falo italiano. Obrigado pela possibilidade de estar em seu voo: para mim é a primeira vez. Gostaria de perguntar ao senhor se soube das tantas críticas feitas a Aung San Suu Kyi? E se pensa que as críticas que foram dirigidas ao senhor por não ter se expressado de maneira explícita sobre a questão rohingya sejam leais.
Papa Francisco: Ouvi tudo aquilo, ouvi as críticas, ouvi a crítica por não ter ido à Província de Rakhine. Depois ela foi, ela foi por meia jornada, mais ou menos. Em Mianmar é difícil avaliar uma crítica sem perguntar: foi possível fazer isto? Ou: como será possível fazer isto? Com isto não quero dizer que não tenha sido um erro ir, não ir; mas em Mianmar a situação política... é uma Nação em crescimento, politicamente em crescimento; é uma Nação em transição que tem tantos valores culturais na história, mas politicamente está em transição. E por isto, as possibilidades devem ser avaliadas também sob esta ótica. Neste momento de transição, teria sido possível ou não fazer isto, ou aquilo? E ver se foi um erro ou não foi possível. Não somente para a Sra. Conselheira de Estado: também para o Presidente, para os deputados, para o Parlamento... em Mianmar, se deve olhar sempre em frente a construção do país. E ali se faz como disse no início: dois passos em frente, um atrás, dois em frente, um atrás... a história nos ensina isto. Não sei responder de outra forma, com  o pouco conhecimento que tenho sobre o lugar. E eu não gostaria de cair naquilo que fazia um filósofo argentino, que era convidado a proferir conferências em países da Ásia: uma semana, e quando voltava, escrevia um livro sobre a realidade daquele país. Isto é presunçoso.
Phil Pullella, Reuters: Gostaria de voltar à viagem, se possível. O encontro com o general era originalmente previsto, acredito, para a quinta-feira de manhã, e se não me engano, com os generais. Mas ao invés disto, o senhor deveria ver antes Aung San Suu Kyi. Quando o general pediu para vê-lo antes, isto é, justamente no dia da chegada, na sua opinião foi um modo de dizer “aqui comando eu, o senhor deve ver primeiro a mim”? E naquele momento ali, talvez, o senhor sentiu que ele queria manipulá-lo?
Para Francisco: Entendo. O pedido foi porque ele deveria ir à China e sempre que acontecem estas coisas, se eu posso tranferir um encontro, o faço. As intenções, não sei. Mas para mim interessava o diálogo. Um diálogo pedido por eles e que eles viessem a mim: não era prevista a minha visita, ali. E acredito que fosse mais importante o diálogo do que a suspeita de que fosse justamente aquilo que a senhora disse: “Nós comandamos aqui, sejamos os primeiros”.
Phil Pullella: Posso perguntar se é – o senhor disse que não pode dizer o que disse durante os encontros privados, porém posso pedir ao menos se durante aquele encontro o senhor usou a palavra “rohingya”, com o general?
Papa Francisco: Eu usei as palavras para chegar a mensagem e quando vi que a mensagem era aceita, ousei dizer tudo aquilo que queria dizer (...).
Jornalista: Boa noite, Santidade. Eu tenho uma pergunta: ontem, quando estivemos com os padres que fizeram os votos. Pensei se não têm medo de ser padres católicos neste momento da vida católica neste país, e se eles pediram ao senhor, a Sua santidade, o que fazer quando vem o medo e não sabe o que fazer..
Papa Francisco: Esta é a sua primeira viagem não?
Jornalista: Sim …
Papa Francisco: Imiti Valentina, eh? Mas, se acomode…eu tenho o hábito, sempre, de cinco minutos antes da ordenação, falar com eles privadamente. Mas pareceram serenos, tranquilos, conscientes, tinham consciência da missão: pobres, normais. Normais. Uma pergunta que eu fiz foi: “Vocês jogam futebol?” – “Sim”, todos. Isto é importante. Uma pergunta teológica, era aquela... Mas não percebi medo. Eles sabem que devem estar próximos ao seu povo; sentem que devem estar apegados ao povo, e isto me agradou: gostei disto. Depois falei com os formadores, algum bispo, que me disse; antes de entrar no seminário, se faz um pré-seminário de forma que aprendam tantas coisas, também hábitos, também que aprendam perfeitamente o inglês. Isto, para dizer uma coisa prática: se não sabem inglês, começam no seminário, a tal ponto que a ordenação não é aos 23, 24 anos, mas aos 28, 29, mais ou menos. Parecem crianças, porque eles parecem todos jovens, todos, também os grandes. Os vi seguros... mas aquilo sim, o tinham: próximos ao povo. Isto sim. E levam a sério, eh! Porque cada um deles pertence a uma etnia e isto levam a sério, obrigado.
Agradeço a vocês, porque me dizem que o tempo passou. Agradeço pelas perguntas, agradeço por tudo aquilo que vocês fizeram. E, o que pensa o Papa de sua viagem?  Para mim, a viagem faz bem quando consigo encontrar o povo do país, o povo de Deus. Quando consigo falar ou encontrá-los ou a saudá-los: encontros com as pessoas. Falamos dos encontros com os políticos, com... Sim, é verdade: se deve fazer; com os padres, com os bispos... mas, com a gente. Isto, o povo. O povo que é justamente o profundo de um país. O povo. E isto, quando o encontro, quando consigo encontrar, então sou feliz. Agradeço muito a vocês pelo trabalho, muito obrigado. E obrigado pelas perguntas, pelas coisas que aprendi com as perguntas de vocês. Obrigado. Boa janta!
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                                                                                              Fonte: radiovaticana.va   news

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